quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A Moeda



Título: A Moeda
Autor: Gonçalo M. Tavares

Opinião: Este é um autor que tenho esperança que ainda me venha a convencer. Porque a escrita até é boa, e sempre que leio algo dele os meus bizarrómetros disparam. O que é bom.

Infelizmente fica sempre muito aquém. Gonçalo M. Tavares tem várias mensagens que quer fazer chegar a quem o lê, e não se poupa a esforços. Isso leva a que o que escreve esteja constantemente a tentar forçar uma determinada ideia.

E eu pessoalmente não suporto isso. É principalmente por essa razão que não fiquei particularmente fã deste conto, que para além de ser demasiado pequeno para ser capaz de apresentar de forma sólida o nonsense que tenta apresentar, não passa de um mero meio de transmitir a mensagem do autor, de forma pura e dura.

Não sei se me faço entender, mas não sou capaz de gostar de Gonçalo M. Tavares, se tudo o que ele escrever for assim.

Um rio chamado Angústia



Título: Um rio chamado Angústia
Autor: Eduardo Madeira

Opinião: Com piadas sem grande piada pelo meio e trocadilhos que, enfim, não foram grande coisa, Um rio chamado Angústia é mais um conto sem interesse nenhum.

A ideia é a de um rio ficcional que serve como metáfora mal disfarçada e bastante óbvia. A escrita também não é nada de especial.

Sei que isto está curto, mas não tenho mais nada a dizer... Nada se aproveita.

A Porrada


Título: A Porrada
Autor: Mário de Carvalho

Opinião: Achei este conto bastante fraquinho. É sobre um casal todo finório mas cheio de problemas, em que o marido frequenta um clube onde anda à porrada. É isto.


Bastante superficial, a história não chegou a mostrar-se-me interessante. Um casal discute, tratam-se por você e não dizem nada de jeito nem discutem por nada em concreto.

E depois o marido vai para um clube onde anda à porrada. Só porque sim. Chega a casa todo esmurrado e feliz da vida.

A sério, não percebi o propósito.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Sobre Dragonlance...

O Universo de Dragonlance já me fascina há vários anos, e a recente edição deste livro aqui ao lado pela Saída de Emergência voltou a despertar-me o interesse.

Eu ouvia falar disto, e lia sobre isto, e havia referências em praticamente todo o lado, mas nunca me tinha dado ao trabalho de pesquisar informações sobre esta saga.

Era uma coisa que me estava no imaginário pessoal, e que se limitava a aparecer de vez em quando e dizer "isto tem um ar porreiro, hás-de comprar". Pois bem, é o hás-de!

Hoje dei por mim a pesquisar. Eu sempre soube que isto havia de ser fixe, é uma saga cujo nome mete dragões, afinal. Só não sabia é que já contava com cerca de 200 livros relacionados.

Eu repito: cerca de 200 livros relacionados. Em termos bastante visuais, isto é uma estante. Não é uma prateleira, é uma estante. Os livros sobre este Universo enchem uma estante.

Bem sei que a Fantasia é extensa, de uma forma geral, mas eu espero sinceramente que esta saga seja verdadeiramente genial, na melhor acepção possível da palavra. Só isso justifica a existência de 2 centenas de livros. E sim, tenho noção que há uma trilogia inicial, que depois evolui para outra trilogia, e depois há mais sequelas e prequelas, e ao-mesmo-tempo-quelas e sei lá mais o quê, mas que dá para simplesmente agarrar numa trilogia e ficar por aí.

Pelo menos é isso que me ando a tentar convencer.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Desatenção dá nisto




E desde aí que andava à espera do quarto volume da colecção, para o qual me babo sempre um bocado, quando o vejo na FNAC, mas nunca me deu comprá-lo, vá-se lá perceber porquê, que eu até gosto bastante desta saga.

Mas um gajo deixa-se estar desatento a uma saga durante um bocado... E os sacanas (no melhor dos sentidos) dos autores espetam-me com mais DOIS LIVROS!

Ainda por cima nada disto está publicado por cá... Vou ter que andar a sofrer, porque ou espero pelos volumes em português, para continuar a saga como comecei, ou compro tudo em inglês e leio os 3 primeiros outra vez, o que não é mal pensado... Excepto para a minha carteira, essa acabou de me tentar esganar.

Portanto deixo um conselho: não. se. distraiam. NUNCA.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Um velório alegre



Título: Um velório alegre
Autor: Mário Zambujal

Opinião: O que é que foi isto? Boa pergunta. Este conto é um bocado disperso sem ser propriamente abrangente, e acabou por não me convencer minimamente.

Nem a escrita me agradou. Por vezes chega a parecer português do Brasil, o que é normal se for um brasileiro a escrever, mas que quando é um português apenas soa a mau português.

E nem sequer se percebe muito bem a história. Um tipo discorre sobre a mulher que desejava mas que desejava outro, e depois pensa que o outro morre, mas afinal não morreu e... Não sei, não gostei mesmo nada.

A musa irrequieta



Título: A musa irrequieta
Autor: Pedro Paixão

Opinião: Este conto surpreendeu-me pela positiva, por ter uma escrita que achei acima da média destes contos do DN. Não lhe consegui encontrar grandes falhas em termos do que quer que seja, pareceu-me de facto bem escrito.

Mas como não podia correr tudo bem, a história não me fascinou. Ou melhor, não lhe achei particular piada. Começa por ter uma ideia interessante, a da aluna que é "eleita" como alvo das aulas do protagonista, para que este se consiga concentrar melhor ao imaginar que dá as aulas especificamente para essa pessoa.

Acho que a relação entre o professor e a(s) sua(s) musa(s) está bem explorada e isso tudo, mas depois descamba no romance barato de trazer a lagriminha ao canto do olho. Não ficou mal escrito, mas ficou uma história que achei desinteressante e da qual não teria gostado nada se não tivesse sido o início.

Notas soltas da corda e do carrasco



Título: Notas soltas da corda e do carrasco
Autor: Sérgio Godinho

Opinião: Com um começo algo confuso, este conto até que conseguiu manter-me moderadamente interessado. A perspectiva de um carrasco sobre a pena de morte e a morte em si conseguiu ser relativamente apelativa, ainda que a escrita não tenha acompanhado muito bem.

Porque o grande defeito é exactamente a escrita... O começou foi confuso, depois melhorou, mas andou sempre a oscilar entre razoável e pouco mais que razoável. A sensação que me deu foi que era atabalhoada.

E a ideia com que fiquei do conto foi que foi escrito de rajada, sem pensar muito no assunto. O autor simplesmente sentou-se, sem saber muito bem o que ia escrever, e escreveu até achar que já chegava.

Isso levou a uma premissa que não sendo propriamente original, poderia ter sido melhor aproveitado, mas a uma estrutura narrativa que não funcionou lá muito bem, em grande parte graças à escrita, que não me convenceu por aí além...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Star Wars: Clássicos 3


Título: Star Wars: Clássicos 3

Guiões: Archie Goodwin, Mary Jo Duffy, Chris Claremont
Desenhos: Carmine Infantino, Bob Wiacek, Gene Day, Mike Vosburg, Steve Leialoha
Cores: Carl Gafford, Petra Goldberg, Ben Sean, Glynis Wein, Bob Sharen
Tradutor: José Vala Roberto

Opinião: Só de imaginar que ainda vou ter pelo menos mais 9 destes para ler... Não podia estar mais deliciado. Se bem que para ser honesto tenho que apontar as várias falhas que vão aparecendo, que ainda são algumas.

O Luke continua a ter o mesmo problema que para mim tem desde que o vi pela primeira vez: é o bom da fita só porque sim. Não tem propriamente uma motivação, nada. É bom e acabou. Aqui nas BD's até está melhor, a relação entre ele e o Darth Vader (pré-revelação bombástica que já toda a gente sabe qual é) é mais explorada, assim como a sua evolução no domínio da Força. Torna-se mais interessante, mas ainda assim...

Aquilo que achei mais interessante neste livro deve ter sido a história de um jovem Obi-Wan Kenobi que Leia conta ao resto do pessoal. É uma pequena visita a um Obi-Wan que está algures entre as duas trilogias, e que mostra todo o potencial da personagem. Só tem o defeito de me ter deixado com vontade de ler mais histórias daquelas!

E pronto, há sempre o problema das coisas se resolverem de forma demasiado fácil para os nossos heróis. São capturados, mas um deles é o escolhido de uma profecia qualquer e de repente têm todo um planeta a ajudá-los. Enfim, são coisas que estão lá para desenrascar e fazer avançar a história, mesmo sem fazerem grande sentido, ou sendo ligeiramente incoerentes. Não fosse isso e já Luke e companhia limitada tinham falecido há uns tempos.

Mas pronto, tirando os defeitos, que estou mais do que disposto a ignorar, a qualidade é boa, as histórias são interessantes e aparecem cada vez mais personagens curiosas, como o Barão Taggae, cegado por Darth Vader e que ser vingar a todos os custos, bem como algumas personagens com ligações ao passado dos vários protagonistas, deste um antigo professor de Leia a uma companheira de bandidagem de Han Solo e Chewbacca.

Portanto, mais uma boa colectânea de comics que precisa de ser continuada com mais qualidade no próximo volume, para que a saga começo a ficar menos interessante... Tenho esperanças que cortem nas miraculosas saídas de situações complicadas e se foquem mais na história e no passado das personagens. A ver vamos!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Harry Potter: The Prequel

Título: Harry Potter: The Prequel
Autora: J.K.Rowling

Opinião: Isto é muito pequeno. Demasiado pequeno. Para quem acompanhou a saga este conto é um pequeno vislumbre de algo que podia ser tremendamente espectacular: uma prequela à saga que contasse a história, ou histórias, dos pais de Harry, de Sirius, Lupin e companhia limitada.

E acho que seria um livro bem mais interessante que toda a saga. Toda essa geração anterior ao Harry e amigos era mais interessante que o Harry e amigos. Há muita curiosidade para conhecer melhor James e Lily Potter, ou ver mais das excelentes personagens que são Sirius Black e Remus Lupin. Ou para ler as aventuras da Ordem da Fénix original. Enfim, todo um rol de possibilidades que a autora podia aproveitar, fazer mais uns milhões largos, e praticamente nenhum fã se ia queixar.

Este conto em particular, lá está, é engraçado. Mas não passa disso. A escrita é o normal de Rowling, coerente e sem grandes artifícios literários. As personagens são Sirius e James, 2 polícias aleatórios e 3 feiticeiros desconhecidos a fazerem das suas. Não está excelente, mas para fãs de saga é uma pequena delícia...

As saudades que eu tenho de Inácia


Título: As saudades que eu tenho de Inácia
Autora: Manuel Jorge Marmelo

Opinião: Inácia é uma mulher muito feia. Isto é essencialmente o que eu retiro deste conto. A maior parte do texto está inteiramente dedicado a descrever Inácia em toda a sua fealdade, uma mulher de bigode, com absolutamente nada de agradável. Verdadeiramente nojenta.

Tirando uma coisa. Parece que Inácia era um autêntico poder divino na cama. Olhar para ela e tocar-lhe podia parecer uma tortura infernal da pior espécie, mas quando envolvidos em lençóis, Inácia era uma deusa capaz de fazer qualquer homem ascender aos céus.

Bem, isto é um bocado estranho. Curioso, mas estranho. O protagonista não se poupa a esforços no que toca a descrever o semblante e a pessoa de Inácia em toda a sua asquerosa majestade, e depois de repente diz que tem umas saudades tremendas de se perder por entre as pernas dela.

Não sei se já repararam, mas foi demasiado. O conto podia ter sido interessante, o contraste entre um exterior absolutamente horrível e um interior não muito melhor, e uns dotes carnais divinais tinha tudo para resultar em algo curioso. Bizarro, mas curioso. No entanto acabou por se perder demasiado na descrição de Inácia, e a única coisa que tenho realmente a dizer sobre o conto é que Inácia é uma mulher muito, muito feia.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Monólogo do Oriente


Título: Monólogo do Oriente
Autora: Patrícia Portela

Opinião: Não gostei lá muito deste conto pela simples razão de a indecisão me fazer alguma confusão. Bem, vocês percebem, alguma indecisão é normal, mas levada ao extrema atrofia-me um pouco.


E este conto é o quê? Um longo monólogo de um homem indeciso que saltita de projecto em projecto sem nunca decidir realmente nada, pelas mais variadas e rebuscadas razões.

A certa altura também me fartei de ler que tinha encontrado o amor da sua vida, que por acaso tinha uma ligação qualquer com o país da sua vida, e que não ia visitar por um motivo estapafúrdio qualquer. 3 ou 4 amores e países da sua vida diferentes é um bocado exagerado, digo eu.

Mas a escrita até nem é má, antes pelo contrário.

No Muro



Título: No Muro
Autor: David Soares

Opinião: Como deve ser fácil de perceber, este era dos contos que mais tinha curiosidade em ler. Mais uma oportunidade para me fascinar pelo trabalho daquele que é indiscutivelmente um dos meus escritores favoritos de sempre.

A ideia é boa, curiosa, ligeiramente bizarra. Um homem fica com a biblioteca do pai, depois deste morrer, e folheia os seus livros como forma de o ficar a conhecer um pouco melhor. A certa altura decide emparedar os livros todos, para os proteger, construindo assim um muro com um livro dentro de cada tijolo, um muro que se manteve de pé e que presenciou os mais variados acontecimentos, de casais a namorarem a pessoas a serem fuziladas.

Como disse, a ideia é boa, e a escrita, enfim, é David Soares, com a ressalva de que aqui pareceu demasiado forçada, como se o autor estivesse demasiado empenhado em exibir o seu vocabulário erudito e requintado. E a história acaba por saber a pouco, mas como acho que já referi, acho que foi mais por falta de espaço do que outra coisa. Continuo convencido que David Soares é bom é a escrever romances de 400 páginas.

Este conto não deixa, ainda assim, de ser dos meus favoritos desta colecção, e dos poucos que me conseguiu agradar minimamente.

Jean-Charles, Amor de Calções



Título: Jean-Charles, Amor de Calções
Autora: Onésimo Teotónio Almeida


Opinião: Este conto é uma extensa troca de e-mails entre um aluno que está a escrever a sua tese de mestrado e o seu orientador. O primeiro prefere ler mais teoria e tentar obrigar o segundo a escrever um conto, enquanto que este prefere obrigar o primeiro a escrever de facto a tese, enquanto se vai recusando a escrever o tal conto, ainda que vá contando história atrás de história que poderia utilizar no hipotético conto.

O conto é grande, bem, maior que os outros que já li, e dá tempo para tudo, desde discutir a estrutura de um conto até um rol interminável de histórias do filho do professor, de longe a personagem mais interessante, mesmo só aparecendo como personagem das historietas do seu pai.

O rapazote é engraçado. Sempre com a resposta na ponta da língua, consegue dizer as coisas mais inesperadas e desarmantes, e é nos confrontos relativamente amigáveis com os outros que ele brilha e consegue captar o interesse de quem lê. Pelo menos apanhou o meu.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

The Art of War

Título: The Art of War
Autor: Sun Tzu

Opinião: Tanto se dizia que toda a gente devia ler este livro, e como ele era importante para toda uma míriade de coisas, que decidi de facto lê-lo.

The Art of War é um antigo tratado militar chinês, atribuído a Sun Tzu. Com uns 2000 e tal anos em cima, e provavelmente 2000 e tal traduções anotadas, este livro manteve a sua influência através dos tempos, e ainda hoje serve como referência importante para tudo o que seja estratégia, seja ela militar ou empresarial.

Eu li uma versão limpinha, que não tenho paciência para anotações e interpretações que ocupam mais espaço que o próprio livro. E descobri que o texto é de facto bom. Mesmo considerando-o apenas como aquilo que é, um tratado militar escrito há 2000 e qualquer coisa anos, é possível ver que por trás destes 13 capítulos está uma grande mente que conseguiu condensar muito conhecimento bélico essencialmente estratégico em poucas páginas.

Sempre de forma sucinta, Sun Tzu vai apresentando o métodos, tácticas e ideias importantes a ter em mente, quando se está a comandar um exército e a preparar uma batalha. Surpreendentemente, pelo menos para mim, a maior parte dos ensinamentos passam por andar o menos possível à porrada. E por ser o mais dissimulado possível.

Estranhei um pouco, confesso, mas é o que faz mais sentido. E Sun Tzu apresenta argumentos racionais e explicações lógicas para todas as suas afirmações, o que lhes dá um certo peso, porque, enfim, fazem sentido.

Quanto a extrapolações passíveis de serem feitas a assuntos mais mundanos do que ter a melhor estratégia para estraçalhar o exército adversário, é preciso uma análise profunda do texto e, se querem que vos diga, alguma imaginação. Mas consigo perceber, e talvez um dia agarre numa das milhentas edições anotadas, para ver se me convenço.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A Queda de um Anjo



Título: A Queda de um Anjo
Autora: Afonso Cruz

Opinião: Afonso Cruz é um escritor que me tem deixado bastante curioso. Destaque atrás de destaque, tem sido nomeado para inúmeros prémios e distinções, e volta e meia ganha qualquer coisa. Faz parte de uma nova vaga de escritores portugueses que inclui nomes como Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto e João Tordo, entre outros, que têm ganho nome (e prémios), e sido aclamados pela crítica em geral.

Os livros de Afonso Cruz têm quase sempre títulos fascinantes e premissas curiosas, portanto a minha própria curiosidade estava inflamada e este conto foi a oportunidade perfeita para ficar a conhecer este autor.

E finalmente um conto com história! Uma velhota chega ao Paraíso, e ao ver que não tem o marido ao pé de si, começa a sua viagem em direcção ao Inferno, pois prefere enfrentar as fogueiras ardentes do castigo eterno do que viver banhada na luz de Deus para toda a Eternidade. Interessante!

Mas depois a dita velhota, conforme vai descendo até ao Inferno, vai contando pormenores da sua vida, e a conclusão a que cheguei foi que a mulher era completamente louca. O marido chegou a bater-lhe, tratava-a mal de uma forma geral e parecia não ter muito interesse nela. E ela lá ia, resolvida a renegar a calma do Paraíso em troca da tortura do Inferno, tudo pelo marido, que pelos vistos amava muito.

Já gostei minimamente deste conto, mas no final fiquei um pouco confuso. Não percebi bem se o texto continha uma crítica velada ao amor cego, via sátira, ou se era apenas a história de uma senhora que não batia lá muito bem. De qualquer das formas até que gostei, e o próximo passo é agarrar num livro de Afonso Cruz.

Quartos de Hotel


Título: Quartos de Hotel
Autora: Inês Pedrosa

Opinião: A escrita não é horrível, o que é uma vantagem. Já o conto em si, para variar um pouco, não me conseguiu despertar muito interesse.

A constante mudança de cenário, de quarto para quarto, ainda que com personagens e histórias vagamente ligadas, tem como principal fio condutor um certo paralelismo nas situações em que as personagens se vêem envolvidas, umas vezes de forma mais directa, outras de forma mais indirecta.

Não literalmente situações, pode ser todo um percurso de vida que é analisado e descrito em poucas linhas, que mostram diferentes abordagens à vida, ao amor e às relações com as outras pessoas.

Desta vez o problema não foi a falta de história, mas a abundância. Este conto tinha potencial para ser algo muito melhor se fosse desenvolvido como deve ser, com mais tempo de antena para cada grupo de personagens, pois o que se passou foi que assim que terminei a leitura, ela me soube a pouco. Tão pouco, que não consegui ficar interessado em nenhuma história em particular, e isso estragou a leitura.

Coisas que acarinho e me morrem entre os dedos



Título: Coisas que acarinho e me morrem entre os dedos
Autora: Dulce Maria Cardoso

Opinião: Um homem misterioso, uma mulher indecisa e superficial que apenas aparenta ser uma pessoa profunda graças às voltas e reviravoltas da forma como vai contando a história. Não que haja de facto uma história, este pequeno conto é apenas uma forma de exibir uma mente supostamente atormentada pelos seus demónios interiores.

Acho que falha por ter uma premissa tão fútil como um interesse misterioso num misterioso blogger e a dúvida tornada esperança de que o homem misterioso com que se vai encontrar seja também o misterioso blogger. Tudo muito misterioso, como podem ver, mas também desinteressante.

A protagonista tem uma linha de pensamento algo desconexa, com uma estranha fixação por Bangladesh, e a verdade é que não me conseguiu prender minimamente. Este conto é basicamente um monólogo sem nada que o faça algo mais que aborrecido.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Dama Polaca voando em Limusine Preta



Título: Dama Polaca voando em Limusine Preta
Autora: Lídia Jorge

Opinião: Eu tinha esperança que algum destes contos tivesse pelo menos uma escrita que me agradasse minimamente. Tive sorte com o de Lídia Jorge.

A história, bem, é sobre uma mulher a andar de limusine, basicamente. Sofre do mal que facilmente atinge um conto: a pobreza de história. Não consegue despertar interesse e não é realmente uma história, suficientemente desenvolvida para ser assim chamada sem qualquer peso na consciência.

Monólogos da Dama Polaca, que têm como resposta monólogos do motorista da limusine, apresentados de forma algo aborrecida. E é pena, porque a escrita não é má. Fica pelo menos a vontade de dar uma oportunidade à autora.

Ninfas e Adamastores



Título: Ninfas e Adamastores
Autora: Raquel Ochoa

Opinião: O segundo conto que leio desta colecção do DN também não me convenceu. Passado nos Açores, relata a história de um emigrante que ali se estabelece e das dificuldades que enfrenta.

A escrita não me fascinou particularmente, e o enredo era digno de uma telenovela da TVI, com filhos que não se sabiam ter, um casamento nunca terminado que se intrometeu no meio de um segundo casamento... Um festival xaroposo de personagens pouco desenvolvidas com emoções que talvez estivessem à flor da pele, mas que não passaram para fora, durante a minha leitura.

Acho que podia ter sido mais desenvolvido, talvez num formato maior e mais pensado, já que neste formato ficou muito aquém.

Férias com um casal amigo


Título: Férias com um casal amigo
Autor: Ricardo Adolfo

Opinião: O que raio é que aconteceu aqui? Eu percebo que há toda uma crítica à importância que a sociedade actual dá às aparências, mas a história pareceu-me confusa e a escrita a mesma coisa.

Dois casais amigos vão de férias sem irem de férias, recriam o Brasil dentro de um apartamento, o melhor que conseguem, e fazem umas férias de baixo orçamento, dando a ideia contrária. Tomam todos os cuidados para não serem descobertos e até refilam um pouco uns com os outros.

De uma forma geral, não posso dizer que tenha gostado. Como já disse, pareceu-me demasiado confuso. Não conhecia o autor e não fiquei com muita vontade de o ficar a conhecer melhor. Talvez um dia destes volte a pegar no conto, que pequenito, e tente olhar com outros olhos, mas sinceramente... não me convenceu.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Número: A linguagem da Ciência

Título: Número: A linguagem da Ciência
Autor: Tobias Dantzig
Tradutor: Manuel Herculano de Carvalho

Sinopse: O autor desta obra é professor jubilado da Universidade de Maryland. O ilustre matemático narra-nos este livro com uma clareza inexcedível a história da evolução do conceito de número. Ao longo destas páginas, em que ressalta o entusiasmo de um verdadeiro apaixonado pelo assunto, assiste-se ao desenrolar das conquistas da Matemática, desde a contagem digital à Análise, segundo uma linha que acompanha a história da humanidade desde o homem primitivo a Peano e a Russell. É a história da Matemática apresentada como uma história humana. O tema é tratado com uma amplidão e audácia intelectual que tornam o livro bem próprio da colacção "Marco Polo". O rigor científico anda a par do poder de sugestão e da riqueza do pensamento, por vezes discutível nas suas implicações filosóficas, mas sempre estimulante. "Número: A linguagem da Ciência", não é um livro de curiosidades matemáticas ou prestidigitação algébrica, mas também não é um tratado para eruditos. É simplesmente uma obra que todo o homem culto deve conhecer.

Opinião: É raro encontrar alguém que goste tanto de matemática como eu, no meu dia-a-dia, mesmo estando eu na faculdade em que estou, em que supostamente somos todos crominhos de óculos fundo de garrafa, e cujo passatempo é fazer contas.

Logo à partida, desengane-se quem achar isso. A parte dos crominhos enfim, há uns poucos, eu mais ou menos incluído, se tirarem os óculos, mas fazer contas nem sequer é propriamente matemática. Quer dizer, até é, mas não no sentido, digamos, mais fixe do termo.

Sim, a matemática pode ser fixe. Sei que sou um bocado suspeito, mas é verdade. E toda a gente usa matemática no dia-a-dia, esteja ela disfarçada ou não. E a forma mais fácil de ver isso é ver exactamente a quantidade de números com que somos bombardeados todos os dias: preços, horas, datas, estatísticas nos jornais, números de página, de telefone e telemóvel,  e podia ficar aqui o dia todo (nota-se muito que sou péssimo a dar exemplos, assim de repente?), mas acho que já perceberam a ideia e já me estão a chamar idiota. "Ah, olha-me este, isso são números, não tem propriamente matemática!".

E se eu disser que tem mais matemática que a maior parte da matemática que se aprende na escola, até uma certa idade? Surpreendidos? Passo a explicar. Aquilo que acontece é que os números nos parecem algo bastante intuitivo. Desde pequenos que estamos de tal forma rodeados por eles, que nos parecem naturais. Mas os números que vêem à vossa volta são uma conquista que é fruto de uma longa e árdua batalha desde tempos imemoriais!

O sistema de numeração e a própria numeração que usamos agora é relativamente recente. E qual foi o grande avanço dentro desta numeração, e que é das coisas mais recentes que damos como garantida? O zero. Um símbolo que designe o nada e que seja tratado como um número.

Como já devem ter reparado, ficava aqui o dia todo a falar disto, mas talvez seja melhor lerem este livro. A explicação é melhor, com mais detalhes, mais clara e mais apelativa. Tobias Dantzig, matemático, escreve aqui uma excelente história do número e do seu conceito ao longo do tempo, como se fosse verdadeiramente uma história de algo mais concreto. De tempos imemoriais quase até aos dias de hoje, o percurso é impressionante, cheio de percalços e avanços ora gloriosos ora meros retrocessos disfarçados.

A vantagem do livro é que é acessível a praticamente toda a gente. Com o mínimo de conhecimentos matemáticos é possível assimilar quase tudo o que aqui vem descrito, contado e narrado. Mas sempre sem deixar de ser interessante para leitores com conhecimentos mais avançados. É uma das coisas que acho essencial em livros destes e que os torna bastante apelativos, na minha opinião. Literalmente qualquer pessoa pode pegar nele e aprender algo. É por isso que o aconselho, como faço com muitos livros deste género, a quem gosta e a quem não gosta de matemática, a quem percebe muito e a quem percebe pouco. Porque em qualquer dos casos, acho que é difícil não achar o livro fascinante!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

E-reader, contos, escrita

Publiquei ontem o texto em que defendo a minha tese pessoal de que ter um e-reader é do caraças, e esqueci-me dum grande ponto a favor que, parecendo que não, foi importante na minha decisão de comprar o aparelho.

Falo dos contos. Sou fã confesso. Tenho uma paixão enorme pela literatura em geral, mais nalgumas áreas que noutras, mas os contos ocupam um cantinho especial no meu coração literário.

Para começar, porque tenho a mania que escrevo contos. Escrever, escrevo muita coisa, este blog é prova disso mesmo, e já tentei, obviamente, escrever um livro. Vários, até. Tarefa sempre em vão, nunca me dou por satisfeito com o que está a sair e decido não avançar mais, ou acabo por esquecer o projecto ou por me desinteressar dele.

Com os contos não acontece a mesma coisa. A sua estrutura mais curta é perfeita para aspirantes a escritores: não é tão longa como uma romance e permite toda uma série de malabarismos completamente impossíveis, ou pelo menos muito mais complicados, de executar com a estrutura longa de um romance.

Um conto não exige muito detalhe, apenas o suficiente para situar o leitor dentro da história, nem muitas personagens, o ideal até é ter poucas. E é muito mais susceptível a experimentalismos que levam frequentemente a autênticas obras-primas da literatura.

Obras-primas essa que passam despercebidas, porque o conto é visto como uma classe menor da literatura. "Ah escreves contos? Então e um livro, quando é?". Escrever romances é que é ser um escritor, os contos são para publicar em jornais e revistas underground, meras brincadeiras de preparação para algo maior e mais sério!

A pessoas que pensam assim chamo eu idiotas, sem pensar duas vezes. Basta pensar em H.P.Lovecraft e Edgar Allan Poe, dois dos autores mais geniais de sempre e cuja obra é maioritariamente constituída por contos. Mas enfim, nem quero entrar muito por aí, para não limitar o resto deste post a uma grande e populosa lista de escritores que foram brilhantes contistas, além de, ou em vez de, excelentes romancistas.

E sim, eu sei que a definição de conto pode ser discutível, e que a coisa só fica pior quando se consideram noveletas e novelas, pois a linha entre conto e noveleta e entre noveleta e novela, e consequentemente entre conto e novela, é bastante ténue. Há quem imponha limites de tamanho, mas isso é sempre muito relativo, portanto prefiro, sinceramente, manter-me na indefinição. Contrariamente a todos os meus instintos de encontrar uma série de critérios objectivos que permita categorizar, etiquetar e arrumar cada pedaço de texto escrito, quanto a este assunto peço apenas que me deixem ler o pedaço em questão, e logo vos digo o que é.

Mas tudo isto para dizer algo que acabei por não dizer. A tal vantagem é a leitura de contos. Um conto normalmente vem numa antologia, ou algo parecido, mas raramente são de facto publicados assim. Muitas vezes encontram-se contos aleatórios espalhados pela internet, seja de autores mais recentes, que tentam entrar no mundo da literatura, ou cimentar o seu lugar, seja de autores mais estabelecidos, que os disponibilizam de forma gratuita, ou que estão disponibilizados de forma gratuita, no Gutenberg.

Com um e-reader torna-se fácil simplesmente descarregar um conto e lê-lo normalmente, sem ter que estar preso ao ecrã do meu computador, nem a agarrar num calhamaço com outros tantos contos que nem sequer me interessam, na altura. É exactamente isso que ando a fazer com os contos do DN, uma iniciativa que juntou uma autêntica resma de autores portugueses dos mais variados estilos, e disponibilizou gratuitamente um pequeno conto de cada um, em forma digital.

Portanto, o que vou fazer é o seguinte, vou passar a dar mais destaque aos contos. Parece-me apenas justo que passe a referir com mais frequência este tipo de obra literária que tanto aprecio, e o e-reader é a ferramenta ideal para que leia mais contos isolados.

A acompanhar isso vou criar uma nova página para os contos, com direito a separador ao lado daqueles quatro ali em cima, que nos primeiros tempos será apenas uma lista de autor-conto-autor-conto-autor-conto, mas que de certeza que irá crescer e tornar-se muito mais interessante que isso.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Eu e o meu e-reader


Como indivíduo do sexo masculino (gajo) que sou, tenho uma queda para gadgets. Não me perguntem a razão, a minha especialidade são mais as matemáticas, mas a paixão por gadgets de todas as formas, cores, feitios, tamanhos e (in)utilidades é um traço tão característico de qualquer gajo que se preze, que a coisa já borda o estereótipo. Com a diferença de que é mais verdade do que mentira.

Mas considerações dessas à parte, sou fã de gadgets, desde pequenino. E como leitor acérrimo que sou, ter um e-reader sempre me pareceu mais uma questão de tempo do que outra coisa. Pois bem, cá está: comprei recentemente um Kobo Glo. Confesso que não tive que pensar muito para me decidir a comprá-lo, foi mais uma questão de ter dinheiro para o fazer e ir à Fnac mais próxima tratar disso.

É claro que há sempre questões que têm que ser resolvidas. Há de facto assim tantas vantagens em ter uma coisa destas, que compensem o ter que se gastar entre 80 a 130 euros para se comprar um? Eu digo que há.

Primeiro, há a vantagem óbvia: a portabilidade. Os livros na sua grande maioria também são portáteis, mas não me lembro da última vez em que vi alguém andar com 1000 livros atrás, na rua, algo que um e-reader permite fazer. Antes, quando ia de férias, tinha que levar uma mala cheia de livros e mesmo assim era à rasca. Agora posso ir uns anos de férias e só levar o meu Kobo, que pesa menos que a maior parte dos livros que eu leio.

Outra vantagem é por exemplo, se eu estiver a ler um livro daqueles que metem respeito aos assaltantes, enquanto arma de arremesso, um D.Quixote, um It, um O Nome do Vento, enfim, os nossos adorados calhamaços, e for para a faculdade, levo o bicho comigo, nos transportes? Lamento mas não vai acontecer. Por muito boas e viciantes que as milhentas páginas sejam, nada justifica eu andar com um livro tão pesado, pouco prático e ainda mais sujeito a estragar-se, pela rua fora. Com um e-reader posso ir calmamente no metro a ler o D.Quixote, parar para folhear Os Miseráveis e dar uma vista de olhos ao Guerra e Paz.

Depois há os livros grátis. É complicado encontrar livros mais recentes completamente grátis, e legais então, ainda pior, mas se em 10 minutos não encontrarem no Gutenberg.org dezenas e dezenas de livros interessantes, meus caros, sois umas almas perdidas. E se este fosse o único site assim... É o melhor e mais extenso, recheado de clássicos em várias línguas, mas há tantos, tantos, tantos, tantos sites com livros grátis, uns mais recentes que outros, mas todos grátis, que é ridículo não pensar nisto como uma vantagem. Eu pessoalmente passei 10 minutos no site da Kobo e valha-me santa Curie, fiquei logo com 50 ou 60 livros no e-reader!

No que toca a desvantagens, elas também andam aí, como é óbvio. Não é a mesma coisa agarrar num livro e virar as páginas, sentir o cheiro e a textura, folhear à vontade, ter na estante, com uma lombada bonitinha, e agarrar no e-reader para ler o que quer que seja. É muito menos pessoal e perde-se alguma da "magia", é verdade. Mas são duas coisas das quais abdico de livro vontade, em troca de poupar espaço e dinheiro (com os livros que já lá tenho, já devo ter pago o e-reader umas 6 ou 7 vezes) ao mesmo tempo que aumento e diversifico as minhas leituras. Além disso, é um gadget. É fixe.

E se querem que vos diga, o este e-reader em particular tem uma vantagem dupla: um aspecto em que é melhor que um livro e que um tablet. Tem luz. Sem essa luz, a leitura faz-se praticamente como se fosse num livro, sem problemas de reflexos manhosos e sem cansar a vista como acontece com um tablet, mas faz-se noite, liga-se a luz e abençoado sejas Kobo, posso ler num ambiente mais escuro sem ter que ligar um candeeiro ou algo do estilo e incomodar pessoas à minha volta, e a luz não serve ela própria de candeeiro, ao iluminar "para dentro", em vez de disparar luz cá para fora.

Posso continuar a discutir as vantagens e as desvantagens, mas acho que é mais produtivo contar-vos como tem sido a minha experiência pessoal. Já li o The Island of Doctor Moreau e alguns contos do DN no e-reader, e também já brinquei com pdf's de livros técnicos, e tenho a dizer que é óptimo. Com ficheiros no formato próprio, a leitura faz-se tranquilamente, e com pdf's é uma questão de fazer zoom e arrastar página, o que não é um problema tendo em conta que estes casos serão mais livros de consulta do que outra coisa. Em suma, não podia estar mais satisfeito!

E já mencionei que isto tem xadrez e sudoku?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

The Island of Doctor Moreau

Título: The Island of Doctor Moreau
Autor: H.G.Wells

Sinopse: After a collision between two ships in rough seas, a "private gentlemen"--the wreck's sole survivor--languished for eight days under a merciless sun. With neither food to eat nor water to drink, death seemed a certainty. But miraculously, Edward Prendick survived. Yet what he was to encounter in the days ahead was more horrible and terrifying than any death he could ever have imagined. For the island on which he landed was the home of the infamous Dr. Moreau. Exiled from England because of his gruesome experiments in vivisection, Moreau has taken up residence in this remote paradise in order to continue his work.

Opinião: The Island of Doctor Moreau andava há muito tempo na minha lista de livros a ler, e foi uma coincidência bastante feliz vê-lo à minha frente quando liguei o meu e-reader Kobo (sim, comprei um, isso ficará para outra conversa) pela primeira vez. Não sabia bem o que haveria de ler a seguir, portanto a escolha não foi difícil: ao mesmo tempo que lia um livro que queria ler há muito, experimentava o meu novo brinquedo.

Foi assim que li este clássico da ficção científica, escrito por H.G.Wells, um dos pais do género. O livro tem como tema principal algo que nem assim tão raro quanto isso, dentro da ficção científica, mas que as pessoas que olham para o género de lado talvez não acreditem que seja muito frequente, que é o lado negro da Ciência.

Não duvido que a maior parte das pessoas que tem a ficção científica em pouca conta, talvez até um certo desprezo, acha que quando se fala de livros, filmes ou o que quer que seja dentro deste género, pense de imediato em aliens a dispararem lasers contra robots que explodem com planetas, e que é tudo muito engraçado mas sem profundidade nenhuma, meras histórias para exibir armas e sociedades futuristas, em que um herói salva o mundo graças às maravilhas da tecnologia.

Há livros assim. E filmes. Mas limitar a FC a isso é como dizer que os romances históricos são sobre a época dos Tudors. A FC é muito mais que isso, e uma obra dentro do género tanto pode ser propaganda positiva da Ciência, avisos quanto ao seu lado negativo, ou apenas uma boa história sem segundas intenções. Isto porque, e gostava que toda a gente se convencesse disto, a ficção científica não é um género menos literário que os outros. Esse é um preconceito que não podia estar mais errado.

E este livro é a prova disso mesmo. Para começar nem sequer há uma sociedade futurista, nem seres extraterrestres, interdimensionais nem total ou parcialmente robóticos. Há um cientista maluco, Moreau, e uma ilha povoada de experiências ambulantes desse mesmo cientista. Toda a história é seguida pelos olhos de Edward Prendick, o único sobrevivente de um naufrágio que acaba a viver numa ilha isolada durante uns tempos, juntamente com Moreau e o seu assistente, Montgomery, mais as experiências ambulantes.

Com a sua escrita clara e cuidadosa, Wells tece aqui uma trama sobre a condição humana e aquilo que nos distingue dos animais irracionais, bem como da loucura e crueldade humana, e de como a Ciência, e a paixão pela Ciência, podem levar a caminhos tortuosos e indesejáveis.

Na minha perspectiva, a mensagem não podia ser mais clara. Se em a A Máquina do Tempo Wells dá uma perspectiva bastante positiva da Ciência, ainda que não do futuro, em The Island of Doctor Moreau deixa um aviso: a paixão pela Ciência é como qualquer outra paixão, pode cegar e levar a uma sede de conhecimento que ultrapassa a ética e a moral, com argumentos aparentemente lógicos e racionais para justificar todas as crueldades possíveis e imagináveis.

Acredito que tenha sido algo do estilo que aconteceu com os cientistas Nazis, durante a Segunda Guerra Mundial, com as suas experiências com gémeos e coisas afins. Houve mais factores em causa, claro, mas acho que o que é importante reter disso, e deste livro muito bom, é que a Ciência, enquanto propósito e enquanto paixão, tem que ser guiada com cuidado, para que não se esqueça da Humanidade que lhe devia ser inerente e para ter cuidado com os monstros, que raramente são outra coisa que não pessoas.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A Luz Miserável

Título: A Luz Miserável
Autor: David Soares

Sinopse: O horror está de volta. Nestas três histórias, David Soares (O Evangelho do Enforcado, Lisboa Triunfante, A Conspiração dos Antepassados) apresenta imagens de luz e trevas que não deixarão ninguém indiferente. Do ambiente exótico de A Sombra Sem Ninguém, passando pelos interiores claustrofóbicos de A Luz Miserável, até à extravagância macabra de Rei Assobio, prepare-se para conhecer personagens inesquecíveis, como um homem "quase" invisível, três soldados amaldiçoados e um velhote mutilado e vingativo. Do suspense ao splatterpunk, A Luz Miserável é um livro de contos provocadores, diabólicos e literários. Uma viagem vertiginosa ao lado negríssimo da imaginação.

Opinião: De vez em quando encontram-se livros que se destacam logo à partida pelo seu aspecto. Sejam edições de luxo de alguma coisa, ou edições normais particularmente bem feitas e cuidadosamente concebidas, volta e meia saltam-nos à vista. A Luz Miserável é um espécime fenomenal desse segundo caso: se a capa praticamente perfeita não for suficiente para vos deixar rendidos, abram o livro e reparem nas páginas pretas e letras brancas. Diferente, espectacular e a encaixar na perfeição no estilo e universo autoral de David Soares.

Depois de assimilar a componente gráfica, que não dificulta em nada a leitura, comecei a ler o primeiro conto ansioso pelo que vinha aí. A primeira coisa que li deste escritor foram exactamente contos, as 3 excepcionais histórias que fazem parte de Os Ossos do Arco-Íris, e entretanto já li mais 2 livros de contos seus (Mostra-me a tua espinha e As Trevas Fantásticas), e embora tenha adorado o primeiro, fiquei um bocado decepcionado com os segundos. Estava ansioso para estes, os mais recentes, e que se estivessem de acordo com a edição, não seriam nada menos do que fenomenais.

Infelizmente, e pela terceira vez, decepcionei-me um pouco. A escrita é fantástica, e comparativamente com outros livros em geral tenho que dizer que gostei deste livro, mas dentro daquilo que são as obras de David Soares... Esperava melhor.

Em A Sombra Sem Ninguém acompanhamos um homem quase-invisível e uma rapariga que ganha poderes estranhos após uma queda num curral. A história está relativamente interessante, mas a tentativa de explicação minimamente científica para a quase-invisibilidade do homem foi fraca, ou pareceu-me, talvez por causa de eu praticamente viver no meio científico. E não consegui ter qualquer empatia com nenhuma das personagens principais, já para não falar que esperava um fim com mais, digamos, esfolamentos, e acabou por ser muito mais soft.

De seguida veio o conto que menos gostei, A Luz Miserável, que me pareceu essencialmente confuso. A história de 3 veteranos de guerra amaldiçoados tinha potencial para ser bem desenvolvida, mas perdeu-se em tiradas desconexas cujo propósito me passou ao lado. Além de que o fim é estranho. Normalmente acharia isso bom, mas não foi um estranho agradável, foi um estranho de "o quê? o que raio acabou de acontecer?".

Por fim aparece O Rei Assobio, para salvar minimamente o dia, mas ainda muito aquém da qualidade que esperava dum conto escrito por David Soares. Os saltos temporais não baralham, como temi quando apareceu o primeiro, mas tudo o resto tem um ar um bocado aleatório. Um homem mutilado, que foi uma criança infeliz, arranja 3 rapazolas para o ajudarem a fazer algo, e bem, corre tudo mal, como seria de esperar. Ainda foi, no entanto, o meu favorito.

Ora bem, como podem ver, gostei, mas achei mediano. Para David Soares está bastante mediano. E tenho uma teoria para explicar isso: a sensação com que fiquei após ler estes contos, especialmente o segundo, é que estava a ler uma colectânea de excertos de um romance. Aquilo que eu acho é que David Soares tem pura e simplesmente demasiadas coisas para contar, e acaba por atafulhar os contos com demasiada coisa. Isso raramente resulta, numa coisa tão curta. Os contos querem-se pequenos e compactos, tanto em tamanho como em história, tempo, personagens e cenário, e os escritos deste autor costumam ser tudo menos compactos em termos de história.. David Soares precisa de espaço para escrever.

Portanto é isso. É um autor de que gosto bastante e que admiro ainda mais, e já li obras suas que figuram na minha lista dos melhores livros que já li na vida, mas cada vez mais me convenço que é muito superior a escrever romances do que a escrever contos, e que por mais que aprecie as suas obras mais extensas, não sou tão fã das suas histórias mais curtas.