domingo, 31 de outubro de 2010

Metade Sombria

Um livro de Stephen King é sempre algo em grande. Pelo menos foi isso que aprendi, após ler 5 livros dele, ter mais um na prateleira (em inglês, e com 1000 e tal páginas!!), e de ler as sinopses e opiniões sobre a maior parte dos outros. Este não é excepção.

Embora me seja difícil dizer qual é o melhor, daqueles que li, e embora não tenha lido assim tantos quanto isso, este é sem dúvida um dos melhores. Mas bem, não são todos?

A história deste é, no entanto, particularmente assustadora, porque parece, de certa maneira a junção de Carrie, A Hora do Vampiro, e Misery. O primeiro é sobre o poder escondido dentro de alguém, o segundo é sobre seres sobrenaturais, e o terceiro é sobre a loucura. E este livro, Metade Sombria, fala sobre o poder e a loucura de um ser sobrenatural escondido dentro de alguém.

Bem, first things first. O escritor, nos agradecimentos, agradece a Richard Bachman, o pseudónimo que usou para escrever alguns livros, e diz que sem ele não teria sido capaz de escrever este livro. E percebe-se porquê, pois este livro fala exactamente sobre um pseudónimo.

Thaddeus Beaumont, um escritor de parco sucesso, vítima de um tumor cerebral muito peculiar enquanto criança, descobriu cedo a sua vocação para a escrita, mas só tardiamente é que descobriu George Stark dentro de si. Stark é o nome com o qual assina 3 livros que vendem que nem pães quentes, e que obtém um enorme sucesso, entre os leitores e a crítica, sem que ninguém saiba que Stark e Beaumont são a mesma pessoa. Até que Thad decide matar Stark, revelando tudo numa entrevista à revista People. Só que Stark não quer morrer.

Inicia-se então uma luta, travada entre Thad e Stark, que a princípio não passa de apenas uma série de assassínios da parte de Stark, e de uma frustrante impotência da parte de Thad, mas que culmina numa batalha final bastante original, bem ao estilo de Stephen King.

Quanto às personagens, a dualidade Thad/Stark dava para escrever um ensaio, com todas as suas particularidades, duas metades completamente opostos do mesmo ser, com uma reprimida durante anos, numa tentativa de controlo que acaba por fracassar, e até por se inverter, com a materialização do fantasma de um homem que nunca existiu realmente. Liz, a mulher de Thad é uma personagem forte, ainda que não tenha tanto destaque como isso, mas que prova, vezes sem conta, que é uma mulher forte. Alan, ou melhor, o xerife Pangborn, é o céptico que não tem outro remédio que não aceitar o sobrenatural. Ah, e Rawlie DeLesseps, é claro, com o seu cachimbo apagado, e personalidade estranha, é uma personagem bastante agradável, embora apareça muito pouco. E os pardais. Pode parecer estranho, mas os pardais acabam por se tornar numa personagem muito importante, ao longo do livro.

Por sorte, para os leitores de estômago mais fraco, não é dos livros mais sangrentos que eu já tenha lido deste escritor. Não deixa de ser sangrento, mas essa parte torna-se muito menos relevante, face a tudo o resto, em especial face ao essencial da história, a luta de Thad, a "velha carcaça", com Stark, a sua metade sombria.

Um livro mais do que aconselhado, como não podia deixar de ser.

sábado, 30 de outubro de 2010

Tempo para ler


Já foi há uns tempos, talvez em Abril deste ano, que participei numa "conversa" na biblioteca da minha escola, sobre a leitura, onde estiveram presentes a minha turma e uma outra. E sendo eu um leitor mais do que compulsivo, a verdade é que acabei por não me calar.

Foi uma conversa interessante, em grande parte por os hábitos de leitura das duas turmas serem MUITO diferentes. Enquanto que a minha tinha alguns leitores casuais, e mesmo alguns viciados, a outra estava repleta de gente cuja opinião sobre a leitura era "que desperdício de tempo", ou que quando lhes perguntavam o que tinham lido ultimamente, respondiam "a TV Guia desta semana". Também tinham algumas leitoras (a turma só tinha raparigas, que eu me lembre), embora, se não estou em erro, e sem querer menosprezar essas leituras, tenham apenas lido a saga do Crepúsculo, e livros da Margarida Rebelo Pinto.

Aquilo que aconteceu, foi que fizeram má-cara ao meu tipo de leituras. Fantasia, ficção científica, terror, policiais, romances históricos, tudo isso não passava, para elas, de lixo. O pilar da literatura, segundo elas, assentava essencialmente nas histórias de amor. A minha resposta, sempre acidentalmente (*cough*) ácida, foi: "Se eu quisesse ler melodramas, lia os guiões das telenovelas.". Não acharam piada, como é óbvio, mas elas estavam a pedi-las.

Mas ainda não foi esta, a parte mais interessante. A parte a que eu achei mesmo piada, foi quando uma rapariga da outra turma me perguntou quantos livros é que eu tinha lido desde o início do ano. Quando respondi "30 ou 40, não tenho a certeza", fui nomeado o mentiroso do mês. Pura e simplesmente não acreditaram. E eu percebo que para pessoas que não leiam habitualmente, estes números pareçam simplesmente assombrosos, mas para mim, e para leitores como eu, ou ainda piores (no bom sentido!), 30 livros em 4 meses é o normal.

A rapariga disse logo "Fogo, nem deves dormir!", e foi a risota total. E foi aquilo que eu disse a seguir, que acho que foi o essencial daquela conversa. "Ora, em vez de estar a perder tempo com as novelas ranhosas da TVI, leio um bocado. Em vez de estar a passear pelo Facebook, ou pelo HI5, a olhar para fotos sem o mínimo interesse, leio um bocado. Em vez de transformar o telemóvel numa extensão do meu ser, de tal maneira que ele parece colado aos meus dedos, deixo-o de lado para ler um bocado. Leio antes de dormir, e leio para descansar do estudo.". Pronto, talvez não o tenha dito exactamente por estas palavras, mas permitam-me alguma liberdade, que a memória já começa a falhar... A essência está lá, de qualquer maneira.

Ficaram a olhar para mim, como se eu fosse um bicho do mato. Sem Facebook, sem HI5, sem ver telenovelas, ser capaz de largar o telemóvel, ler antes de dormir, e ler para descansar do estudo? Eu só podia ser maluco. Foi nessa altura que me calei. Percebi que não valia a pena tentar explicar à maior parte daquelas alminhas, o que é o prazer de ler. Que, para mim, arranjar tempo para ler não é um obrigação, ou algo que me dê muito trabalho, mas antes um dado adquirido. Que quando leio nem noto pelo tempo a passar. E que sou perfeitamente capaz de ficar 3 horas a ler sem ficar com os olhos tortos.

Porque é isso, afinal, que importa, não é? Não é o eu arranjar tempo para ler, eu não faço isso. Ele está lá sempre. Eu arranjo é tempo para não estar a ler, porque tenho obrigações. Leio muito, e leio depressa, é verdade, mas isso não é um defeito. O único problema é a carteira que vai ficando mais leve. Mas eu não me importo, é um bom investimento!

Tempo para ler? Tenho-o todo. Todo o que preciso, e quase todo o que quero (nunca é suficiente). Aproveito-o ao máximo, e devoro livros a uma velocidade assustadora, porque gosto realmente de o fazer.

E sim, durmo. Até durmo bastante.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

[Novidades] Clube do Autor

Mais de 600 páginas e dezenas de fotografias, algumas inéditas, dão a conhecer aquele que se viria a tornar umas das figuras mais destacadas do actual panorama cultural do país. Compositor, pianista, maestro, escritor, comunicador nato, eis a autobiografia de António Victorino d’Almeida quando, ao princípio, era ele.

PVP: 24,95 € 608 Páginas + Extratextos


SOBRE O AUTOR

António Victorino Goulart de Medeiros e Almeida nasceu em Lisboa a 21 de Maio de 1940. Aluno de Campos Coelho, finalizou o Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional de Lisboa com 19 valores e diplomou-se em Composição pela Escola Superior de Música da cidade de Viena.

Pianista, compositor e maestro, é ainda autor da adaptação para teatro musicado de A Relíquia, de Eça de Queirós, e realizou o filme A Culpa - primeira longa-metragem portuguesa a vencer um festival de cinema no estrangeiro (Huelva, 1980).

Como escritor, publicou, entre outros, Histórias de Lamento e Regozijo, Coca-Cola Killer, Um Caso de Biografia, Polissário, Tubarão 2000, Memória da Terra Esquecida, O Que é a Música, Toda a Música que eu Conheço (2 vols.), Os Devoradores de Livros e Músicas da Minha Vida.

Escreveu, apresentou e realizou mais de uma centena de documentários culturais para a televisão, foi membro do júri do Concurso de Piano de Moscovo e é actualmente Presidente do Sindicato dos Músicos Portugueses.

[Novidades] Civilização Editora


Título: Até os Fantasmas Tremem (N.º 4)
Autor: Pierdomenico Baccalario
Título Original: Anche i Fantasmi Tremano
Tradução: Francesco Mai
Formato: 143 x 210 mm
Páginas: 160
Encadernação: Capa mole
Família: Ficção Juvenil
ISBN: 978-972-26-3192-1
EAN: 9789722631921
PVP: 8,98 €
Lançamento: Outubro 2010



SINOPSE

Em casa de Will Moogley nunca há um instante de sossego. Desta vez foi o fantasma da senhora Turricane que apareceu a meio da noite: o seu irmão (também ele um fantasma, obviamente) desapareceu! No sótão que o senhor Turricane estava a assombrar, Will e o seu amigo Tupper encontram vestígios de um esquisito líquido azulado, a lyxospectrina, uma terrível componente das Máquinas Sugaespíritos. Só resta uma única explicação possível! Há um novo caça-fantasmas na cidade… Começam os problemas para a Agência Moogley.

SOBRE O AUTOR

Pierdomenico Baccalario nasceu a 6 de Março de 1974 em Acqui Terme, uma pequena e bonita cidade piemontesa. Começou a escrever no liceu. Quando frequentava Jurisprudência na universidade, ganhou o prémio Batello a Vapore com o romance La Strada del Guerriero, e a partir desse momento começou a publicar romances. Depois da licenciatura encarregou-se de museus e projectos culturais. Começou a viajar e a mudar de horizontes: Celle Ligure, Pisa, Roma, Verona. Adora ver novos lugares e descobrir modos de vida diferentes, embora, no fim, se refugie sempre num albergue no Val de Susa.



Autor: Luísa Ducla Soares
Título Original: ABC O Livro das Letras
Ilustrador: Sara Sousa
Formato: 210 x 210 mm
Páginas: 28 pp.
Encadernação: Capa dura
Família: Infanto-Juvenil
Cód. Barras: 9789722632157
ISBN: 978-972-26-3215-7
Preço: 11,09 €
Lançamento: Outubro 2010



SINOPSE

O novo livro de Luísa Ducla Soares, ABC – O Livro das Letras, apresenta um método inesperado e divertido de aprender o abecedário associando objectos a letras. O exercício de memória e aprendizagem é aqui simples e eficaz: “AA” que fazem lembrar casas com tectos inclinados, “YY” copos de pé alto ou “XX” os vezes da matemática.

SOBRE A AUTORA

Luísa Ducla Soares é uma das escritoras mais importantes do panorama literário infanto-juvenil português, uma autora com uma vasta obra iniciada em 1972, com a publicação do livro A História da Papoila. O ano passado, a Civilização publicou o seu centésimo livro, O Livro das Datas.

domingo, 24 de outubro de 2010

Tenho dito


O dever de não basearmos as nossas opiniões em opiniões alheias.
O direito de não conseguirmos opinar de forma clara sobre um livro.
O dever/direito de não gostarmos de algum livro só porque nos disseram para gostar. 

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Matemáticos, Espiões e Piratas Informáticos

Enquanto que no primeiro livro desta colecção se falava da relação (mais íntima do que se poderia pensar) entre a arte e a matemática, este segundo volume fala sobre uma relação muito mais directa e fácil de compreender: a relação entre a criptografia e a matemática.

Mas atenção, o que é fácil de compreender é o porquê de haver uma relação. Asseguro-vos que compreender tudo o que vem neste livro não é muito fácil. Eu próprio, com os meus 12 anos de matemática, tendo passado os últimos 3 a dar no duro, não consegui perceber tudo o que aqui vem.

Não é, por isso, uma leitura muito fácil. Pelo menos no final, que no início até é pacífico, com coisinhas básicas, e umas tabelas e tal, mas depois começa a chamar a aritmética modular, e funções (oh! o horror!), e no fim já é demais para a minha cabeça.

No entanto, é um livro interessantíssimo, mesmo para quem não perceba 90% das habilidades algébricas que aqui são descritas, pois nem só de contas se vive. Com alguma história (gregos, Júlio César, Segunda Guerra Mundial, etc.), algumas previsões para o futuro (computadores quânticos), e curiosidades absolutamente fascinantes (códigos de barras!), "Matemáticos, Espiões e Piratas Informáticos" consegue ensinar, entreter, divertir e fascinar, tudo ao mesmo tempo, de uma forma absolutamente fenomenal.

E a escrita é porreira! Excepto quando começa a falar de contas. Aí torna-se demasiado científica, e destoa um bocado do tom do livro, mais simples e leve, mas no geral consegue não se tornar demasiado maçadora.

Tal como o outro, aconselho este livro a toda a gente!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O Jogador

Está finalmente cumprido o meu desejo de ler um livro de maior extensão de um autor russo. Bem, mais ou menos, já que embora seja maior do que um simples conto, é pequeno enquanto livro.

E é daqueles livros cuja história que tem por trás é quase tão interessante como o enredo do livro. Segundo aquilo que diz na própria contracapa, para além de ser baseado em acontecimentos reais da vida do escritor, foi um livro escrito para cumprir um prazo. Dostoievsky teve mesmo que suspender a escrita da sua obra maior "Crime e Castigo", para ditar este livro a uma estenógrafa (que acabou por se casar com ele).

Se estiverem neste momento a pensar "hum, se é assim, deve ser uma bela porcaria, escrito à pressa, e tal, só para que o editor não o chateasse...", tal como eu pensei, desenganem-se!

"O Jogador" é um livro com bastante mérito próprio! Não tem as extensas descrições de que tanta gente se queixa, nos livros de autores russos, e tem bastante diálogo, a maior parte muito interessante, embora de vez em quando lá apareça algum pedaço de conversa do mais puro aborrecimento...

Mas bem, a história não é muito complicada. Alexis Ivanovitch, apaixonado por Paulina, e que trabalha como preceptor dos filhos de um general, descobre o mundo do jogo. Fica viciado, ganha, perde, ganha, perde, como qualquer pessoa que jogue, desafia as probabilidades, arrisca, joga pelo seguro... Enfim, todo um desfiar de acções e decisões extremamente típicas do jogador habitual.

Como que para agitar a história, o general, patrão de Alexis, tem dívidas até ao pescoço, e uma certa personagem muito especial aparece de repente, de forma completamente inesperada, e fica, tal como Alexis, viciada na roleta. E perde, e ganha, e perde, e ganha... A mesma coisa. Mas de notar que esta personagem, que não vou dizer quem é (spoiler alert!), é muito provavelmente a personagem mais interessante do livro, de tão intensa que é.

Todo o livro tem um tom que oscila entre o trágico e o cómico, misturando os dois, e alternando livremente, e acaba por ser a reflexão perfeita da vida de um jogador, que ora ganha, e se sente nos píncaros; ora perde, e vai completamente abaixo... até conseguir arranjar mais dinheiro, para voltar a jogar, é claro.

Resumindo, um livro muito interessante, que me obriga a fazer a promessa de agarrar em mais qualquer coisa deste autor, num futuro não muito distante.

sábado, 16 de outubro de 2010

Sangue na Piscina

Agatha Christie. A autora ideal para desanuviar, depois de alguma grande leitura, seja ela a de um autêntico calhamaço, ou a de uma saga memorável.

E resulta sempre, este "Sangue na piscina" não é excepção. É mais um livro extremamente típico desta autora, com o detective belga mais adorado de sempre, Hercule Poirot. Com a particularidade de neste livro ter aparecido uma personagem que me encheu mais as medidas do que Poirot.

Essa personagem é Lady Angkatell. Uma mulher já nos seus 60's, completa e absolutamente aérea e fascinante. Dona de um raciocínio rápido e "leve", esta personagem consegue confundir todas as outras personagens, falando por metáforas, muitas vezes misturadas umas com as outras, e deitando cá para fora tudo aquilo que pensa, exactamente da forma que a pensa. São incríveis os saltos de raciocínio que esta personagem dá!

Mas bem, a história é interessante, como sempre. Suspeitei, ao longo do livro, de praticamente todas as personagens, como é costume, com esta autora, que tem o dom de desviar as atenções do verdadeiro criminoso, ao mesmo tempo que vai dando pistas sobre o que aconteceu realmente. E neste livro acontece exactamente isso, capítulo a capítulo aparecem provas que deixam mais do que claro quem é o criminoso. Só que cada nova prova leva a uma conclusão diferente da prova anterior, com todas a parecerem extremamente promissoras, e a não levarem a absolutamente nada.

Poirot, como sempre, é que domina a situação. Ainda que só apareça muito tardiamente na história, e tenha pouco destaque, continua a dar a sensação de que sabe tudo desde o início. Se bem que nota-se que o método de Poirot para resolver o crime não tem a relevância de habitualmente. Este é um livro muito mais focado nas personagens, e nas suas relações, bem como nas reacções ao crime, do que no crime propriamente dito.

Tudo isto, é claro, com a excelente escrita de Agatha Christie, a verdadeira big boss dos policiais à moda antiga.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

De acordo com o acordo


Vivemos numa época de pré-mudanças. Encontramo-nos num impasse social em que todos os dias esperamos algo de novo que insiste em não aparecer.

Vamos a uma livraria, e raros são os livros novos que diferem do que já existe aos montes. Vemos um filme e concluímos que aquele assunto já fora abordado antes. Ligamos o rádio e chegam-nos aos ouvidos as mesmas e repetidas batidas comerciais. Nada de novo, nada de novo, nada de novo.

Este bloqueio cultural leva-nos a voltar atrás no tempo, a procurar o que de bom já foi feito. Rendemo-nos aos clássicos.

Queremos, portanto, uma mudança. Ver o que de bom a nossa era tem para oferecer. Mas antes de mudarmos a capa, caros leitores, há que mudar o conteúdo.

Temos de modernizar o nosso código, temos de modernizar a nossa língua portuguesa.

Se alguém me perguntar se o novo acordo ortográfico me incomoda, direi com toda a certeza que sim, e muito. Mas se por outro lado me perguntarem se sou a favor, darei a mesma resposta com a mesma convicção: sim.

Nada, a não ser o nosso comodismo cultural, justifica um c antes de um t, em palavras como "correcto" ou "objecto". Depois do japonês, a nossa língua foi identificada como a mais difícil de aprender. Não queremos nós expandir o nosso dialeto? Não seria proveitoso para a nossa economia se outras culturas o aprendessem? Não compliquemos as coisas. O inglês, por exemplo, de tão gramaticalmente simples que é, tornou-se na língua universal, algo que o mandarim jamais atingirá.

Queremos tornar a nossa língua em algo mais familiarizado com a vida que levamos, não numa onda de facilitismo, mas sim de progresso. Se a própria linguagem oral muda todos os dias, qual é o interesse de por pura teimosia, continuarmos a escrever como os nossos avós?

Admitamos, inclusive, que se torna muito mais fácil explicar a uma criança do 1º ano que a palavra "ato" provém da junção dos sons destas três letras do que sermos obrigados a justificar-lhes um c antes de um t "só porque sim".

Em França, por exemplo, onde não se fazem alterações gramaticais há mais de 300 anos, registam-se também os mais elevados números de erros ortográficos de toda a Europa, por parte da população francesa.

Está na hora de a língua de Camões deixar de o ser de uma vez, porque, com todo o respeito, entre o século XVI e a época em que vivemos, já muita coisa mudou. Não façamos do português uma língua morta.

Venho portanto rogar para que nos deixemos de romancismos patriotas e que aceitemos a mudança. Afinal também foi difícil mudar do escudo para o euro, mudar da monarquia para a república. A mudança não é fácil, mas todos temos que fazer parte dela, não por nós, mas por aqueles que virão.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A Demanda do Visionário

Para o fim desta grande trilogia (perdão, saga), tinha as expectativas em alta. Depois de um primeiro livro brutal, de um segundo que soube a pouco, de um terceiro que me encheu as medidas, e de um quarto que mesmo surpreendendo, soube a pouco, este quinto livro (segunda metade do terceiro, na versão original), só podia ser absolutamente espectacular. Não só podia, como tinha essa obrigação!

E quase que cumpriu a 100%. Não me interpretem mal (as vezes que eu digo isto, nas minhas críticas...), eu adorei o livro. Mal posso esperar por mais livros desta autora, especialmente se se passarem no mesmo mundo, com personagens em comum. A sério, li as primeiras páginas a um ritmo razoável, a ganhar balanço, e quando dei por mim, estava a ler sem parar, umas 200 páginas por dia!

Mas, há sempre um "mas", não atingiu o clímax que eu esperava, da forma que eu esperava. E o problema é este: para um livro tão grande, com quase 500 páginas, que é apenas a segunda metade de um livro que, no original, tem umas 900 páginas, a história desenvolve, desenvolve, desenvolve, e estende-se e espalha-se e estica-se, e depois, de repente, todas as conclusões são enfiadas em menos de 100 páginas, bem como todos os vários pequenos finais, em catadupa.

Hobb consegue fazê-lo de forma razoavelmente satisfatória, e não houve, que me lembre, nenhum momento no livro que me tenha deixado a pensar "huum, tanta palha...". Nada disso. Mas a verdade é que me pareceu demais. É que ainda que de leitura compulsiva, especialmente por querer saber o que raio ia acontecer, depois de tanta página lida, ao longo da trilogia (ups, saga), pareceu-me que para um livro tão grande, as conclusões podiam estar melhor distribuídas...

Aparte isso, é claro que está um livro do caraças. A explicação dos forjados pareceu-me um bocado forçada (como pareceu a grande parte das pessoas que leram, pelos vistos) e metida à pressão, como se a autora só se tivesse lembrado disso depois de escrever o livro todo, e então toca lá de acrescentar 3 ou 4 parágrafos a explicar isso. Já a parte dos Antigos, brutal. Não podia ter sido melhor. E foi bom voltar a ver o Bobo, com mais protagonismo do que nunca. Já não foi tão bom voltar a ver Kettricken, extremamente mudada, e não para melhor, se me perguntarem. Além de que tive saudades do Breu.

E ainda há a questão do Fitz. A sua interacção com Olhos-de-Noite é super interessante, a com o Bobo é absolutamente fascinante, especialmente graças ao Bobo, personagem que por si já é fascinante o suficiente, mas o Fitz em si... Não me agradou. Eu sei que a mudança entre o terceiro e o quarto livro tinha que ser absolutamente colossal, mas isto foi demais. De personagem interessante, por ser tão significativa no meio da sua insignificância, a personagem aborrecida, irritante, subitamente importantíssima, e negando essa importância a si mesmo, enquanto luta com sentimentos do mais puro egoísmo, e da mais feroz lealdade.

Ah, e não gostei do desenvolvimento da situação com o Castro e a Moli. A sério, não gostei. Que coisa mais... Nem sei, revoltante? E antes que me esqueça, Panela é uma personagem que me despertou o interesse desde o momento em que apareceu... E pronto, acho que é tudo, já chega, estou farto de escrever. Só vos digo, leiam, uma das melhores trilogias (outra vez? sagas!) que me passou pelas mãos, e que me deixou completamente arrebatado, no geral. Como já disse, mal posso esperar por mais livros desta autora!

domingo, 10 de outubro de 2010

Concurso de Escrita


E é com muito orgulho que anunciamos, finalmente, o concurso de contos do "Que a Estante nos Caia em Cima!". Tudo começou com uma ideia da Arisu, e a partir daí, foi sempre a andar! Chegámos às regras, que são bastante simples:

1) Ter entre 750 e 1500 palavras, com uma pequena margem de erro (se tiver 1500 e qualquer coisa não morre ninguém).

2) O texto tem que ser enviado num ficheiro Word, ou PDF, com letra Arial, de tamanho 12.

3) E o tema é... Estou a brincar, é tema livre!

Pois é, ao contrário de muitos concursos e passatempos deste género, em que o tema está definido, nós decidimos que seria de tema livre. Isto poderá, ou não, correr mal, mas vamos arriscar, e ver o que sai daí!

Quanto ao prémio, não há dinheiro, não há livros, não há nada desse estilo. Há divulgação. O texto vencedor será divulgado, tanto neste blog, como nos nossos (meu e da Arisu) pessoais, bem como numa série de blogs literários, a maior parte deles com bastante renome e influência!

O júri será constituído por mim, pela Arisu, e pela M. do Conversas Entre Almofadas. Tendo início hoje, podem enviar os vossos contos até as 23:59 de 5/11/10, para o mail do blog queaestantenoscaiaemcima@gmail.com.  

Boa sorte!

Os blogs parceiros:

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A Vingança do Assassino

O quarto livro desta autora, correspondente à primeira metade do terceiro volume em inglês, consegue, mais uma vez, deixar-me completamente arrebatado. Bem, desta vez, confesso, talvez não completamente.

[spoiler alert]
E fiquei ligeiramente desapontado por algo muito simples. FitzCavalaria, regressado dos mortos, depois de um período em que é mais animal do que humano, torna-se demasiado impetuoso e até, em certa medida irritante. Vagueia pelos Seis Ducados, com um objectivo muito bem definido em mente, mas sem ter a mínima ideia de como o vai cumprir. Essa sensação de que ele andou por ali "à deriva" não me agradou por aí além...
[/spoiler alert]

Ora bem, agora falar-vos do livro sem vos revelar muito do enredo é que vai ser extremamente complicado. É que esta saga, sendo, lá está, uma saga, se me ponho aqui a falar do quarto livro, é inevitável que vá mencionar coisas que aconteceram nos livros anteriores, ou, ainda pior, que revele coisas que vocês, os leitores, estejam ansiosos por descobrir. Se as revelar agora, vão ficar (pelo menos alguns de vocês) sem muita pica para pegar no livro.

Mas bem, o essencial é que senti a falta de algumas personagens. Kettricken, o Bobo, Veracidade, Castro e Breu, embora estes dois últimos tenham algum (pouco) tempo de antena. A escrita continua ao nível da dos outros livros, fluida, simples, hábil a transmitir emoções (estar na primeira pessoa também ajuda, claro), e viciante. Muito viciante.

Se bem que este tem o mesmo problema do segundo livro, "O Punhal do Soberano", correspondente à primeira metade do segundo volume em inglês. É que sendo apenas a primeira metade, enquanto livro sozinho, sabe a pouco. Fica a meio. Não há um clímax. Há um quase clímax, na parte final, em que se sente mesmo que vai acontecer qualquer coisa, de certeza, e depois, nada. Fica para o livro a seguir. Ora, isto, num livro, é horrível.

Mas pronto, são opções editoriais. Como comecei a ler, quase de imediato, o livro a seguir, não sofri muito com esta divisão. Excepto, é claro, na carteira, já que tive que comprar 2 livros para ler aquilo que é, ao fim e ao cabo, 1 único livro.

Resumindo, apesar de alguns pequenos defeitos, aconselho!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Em desacordo quanto ao Acordo


Não gosto desta história do Acordo Ortográficos de muitas e variadas maneiras, as quais não vou enumerar na totalidade, pois não é esse o meu objectivo hoje. Hoje quero debruçar-me sobre duas coisas, uma bastante abrangente, e outra bastante específica.

A primeira é: o Acordo é estúpido. Tenho dito, não comento mais, por hoje.

A segunda é: Alguém me consegue explicar como é que é suposto que eu, ao ler um livro já de acordo com o novo Acordo (passe a redundância), não tropece em certas e determinadas atrocidades, palavras barbaramente mutiladas e estropiadas por esta nova mudança artificialmente introduzida?!

É que uma coisa é tiraram o p de baptismo, para batismo. Não me agrada, mas passa. Agora tiraram o c de tecto, por exemplo, deixa-me pelos cabelos. Como é que querem que eu leia teto? Eu cá só vejo uma opção, e envolve algo que as vacas têm às 4 de cada vez. Só que no masculino. Juro que da primeira vez que isto me apareceu, tive que ler a frase 4 ou 5 vezes, para me convencer que era tecto, e ainda não me habituei, após 317 páginas, a ler esta palavra (e muitas mais!), sem nelas tropeçar, o que, como devem adivinhar, me interrompe ligeiramente o ritmo de leitura.

Pode ser que eu, aliás, todos nós, tenhamos sorte, e alguma coisa deite abaixo este terrível Acordo "O Estripador" Ortográfico abaixo. Pode que ser que isso não aconteça, e não tenhamos outro remédio se não habituarmos. Bem, nesse caso, vive la résistance!!!

domingo, 3 de outubro de 2010

A Proporção Áurea - A linguagem matemática da beleza

Por muito estranho que pareça, a Matemática tem-se vindo a tornar numa disciplina da qual gosto bastante. E isso é mesmo muito estranho, se se tiver em conta, que durante uns 10 anos, não a podia ver à frente, embora tivesse boas notas.

Pois agora, a verdade, é que é uma das minhas disciplinas favoritas, e este livro, que trata, especificamente, do fi, o chamado número de ouro, encheu-me as medidas, matematicamente falando. Em termo literários não é nada de especial, mas com é um livro mais ou menos científico, está perdoado.

Digo mais ou menos, porque não é um livro técnico, daqueles aborrecidos, que uma pessoa sem conhecimentos da matéria da questão não percebe nada. Mas também não é brincadeira nenhuma. É um livro com peso e medida, que tanto pode maravilhar o leigo, como entreter o especialista.

E o número de ouro é realmente fascinante. Está presente em quase tudo, especialmente na natureza, embora alguns exemplos possam parecer ligeiramente forçados, como o próprio autor diz, no livro. Desde as proporções das folhas, o crescimento de árvores e outras plantas, a disposição das sementes nos girassóis, até aos quadros dos grandes mestres, como A Mona Lisa de Leonardo Da Vinci.

É claro que é mais fácil de se ler se se tiver alguns conhecimentos na área da Matemática, principalmente por causa de alguns demonstrações e conceitos, que podem ser complicados de compreender e/ou assimilar (que tal  algo com perímetro finito e área infinita?), mas que também se lê igualmente bem sem esses conhecimentos, já que contextualiza tudo em termos históricos, incluindo pequenas biografias de várias personagens histórias relevantes, e consegue desenvolver as teorias de forma leve, e pouco densa, com linguagem acessível.

De destacar, ainda, os anexos, onde vêm excertos dos textos originais que falam sobre o número de ouro. Estes sim, já extremamente técnicos, e muito complicados de compreender, até para quem já tenha bons conhecimentos disto, mas que não deixam de ser uma preciosa e interessante adição ao livro. E, é claro, a detalhada biografia, para que se possa pesquisar mais sobre os assuntos tratados no livro.

Aconselho, portanto, a quem gosta de Matemática, mas também a quem não gosta. Quem não sabe, não ficará rendido?