terça-feira, 30 de abril de 2013

A Coroa dos Deuses (A Saga de Alex 9 #2)

Título: A Coroa dos Deuses
Autor: Bruno Martins Soares

Opinião: Depois de um primeiro volume com algum potencial bem escondido, este segundo livro conseguiu ser melhor, sem se tornar espectacular, ou sequer 'bom'.

A escrita de Bruno Martins Soares é muito melhor, e há menos gritos a aparecerem escritos, mas... ainda existem. E as descrições de acção, em que os soldados fazem isto e aquilo e depois isto outra vez e mais aquilo e aparecem mais soldados e é então que acontece algo e e e e e e e... Percebo a ideia de querer dar um ritmo mais acelerado à leitura, mas a única coisa que me fez foi atrapalhar-me a leitura.

Mas tirando isto, e algumas situações bastante estranhas, posso dizer com segurança que até gostei do livro. A história começa a formar-se como deve ser, deixando de parte o semi-caos aleatório do primeiro volume, e ainda que a personagem principal, Alex 9, continue a ser uma super guerreira ligeiramente overpowered, isso acaba por estar bem relativamente bem explorado.

E tenho que confessar que algumas partes me foram surpreendendo. Os livros têm um ar bastante juvenil, e o primeiro volume pouco ou nada faz para contrariar esse aspecto, mas neste volume já começam a aparecer situações mais agressivas e violentas, incluindo pelo menos uma que me deixou chocado, não pela situação em si, que já li pior, mas por ter acontecido naquele momento, neste livro. Não estava, de todo, à espera!

O autor conseguiu, pelo menos, manter-me interessado e impedir-me de atirar o livro pela janela, por causa dos "AHHHHH", e "HAHAHAHAHAHAHAH" que foram aparecendo, ao construir uma narrativa mais sólida e ao começar a juntar as peças do puzzle.

Só tenho pena de uma coisa: que a protagonista seja a Alex 9. A história é claramente sobre ela, e ela é em praticamente todos os momentos o centro de tudo o que acontece, de uma forma ou de outra, directa ou indirectamente; mas eu fiquei muito mais interessado em seguir a linha narrativa dos seus mestres, Pierre e Kaoru Bach. Pareceram-me personagens mais interessantes e com mais potencial que a própria Alex 9, mas isso pode ter sido por eu ter problemas com personagens demasiado poderosas a quem as coisas correm invariavelmente mal *cough* Super-Homem *cough*.

Sem muito mais a dizer, quando falar do terceiro e último volume já vou estar capaz de dar uma apreciação global da trilogia. Fica a nota de que ao ler este volume achei que isto estava a melhorar, mas nunca fiquei a pensar que se iria tornar propriamente bom. É um livro razoável duma trilogia que se me afigura como mediana.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Futuro Primitivo



Título: Futuro Primitivo

Autores: Lucas Almeida, Ana Ribeiro, Manuel Pereira, João Ortega, Inês Cóias, Daniel Seabra Lopes, Marco Moreira, João Chambel, Ana Menezes, André Coelho, João Maio Pinto, Andreia Rechena, Bruno Borges, Rafael Gouveia, David Campos, Sílvia Rodrigues, Pepedelrey, José Feitor, Natália Andrade com Christina Casnellie, Uganda Lebre, André Lemos, Bráulio Amado, Gonçalo Duarte, Jucifer, Ana Menezes, Afonso Ferreira, Marcos Farrajota, Rudolfo, Ricardo Martins e Pedro Brito


Opinião: As pessoas que me conhecem sabem, de uma forma geral, que eu sou um tipo estranho. Aquelas com quem me dou mais não duvidam por um segundo que seja de que eu sou completamente louco. Mas até eu tenho limites.
Este Futuro Primitivo tem um conceito bastante interessante, e tudo podia conspirar para criar aqui um livro genial, e que fosse muito do meu agrado. A execução, infelizmente, ficou muito aquém, e a antologia ao estilo de cadáver-esquisito, em que cada autor pega nas histórias anteriores, escritas e desenhadas por outros autores, e a continua ao seu próprio estilo, acabou por se tornar apenas num cadáver-esquisito.



A história é completamente desconexa, e enquanto alguns dos autores têm momentos muito bons em termos de ilustração, outros são só... estranhos. Parvos. E aquilo que eu percebi da "história", que ainda devia ter mais aspas, foi uma tentativa geral de serem polémicos e modernos. O resultado, se me perguntarem a mim, é desastroso.



E até nem começa mal! A ovelha Dolly foi clonada várias vezes, e a vida dos seus clones, de aspecto humano, é seguida como num reality show. E depois é o descalabro. Há clones de Jesus, um Jesus-dinossauro (isso até foi porreiro), cenas sexuais bastante estranhas, e sequências bizarras para lá da minha compreensão.



Este livro é absurdo, pura e simplesmente. Até podia funcionar bem, mas parece que os artistas se esforçaram de mais, ou foram demasiado artistas, "vou pôr aqui uma porcaria qualquer moderna, junto algo polémico e estranho, e isto já fica montes de espectacular!". Eu sei que é uma versão um bocado preconceituosa dos artistas em questão, até porque se nota claramente que pelo menos alguns têm qualidade, mas depois de ler foi essa a ideia com que fiquei. Estranho. Bizarro. Perturbador. E não digo nenhuma destas coisas no bom sentido, garanto-vos. Em suma, não gostei e ainda bem que o livro não é meu.

domingo, 28 de abril de 2013

Que as citações nos caiam em cima [25]


"Há duas coisas que eu adoro na vida: a primeira é ler A Bola quando estou a cagar. A segunda é rebentar a cabeça de uma gárgula. E sabem que mais??? ... hoje não tive tempo de passar no quiosque!"

Dog Mendonça, em As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy
Filipe Melo

Acho que nem preciso de comentar o quão engraçada é esta citação. Só sei que foi uma entre várias que li e me matei a rir. Se a personagem continuar assim no próximo volume, rendo-me por completo!

sábado, 27 de abril de 2013

As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy (Dog Mendonça e Pizzaboy #1)

Título: As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy
Autores: Filipe Melo e Juan Cavia

Sinopse: Imagina que todas aquelas histórias que lhe contavam quando era pequeno... são verdade! Durante a Segunda Guerra Mundial, todas as criaturas sobrenaturais procuraram refúgio em Portugal. Vampiros, lobisomens, gárgulas e fantasmas vivem pacificamente, nas sombras, entre os humanos. Porém, no subsolo, o pior de todos os monstros ganha forças e prepara o seu regresso. Um jovem distribuidor de pizzas, um investigador do oculto, um demónio de seis mil anos e a cabeça de uma gárgula serão os únicos capazes de fazer frente às forças do mal que ameaçam a Humanidade.

Opinião: Estou bastante impressionado com os desenhos deste livro. O argentino Juan Cavia, juntamente com o resto da equipa de artistas encarregue da obra, conseguiu dar-lhe um aspecto muito bem acabado, meio cartoonesco e bastante agradável à vista.

Já a história ficou um pouco aquém. Até gostei, mas acho que um bocadinho mais de planeamento e de desenvolvimento do enredo não tinha feito mal nenhum. A culpa provavelmente é de o livro ter sido originalmente pensado como um filme, como é mencionado na parte final,o Making-off escrito por Ana Markl. A eventual desistência dessa abordagem e a consequente forma final como BD que acabou por tomar podem ter prejudicado a história. Mas como o autor diz, o segundo volume já foi pensado como BD, logo de raiz, portanto há boas perspectivas para esse.

Ao longo destas páginas acompanhamos principalmente Dog Mendonça e Pizzaboy, que juntamente com uma cabeça de uma gárgula (hilariante até ao fim), partem numa busca por Pazuul, o demónio em corpo de rapariguinha que é o companheiro de Dog e que foi raptada por, e desculpem o ligeiro spoiler mas isto é demasiado engraçado, zombies nazis geneticamente modificados.

"Esperem, o quê?!", quase que vos consigo ouvir. Sim, zombies nazis geneticamente modificados, incluindo um Hitler monstruoso e decrépito, com o bigodinho impecavelmente arranjado e planos maléficos em alta para que se erga o Quarto Reich.

O papel dos nossos heróis vai ser exactamente impedir isso, no meio de muita porrada, pormenores um bocado inverosímeis, como a chegada atempada de uma equipa monstruosa para salvar o dia, no momento mais crítico de todo o livro. Mas por outro lado, isso e outras coisas que tais são parte dos clichés dos filmes de aventuras e afins que o autor quis incorporar, como forma de homenagem, e que não resultam mal de todo, ainda que eu preferisse que tivessem tido uma abordagem diferente.

Pizzaboy é o mais que típico herói acidental que se vê repentinamente envolvido em coisas que o ultrapassam por completo, e que juntamente com a cabeça de gárgula (volto a repetir, hilariante!) vai providenciar alguns dos momentos mais cómicos e palermas de todo o livro. Pazuul é uma personagem absolutamente fascinante, com o ar de menina inocente e queridinha, mas capaz de criar um banho de sangue à sua volta. Só tenho pena que tenha andado a maior parte da história desaparecido em combate. E Dog Mendonça. Uma espécie de anti-herói badass, com a sua gabardina e o seu porte gigantesco, e frases que me fizeram soltar autênticas gargalhadas.

Resumindo, As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy não foi a leitura excepcional que eu esperava, mas foi uma boa leitura, louca e divertida em partes iguais, e com uns desenhos fantásticos, que me deixaram curioso quanto ao segundo volume, que em princípio será melhor que este.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

30 Dias de Noite

Título: 30 Dias de Noite
Argumento: Steve Niles
Arte: Ben Templesmith

Sinopse: Mergulhem no mundo de Barrow, Alasca, onde a escuridão invernal serve de farol para um bando de vampiros sedentos. A única esperança dos seus habitantes reside nas mãos de Stella e do seu marido, Eben, o xerife da Cidade. Poderão eles salvar a cidade que amam, ou irão as Trevas prevalecer para sempre?

Opinião: Digam o que disseram, ler sobre verdadeiros vampiros é sempre agradável. Esqueçam os que brilham no escuro, quais autocolantes para putos, temos mesmo é que deixar de mencionar essas aberrações, quando falamos de vampiros.

O que interessa aqui são as criaturas sanguinárias, violentas, repulsivas, cruéis, inumanas, autênticas bestas de pesadelos que são os vampiros. Os dentes destes em particular são um bocado estranhos, mas a ideia principal está lá.

A premissa é tão simples que me espanta que nunca tenha ocorrido a mais ninguém: numa região do Alasca em que o Sol se põe durante 30 dias, os vampiros decidem invadir em massa uma pequena localidade para fazerem um verdadeiro banquete. A ideia é aproveitarem 30 dias completos de forma ininterrupta, para a matança. Uma ideia perfeitamente legítima! Quando se é uma criatura com uma certa alergia ao Sol, o sítio ideal para se estar é exactamente um em que o Sol anda desaparecido durante montes de tempo.

Partindo dessa premissa, o livro desenrola-se num banho de sangue com algumas linhas narrativas algo difusas e apressadas, em que a melhor parte acabam mesmo por ser os desenhos, ligeiramente toscos e propositadamente difusos, um estilo que funciona na perfeição para ilustrar o ambiente de Barrow, a pequena localidade no Alasca, e a natureza assustadora dos vampiros.

Mas a verdade é que esperava mais. O xerife e a sua mulher, que têm obviamente que salvar o dia, são personagens apenas moderadamente interessantes, ainda que com um fim interessante. A minha parte favorita em termos de personagens acaba mesmo por ser as interacções entre vampiros, entre os quais são bem visíveis alguns traços humanos, no meio de tanta estranheza e distanciamento da raça humana.

Com uma premissa interessante, uns desenhos muito bons, e o restante conteúdo um pouco acima de mediano, 30 Dias de Noite é menos do que prometia, mas não deixa de ser um livro interessante e que pelo menos tem sangue e tripas.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Rose of Fire


Título: Rose of Fire
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradutora: Lucia Graves

Opinião: Sem nunca ter lido nada deste autor, posso dizer que fiquei curioso. O título deste conto já é interessante, ligeiramente banal, mas interessante. E depois logo no princípio fala-se em dragões e... Pronto, apanharam-me.

Conhecido pela sua espécie de trilogia que inclui A Sombra do Vento, O Jogo do Anjo e O Prisioneiro do Céu, Carlos Ruiz Zafón é um escritor que conheço apenas vagamente, ainda que me mantenha sempre atento, pois sei que uma boa parte destes seus livros giram em volta de uma biblioteca colossal, ou algo parecido.

Este conto é uma espécie de prequela a essas obras. Entre rosas, dragões e livros, o autor conta resumidamente a história da concepção e da construção do labirinto/biblioteca que pelos vistos é o centro dos seus outros livros. E fiquei interessado. Não fiquei muuuito excitado, porque achei a escrita algo seca e não muito envolvente, mas possivelmente a culpa é de ser uma tradução de uma língua latina, algo que raramente me soa bem.

Mas enfim, tem um dragão e fala-se muitas vezes de livros e algumas vezes de labirintos, eu não podia pedir muito mais, não é verdade? Imagino que para quem já leu os outros livros seja muito mais interessante do que para mim, mas gostei e fiquei com curiosidade para ler esses ditos livros, em parte também por causa do excerto do terceiro livro, O Prisioneiro do Céu, que vem no fim do conto (e que é maior que o conto em si...).

E quer dizer... Pode ser que tenham dragões.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Guardiã da Espada (A Saga de Alex 9 #1)

Título: A Guardiã da Espada
Autor: Bruno Martins Soares

Opinião: Já há algum tempo que tinha curiosidade para pegar nesta trilogia transformada em livro único, mas depois de conhecer pessoalmente o Bruno Martins Soares, prometi a mim próprio que o iria fazer nas proximidades.

Acabei há alguns dias o primeiro livro, e a ideia geral que tenho é a de uma grande salganhada semi aleatória, com demasiadas linhas narrativas para um livro tão pequeno.

Mas antes de passar a isso e falar a sério do livro, quero referir aqui que tive um sério problema com esta leitura, um problema que ainda estou a ter, no volume seguinte: os risos aparecem nos diálogos e os gritos aparecem escritos.

Eu lamento muito, gosto de liberdade criativa, e acho que abusar um pouco da língua portuguesa pode trazer vantagens, mas eu isto não perdoo. A escrita do autor é razoável duma forma geral, mas estes risos e gritos que me aparecem como "Ha! Ha! Ha!", e "AHHHH", ou "Iiiiiiiiiih", são pecados imperdoáveis. Se eu estivesse na dúvida entre considerar este livro mediano-alto ou bom, rapidamente o classificaria como mediano-baixo.

Infelizmente nunca tive essa dúvida. Só posso classificar este primeiro volume como mediano-baixo, de uma ponta à outra. A história até mostra ter algum potencial, e notei que quando o acabei fiquei com curiosidade para perceber o que raio ia acontecer e o que raio se andava a passar ao certo. Mas, verdade seja dita, grande parte dessa curiosidade é gerada pela confusão total que grassa nestas páginas.

Misturar uma rapariga badass, com treino em artes marciais e que é basicamente uma ninja letal e com acesso a armas de fogo e gadgets, com um mundo medieval, ao mesmo tempo que se conta a história de um passado mais futurista que o presente da rapariga, e mais meia dúzia de linhas narrativas paralelas, é complicado fazer algo inteiramente bom.

É por isso que não posso gostar tanto quanto isso deste livro. É verdade que me conseguiu deixar interessado no próximo volume, mas deixou-me também receoso quanto ao que lá vou encontrar. Espero apenas que o que me dizem seja verdade, e isto melhore bastante, porque caso contrário sou capaz de me chatear a sério com os "ah ah ah!" e deixar o livro fechadinho.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Que as citações nos caiam em cima [24]


"There is a house above the world, where the over-people gather. There is a man with wings like a bird... THere is a man who can see across the planet and wring diamonds from its anthracite. There is a man who moves so fast that his life is an endless gallery of statues... In the house above the world, the over-people gather... And sit... And listen... To a dry, mad voice that whispers of Earthdeath."

Saga of the Swamp Thing
Alan Moore

Este livro está repleto de citações que eu podia passar horas e horas a transcrever. Se havia alguma dúvida na minha mente relativamente à mestria de Alan Moore, dissipou-se por completo. Já era fã, e mais fã fiquei. Escolhi este trecho em particular por estar a descrever a Justice League. E em especial o Flash: "a man who moves so fast that his life ins an endless gallery of statues", deve ser a melhor descrição deste super-herói que eu já vi na minha vida.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Saga of The Swamp Thing

Título: Saga of The Swamp Thing
Autor: Alan Moore
Desenhador: Stephen Bissette
Colorista: John Totleben


Opinião: Desde que li o Watchmen (que anda a pedir uma releitura para breve...) que me tornei fã incondicional de Alan Moore. E este livro apenas veio reforçar essa admiração.


A história do próprio livro, e da personagem, é por si só bastante interessante. Praticamente perdida e condenada a ser descontinuada antes de Alan Moore pegar nela, o escritor deu-lhe uma reviravolta e um novo fôlego como só ele teria sido capaz de fazer.

Aquilo que podem encontrar em Saga of The Swamp Thing é uma história de terror daquelas que é difícil de encontrar, hoje em dia. Moore consegue pegar no passado da personagem e usá-lo para a mudança que introduz, dando um novo rumo à personagem, completamente diferente do que tinha seguido até aí, sem nunca negar ou alterar o seu passado. E faz isto enquanto desenvolve uma história com momentos verdadeiramente tenebrosos.

Logo nas primeiras páginas, narradas por uma das personagens, pode-se encontrar uma autêntica lição sobre como escrever uma história de terror com princípio, meio e fim. Jason Woodrue, o Floronic Man, começa a história perto do fim, introduzindo o leitor de imediato num mundo e numa situação que lhe é estranha. Só depois é que começa a explicar o início, o que foi acontecendo, com intensidade crescente, até retomar onde começou, para acabar em glória. E ainda só se passaram 23 páginas.

O livro acaba por ser mais sobre a condição do Swamp Thing enquanto monstro/herói/pessoa: a qual das categorias é que ele pertence? Ou terá que aceitar várias? A verdade é que tem que perceber que só aceitando que não é, de todo, humano, é que pode ficar em paz consigo mesmo. Ao longo das várias páginas o leitor vai percebendo, juntamente com a personagem, que a condição de monstro-herói definitivamente não humano é a mais correcta, e que ou o Swamp Thing aceita esse facto, ou mais vale desistir e deixar-se morrer.

E ainda que termine com uma segunda parte mais fraca, o renascimento em pleno de Swamp Thing é um momento brutal, bem como a crescente loucura do Floronic Man, duas situações que decorrem de certa forma em paralelo, com a loucura de um a curar a loucura de outro. Moore descreve estas loucuras de forma genial, o que faz com que alguns dos melhores momentos de todo o livro se fundamentem nelas.

Interessante até ao fim, Saga of The Swamp Thing é um livro brilhante enquanto BD, história de terror e literatura em geral. Na realidade, é das poucas obras de BD a juntar-se a Watchmen na minha lista de "melhores livros que já li". É assim tão bom e fascinante.

domingo, 21 de abril de 2013

The Dueling Machine

Título: The Dueling Machine
Autor: Ben Bova

Sinopse: Dueling as a means of settling disputes has been revived by the invention of the dueling machine, which allows two adversaries to have at each other in the imaginary wrld of their choosing, with no danger to either other than humiliation and the loss of the point in dispute—until the Kerak Worlds found a way to kill with the machine. Unless a young Star Watchman can solve the mystery, the warlike Kerak Worlds will gobble up the planets of the Acquataine Cluster, murduring its leaders one at a time, and then be ready for the Terrans themselves...

Opinião: Surpreendam-se, caros leitores, o projecto Gutenberg também tem Ficção Científica! Eu pelo menos não tinha reparado, nem pensado muito nisso, qualquer que seja a razão. Mas passemos ao livro.

Na realidade é mais um conto grandito, uma novela, se quiserem. O conceito base, e que dá título ao livro, é muito interessante: um cientista inventou uma máquina que permite simular duelos, por mais brutais que sejam e que acabem, sem que nada aconteça aos participantes. Esta máquina rapidamente é usada para resolver conflitos de vários tipos, um processo bastante facilitado pelo seu funcionamento. Se duas pessoas têm um problema qualquer uma com a outra, desafiam-se para um duelo, vão até à máquina e se for preciso espancam-se até à morte. E depois saem da máquina, um vencido e um vencedor, e está o problema resolvido, com todos os intervenientes perfeitamente incólumes.

Genial, não é verdade? Concordo. Mas então e quando as pessoas começam a sofrer represálias reais, depois usarem a máquina? Alguns entram em coma, outros chegam mesmo a morrer, mas nenhum dessas consequências é suposto ser possível, e é por isso que se chama o inventor da máquina para tratar do problema.

Com uma premissa interessante e que permite explorar as rivalidades humanas e as tensões interpessoais, The Dueling Machine é um livro que consegue manter o leitor agarrado, tal é a curiosidade em saber o que raio se passa com a máquina. Ben Bova apresenta uma narrativa sem grande complexidade mas que funciona bastante bem, da forma que é apresentada. Achei que a máquina estava bem explorada, bem como as suas consequências sociais, e não estava à espera da razão que estava a levar aos problemas com a máquina.

As personagens não são particularmente interessantes, tirando, talvez, o Major Oddal, o homem contra qual as pessoas começam a morrer depois dos duelos simulados, que mantém sempre uma aura de mistério e de confiança arrogante que o tornou bastante vívido, da minha perspectiva.

No fundo é um bom livro que, longe de ser perfeito, é bastante interessante e demonstra uma boa imaginação, o que por sua vez me deixa curioso para ler mais obras deste autor que só agora fico a conhecer, Ben Bova.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A CGD anda a dormir?


Depois de ontem ter visto algures que a Caixa Geral de Depósitos ia ter livros da Saída de Emergência grátis nas suas agências, hoje deparo-me com a notícia que esse iniciativa, prevista para dia 23 deste mês, o Dia Mundial do Livro, foi cancelada (visto aqui e aqui).

Parece que a CGD descobriu que os livros desta editora, e passo a citar, "continham linguagem com o potencial de ferir a suscetibilidade de alguns clientes, não os considerando adequados ao posicionamento e imagem do banco.".

Só assim de repente, entre Martin, Charlaine Harris, David Soares e Alan Moore, que são os autores que me lembro que iam ter livros nesta iniciativa e que conheço, há muita linguagem por onde uma pessoa mais sensível se ofender. E outras coisas também. É mais do que verdade.

Mas a CGD só descobriu isso depois de ter anunciado o evento? É algo que me fascina. Eu sei que se cometem erros, e este tipo de coisas podem perfeitamente acontecer de forma inocente, mas a Saída de Emergência é uma editora com alguma visibilidade, e alguns desses livros têm MUITA visibilidade. Acho que a Caixa tinha mais do que motivos para ser minimamente responsável e avaliar bem a iniciativa, antes de efectivamente a querer desenvolver, se depois acaba por a cancelar, seja porque motivo for.

Mesmo assim, podia ter escolhido um motivo menos idiota. Não quero entrar em exageros, mas isto até soa ligeiramente a censura. "Sim, gostaríamos muito de oferecer livros a toda a gente, mas estes não, que têm palavras feias.". Compreendo que a Caixa tenha uma imagem e a queira manter, mas tenho quase a certeza de que os seus clientes são na sua maioria gente crescidinha, maior e vacinada. A única coisa que conseguiu, com esta quase-evento, foi denegrir um pouco a sua imagem junto dos ditos clientes.

E sim, isto tudo é parcialmente porque eu antes tinha direito a livros grátis, e agora não levo nada.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Livros, motivação e o monstro

Há alturas em que andamos mais cansados que outras, é perfeitamente normal, seja pela razão que for. Eu pessoalmente ando exausto, e aquilo que noto é que é complicado arranjar motivação para fazer o que tenho que fazer para o IST, entre relatórios, exercícios, testes, manter a matéria em dia e sei lá mais o quê, e também para tudo o resto.

A vontade de ler diminui um pouco. A vontade de fazer o que quer que seja, na realidade. Já alguma vez sentiram a necessidade de simplesmente se deitarem na vossa cama e dormirem durante 3 dias, só para acertar as contas com Hipnos e Morfeu? De vez em quando sinto-me assim.

Mas tecnicamente a culpa é minha. Ninguém me mandou vir para o curso em que estou, não é verdade? Fui que escolhi enveredar pelas Ciências e, mais tarde, pela Engenharia Biomédica. E também ninguém me mandou preocupar realmente com o que ando a fazer, sou eu que escolho não ser como muitos estudantes universitários, que andam ali na borga, na palhaçada, e a gastar o dinheiro que os pais se calhar já nem têm.

Portanto tecnicamente falado, só me posso culpar a mim pela minha própria exaustão. E como já devem ter percebido, tenho manancial suficiente para me queixar do "estudante universitário comum" durante vários parágrafos, ou não tivesse eu exemplos entre os meus colegas, que vejo todos os dias. Sim, são coisas que me aborrecem, mas enfim, são escolhas, com as quais posso ou não concordar, de forma mais ou menos agressiva...

Aquilo que posso fazer é encontrar motivação. E como é que eu posso fazer isso? A maior parte das vezes não faço a mais pálida ideia. Mas de vez em quando tenho umas iluminações quasi-divinas, como hoje, quando, depois de um dia inteiro a estudar e com uma aula dada a 100 à hora, chego a casa e pego em Saga of the Swamp Thing, do Alan Moore. Ainda antes de ler as palavras ou de olhar propriamente para os desenhos, deixei-me rodear pelo papel antigo e pela forma como os desenhos se destacam.

Não vejo um monstro, ou uma árvore ao pôr-do-sol, apenas noto numa mancha escura que  parece ter sido pintada ontem, directamente na folha. Folheio o livro e é isso que sinto. O livro que tenho nas mãos parece ter saído das mãos dos seus autores há coisa de dias, se tanto. E tem um ar fascinante, tendo em conta aquilo que já sei sobre a história que encerra e sobre o próprio passado da personagem, do autor e da saga. O livro que tenho nas mãos não é um livro, neste momento é o livro.

Podia ter sido outro qualquer, calhou apenas ter sido este, mas enquanto o folheio ao de levo não existem outros livros. Não que este seja particularmente excepcional, o que acho que seja, pois ainda não o sei, mas enquanto olho para ele e me deixo envolver na excitação quase infantil de ter esta obra nas minhas mãos, nada mais importa. Não tenho coisas para fazer nem meio semestre pela frente com pouco ou nenhum descanso, tenho este livro para ler. Não vivo num país à beira do colapso, situado num continente à beira do colapso, apenas mais um num planeta à beira do colapso. Não sei o que é política, economia, matemática, física, arte, biologia, não sei nada. Apenas que tenho este livro para ler.

Um prefácio de Ramsey Campbell, uma introdução do próprio Alan Moore, e a única coisa que tenho na cabeça é o horror na BD, as expectativas para a espectacularidade das próximas páginas, uma história resumida da personagem principal, o monstro/herói Swamp Thing, as implicações que esta história tem no enredo da que se segue, aquilo que o autor diz que vai fazer... Nada mais existe.

É então que fecho o livro e a realidade se abate sobre mim. Doem-me as costas da posição em que estava a ler, e sinto os olhos cansados. Tenho coisas para fazer. Tenho muitas coisas para fazer. O livro é apenas um livro, e ainda que a cara monstruosa, estranhamente humana e completamente fascinante na capa chame por mim, tenho que recusar. Tenho coisas para fazer e um mundo para encarar. Não me apetece, preferia muito mais ler o livro duma ponta à outra, mas aí atrasava o que tenho para fazer e o livro durava pouco.

Deixo-o sossegado e começo a fazer coisas, como já tenho feito com frequência: deixar a leitura de lado em prol de outras coisas que se tornam mais importantes e urgentes. Mas até que ponto é que a leitura é assim tão secundária? Não sei bem. Nunca pensei nela propriamente como algo com uma certa prioridade, é algo que se me afigura tão natural como comer ou ir à casa de banho. Mas quando as coisas se complicam, é invariavelmente a leitura que sofre mais.

Gosto disso? Claro que não. Tem de ser? Às vezes tem. E será que a leitura é assim tão prejudicada? Talvez. Tenho definitivamente menos tempo para ler, e quando tenho tempo, menos paciência. Mas cada momento de leitura é sagrado, cada página virada um pequeno tributo à divindade menosprezada que é o meu tempo livre. A minha mente agradece por cada bocadinho perdido entre as páginas de um livro, e a terrível heresia que era perder tempo de leitura é agora algo que me faz aproveitar mais esse mesmo tempo.


Os livros ajudam-me e apoiam-me, lembram-me dos meus motivos para fazer o que faço e dos objectivos que imponho a mim próprio. Proporcionam-me momentos de prazer pelo simples facto de os ter na mão, por 10 minutos que seja, confortam-me e impedem-me de colapsar. E agora, como nunca antes, percebo porquê: os livros que leio não são livros, são pequenos pedaços da minha alma e da minha mente que vão encaixando uns nos outros e em mim. São a melhor coisa do mundo e isso, aconteça o que acontecer, já ninguém me tira da cabeça.

Aprender a ter Medo

Título: Aprender a ter Medo
Autor: Mazan
Tradutora: Paula Amaral

Sinopse: Esta é uma história de um rapaz que não sabe o que é ter medo. "Ah, se ao menos eu conseguisse ter medo! Se eu conseguisse ter medo!", não se cansa ele de repetir. Mas nada feito: mesmo atravessando um cemitério a meio da noite, o pobre rapaz não consegue ter medo.

Assim, para que ele possa ficar a conhecer o que tanto ambiciona, o seu pai manda-o correr mundo. Cheio de boa vontade, o jovem parte ao encontro de espectros e fantasmas, de monstros e demónios... Conseguirá ele finalmente aprender a ter medo? Sabê-lo-ão lendo este livro!

Opinião: Já comprei este livro há tanto tempo que nem me lembro quando foi. Tenho uma vaga ideia que foi numa espécie de leilão, ou que envolvia rifas, e que eu andava na primária. É pequeno e já o li tanta vez que já quase sei a história de cor, mas há algum tempo que não pegava nele, e como ando numa de ler BD's, pensei "olha, e porque não?".

A verdade é que não me canso deste livro. Não sei se já tenho alguma ligação emocional profunda com esta adaptação de um conto dos Irmãos Grimm, por estar comigo há tanto tempo, mas eu simplesmente adoro este livro.

E não me canso de agarrar nele, como já o fiz tanta vez, e lê-lo duma ponta à outra, em toda a sua pequena extensão, duma assentada, se for preciso 2 e 3 vezes seguidas. É fantástico.

O livro conta a história de um rapaz muito despachado que não sabe o que é ter medo, e que quase desespera por uma oportunidade de ficar a saber. Sente genuína curiosidade, e enquanto que as pessoas à sua volta querem dinheiro e ser felizes, ele quer algo tão simples como sentir medo, porque não sabe o que é, vê toda a gente a senti-lo, de uma forma ou de outra, e anseia por sentir o mesmo.

Este desejo leva-o a várias peripécias, entre elas a de dormir 3 noites num castelo assombrado, dentro do qual é suposto acagaçar-se de tal maneira que nunca mais será o mesmo.

A história parece ter potencial para seguir caminhos bastante sombrios, e ainda que o faça de forma relativamente disfarçada, é e será sempre uma comédia. Negra, mas uma comédia. Conseguem imaginar uma pessoa sem medo a ser assombrada por espíritos e criaturas do mais variados tipos, não conseguem? Asseguro-vos, é hilariante.

O desenho é simples e expressivo, o que penso que permite transmitir a história na perfeição. A simplicidade dá azo a algumas liberdades criativas, e a expressividade ajuda a poupar nas palavras ou a reforçá-las.

Sei que posso ser um pouco parcial, e que deve ser quase impossível encontrar este livro para o lerem e confirmarem, mas digo-vos que o acho genial.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Star Wars: Clássicos 5

Título: Star Wars: Clássicos 5

Guiões: Archie Goodwin, Wally Lombego, Larry Hama, Mike W. Barr
Desenhos: Al Williamson, Carlos Garzón, Carmine Infantino, Gene Day, Walt Simonson, Tom Palmer
Arte-final: Day, Stone, Tom Palmer
Cores: Glynis Wein, D. Warfield, C. Scheele
Tradutor: Renato Neves

Opinião: Por muito que eu goste de Star Wars, há um limite para o número de enredos manhosos que consigo aturar. Tenho que ser sincero e dizer que nunca estive à espera que a qualidade destas BD's fosse algo de extraordinário. São obras que derivam de filmes, e cujo objectivo de expandir o universo da saga se mistura muitas vezes com o de ganhar umas massas, portanto sempre estive à espera de uma qualidade medíocre com laivos de brilhantismo por ali espalhados.

Mas até agora tenho encontrado algo mais oposto: não digo histórias excelentes, mas boas histórias, interessantes, com alguns laivos de mediocridade, por vezes desesperante. Tem sido uma boa surpresa, mas agora que já ultrapassei a excitação de fanboy, e apanho um livro de uma forma geral bastante mediano, tenho que me queixar um pouco.

A maior parte das histórias desenvolvidas neste volume sofrem do mal que algumas das histórias de volumes anteriores também sofriam: mau argumento. A diferença é estas histórias estarem agora em maioria. É que a sério, eu sei que isto é um universo de ficção científica, em que há raças que parecem ursinhos fofinhos e outras que parecem ursos ameaçadores e isso tudo, mas acho que se existirem 3 ou 4 pessoas neste planeta capazes de tornar uma história sobre o Darth Vader e a Princesa Leia envolvidos em lutas económicas e ligeiramente cómicas credível, é muito.

Já não há paciência para este tipo de argumentos manhosos que só servem para encher chouriços e que apenas estão vagamente relacionados com o enredo principal. Mas enfim. Era difícil isto continuar espectacular durante 12 volumes? Espero apenas que o próximo volume me anime mais um bocado...

Se bem que, não desesperem, as personagens continuam interessantes, dentro dos seus limites. Nota-se é bastante a falta de Han Solo, e em comparação a personagem de Lando Calrissian é muito, muito, muito pouco carismática. E o Yoda! Onde é que anda o Yoda?! E porque raio é que o Darth Vader, uma das personagens mais interessantes de sempre do que quer que seja, tem tão pouco tempo de antena? É uma maldição, digo-vos.

domingo, 14 de abril de 2013

Youth


Título: Youth
Autor: Isaac Asimov

Opinião: Asimov foi um dos grandes, digam o que disserem, e olhem para a sua obra da perspectiva que olharem. Eu pessoalmente ainda lhe li pouca coisa e já tenho a certeza que tenho aqui um autor que me enche as medidas.

Este conto é mais uma acha para essa fogueira em particular. Especialmente porque conseguiu manter-me interessado ao longo da história, e depois na última meia dúzia de linhas deixou-me literalmente de boca aberta.

Sem querer dar muitos pormenores sobre o que é assim tão surpreendente, a história é sobre duas crianças que descobrem uns animais estranhos e ficam com eles, para irem para o circo. Os pais das crianças são um astrónomo e um industrialista, sempre chamados de Astronomer e Industrialist. Os dois animais estranhos são na realidade aliens (isso percebe-se logo, não se preocupem) e embora incapazes de comunicar com os jovens, a narrativa passa pelas suas perspectivas e ficamos a saber que são o Merchant e o Explorer.

A história desenvolve-se de forma bastante banal, com os miúdos a tentarem alimentar os animais e a fazerem planos, e os adultos a debaterem as suas coisas, e quer desses debates quer das interacções entre gerações, aquilo que se nota é uma grande diferença entre ser criança e ser adulto. Asimov provavelmente quis realçar isso mesmo, não se chamasse o conto Youth, e tal é a forma como acentua o gap, à falta de melhor palavra em português, entre gerações.

Com uma escrita sempre impecável e um fim surpreendente e imprevisível, este é um bom conto de um grande autor, do qual espero ler mais coisas num futuro próximo.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Beyond lies the wub


Título: Beyond lies the wub
Autor: Philip K. Dick

Opinião: Sem desapontar minimamente, Philip K. Dick escreveu um conto interessante, com uma premissa e desenvolvimento que levam o leitor a pensar, e com um enredo imprevisível. Eu pessoalmente fiquei ligeiramente chocado, a certa altura, e surpreendido no fim, o que é sempre agradável.

Imaginem uma espécie de porco marciano, enorme e com um ar estúpido. Foi esse ser, um wub, que a tripulação de uma nave comprou, com a intenção de o usar como alimento. Qual não foi a surpresa deles quando o bicho começou a falar e revelou ser uma criatura inteligente!

A questão que se levanta é bastante óbvia: por um lado temos um ser com um aspecto claramente animalesco, remotamente parecido com um porco, e que poderia ser usado para comida; por outro temos um ser claramente consciente e inteligente, que conversa com os tripulantes. Comer ou não comer, eis a questão, podia-se mesmo dizer.

Achei o wub muito bem conseguido enquanto personagem, de certo modo mais humano que os humanos que o rodeavam, mas ao mesmo tempo com uma forma de pensar claramente alienígena, ainda que partilhasse traços tipicamente terráqueos, como a curiosidade.

O fim deixou-me surpreendido e satisfeito, o que ajuda a que cada vez sinta mais vontade ler os contos, e outras obras, deste autor, que tem vindo a revelar uma grande mestria na arte de contar histórias.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

2 B R 0 2 B


Título: 2 B R 0 2 B
Autor: Kurt Vonnegut

Opinião: Como primeira incursão na obra de Vonnegut, não me posso queixar. Curto, 2 B R 0 2 B, que se lê em inglês e com aquele zero a ser lido como naught, é uma história bastante interessante que parte de uma premissa simples, e que é bem explorada.

No universo deste conto, o envelhecimento foi curado e as pessoas vivem até aos 200 e tal anos e mais além, sem envelhecerem um único dia. Como tal, passou a haver um controlo da população, pois se continuassem a nascer pessoas sem qualquer restrição, o planeta rapidamente seria incapaz de aguentar o excesso de população.

O processo é bastante simples: por cada criança que nasce, os pais têm que arranjar um voluntário para morrer nas câmaras de gás. É cruel, mas é uma resposta racional para o problema que a imortalidade traz.

Imaginem agora o desespero de um pai que está na sala de espera da maternidade, e que sabe que vai ter trigémeos e só tem um voluntário para morrer. Este desespero é perfeitamente transposto para o papel, com as pessoas a conversarem à sua volta, e a história a decorrer, e ele apenas sentado, com a cabeça entre as mãos, completamente imóvel. A primeira vez que reage minimamente ao que quer que seja chega a ser angustiante.

Isso foi o elemento que mais me marcou em toda a história, que já é por si bastante interessante e se encontra bem escrita. Ainda por cima, e como tem sido hábito com as minhas últimas leituras, deixou-me curioso para ler mais coisas do autor...

terça-feira, 9 de abril de 2013

Rubrica "O Pior Livro" no blog nlivros


Podem ir aqui ver a minha participação nesta rubrica, para a qual fui convidado pelo autor do blog, o Iceman/Miguel. Ele pelos vistos gostou do texto, espero que também gostem. Aproveitem e explorem um pouco o blog, que é muito bom.

Obrigado Miguel!

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Pequeno Deus Cego

Titulo: O Pequeno Deus Cego
Argumento: David Soares
Ilustração: Pedro Serpa

Sinopse: A vida da pequena Sem-Olhos torna-se uma tragédia quando a mãe determina que ela seja iniciada num sangrento rito tradicional, mas ainda mais doloroso é o grande segredo da família, oculto no passado, que duas personagens misteriosas irão desmascarar. Será que Sem-Olhos é apenas uma criança ou poderá ser um pequeno deus sobre a terra?

Opinião: Se o sapo que figura na primeira imagem deste livro é um começo inofensivo, o sémen lhe cai em cima pouco depois situa-nos de imediato numa história de David Soares.

Se bem que esta não é uma história tão típica de David Soares quanto isso. Ou melhor, não é típica do David Soares a que eu já me habituei, o que escreve páginas atrás de páginas de coisas absolutamente horripilantes e viscerais, horror puro na sua forma mais negra.

Não, este não é esse David Soares. Em O Pequeno Deus Cego, o escritor revela uma forte inclinação para a fábula, sem nunca deixar de lado uma vertente literalmente mais visceral.

Quando olho para o que já li do autor, vejo que há claramente uma evolução, das coisas mais antigas para as mais recentes: de histórias de horror visceral, com tripas, sangue e muita morte estranha por todo o lado, para histórias mais "calminhas", mais focadas no objectivo principal de passar uma certa mensagem.

Tenho de confessar que é com algum receio que assisto a essa evolução. Já se sabe como sou com mensagens que os autores querem passar. Felizmente, David Soares tem-se safado bem, e nas poucas páginas desta BD conta uma história interessante, algo muito parecido com uma fábula, sem dúvida, sobre uma menina sem olhos, que não é bem uma menina, e a sua mãe muito pouco carinhosa e muito pouco... mãe.

Mas antes de se preocuparem com a história, sobre a qual não posso revelar grande coisa além do que vem na sinopse, queria deixar aqui bem expresso a minha admiração pela personagem de Wang, o Castrador. Sim, é um dragão, o que lhe dá logo pontos positivos, do meu ponto de vista, mas além disso é uma personagem profundamente intrigante. Já encontrei personagens que gostei, odiei, venerei, percebi, com as quais simpatizei e de tudo um pouco. Mas é a primeira vez que encontro uma personagem que me deixa perplexo. Intrigado e extremamente curioso. Wang, o Castrador, é um dragão maléfico, filosófico, teatral, ao mesmo tempo todo-poderoso e completamente indefeso.

A ideia com que fiquei foi a de estar a ver uma personagem e a ler as falas de outra. A imagem do grande dragão verde de dentes grandes e olhos negros e encarnados não encaixa com o monólogo teatral e com os maneirismos tão humanos que o dragão faz durante o discurso. Altamente intrigante.

E a/o pequeno Sem-Olhos, a pequena personagem que nasceu, adivinharam, sem olhos, é iniciada na vida feminina com o ritual sangrento dos sapatos minúsculos que deformam os pés das raparigas, pela própria mãe, o maior monstro do livro. Mas ao mesmo tempo é iniciada na sua vida masculina recém-descoberta pelas palavras de um misterioso e sábio velho, que lhe revela a verdade.

O fim não fica propriamente em aberto, mas não fica propriamente fechado. É um final que pode ficar aberto a interpretações, tendo em vista a coragem, o medo, a curiosidade, a luz no meio das trevas e as trevas enquanto luz. E também sobre o destino e a procura da verdade. Estaria o futuro de Sem-Olhos pré-definido como sangrento e brutal por causa do seu começo de vida sangrento e brutal? E tudo isso por causa da sua procura inocente pela verdade que sempre lhe foi negada, tal como a visão? É a falta da primeira que o leva ao dragão mais intrigante que já vi, mas é a falta da segunda que a livra do medo e de uma morte certa.

Uma interessante fábula sobre ver, compreender e a curiosidade enquanto face reversa do medo, O Pequeno Deus Cego agradou-me bastante e deixou-me com vontade de pegar em mais livros do autor, algo que não deverá andar muito longe...

domingo, 7 de abril de 2013

The Crystal Crypt


Título: The Crystal Crypt
Autor: Philip K. Dick

Opinião: Os contos de Philip K. Dick foram-me aconselhados pelo João Campos, do Viagem a Andrómeda. Como já gostava do autor, não foi preciso mais que isso para ficar curioso. Bastante curioso.

Uns dias depois, encontro na net, arrumadinhos e prontos a sacar, uns poucos contos de Philip K. Dick, a maior parte em formato compatível com o meu Kobo. Maravilha!

Optei por começar por este apenas e só porque foi o que me apareceu primeiro na lista. Não sei nada sobre os seus contos além dos títulos, e de que, segundo o João, são muito bons. Foi portanto uma aventura, ler este conto, uma aventura com boas expectativas que felizmente foram cumpridas.

Não que tenha achado o conto genial, porque não achei. A história começa a bordo duma nave a sair de Marte, com os últimos terráqueos que ainda estavam no planeta. A nave é abordada por marcianos, que andam à procura dum grupo de terroristas que fizeram desaparecer uma cidade inteira. E é então que, ligeiro spoiler daqui para a frente, não encontram nada e se vão embora, ainda que os terroristas estejam na nave e acabem a contar a sua história a um gajo desconhecido, que insiste nisso, o que não é nada suspeito, não é verdade?

Mas pronto, não vos quero estragar a leitura, mas também não estou muito preocupado com isso, porque todo o conto é deveras previsível. Foi esse, aliás, o meu único problema com ele. A estrutura é óptima, a narrativa é excelente, a ideia muito boa, tudo corria às mil maravilhas até às linhas que permitiam prever o resto do conto. Aconteceu duas ou três vezes, e acabou por tirar algum do interesse ao conto.

Só que isso não faz dele um mau conto. The Crystal Crypt é um bom conto, com ideias e noções interessantes, principalmente aquilo que aconteceu à cidade, e que me aguçou a curiosidade para futuros contos do autor.

sábado, 6 de abril de 2013

An Authentic Narrative of a Haunted House


Título: An Authentic Narrative of a Haunted House
Autor: Sheridan le Fanu

Opinião: Desde que li o Carmilla, de Sheridan le Fanu, que fiquei com boa ideia do autor. Infelizmente as suas obras não abundam por aí, e não chegou nada assim tão espectacular que me fizesse andar activamente à procura. Foi preciso andar a pesquisar por e-books para descobrir uma série de obras do autor, entre as quais figurava este pequeno conto.

Um conto cujo título não podia ser mais explicativo. É uma história sobre uma casa assombrada, que passa por um relato verídico, à boa moda das histórias do estilo e da época em que foi escrito, algures pelo século XIX.

Já depois de o ler, vim a descobrir que o autor foi um dos mais importantes escritores escritores de histórias de fantasmas do século XIX, e embora este conto em particular não me tenha enchido as medidas, posso compreender porquê.

A escrita é detalhada e cuidada, como não podia deixar de ser, e o enredo está envolto em mistério, com figuras misteriosas a aparecerem e a desaparecerem, em horas e lugares impróprios, sem razão nem explicação aparente.

Pessoalmente achei que tudo se desenrola de forma algo lenta, apesar da brevidade do conto, mas acabei por apreciar bastante o final, em que tudo se interligou e fez sentido, numa história algo rebuscada e obtida demasiado facilmente, é verdade, mas pronto, isso é um detalhe. Só acabei por não gostar mais exactamente pelo ritmo lento e demasiado pausado, que nem o mistério e o suspense conseguiram intensificar, fazendo com que a narrativa perdesse alguma da força que podia ter tido.

Apesar disto, An Authentic Narrative of a Haunted House é um conto interessante, com uma escrita muito boa e um enredo com pontos positivos e pontos negativos mas que, de uma forma geral, dá predominância aos positivos.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Aquele Sacana Amarelo (Sin City #4)

Título: Sin City - Aquele Sacana Amarelo

Autor: Frank Miller
Tradutor: João Miguel Lameiras

Sinopse: John Hartigan, o último polícia honesto de Sin City, está a poucas horas da reforma, quando o perverso filho do Senador Roark, o homem mais poderoso de Sin City, rapta uma miúda de 11 anos, chamada Nancy Callahan, e muda a sua vida para sempre.

Opinião: Foi completamente rendido a Sin City que comecei a ler este livro, e foi completamente rendido a Sin City que acabei de o ler. Aquele Sacana Amarelo atinge níveis tão elevados como o primeiro volume, na minha opinião.

Frank Miller volta a provar que há poucas histórias com tanto potencial narrativo e emocional como as histórias de vingança. Desta vez é um polícia à beira da reforma, John Hartigan, que mesmo no último dia de trabalho se vê envolvido no rapto de uma rapariga de 11 anos por um pedófilo.

Essa rapariga é Nancy Callahan, que vemos nos anteriores volumes, normalmente com muito pouca roupa. E se o que vimos é prenúncio do que aqui vai suceder, já sabemos que Nancy é a rapariga mais protegida da cidade, o que se confirma, com John Hartigan a fazer o papel de cavaleiro andante.

Hartigan é tramado, mas não cede. Aguenta estoicamente o que tem que aguentar para manter Nancy a salvo. Mas como não podia deixar de ser, algo corre mal, e a partir daí é ver os enxertos atrás de enxertos de porrada e violência que se sucedem.

O sacana amarelo do título é literalmente um sacana amarelo. Pela primeira vez em quatro livros aparecem mais cores além de branco e preto: o amarelo do sacana, tão vívido e aberrante em comparação com o resto do desenho. Este toque de cor nada subtil acaba por se enquadrar bastante bem na narrativa, dando o devido destaque à personagem e ajudando a criar um sentimento de repugnância partilhado entre o leitor e as outras personagens.

Algo que me tenho esquecido de mencionar é as ligações que os livros têm uns com os outros. Não me lembro de grandes referências no terceiro, para além de se saber que acontece a seguir ao segundo, mas a história do segundo cruza-se com a do primeiro, e a deste vai inclusivamente atrás do primeiro e encontra Dwight, personagem do segundo e terceiro livro, a queixar-se da mulher que tantos problemas lhe vemos trazer depois. São pormenores que facilmente passam despercebidos mas que contribuem para a solidez da narrativa.

Em suma, posso dizer que gostei muito deste livro e que estou definitivamente rendido à mestria de Frank Miller enquanto contador de histórias sombrias e violentas e enquanto artista gráfico. O estilo que usa em Sin City, com os seus implacáveis jogos de sombras e, no caso deste livro, pequenos toques de cor bem planeados, transmite uma intensidade fora do comum às histórias e permite o tal envolvimento do leitor no ambiente de Sin City. Muito bom.