segunda-feira, 30 de maio de 2011

Terna é a Noite


Título: Terna é a Noite
Autor: F. Scott Fitzgerald
Tradutor: Maria Filomena Duarte


Sinopse: Uns anos mais tarde, a jovem actriz Rosemary Hoyt ainda se lembra da forma idílica como conheceu o casal Diver. Os primeiros dias das suas férias na pequena povoação de Cannes, na Riviera Francesa, foram aborrecidos, mas a sorte de Rosemary muda quando conhece Dick e Nicole Warren Diver, acabando por provocar um abalo na relação do casal. O aparecimento do milionário Tommy Braban complicará ainda mais a relação dos Diver. Escrito nos anos 30, o romance é muitas vezes apontado como autobiográfico. Coincide com o internamento da mulher num hospício e com o fim do casamento do próprio Fitzgerald, que acaba por se refugiar no álcool.

Opinião: Terna é a Noite é o primeiro volume daquela que é, muito provavelmente, a melhor colecção que eu já vi sair num jornal: a Não Nobel. O conceito é fascinante (deixo mais sobre este assunto para mais tarde), reúne não uma, mas várias mãos cheias de autores interessantes, e tem uma qualidade estupidamente boa, para aquilo que é normal nestas colecções.

Ora bem, quanto à história, que é, muito provavelmente e como vi escrito algures, autobiográfica, tenho a dizer que me parece ser um perfeito retrato da decadência de toda uma geração, na primeira metade do século XX, nomeadamente a americana. Numa época em que ser diletante era a norma, ou seja, muitos sonhos, muitas iniciativas, mas poucos resultados, o livro começa por relatar a história de Rosemary, uma jovem actriz, e da sua mãe, que gere a sua carreira. Praticamente toda a primeira parte do livro é dedicada a estas duas personagens, principalmente a Rosemary, dando até a entender que aquela é a personagem principal, quando na realidade são duas personagens que ela conhece que são as principais, apesar de a jovem actriz também ter alguma relevância ao longo de toda a obra.

Essas personagens são Dick e Nicole, os Diver: ele, um psiquiatra com aspirações a escritor, é uma pessoa encantadora, que é apresentado como sendo perfeito, especialmente quando visto pelos olhos de Rosemary, mas que se revela como um ser atormentado; ela, uma pessoa deslumbrante, com um passado que não gosta de lembrar e um pequeno grande segredo, que tenta a todo custo manter escondido da sociedade em geral.

A segunda parte do livro dedica-se as estas duas personagens, contando o seu passado até ao momento em que conhecem Rosemary, e continuando a partir daí, especialmente no que toca Dick, que começa a segunda parte como um jovem sonhador e ambicioso, mas que é confrontado com uma vida demasiado turbulenta e com uma mulher com um passado difícil que por vezes encontra o seu caminho até ao presente. Isto leva a uma lenta decadência, paralelamente a toda a geração, que o faz terminar a segunda parte num estado verdadeiramente deplorável e que o marcará para o resto dos seus dias.

Na terceira parte do livro nem Dick nem Nicole são os mesmos. Nem Rosemary! Esta, de criança inocente, acabou por se tornar numa jovem mulher segura de si mesma, enquanto que Dick se tornou amargo e derrotista, verdadeiramente esgotado e psicologicamente exausto, acompanhado por Nicole, cada vez mais frágil.

A história é interessante, típica da altura em que foi escrita, ao retratar a alta sociedade, realçando os seus defeitos e excessos, com uma escrita minuciosa e agradável. O título, curioso, é retirado de "Ode to a Nightingale", um poema de John Keats, e é, para mim, representativo daquilo que é comum às personagens deste livro. A simpatia que tinham à noite e à calma e benéfica escuridão que esta oferecia, como forma de escaparem e de descansarem, inclusivamente de si mesmos.

Gostei bastante, e aconselho.

domingo, 29 de maio de 2011

Que as citações nos caiam em cima [7]

A citação que deixo aqui hoje tem muito pouco de literário, ou de filosoficamente profundo. Mas achei importante partilhar esta passagem, porque acho que transmite uma certa mensagem, se se estiver com atenção suficiente.

"Margaret odiava a igreja, mas o pai não a deixava faltar à missa, muito embora ela tivesse dezanove anos, idade suficiente para ter as suas próprias ideias sobre a religião. Há cerca de um ano, tinha conseguido reunir a coragem suficiente para lhe dizer que não queria ir; mas ele recusara-se a ouvi-la. Margaret tinha dito:
- Não achas que é hipocrisia da minha parte ir à igreja se não acredito em Deus?
- Não sejas ridícula - respondera o pai."
Ken Follet,  "Noite Sobre as Águas"

Hipocrisia. Qual democracia qual carapuça, nós vivemos é num sistema de hipocrisia.

domingo, 22 de maio de 2011

Que as citações nos caiam em cima [6]

Esta semana trago uma citação mais negra, de um génio contemporâneo da literatura de terror: Stephen King. Descobri esta frase do autor há algum tempo, e a verdade é que ficou vincada numa parte qualquer da minha alma, até hoje, quando a decidi partilhar convosco.

"Os monstros são reais, e os fantasmas também. Eles vivem dentro de nós, e por vezes, ganham."
Stephen King

Penso que o importante é deixarmos o mínimo possível que eles ganhem as nossas renhidas batalhas interiores.

Continuamos à espera das vossas citações!

Boas leituras para todos.

sábado, 21 de maio de 2011

Uma Nova Maneira de Ver o Mundo

Título: Uma Nova Maneira de Ver o Mundo
Autor: Maria Isabel Binimelis
Tradutor: João Pedro Piroto Pereira Duarte

Sinopse: Muitos fenómenos naturais apresentam formas irregulares, inclusive caóticas, que a geometria tradicional é incapaz de analisar: a esponjosidade das nuvens, a ramificação das árvores, o ziguezague dos relâmpagos... Encontramos a solução para este problema num conceito matemático revolucionário, o de fractal, e numa nova forma de ver o mundo, baseada na máxima "O todo contém a parte e a parte, o todo".

Opinião: As minhas expectativas para a leitura deste livro eram grandes. Confesso que estava mais do que ansioso para o ler, graças ao fascínio que os fractais exercem em mim. Um fractal, à falta de uma definição geral universalmente aceite, e simples de ser traduzida para linguagem não matemática, são objectos complexos formados a partir de regras simples, que se repetem a si mesmos, em diferentes escalas. Aquele que está representado na imagem acima é o chamado conjunto de Mandelbrot, em honra ao matemático que o descobriu, Benoît Mandelbrot.

E fiquei desiludido. Veio-se a revelar um dos mais fraquitos desta colecção de matemática, que tanto me agrada, e que embora seja interessante, não me deixou completamente preso e agarrado às suas páginas, como já aconteceu com outros números da colecção.

De forma resumido, basta dizer que se prendeu demasiado à história e aos processos que levaram à descoberta e estudo dos fractais, deixando os fractais em si um bocado para segundo plano... E como a história em si não é nada de extraordinário nem de excepcionalmente interessante, enfim, não gostei por aí além.

É no entanto um livro curioso, que fala dos vários tipos de geometria (assunto já falado num livro anterior...) e que introduz a geometria fractal, que é apresentada como aquela que mais fielmente consegue reproduzir e aproximar-se à natureza. Fala de vários tipos de fractais e tem vários exemplos de geometria fractal na natureza, como a ramificação das árvores, a forma de algumas folhas, o movimento de partículas, etc.

Não aconselho vivamente, mas se gostarem da matemática, é uma leitura que pode ser interessante.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Bobo

Título: O Bobo
Autor: Christopher Moore
Tradutor: Leonor Bizarro Marques

Sinopse: Verdadeiras são as palavras de Christopher Moore, mui amado escrivão e jogral literário sem igual, criador de obras de superior inteligência e indescritível hilaridade, incluindo os bestsellers laureados pelo Times da Velha Nova Iorque como "Minha Besta" (sem ofensa!) e que agora decide encarnar, nem mais nem menos, que o lendário Bardo (com a maior humildade e respeito). Uma história perversa, de uma comicidade insana, sobre um monarca apalermado e as suas duas filhas traiçoeiras. Uma intensa narrativa repleta de conspirações, sub-conspirações e contra-conspirações, traições, guerra, vingança, mamas ao léu, luxúria incontida... e um fantasma (há sempre o raio de um fantasma!), vista pelos olhos de um homem de coquilha e guizos na cabeça.

Opinião: Com uma linguagem algo áspera (e hilariante), este O Bobo é, acima de tudo, uma leitura algo leve, puro entretenimento em forma de livro.

A história é uma re-imaginação da peça Rei Lear, de Shakeaspeare, só que do ponto de vista de Pocket, o Bobo Negro, que tem uma visão clara de todos os acontecimentos, característica típica de quem satiriza os outros, e que acho ser um traço fundamental para qualquer comediante que se preze.

A escrita não é nada de extraordinário, com poucos ou nenhuns artifícios literários e usando e abusando de asneiras, insultos, vulgaridades e coisas que tais. O que eu acho extraordinário é a forma como o autor consegue criar uma história interessante (ainda que pouco credível, quer dizer, a coisa até estava a correr relativamente bem, mas depois de chegar às últimas páginas... enfim) mesmo fazendo uso de uma linguagem tão grosseira.

As personagens também não são nada por aí além, exceptuando Pocket, personagem que achei simplesmente deliciosa, para o que contribuiu a história ser narrada por ele mesmo, na primeira pessoa. Aquilo que torna a leitura deste livro tão agradável é a sua constante comicidade, mais ou menos javarda, mas sempre absolutamente hilariante.

Resumindo, é um bom livro, que vale pela comédia (negra). Não aconselhável a pessoas susceptíveis. Acreditem em mim quando digo que este livro devia ter bolinha vermelha. 

terça-feira, 17 de maio de 2011

O Bom Inverno

Título: O Bom Inverno
Autor: João Tordo

Sinopse: Quando o narrador - um escritor frustrado e hipocondríaco - se desloca a Budapeste para um encontro literário, está longe de imaginar até onde a literatura o pode levar. Planeando uma viagem rápida e sem contratempos, acaba por conhecer um escritor italiano mais jovem, mais enérgico e muito pouco sensato, que o convence a ir com ele até Sabaudia, em Itália, onde o famoso produtor de cinema Don Metzger reúne um leque de convidados excêntricos numa casa escondida no meio de um bosque. O cinema não é, porém, a única obsessão de Don: da sua propriedade em Sabaudia levantam voo balões de ar quente estranhamente vazios, construídos como obras de arte por Andrés Bosco, um catalão cuja relação com o produtor permanece um enigma. Nada, aliás, na casa de Metzger é o que parece; e, depois de uma primeira noite particularmente agitada, o narrador acorda com a pior notícia possível: Don foi encontrado morto no seu próprio lago. Bosco toma nas suas mãos a tarefa de descobrir o culpado e de o castigar, isolando o grupo de convidados na casa e montando-lhes um verdadeiro cerco. Confrontados com os seus piores medos, assustados, frágeis e egoístas, estes começarão a atraiçoar-se e a acusar-se mutuamente, num pesadelo que parece só poder terminar quando não sobrar ninguém para contar a história.

Opinião: Comprei este livro num momento de impulsividade inesperada. Estava num daqueles dias em que me apetecia comprar um livro, só porque sim. E enquanto passeava pelas prateleiras, vi este e mal tive tempo de pensar duas vezes: peguei e paguei. A única informação que tinha acerca deste livro, e deste autor, era tirada directamente da meia dúzia de críticas que tinha lido, e do pouco burburinho que já me tinha chegado, sobre o autor. Ou seja, não sabia nada de substancial.

Foi por essas razões que parti para a leitura deste livro completamente à descoberta. Não sabia o que esperar, as minhas expectativas eram ambíguas, enfim, acho que nunca comecei a ler um livro estando tão coberto de ignorância sobre o mesmo. E foi uma experiência bastante positiva, devo dizer. Demorei algum tempo a entrar no ritmo do livro, mas a partir do momento em que o consegui fazer, "foi sempre a abrir"!

No entanto devo dizer que os meus sentimentos relativamente a esta obra são maioritariamente ambíguos. Não tenho uma opinião muito bem definida sobre o que acabei de ler, em parte por ter reconhecido um escritor português, à medida que as linhas passavam, mas ao mesmo tempo ter dificuldade em acreditar que foi de facto um escritor português que imaginou este livro. Como é que eu hei-de explicar isto... A história tem momentos e pormenores tipicamente portugueses, mas ao mesmo tempo toda a obra é uma espécie de ruptura com a tradicional literatura portuguesa.

Para começar, tem óptimas personagens, factor típico dos grandes escritores portugueses, que sempre achei serem muito focados nas personagens, às vezes mais do que na história em si. Depois é uma mixórdia completamente inusitada de géneros: policial na essência, com laivos de comédia e longas tiradas reflexivas; um estilo que oscila entre o directo e o poético; a narrativa ora a focar-se no mistério existente desde o início, ora a esquecer isso e a deixar-se embargar no terror e no horror, criando uma atmosfera absolutamente macabra.

Além de tudo isto, é ainda uma história com reviravoltas atrás de reviravoltas, com um enredo tudo menos linear, que inclui até perguntas que ficam por responder e uma personagem que achei fascinante pelo simples facto de ter tanta relevância na história embora nunca apareça com vida (a não ser em flashbacks), pormenor a fazer lembrar o Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, com o seu General Gomes Freire de Andrade.

Esta conversa toda é para dizer que gostei bastante do livro, mas que se me perguntarem em como o classificar terei uma enorme dificuldade em responder. Não me perguntem que parte gostei mais, nem qual a minha personagem favorita, porque ainda estou a assimilar muita coisa. Tenho ainda que realçar dois aspectos que achei mais negativos: um, foram os diálogos, não os achei tão excepcionais como são pintados, achei-os banalíssimos, na sua maioria, sem nada de extraordinário, nem por aí além. E outro foi toda a nebulosidade da obra. É sempre muito vaga, as descrições têm poucos detalhes, deixando no ar uma sensação de estranheza que não me convenceu por completo... Mas, como é óbvio e já disse mais acima, gostei muito do livro, e espero vir a ler mais coisas deste autor bastante promissor.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Que as citações nos caiam em cima [5]

Lembro-me quando me oferecem este livro, "O Principezinho", foi pelo meu aniversário tinha eu 8/9 anos. Dentro tinha uma dedicatória do meu padrinho, e o que prometia ser uma leitura divertida! Comecei logo a ler mas deixei o livro a meio, acho que na altura não achei grande piada à história, porque não a percebi bem... Anos mais tarde voltei a lê-lo e adorei! Permitem-me o termo mas a história é deliciosa como se de um bolinho se tratasse, é daqueles livros que criam nostalgia e dá vontade de o ir ler de vez em quando, nem que seja com o protesto de entreter os primos mais novos.
A citação que vos trago, é deste mesmo livro:


"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos..." 

Diz a Raposa ao Principezinho em "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry


Esta passagem tocou-me especialmente, pelo simples facto que há coisas que não conseguimos ver com um simples olhar, os valores e os princípios, existam ou não, daqueles com quem nos cruzamos só os vemos com o continuo conhecimento que fazemos deles.
E é maravilhoso, quando desse cruzamento conhecemos pessoas fantásticas, que se tornam essenciais no nosso dia-a-dia, tal como o principezinho e o narrador desta história.


É por esta razão que esta frase me deixa um brilho no olhar! Nunca vos aconteceu "julgar" uma pessoa antes de a conhecerem? A mim já, umas vezes acertei, outras surpreendi-me porque só com o coração vemos aquilo que realmente define uma pessoa, a sua essência.
E esta é a maior lição que podemos tirar!


Como podem ver, há citações que por um motivo ou por outro mexem connosco, por isso partilhem com "Que a estante nos caia em cima" frases, pensamentos que vos ficaram na memória e o porquê. Enviem-nos para o seguinte endereço queaestantenoscaiaemcima@gmail.com.  Ficamos à espera!


Até lá, boas leituras! 

sábado, 14 de maio de 2011

Que as citações nos caiam em cima [4]

Lembro-me que enquanto estava a ler o Memorial, fiquei encantada com esta frase algures por ali escrita mas entretanto nunca mais me lembrei, até ontem que durante uma aula de português me deparei com ela e desta vez não me escapou:

"Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita."

O Memorial do Convento, José Saramago.

Acho linda esta frase, ou não fosse eu, uma rapariga, um tanto ou quanto feminista e bastante sonhadora...

Já sabem que podem enviar mais citações, contem-nos também um pouquinho do porquê de terem gostado e/ou identificado com ela, teremos todo o gosto em ler e em partilhar! Enviem-nos para queaestantenoscaiaemcima@gmail.com.  

A todos, bons momentos passados com os livros!

Os policiais e os livros de terror


Talvez a maior parte das pessoas nunca tenha pensado muito bem nas semelhanças e diferenças entre estes dois géneros. Aparentemente têm muito pouco a ver um com o outro: nos policiais há um crime, que alguém tenta resolver; nos livros de terror há qualquer coisa aterrorizante que assombra toda a leitura. No entanto uma vez li uma frase de H.P. Lovecraft, um dos maiores escritores de terror de sempre, e um dos meus autores favoritos, que me permitiu fazer a improvável ligação entre os dois géneros:

"A mais antiga e forte emoção da humanidade é o medo. E o mais antigo e forte medo, é o medo do desconhecido." - H.P. Lovecraft

Concordei de imediato. Especialmente depois de pensar no que já li deste autor. Aquilo que me manteve sempre agarrado a cada um dos seus contos foi sempre a mesma coisa: o desconhecido. A maior parte, se não todas as suas histórias centram-se nalgum tipo de monstro desconhecido, ou nalguma situação misteriosa de contornos estranhos e inexplicáveis. Lovecraft, sendo o mestre que era, fazia uso deste "medo do desconhecido" de forma excepcional, resultando sempre em brilhantes e emocionantes histórias do mais puro terror.

Mas o que é que isto tem a ver com os policiais?, perguntam vocês. Pois bem, lembram-se do que eu escrevi logo no início? Que nos policiais "há um crime, que alguém tenta resolver"? Ora, dependendo do autor, cada livro deste género se pode focar numa de várias coisas, ou talvez em mais do que uma. Nos livros de Agatha Christie há sempre uma preocupação constante em chegar à verdade, em descobrir o culpado, em perceber exactamente o que é que se passou, transformando a leitura numa espécie de jogo intelectual no qual o leitor é convidado a participar. Já nos policiais de Arthur Conan Doyle, embora haja a mesma preocupação com a verdade e em descobrir o culpado e aquilo que se passou, a mim sempre me pareceram livros mais focados no detective em si e na sua forma de agir do que noutra coisa. A discussão Sherlock vs Poirot já é antiga, e não é esse o meu objectivo neste texto, mas em termos de carisma enquanto personagem, acho que o detective britânico ganha aos pontos ao seu colega belga, pelo simples facto de falar menos e de ter uma participação menos activa nos desenvolvimentos, ou seja, por ser mais misterioso.

No entanto é sempre a mesma coisa que nos mantém agarrados a estes livros: o desconhecido. Penso que esta conclusão possa ser estendida a praticamente qualquer género e a praticamente qualquer livro, é quase sempre aquilo que não sabemos um dos motivos principais para a leitura de um livro. Seja querermos saber o fim da história, ou o que é que acontece à personagem X, seja querermos saber que presença é aquela que está presente em todo o livro sem nunca ser vista ou apercebida, seja querermos saber o culpado do crime.

E aqui tenho que acrescentar qualquer coisa às palavras de Lovecraft. Enquanto pessoas, acho que não temos apenas medo do desconhecido. Acho que temos também uma curiosidade insaciável, aspecto que eu acho ser intrinsecamente humano. Não há animal mais curioso à face da Terra. Queremos saber tudo, e embora isso por vezes nos assuste, que é exactamente aquilo que Lovecraft e outros escritores de terror exploram nos seus livros, temos quase que uma compulsão mórbida de saber tudo, característica aproveitada pelos escritores de policiais, cujos livros são normalmente autêntico page-turners.

É por estas razões que há pessoas que vão sempre ler as últimas páginas dos livros, e é também por estas razões que os livros de vampiros já não têm o efeito que tinham antigamente. Estes monstros tornaram-se algo tão banalizado e comum que toda a gente os reconhece. Se qualquer pessoa estiver a ler um livro e aparecer alguma personagem que foge do Sol, ou que tem medo de cruzes, ou que é estranhamente pálido, sabe de imediato que é um vampiro, e perde-se toda a surpresa, desvanece-se a curiosidade e perde-se o medo. E falo por mim próprio, que ao ler o "Drácula" não senti o terror que aquele livro certamente inspirou, na altura em que foi escrito, porque eu já sabia a história, já sabia que havia um vampiro, quem ele era, o que fazia e como...

Acho que divaguei um bocadinho mas espero ter-me feito entender: é o desconhecido que está na base do interesse quer de policiais, quer de livros de terror.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Memorial do Convento

Título: Memorial do Convento
Autor: José Saramago

Sinopse: Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez.

Opinião: O motivo desta leitura foi um bocado ambíguo. Por um lado queria ler esta obra por ter sido escrito por Saramago, escritor que aprecio bastante, mas por outro lado tive que ler esta obra, para a escola.

Mas isso é um pormenor. Sendo do escritor que é, eu já sabia que não me iria desapontar, apesar de ainda só ter lido outro livro dele, e confesso que ia com as expectativas bastante altas. E a verdade é que me desapontei ligeiramente. Não sei se comecei logo por um dos melhores e os outros agora me vão parecer inferiores, mas para ser honesto tenho que dizer que gostei menos do que estava à espera. Gostei muito, adorei a escrita e as personagens e a história e a imaginação, mas não me caiu tão bem como o Evangelho.

Os dois pontos mais positivos, para mim, são mesmo as personagens e a história. Todas as personagens são impecáveis a nível da construção, todas têm uma profundidade e um relevo impressionante, mas falo especialmente de Baltasar Sete-Sóis, Blimunda Sete-Luas e do padre Bartolomeu Lourenço, o Voador. Estas 3 personagens são o que este livro tem de melhor, na minha opinião. As suas descrições, tanto físicas como psicológicas são absolutamente soberbas, sem qualquer tipo de falha.

Depois a história, que é algo que eu aprecio sempre muito, é uma história bem contada, que por vezes parece que se torna monótona e que se deixa arrastar, mas são pequenos momentos esporádicos que em nada me afectaram a leitura.

Já a escrita, essa sim apresenta uma dualidade curiosa... É que de certa forma é densa e complicada de ler, mas ao mesmo tempo consegue proporcionar um ritmo de leitura moderadamente acelerado. Como é que eu hei-de explicar isto... Custa a começar a ler, mas depois de se lerem 2 ou 3 páginas é sempre a abrir.

Ou seja, resumindo e concluindo, é uma boa leitura, que não me agradou tanto como eu esperava que agradasse, mas que ainda assim foi das melhores coisas que já li este ano.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Que as citações nos caiam em cima [3]

No último sábado não publicámos nenhuma citação, por falta de disponibilidade, portanto cá fica uma, desta vez escolhida por mim.

“…condene-me Deus se não declarar que melhor vestem as bestas do que os homens que os vêem passar, e isto é sendo o Corpo de Deus, trouxe cada um no seu próprio corpo o que de melhor tinha em casa, a roupinha de ver o Senhor, que tendo-nos feito nus só vestidos nos admite à sua presença, vá lá a gente entender este deus ou a religião que lhe fizeram…”

O Memorial do Convento, José Saramago

Já sabem, para nos enviarem mais citações só têm que enviar um e-mail para queaestantenoscaiaemcima@gmail.com. Boas leituras!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ouvir o silêncio a ler

Hoje realizou-se na minha escola uma iniciativa que eu não posso deixar de comentar aqui no blog. Ficou combinado que hoje de manhã por volta das 10h30, toda a escola pararia durante 45 minutos para ler um livro.

Ninguém escapou: dos alunos que gostam de ler aos que não gostam dos funcionários aos professores, todos se dedicaram religiosamente à prática da leitura durante 45 minutos, absorvendo a beleza do silêncio que reinava a escola enquanto cada um mergulhava num mundo que só ele via. Tal era o silêncio e a concentração, que por várias vezes me esqueci de que estava a ler dentro de uma sala de aula com mais 28 pessoas.

Aplaudo a iniciativa, que já tinha sido realizada anteriormente em outras escolas, e deixo-a como sugestão a todos os nossos leitores: talvez um dia possamos incentivar uma hora de leitura nacional, e como sonhar não custa, quem sabe, mundial.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Estante arrumada



Já algum tempo que queríamos arrumar a estante, que é como quem diz, alterar o design do blogue, dar-lhe um novo aspecto, limpar o pó e arrumar os livros que dão cor às prateleiras.

Mas mais uma vez,a falta de tempo encarregou-se de adiar esta tarefa e só neste fim-de-semana é que metemos mãos à obra, ou melhor, a Alice tratou de o fazer. Agora temos na nossa página, o acesso ao perfil de cada um dos colaboradores, o azul como tom escolhido para este novo visual, e uma nova imagem de fundo. Imagem esta tirada pela Alice aos livros que andam pela sua própria estante, e não há nada mais adequado e genuíno que a fotografia dos livros, dos nossos livros, que dão vida ao "Que a Estante nos Caia em Cima". 

Fica a faltar apenas o link  do Twitter, mas trata-se só de uma situação temporária, não tarda estará de novo na barra direita do blogue. 

E com a nossa estante remodelada, agora pintada de azul, esperemos que as leituras ganhem também um novo gosto, ou deveria dizer, uma maior rapidez? E que a estante não nos caia em cima, logo agora que está arrumada!

E que tal? Gostam da mudança? Nós gostamos muito, parabéns Alice!