domingo, 28 de fevereiro de 2010

Jane Eyre

Sempre que faço a critica de um grande clássico da literatura, sinto-me como se tivesse uma grande responsabilidade em mãos. Por mais que tenha gostado ou não da obra, é sempre algo de quase religioso. É este o caso.
Jane Eyre, da grande Charlotte Brontë, não é só um clássico bastante apreciado por muitos, como passou também a ser um dos meus livros preferidos. A autora, através de uma escrita activa e suave como uma melodia, relata-nos as aventuras e desventuras de Jane, que passou também a ter lugar nas minhas personagens a recordar, cujo carácter e pensamento se adequa tão facilmente aos tempos contemporâneos, que por vezes quase me esqueci de que estava a ler uma obra do séc. XIX.

Jane Eyre, órfã de pai e de mãe, enquanto criança apenas ansiou um pouco mais de carinho por parte da tia, que contra sua vontade a educa. Menosprezada pela família adoptiva, Jane é enviada para um colégio interno, onde encontra a oportunidade de se fazer valer enquanto pessoa, e mais tarde, triunfar enquanto preceptora numa sociedade britânica profundamente selectiva e superficial, onde inclusivamente encontrará o amor, a amizade e a traição.
Sempre tentando fazer o correcto e o sensato, Jane Eyre, rapariga de profundos pensamentos e convicções, graças à sorte ou às suas próprias decisões, acaba por conquistar pouco a pouco, o que pretende ser seu.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Herdeira das Sombras


Na continuação de "Filha do Sangue", temos mais uma amostra do maravilhoso, ainda que cruel, mundo criado por Anne Bishop. Pegando na história exactamente no ponto onde ela tinha acabado no livro anterior, temos logo indícios de que Lucivar, o guerreiro eyrieno, terá um maior destaque, o que me encheu de curiosidade e expectativa, uma vez que tinha sido esta a minha personagem favorita no livro anterior.

Mas a verdade é que ao princípio, a história parece que estagna. Os acontecimentos dão-se mais devagar, salta-se rapidamente de linha de acção em linha de acção, todas elas aparentando serem mais ou menos desconexas umas das outras, e deixam de aparecer algumas das personagens mais interessantes, como Daemon, Jaenelle e Andulvar, dando, por sua vez, lugar a uma quantidade enorme de personagens novas.

É esse, aliás, aquilo que mais critico neste livro. A quantidade de personagens novas é simplesmente assustadora, e surgem todas em catadupa, umas atrás das outras, sendo que a maior parte delas eram os amigos de Jaenelle, desde centauros, a poderosas e talentosas Rainhas, passando pelos magníficos parentes, animais que são Sangue, e usam Jóias. Confesso que houve momentos em que não sabia bem de quem se estava a falar, mas nada que não se recuperasse rapidamente.

Mas tirando isso, continua excelente, na minha opinião. Claro que teve um início que me pareceu ligeiramente mais parado, e mais confuso, mas a partir de, digamos, meio do livros, a história acelera, começam-se a ligar as diferentes linhas de acção, e chegamos a um resultado absolutamente brutal!

Este é um livro que, acima de tudo, tem uma parte final simplesmente surpreendente, e se não fosse aquela primeira parte mais parada, seria provável que ultrapassasse o primeiro livro, em termos de qualidade!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Filha do Sangue


Ouvi falar muito sobre esta autora, e sobre esta trilogia, à qual este livro dá início. Principalmente boas críticas, excelentes aliás, que me aguçaram a curiosidade, e me levaram a comprar os três livros, para os ler de seguida, seguro que não me iriam desapontar.

Mas quando comecei a ler, durante, digamos, as primeiras 200 páginas (mais de metade do livro), a verdade é que não sabia o que achar. Logo nas primeiras páginas, entra-se no ambiente, um ambiente negro, típico da chamada dark fantasy, e nota-se o carácter forte do livro, sem direito a eufemismos, ou redundâncias. Nada disso. Vai directo ao assunto, num mundo cruel, brutal e perigoso, onde o Mal espreita a cada esquina, e em todos, de uma forma ou de outra.

Passadas essas páginas, e essa sensação estranha, consegui-me decidir. O livro é espectacular. Um mundo bem construído, com particularidades interessantes, como as Jóias e os Sangue. Ao seguirmos a família SaDiablo, em todas as suas vertentes, acompanhamos personagens brilhantemente trabalhadas, desde Saetan, o Senhor Supremo do Inferno, Lucivar, o guerreiro eyrieno, e Daemon, o escravo haylliano. Cada uma destas personagens, ligadas entre si de forma ao princípio subtil, mas cada vez mais intensa, são, do meu ponto de vista, as três personagens que dão outro sabor à história.

E claro, Jaenelle. Jaenelle é o ponto central de toda a narrativa, em torno do qual giram aquelas três personagens. Se bem que Lucivar aparece pouco, mas não deixa de ter a sua importância, e foi, sinceramente, a personagem que mais me cativou, apesar da pouca visibilidade. Mas tenho esperanças que tenha uma maior importância nos próximos volumes.

É, de facto, um grande livro. A escritora consegue criar todo um ambiente onde o livro encaixa perfeitamente e, não tendo uma escrita complexa, consegue-nos deixar presos à história. Vai dando poucos detalhes, simplesmente apresenta as coisas, com naturalidade, o que nos transmite um certo à-vontade quase instantâneo com o livro, com a história.

Não é um livro para pessoas mais impressionáveis. Mas é, de certeza, um livro obrigatório para quem gosta de fantasia. Tem, pelo menos, a minha mais do que completa aprovação!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Cão da Morte


Uma incursão desta brilhante escritora no mundo do sobrenatural, a puxar para o terror, mais propriamente dito, "O Cão da Morte" inclui, além daquele que dá o título ao livro, alguns outros contos, todos eles à volta do tema do sobrenatural.

A primeira coisa que reparei, foi que são contos extremamente curtos. As histórias talvez pequem por isso mesmo, pois tornam-se algo precipitadas, e as personagens um bocado ingénuas, mas continuam a ter o seu interesse, e a serem minimamente originais, se bem que "O Cão da Morte" me fez lembrar H.P.Lovecraft, mas essa é sempre uma boa influência!

Outra que coisa que fui reparando, é que, se não me engano, todos os contos tinham como uma das personagens, algum especialista em doenças mentais, muitas vezes com uma certa inclinação para o oculto.

Esse pequeno aspecto ameaçou tornar os contos um bocado repetitivos, mas a verdade é que a autora conseguiu usar essas personagens de forma inteligente, e dificilmente isso afecta a leitura.

Claro que este livro, com estes contos, não chega nem perto da genialidade com que esta escritora nos habitua com os seus policiais. Mas bem, ela era uma escritora de policiais, esta incursão pelo sobrenatural talvez seja mais uma espécie de experiência, para sair da sua zona de conforto, e sendo assim, temos que dizer que se saiu muito bem.

Não são obras-primas, mas são agradáveis, são interessantes, e estão bem escritos. Mas claro, que desta autora, nem se podia esperar outra coisa, não é?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Breve História do Tempo


Stephen Hawking, o génio da ciência, afligido por uma grave doença que o deixa preso a uma cadeira rodas, quase impossibilitado de se mover ou de comunicar, não perde, no entanto, a sua clareza de pensamento, e a sua incrível inteligência, escrevendo, já num estado avançado da sua doença, este livro, que nos maravilha com os aspectos fenomenais do Universo, explicados da forma mais simples possível.

Desde o começo do Universo, ao fim do Universo, passando pela possibilidade da existência de vários Universos, e de vários princípios e vários fins. Alguns capítulos extremamente teóricos sobre a natureza do próprio tempo, e a possibilidade das viagens no tempo.

Mas no entanto, tudo isto, incluindo alguns conceitos extremamente difíceis de assimilar (como a própria ideia de infinito, ou um tempo imaginário, onde se pode circular livremente para a frente e para trás), são explicados de forma clara e fácil de entender, graças aos dons naturais de Hawking para comunicar. Utiliza analogias simples, da vida quotidiana, para explicar complexos teoremas e teorias, faz uso de um humor fácil, conseguindo, ainda assim, explicar alguma coisa.

Este livro, tem, no entanto um defeito. Ou se gosta de ciência, e se adora este livro, ou não se gosta, e não se passa do primeiro capítulo. Quer dizer, ou se gosta, ou se aprende a gostar com este livro, porque garanto que é impossível a alguém que não goste de ciência ler este livro até ao fim. E ajuda ter algumas luzes da ciência.

No meu caso, um apaixonado pela ciência, e aluno de Ciências, encontrei-me na posição perfeita para ler este livro, que até me ajudou a consolidar algumas dúvidas, nomeadamente da Física e da Química. Porque este é um livro de ciência, que não fala de outra coisa a não ser ciência, se não se gosta de ciência... está-se tramado.

Fora isso, uma grande leitura, um grande livro (embora pequeno) e, acima de tudo, um grande grande autor e cientista, por quem tenho uma grande admiração.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Os Maias


Tenho a sensação que esta vai ser a crítica mais difícil dos próximos tempos. Por um lado, tive a obrigação de ler este livro, que me foi imposta pelas aulas, e que é algo que me desagrada. Até hoje, ainda não encontrei nenhum livro que tenha lido obrigado, e que me tenha agradado.

Mas, lá está, até hoje. Este "Os Maias", é, quer queiramos quer não, um livro sub-valorizado, tanto a nível nacional, como a nível mundial. Tivesse calhado a Eça ser inglês, americano ou francês, etc., este livro estaria, de certeza no top dos clássicos mais vendidos. Mas é que sem dúvida.

Se bem que eu não olho para este livro como um livro, agora que o acabei de ler. É uma autêntica novela épica, Uma "Odisseia", ou uma "Ilíada", com uma acção mais... metafórica, pois também temos os nossos heróis, que têm, na minha opinião, como extremo, João da Ega, a personagem mais excepcional em todo o romance; temos um inimigo quase invencível, que não é um Deus grego, ou outra divindade, mas sim o próprio tempo, o destino.

Porque é esse um dos temas deste livro. O destino, que avança, inexorável, imparável, e que, embora lentamente, faz as suas vítimas. Claro que o grande tema (e objectivo) desta obra, não é outro que não a crítica. Uma forte e dura crítica à sociedade, e que, apesar de ter publicada em 1888, encontra-se estranhamente actual, mesmo passados estes 122 anos.

Não quero, porém, avançar com muito da história, falando só de algo, que foi o que mais me impressionou em toda a história. Não, não foi o caso de incesto, não não a forma fantástica como Eça descreve paisagens (nomeadamente as de Sintra), e não, não foi a poderosa crítica social. Foram as duas últimas páginas do livro, quando Carlos, regressado a Portugal após 10 anos de um exílio auto-imposto, conversa com Ega, e diz ter descoberto o sentido da vida, que "não vale a pena correr por nada, por absolutamente nada", e Ega acaba por concordar. Mas esta cena passa-se com ambos a correr para apanharem um transporte público para não chegarem atrasados a um jantar.

Situação irónica? Sim. Poderosa? Sim. No fundo, o fim perfeito para uma obra deste calibre. Uma situação ambígua (como aliás grande parte da história), algo contraditória, mas que é, para mim, o essencial deste livro. Como tal, não deixo de aconselhar este livro. Ainda que obrigatória, é realmente bom, confirmando a velha máxima de que "a excepção confirma a regra"!