domingo, 27 de maio de 2012

The Green Mile

Título: The Green Mile
Autor: Stephen King

Sinopse: The Green Mile: those who walk it do not return, because at the end of that walk is the room in which sits Cold Mountain Penitentiary's electric chair. In 1932 the newest resident on death row is John Coffey, a giant of a black man convicted of the brutal murder of two little girls. But nothing is as it seems with John Coffey, and around him unfolds a bizarre and horrifying story.

Evilr murderer or holy innocent - whichever he is - Coffey has strange powers which may yet offer salvation to others, even if they can do nothing to save him.

Opinião: Para aqueles que ainda não sabem, Stephen King é dos meus autores favoritos, se não for mesmo o meu favorito. Portanto é muito complicado para mim escrever uma opinião objectiva sobre um livro dele, o que significa que não me vou esforçar muito para isso. Aquilo que vão ler é a minha opinião super parcial, se quiserem, mas eu não me importo. É Stephen King.

Começo por dizer que este livro é bastante atípico, para este autor. A excelência de contador de histórias está lá toda, mas não tem as quantidades copiosas de sangue e membros decepados e estropiados presentes noutros livros. A princípio fiquei com medo que isso fosse estragar o livro, já que uma boa parte daquilo que me faz gostar de King é exactamente a sua mestria a descrever e a criar situações de terror e de macabro. Medos infundados. O livro tem algumas (poucas) situações verdadeiramente à la Stephen King, mas a ausência delas do resto do livro não diminuiu a sua qualidade.

Antes pelo contrário. The Green Mile é o livro que leio de Stephen King, e digo sem hesitar que é dos melhores, apesar de ser um livro diferente do que é habitual, em vários sentidos. É menos macabro, tem um ritmo mais lento e é um verdadeiro peso pesado do suspense.

Pormenor interessante: foi originalmente publicado em 6 pequenos volumes, que correspondem a 6 partes do livro, muito ao estilo de Dickens, como o próprio autor o afirma. Isto leva que existam 6 pequenos finais, que deixam sempre quem lê com uma vontade desesperada de virar a página e continuar a ler. Nem consigo imaginar como terá sido aquando da primeira publicação, em que se tinha de esperar 1 mês para ler a parte seguinte!

Mas pronto, a história é bastante simples (até isso é relativamente atípico), e passa-se quase inteiramente na zona do corredor da morte de uma prisão, zona a que as personagens costumam chamar Green Mile, por causa do seu chão verde. E tudo começa verdadeiramente quando John Coffey, um negro gigante, se torna no novo ocupante de uma das celas, acusado de um crime horrendo. Mas Coffey é mais do que o seu aspecto algo idiota deixa transparecer: tem uns certos poderes meio mágicos meio milagrosos. A partir desta premissa, bastante simples, Stephen King arranjou toda uma história em que de repente tudo começa a fazer sentido, à medida que o ritmo acelera, mais para o fim do livro.

É de facto uma excelente narrativa, que originou uma das muitas adaptações cinematográficas de livros deste mestre do terror, e que foi uma das que mais teve sucesso. Confesso que ainda não vi o filme, mas se o próprio King diz que é das melhores e mais fiéis adaptações de um livro seu...

Enfim, só vos posso dizer que vale muito a pena ler este livro, que conta uma história muito bem contada, como é costume. Ah, e acho que nunca mais leio um livro dele em português. Ler em inglês foi uma experiência completamente diferente e que apreciei muito mais. Aconselho vivamente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Verdadeira Invasão dos Marcianos

Título: A Verdadeira Invasão dos Marcianos
Autor: João Barreiros

Sinopse: Estamos em 1902, cinco anos depois da malograda Invasão Marciana que quase destruiu por completo o nosso planeta. Para responder ao assalto, a Europa, Rússia e Estados Unidos formaram o mais gigantesco complexo militar-industrial da história da humanidade. Missão: ocuparem Marte e mostrarem aos marcianos sobreviventes quanto custa atacar traiçoeiramente a espécie humana. O Exército de Intervenção Terrestre apresta-se agora a penetrar na atmosfera do planeta inimigo e desferir o golpe fatal. E, claro está, aproveitar-se de todas as inovações tecnológicas que possam ser recuperadas das ruínas da civilização marciana. Num dos cilindros de assalto, os jornalistas Jules Verne e H.G.Wells, não sabem o que fazer. Ainda por cima naufragaram no hemisfério sul do planeta a milhares de quilómetros do local de poiso do exército terrestre, junto a uma pirâmide que parece conter terríveis segredos. As perguntas parecem não ter resposta: Porque se suicidaram todos os marcianos? Que criaturas sã essas, os Priiiiiks, espécie de avestruzes inteligentes que teriam sido escravizadas pelos polvos? Principalmente, quem é esse sinistro Dr. Herbert Goodfellow, adorado pelos polvos como um Deus e cujo fantasma parece assombrar a pirâmide? Verne e Wells vão tentar resolver o mistério. Infelizmente a resposta só virá cento e cinquenta anos mais tarde. Quando a Terra for invadida, de uma vez por todas, por centenas de extraterrestres bem-pensantes.

Opinião: João Barreiros é um daqueles autores que eu descobri não sei bem como, mas que não me podia ter deixado mais feliz. A partir do momento em que descobri que havia pelo menos um autor português a escrever ficção científica com pés e cabeça, e que já o fazia há algum tempo... A minha confiança no nosso país foi mais ou menos restaurada.

Além disso, se alguém me vier dizer que os escritores portugueses só escrevem dramalhões e histórias trágicas e intensas, para além de lhe atirar com um livro aleatório do Eça à cabeça, mostro-lhe João Barreiros. Ficção científica pura e dura. Com humor negro. Este livro em particular até corresponde ao preconceito que a maior parte das pessoas tem, relativamente a este género: naves espaciais, brincadeiras temporais, extraterrestres e afins.

Mas não se preocupem, potenciais leitores interessados, esta história, ou melhor, estas, são tudo menos clichés. São duas histórias que no fundo são a mesma, como o autor explica no prefácio. E esta história é simplesmente espectacular. Para começar, tem as seguintes personagens principais: Jules Verne, H.G.Wells, Edgar Rice Burroughs, Moreau e John Carter. Estes foram os que eu reconheci, sendo que os primeiros três são autores bastante famosos (até parece que preciso de os apresentar...), o segundo é uma personagem de um livro de Wells e o terceiro uma personagem de uma série de livros de Burroughs. Homenagens à ficção científica que bastante me agradaram. E depois ainda são mais qualquer coisa. Quão mais espectacular podem querer que isto seja?

É que além de um conjunto de personagens deste calibre, a história está recheada de um humor mordaz, frio e por vezes maldoso. E ainda nem sequer falei na forma magistral como as histórias estão escritas. Elas complementam-se. No fundo são duas faces da mesma moeda. Mas não só. São também duas histórias independentes, que valem por elas próprias.

Ou seja, é mais um que adorei, mais um autor português espectacular, que entra na minha categoria pessoal de "Capaz de Rivalizar Com Grandes Nomes Mundiais". Tive muita sorte em ter encontrado este livro, quase dado, é tudo o que vos digo...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Relatório Minoritário

Título: Relatório Minoritário
Autor: Philip K. Dick
Tradutor: Saul Barata

Sinopse: Philip K. Dick é um dos grandes mestres da ficção científica. As suas obras inspiraram filmes de culto como Blade Runner, e continuam, ainda hoje, a ser adaptadas ao cinema. É o caso de Relatório Minoritário, um conto admirável que nos revela um mundo onde o autor faz coabitar uma estranheza intrigante e uma realidade que se afigura plausível, que temos a ilusão de conseguir tocar com as pontas dos dedos. Tudo se passa num futuro não muito longínquo. A América conseguiu erradicar quase completamente o homicídio graças a um sistema inovador de previsão exacta do crime concebido e colocado em prática por John Anderton, comissário da Agência Precrime. E é justamente quando Anderton está a explicar ao seu novo assistente o complicadíssimo funcionamento de toda aquela parafernália que o mais insólito acontece - o equipamento informático debita uma ficha onde se pode ler o seu próprio nome. John Anderton irá matar um homem. É o início de uma fuga alucinante ao que se afigura na mente do comissário como uma conspiração paranóica para o derrubar e fazer desacreditar todo o sistema. Mas quem estaria tão interessado em fazê-lo? Uma narrativa empolgante, que nos fascina pela sua inacreditável capacidade de nos surpreender e de nos manter suspensos na vertigem de um universo que quase ultrapassa a própria ficção científica.

Opinião: A capa é hedionda, eu sei. Quer dizer, não é propriamente horrível, mas eu nunca gosto quando usam os filmes para fazer as capas dos livros. Especialmente quando o filme é apenas vagamente baseado na história original. Ainda por cima espetaram lá com a cara da personagem principal, John Anderton, que no filme é o Tom Cruise, todo bonitão, jovem e atlético, enquanto que no livro é um homem de meia idade, pouco atlético e careca.


Enfim, não interessa. Até porque as personagens deste conto são muito pouco profundas, o que não tem mal, já que o principal é claramente o enredo e as questões que este levanta. A premissa é simples: a certa altura do nosso futuro, descobriram-se mutantes capazes de prever o futuro, os precogs e fundou-se uma agência Precrime que os usa para prever crimes e assim deter as pessoas ainda antes de cometerem o dito crime. Um sistema de prevenção, em vez de punição.


As suas vantagens e desvantagens são bem exploradas, apesar da pequenez do conto. Rapidamente a história cai numa teia de dimensões temporais alternativas, paradoxos e problemas afins. Não se brinca com a linearidade (ou falta dela) do tempo. E é claro que se está mesmo a ver que tudo isto levanta uma grande questão, a mais normal em histórias que envolvam brincadeiras temporais: existe livre-arbítrio?


E a questão não podia surgir da forma mais natural. Anderton, à frente da Agência do Precrime, lê uma das previsões dos precogs que diz que ele irá matar alguém. A partir daqui acho que conseguem imaginar. Irá ou não irá fazê-lo? O facto de ter acesso a esta informação influenciará os seus actos? Será que que irá cumprir a previsão, independentemente de ter tido conhecimento dela ou não? Ou será que a irá cumprir (ou não), exactamente por ter tido conhecimento dela?


Estas questões são bem desenvolvidas, dentro dos limites de um canto, como é óbvio. O autor vai dando respostas e conclusões bem interessantes, até que chega ao fim e... deixa a conclusão final para nós. Eu cá ainda não me consegui decidir. Mas uma coisa sei: que é um bom livro, pelo qual daria mais uns trocos do que os poucos que dei por ele.

domingo, 13 de maio de 2012

Death is a Lonely Business

Título: Death is a Lonely Business
Autor: Ray Bradbury

Sinopse: Ray Bradbury, the undisputed Dean of American storytelling, dips his accomplished pen into the cryptic inkwell of noir and creates a stylish and slightly fantastical tale of mayhem and murder set among the shadows and the murky canals of Venice, California, in the early 1950s.

Toiling away amid the looming palm trees and decaying bungalows, a struggling young writer (who bears a strong resemblance to the author) spins fantastic stories from his fertile imagination upon his clacking typewriter. Trying not to miss his girlfriend (away studying in Mexico), the nameless writer steadily crafts his literary efforts - until strange things begin happening around him.

Starting with a series of peculiar phone calls, the writer then finds clumps of seaweed on his doorstep. But as the incidents escalate, his friends fall victim to a series of mysterious "accidents" - some of them fatal. Aided by Elmo Crumley, a savvy, street-smart detective, and a reclusive actress of yesteryear with an intense hunger for life, the wordsmith sets out to find the connection between the bizarre events, and in doing so, uncovers the truth about his own creative abilities.

Opinião: Cá está o primeiro livro da trilogia em que se insere o Cemitério dos Lunáticos (12). Foi-me emprestado pelo Jorge, do Metáfora de Refúgio, e esta frase foi só um motivo para fazer publicidade ao blog dele. Adiante.

Agora que estou a tentar opinar sobre o livro, sinto-me estranho por já ter lido o que vem a seguir. Tenho a tentação de dizer "no livro anterior", mas bem vistas as coisas, este é que é o livro anterior. Mas bem, o que interessa é que o ritmo é ligeiramente menos frenético que no Cemitério dos Lunáticos, embora a história tenha contornos igualmente bizarros.

O mistério e o suspense são constantes ao longo de toda a narrativa, e de toda a trilogia, parece-me. Aquilo que o autor criou, com estes livros, foi uma série bastante própria e original de policiais, com personagens maioritariamente tresloucadas e praticamente todas ligadas entre si das formas mais inacreditáveis e surpreendentes.

A escrita pareceu-me ligeiramente diferente da do outro livro, provavelmente por ter lido este em inglês e o outro em português. Igualmente boa, mas mais pausada e descritiva, mais propensa a monólogos e menos a avanços frenéticos da história. Mas por outro lado, talvez o próprio livro seja assim. Falta-me agora saber se o último, Let's All Kill Constance, é ainda mais acelerado, ou se a trilogia se acalma, nesse ponto.

Por fim, acho que não se perde grande coisa, se se lerem os livros fora de ordem. Talvez sintam uma pequena estranheza, se forem como eu, mas nada de muito grave. Enfim, leiam e entretenham-se com a imaginação de Bradbury, um dos grandes nomes do Fantástico (e mistério, obviamente) mundial.

sábado, 12 de maio de 2012

Feira do Livro 2012


Mais um ano, mais uma feira, mais uns dias de loucura. 28 livros, em 4 ou 5 visitas, sem chegar a gastar 70 euros. Isso dá uma média de menos de 2.5 euros por livro. Ainda me soa demasiado ridículo para ser verdade.

É claro que mais de metade foram Argonautas, a 1 euro cada, de autores como Philip K. Dick, Isaac Asimov, Ray Bradbury, Frank Herbert, Arthur C. Clarke, Conan Doyle, Ursula K. LeGuinn, entre tantos outros. E ainda outros 2 por 50 cêntimos, sendo que um deles foi outro do Arthur C. Clarke. Sem esquecer uma BD da série Dark Tower, do Stephen King, a 25 cêntimos. O resto foram 3 do David Soares, um dos quais já tá lido, outra BD do Stephen King, The Stand, que foi provavelmente a minha compra mais cara: 17.5 euros. Ainda mais um do Philip K. Dick, uma preciosidade do João Barreiros e 2 do E.S.Tagino, um autor que me deixou bastante curioso.

Acho que posso afirmar sem muitas dúvidas que nunca tinha ficado tão satisfeito com as minhas compras na feira do livro. Mal posso esperar para os ler todos! Já não tenho qualquer hipótese, vou ter que lutar forte e feio contra a minha ânsia de ler, para conseguir estudar. Não que isso me aborreça. Tenho uma teoria que diz que quanto mais leio, melhor me correm as coisas, no geral. Sem pelo menos uma hora de leitura diária... Sei lá, começo a entrar em paranóia, em algo parecido com stress, e tudo melhora assim que pego num livro, lhe sinto a capa e lhe folheio as páginas, tiro os marcadores para o lado e me deixo envolver na leitura.

Sem mais nada a dizer, deixo aqui a lista completa das minhas aquisições, para os mais curiosos (os primeiros 17 são os Argonautas, o resto é bastante auto-explicativo):


O Deus da Fúria, Philip K. Dick e Roger Zelazny
Rendez-vous com Rama, Arthur C. Clarke
Mensagens do Futuro, Isaac Asimov
O Mundo Perdido, Conan Doyle
O Homem que via o Futuro, James Blish
A Hora da Inteligência, Poul Anderson
Frankenstein Libertado, Brian Aldiss
Planeta do Exílio, Ursula K. LeGuinn
Os Olhos de Heisenberg, Frank Herbert
O Senhor dos Sonhos, Roger Zelazny
O Correio do Tempo, Robert Silverberg
O Xadrez do Tempo, James Blish
Um Demónio no Cérebro, Frederik Pohl
Roderick à Solta - 1, John Sladek
Roderick à Solta - 2, John Sladek
A Era das Aves, James Blish
Além do Inferno, Philip José Farmer
The Dark Tower - The Gunslinger - The Journey Begins, Stephen King
Os Ossos do Arco-Íris, David Soares
Hestia, C.J.Cherryh
Anti-Crepúsculo, Arthur C. Clarke
A Conspiração dos Antepassados, David Soares
O Evangelho do Enforcado, David Soares
The Stand - Soul Survivors, Stephen King
Relatório Minoritário, Philip K. Dick
A verdadeira invasão dos marcianos, João Barreiros
O Pequeno Incendiário, E.S.Tagino
Adamastor, E.S.Tagino

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A Peste Escarlate

Título: A Peste Escarlate
Autor: Jack London
Tradutor: Maria Franco e Cabral do Nascimento

Sinopse: Em A Peste Escarlate (1912), Jack London aproxima-se da ficção científica. A história decorre no século XXI e tem como protagonistas um velho professor universitário e três netos, todos eles reduzidos ao estado selvagem. São dos poucos sobreviventes de uma peste que dizimou a humanidade e aniquilou a civilização no ano 2013. Vítima das partidas dos netos, o avô conta aos três rapazes as aventuras que viveu para escapar à peste, através do mundo despovoado, de desertos e de cidades mortas, procurando ao mesmo tempo incutir-lhes os valores do conhecimento e da sabedoria.

Opinião: Quando comprei este livro, ao desbarato, já agora, não sabia bem o que era. Comprei porque tinha ouvido falar bem do autor, e enfim, custava um euro. Portanto posso dizer que foi uma surpresa bastante agradável, quando me apercebi que era uma mini distopia, se assim lhe quiserem chamar.

Como diz na sinopse, Jack London "aproxima-se da ficção científica", neste livro. Faz isso ao imaginar um futuro em que a maior parte da Humanidade foi dizimada por uma epidemia de acção rápida, a Peste Escarlate, capaz de matar em apenas alguns minutos, sem que a vítima tivesse previamente apresentado quaisquer sintomas ou mal-estar.

O livro retrata um sobrevivente dessa epidemia, algumas décadas depois, acompanhado dos seus 3 netos já nascidos em "estado selvagem". Este homem, antigo professor universitário, tenta educar os netos, contando-lhes histórias do seu passado antes da epidemia, enquanto estes lhe pregam partidas cruéis, de cuja crueldade não têm noção.

A certa altura fala-lhes da Peste Escarlate. Eles, curiosos, pedem para que ele lhes explique o que era isso, e ele acede a contar-lhes a história. Aquilo que se segue é uma descrição daquilo que o autor pensava que aconteceria, caso uma epidemia deste género se abatesse realmente sobre a Humanidade. O pânico e o medo são retratados de forma bastante realista, à falta de melhor palavra.

É interessante assistir à decadência de uma civilização, e ao regresso quase imediato do Homem em geral a um estado mais primitivo e instintivo, ao primeiro sinal de desordem geral. Foram precisos apenas alguns dias para se passar de uma sociedade perfeitamente organizada para o mais perfeito caos. A questão que fica um bocado ar é: será que é mesmo assim? Será que é preciso assim tão pouco para a Humanidade se desmoronar?

Acho que Jack London consegue fazer essa questão muito bem, usando a história como pano de fundo e dando ao narrador uma visão objectiva do seu próprio passado. Além de tudo isto, ainda mostra o autêntico choque de civilizações entre o avô e os três rapazes, o primeiro uma versão trabalhada e educada de um Homem, em contrapeso com os três espécimes de uma Humanidade mais em bruto, para que não nos esqueçamos daquilo que no fundo todos temos dentro de nós, e que talvez esteja só à espera de um empurrão para saltar cá para fora...

domingo, 6 de maio de 2012

Os Ossos do Arco-Íris

Título: Os Ossos do Arco-Íris
Autor: David Soares

Sinopse: Uma vila assombrada por um misterioso visitante, vestido de negro, que traz consigo matilhas de cães. Uma alma prisioneira num corpo imprevisto que se transforma em algo que não deveria existir. Uma criatura fantástica que descobre a sua identidade com a ajuda de um inabilitado. Associando fantasia, realismo mágico e horror, David Soares convida-nos para uma viagem que não voltaremos a esquecer.

Opinião: Antes de dar a minha opinião sobre este livro, tenho que vos falar um pouco acerca do efeito que este autor teve em mim. Agora que penso nisso, "O efeito David Soares" deve dar uma boa crónica, portanto não me vou alongar muito. Quero só dizer que este autor conseguiu uma proeza que eu não achava possível: deixou-me absolutamente fascinando e intrigado com a sua obra, antes ainda de eu ler o que quer que fosse da sua autoria. E não foi só isto. Foi um fascínio tão grande, conforme fui aprendendo mais sobre o escritor e os seus escritos, que gradualmente se tornou num dos meus escritores favoritos, ainda que as únicas coisas que eu tinha lido dele tenham sido os textos publicados no seu blog pessoal.

Eventualmente consegui encontrar uns artigos escritos para esta ou para aquela revista, mas ainda sem ter lido nada de relevo, o meu fascínio era total. A consequência natural disso foi que este ano decidi que ia comprar qualquer coisa dele na Feira do Livro. Mais do que um livro, de preferência. Tinha a certeza que ia adorar. Acho que nunca tinha tido expectativas tão altas para um escritor que me era teoricamente desconhecido.

E meu dito meu feito. Encontrei este "Os Ossos do Arco-Íris" a um preço bastante agradável, e não hesitei um milissegundo que fosse em trazê-lo para casa. Escusado será dizer que também não hesitei em pô-lo no topo da minha lista de leitura e que o devorei em menos de 2 dias. Mesmo tendo em conta as suas meras 158 páginas, e o facto de serem 3 contos e não um romance mais extenso e mais moroso, foi uma leitura rápida. Que adorei.

Nem tenho palavras. Sabem aquela sensação de terem uma comichão num ponto inacessível nas vossas costas, pedirem ajuda a alguém e essa pessoa acertar em cheio no sítio? Foi mais ou menos isso. Eu tinha umas expectativas a um nível virtualmente inatingível, e com a leitura terminada posso dizer, com toda a segurança, que foram ultrapassadas de forma estrondosa. A brutalidade e a crueldade expressas nestas páginas são de um horror e de um asco absoluto. Tudo nestas histórias é perturbador e inquietante, as suas descrições são dos mais mórbido e asqueroso, as personagens do mais sádico e horrivelmente humano, e até o ambiente é assustadoramente tenebroso, quase deixando sentir as trevas à nossa volta. Literatura de terror no seu melhor.

A escrita é maravilhosamente trabalhada, erudita e, acima de tudo, negra. Só assim faria sentido, parece-me agora. Não se deixem assustar pelas histórias perturbadoras, descrições mórbidas e personagens sádicas, pois garanto-vos que tudo faz sentido. Tudo tem um propósito, umas vezes óbvio, outras vezes nem tanto. Aquilo que vos posso dizer é que estou com uma vontade imensa de comprar mais obras deste autor, e que embora não aconselhe, de todo, esta leitura a estômagos fracos, se gostam de horror puro, bem escrito e bem concebido, David Soares parece-me ser o autor a seguir.

sábado, 5 de maio de 2012

Cemitério de Lunáticos - 2

Título: Cemitério de Lunáticos - 2
Autor: Ray Bradbury
Tradutor: António Porto

Sinopse: Uma obra de Ray Bradbury é sempre um acontecimento. O seu "Cemitério de Lunáticos" é a Hollywood da década de 50, olhando como Janus tanto para o passado como para o futuro. O seu herói (que o não é) é um argumentista e um adorador de estrelas. Em 1954, Na Noite das Bruxas, uma mensagem anónima convida-o a ir ao Cemitério de Green Glades, onde irá encontrar "uma grande revelação". A revelação é um cadáver, ou antes, uma reprodução perfeita de J. C. Arbuthnot, o antigo e poderoso senhor do grande e glorioso estúdio Maximus Films, que morreu vinte anos antes. Ou não? O leitor, o herói (?) e o seu amigo Roy Holdstrom, inventor de cenários e artifícios para os filmes de ficção científica, lança-se numa viagem pelo passado e pela verdade. Mas qual verdade?

Opinião: A divisão entre este livro e o anterior é meramente ilusória, pois são apenas um livro, dividido em dois para esta edição portuguesa, provavelmente por questões de tamanho. Isto significa que a opinião que vou dar, teoricamente sobre este segundo volume, é no fundo uma opinião geral sobre o livro no seu total.

Vou começar por repetir algo que já mencionei, que é o ritmo frenético e verdadeiramente avassalador da história. Pode até ter sido consequência do ritmo igualmente acelerador a que os li, ou então esse ritmo é consequência do ritmo da história, mas parece-me que a própria narrativa andaria a correr, se tivesse pernas.

Mal reparei no acumular de mortos que foi sucedendo. Volta e meia morria alguém, ou desaparecia alguém, ou havia algum acontecimento de relevo que tinha consequências inesperadas e que alteravam por completo o rumo da história, cheia de voltas e reviravoltas, algumas mais surpreendentes que outras, mas todas sempre bastante interessantes.

Afinal, quem é que levou o narrador ao cemitério, na Véspera de Finados? Quem é a Besta que tanto o hipnotizou, assim como ao seu amigo Roy? O que é que se passou exactamente há vinte anos, no dia do acidente que vitimou os Sloane e Arbuthnot, o autêntico imperador do estúdio Maximus Films? Perguntas sem resposta durante a maior parte da história, respondidas em catadupa mesmo no final, apesar de aparecerem várias soluções que parecem as correctas e que depois se revelam como falsas, ao melhor estilo de Agatha Christie.

O livro em si não tem nada de sobrenatural, ou de inacreditável, tem apenas alguns pormenores mais estranhos que apenas geram ainda mais interesse pela história, recheada de suspense e de mistério. Além da escrita, espectacular, e da história, super interessante, acho que são as personagens que mais marcam, neste livro. Todas têm as suas particularidades que as tornam inverosímeis, enquanto pessoas reais, mas que ao mesmo tempo lhes dão uma profundidade e um realismo dificilmente atingíveis.

E tudo isto por apenas 3 euros, que foi o que paguei por ambos os volumes. Este ressurgimento da colecção Argonauta foi das melhores coisas que aconteceu em termos literários nos últimos anos.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Cemitério de Lunáticos

Título: Cemitério de Lunáticos
Autor: Ray Bradbury
Tradutor: António Porto

Sinopse: Uma obra de Ray Bradbury é sempre um acontecimento. O seu "Cemitério de Lunáticos" é a Hollywood da década de 50, olhando como Janus tanto para o passado como para o futuro. O seu herói (que o não é) é um argumentista e um adorador de estrelas. Em 1954, Na Noite das Bruxas, uma mensagem anónima convida-o a ir ao Cemitério de Green Glades, onde irá encontrar "uma grande revelação". A revelação é um cadáver, ou antes, uma reprodução perfeita de J. C. Arbuthnot, o antigo e poderoso senhor do grande e glorioso estúdio Maximus Films, que morreu vinte anos antes. Ou não? O leitor, o herói (?) e o seu amigo Roy Holdstrom, inventor de cenários e artifícios para os filmes de ficção científica, lança-se numa viagem pelo passado e pela verdade. Mas qual verdade?

Opinião: Só depois de ter lido esta primeira parte é que descobri que o "Cemitério de Lunáticos" é o segundo livro duma trilogia deste autor, iniciada com "Death Is A Lonely Business" e terminada com "Let's All Kill Constance". Mas felizmente acho que não há grande continuidade, é mais o aproveitar de temas, como o mistério, o suspense e o bizarro, e o reutilizar personagens ligadas entre si.

É claro que isso não me vai impedir de tentar ler os outros livros, num futuro próximo, mas pelo menos deixa-me relativamente apaziguado quanto a começar uma trilogia a meio. E pensando no que li, realmente há alguns pormenores que só devem fazer sentido depois de ler o primeiro, mas a verdade é que parece-me que não perdi nada de especial, em termos de história.

Quer dizer, se calhar até perdi, mas não por causa do motivo acima mencionado. Se deixei escapar alguma coisa, foi apenas graças ao ritmo frenético e acelerado da narrativa. Tendo em conta que o único outro livro que li deste autor foi o Fahrenheit 451, um livro calmo e em certa medida etéreo, a pressa e constante movimento deste livro foi como ser atropelado pela mente do autor. Talvez o estilo de escrita do autor flutue assim tanto entre livros, ou talvez tenha sido a evolução natural de Bradbury enquanto escritor, mas este "Cemitério de Lunáticos" é um choque literário a alta-velocidade, que mal nos deixa respirar enquanto tentamos absorver tudo aquilo que está a acontecer.

O narrador sem nome, que é normalmente identificado com o próprio Bradbury, diz a Internet, pareceu-me tão perdido e atónito a viver a sua história, como eu a lê-la. Mantendo-se com dificuldade à tona dos acontecimentos, o narrador envolve-se numa trama misteriosa sem dar por ela, para a qual é também arrastada o seu melhor amigo, Roy Holdstrom, criador de monstros e cenários para filmes de stop motion, enquanto que o narrador escreve histórias com monstros, com o objectivo de um dia escrever algo digno de chegar ao grande ecrã.

É tudo demasiado rápido para relatar, de tal forma que até as personagens parecem constantemente irritadas com o rápido andamento de tudo o que se passa e despejam os seus humores para fora sobre a forma de diálogos zangados pontuados a palavrões, actos irreflectidos e repentinos e uma permanente pressa em tudo o que fazem.

Até agora está a ser uma leitura muito boa, mas opinarei melhor depois de ler a segunda metade da obra.