sexta-feira, 31 de maio de 2013

Divulgação: "Vamos Aprender" de Aida Teixeira e Carlos Rocha

Um bom projecto de uma boa editora, é o que este livro é. Vamos Aprender é a estreia nos livros infantis da Kingpin, uma editora portuguesa de BD com títulos no catálogo como Mucha e O Pequeno Deus Cego, de David Soares, e ambos os volumes da Fórmula da Felicidade, de Nuno Duarte, entre outros.

E não, isto não é um livro ilustrado. É BD para crianças. Há uma diferença, mesmo que muita gente ache que livros com desenhos são automaticamente para miúdos.

Ainda por cima tem uma história de criação, e acreditem que me odeio pessoalmente por usar esta palavra em público, adorável. O lançamento é amanhã, no IX Festival Internacional de BD de Beja, às 15h. Fiquem com a nota de imprensa e alguns pranchas para vos aguçar o apetite!



Vamos Aprender
Texto de Aida Teixeira
Desenhos de Carlos Rocha

“Vamos Aprender”, mas com diversão!

Este é um livro de Banda Desenhada para crianças, que teve na sua génese uma criança, a Sofia, que quando tinha 6 anos desenhava animais que a sua mãe Aida transformava em histórias. Histórias que saltam da página directamente para a nossa imaginação e que levam as crianças a pensar, ao invés de se limitarem a oferecer-lhes um resultado imediato.

O aspecto lúdico do livro leva os pequenos leitores a interiorizar ensinamentos comportamentais importantes, aliando isso ao enorme prazer visual que os desenhos expressivos e coloridos do Carlos Rocha proporcionam. Uma alegria para os olhos e para a imaginação pela mão de dois novos autores, que se propuseram a fazer estas seis histórias repletas de encanto para crianças e para adultos que nunca deixaram de o ser.

Uma aposta diferente da Kingpin Books e do editor Mário Freitas, que se iniciam assim num novo desafio editorial, a publicação de BD infantil, um segmento geralmente esquecido ou ignorado nos últimos anos em Portugal.

Capa dura, cor, 48 páginas, 19,6cm x 26,1cm
PVP: 11,99€ (PVP de lançamento no Festival Internacional de BD de Beja: 10€)
ISBN: 978-989-8673-00-8
Kingpin Books, Junho 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

A Pro

Título: A Pro
Argumento: Garth Ennis
Desenho: Amanda Conner
Arte-final: Jimmy Palmiotti
Cor: Paul Monts
Tradutor: Pedro Silva

Sinopse: Ela pragueja. Ela fuma. Ela amamenta. Ela engole... a concorrência. Ela é a mais improvável pessoa na Terra para ter super-poderes! Ela é A Pro.

Opinião: Como podem perceber pela capa e pela sinopse, este livro é javardolas. Javardolas e hilariante. Algo que talvez não consigam ver assim de imediato, é que este livro é para mim um caso único até agora, um tipo de livro bastante especial.

A Pro é um livro que provavelmente beneficiou de estar traduzido para português e não na sua língua original. E porquê? Por causa de uma propriedade escondida e desprezada da língua portuguesa. Fala-se muitas vezes da beleza singular da nossa língua, do seu léxico rico e alargado, e da sua construção frásica complexa, factores que permitem grandes obras literárias que acabam incompreendidas lá fora, para além de ajudam bastante ao facto de sermos conhecidos como um país de poetas.

Mas as pessoas muitas vezes esquecem-se de que também há poucas línguas tão javardas como o português. A sério. A língua inglesa é altamente educada, na pior das hipóteses as javardices parecem apenas rudes. O italiano é perpetuamente cantado, o francês é espampanante e o alemão é áspero. E tudo soa ligeiramente pornográfico em espanhol. Mas querem contar uma boa piada javarda? Querem ser autênticos badalhocos sem chocarem ninguém com o quanto isso destoa do que vos rodeia? Façam-no em português!

A entoação que conseguimos dar às palavras pode ter muito potencial para ser pura poesia, mas também tem bastante potencial para soar javardo. Querem um exemplo? Experimentem dizer "Brochistas de merda!", como diz uma das personagens, noutra língua qualquer. E agora digam-no em português, com a entoação que vocês sabem que deve ter. Nem comento!

O livro também tem uma história, não se exaltem já com as badalhoquices. A Pro e companhia limitada são paródias de super-heróis bastante conhecidos, com a primeira a contrastar com os segundos por ter os pés assentes na Terra e nunca se deixar enganar pelas morais certinhas e angelicais dos ditos super-heróis. As situações geradas são hilariantes. A certa altura ela usa a sua super-velocidade para fazer uma quantidade aberrante de broches (em bom javardês) e ganhas bateladas de dinheiro. É hilariante.

E é pequenino, o livro. Lê-se bem, rápido, e quase que nos obriga a soltar umas poucas gargalhadas, mais rápidas a chegarem se conhecerem alguma coisa do mundo dos super-heróis. Especialmente para essas pessoas, se querem ler uma boa crítica ao meio, aconselho-vos este livro. Para todas as outras, e sem esquecer a bolinha vermelha no canto superior direito, aconselho igualmente!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O Chinês Americano

Título: O Chinês Americano
Argumento: Gene Luen Yang
Arte: Gene Luen Yang
Cores: Lark Pien
Tradutora: Beth Vieira 

Opinião: Este livro é tão profundamente engraçado... Em parte porque faz algo que acaba por funcionar muito bem quando é feito de forma honesta e sem entrar na parvoíce: não se leva demasiado a sério.

As suas páginas contam 3 histórias paralelas, e lá mais para o fim mostram-nos o infinito, de forma muito bem conseguida.

A história de Jin Wang, incompreendido entre colegas que gozam ele, não é a mais interessante, e muito menos a de Danny, o rapaz com um primo que parece que decalcado de todos os estereótipos chineses. Eu deliciei-me foi com a história do Rei Macaco, insatisfeito com a sua condição de símio mais poderoso do planeta.

Apresentadas de forma segmentada, cada história vai evoluindo para um final não muito óbvio, o que só faz dele mais interessante. Os desenhos estão ligeiramente cartoonescos, combinando muito bem com a história cómica que contam. Como já disse, o Rei Macaco fascinou-me, mais a sua história que não é mais do que uma reciclagem de uma lenda popular chinesa, trazida para os dias de hoje.

E embora essa me tenha enchido as medidas, as outras duas histórias também são interessantes, e avançam de forma curiosa, convergindo para um fim que achei surpreendente e com alguma carga moral.

Mas não há nada mais engraçado do que ver a luta quase diária que o Rei Macaco trava para se tornar num deus de pleno direito, aprendendo várias vertentes do kung-fu e usando-as a seu bel-prazer. Bem, talvez ver Chin-Kee a cantar e a dançar, com a sua folma de falal bastante diveltida. O que posso dizer é que aconselho a leitura desta BD, que ainda por cima se lê num instante.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Que as citações nos caiam em cima [30]


"Did you think to kill me? There's no flesh or blood within this cloak to kill. There's only an idea. Ideas are bulletproof."

V em V for Vendetta
Alan Moore

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Livros e Retratos

Depois de duas visitas, posso dizer que nunca uma feira do livro me soube tão bem. Mesmo que não tivesse comprado nada, o facto de estar ali rodeado de livros já me fascina e deslumbra o suficiente. Dei por mim a queixar-me de haverem demasiados livros, nalgumas bancas! Como é que isto é possível?

No entanto, também nunca uma feira do livro teve um sabor tão amargo. Lembro-me de lá ir e trazer para casa 60, 70, 80 ou 90 euros em livros. Era a minha altura favorita do ano e aquela em que aproveitava para gastar as minhas economias (ou o dinheiro dos meus pais) naquilo que mais gosto: livros. Bons tempos. Agora procuro as pechinchas, penso duas vezes quando um livro custa mais de 5 euros, e tenho todos os dias que me mentalizar que não posso trazer tudo o que quero.

Tenho uma lista. Todos os dias me sento, calmamente, agarro numa caneta, e faço alterações. E faço contas. E na maior parte das vezes vou tirando livros. "Este fica para depois.", tento convencer-me a mim mesmo, "Tu nem queres tanto este livro, mais vale gastares naquele outro.", argumento contra mim próprio. Por um lado é bom: nunca trouxe tantos livros para casa por tão pouco dinheiro como desde que o dinheiro começou a faltar.

Mas por outro lado, é horrível. Para um leitor compulsivo, o mero acto de voltar a pousar um livro pelo qual ansiamos há bastante tempo, só porque custa 9 euros, e nem pensar em gastar isso assim num livro, que mais vale ir ali abaixo e trazer aqueles outros 3 que tinhas visto. É verdade.

Suponho que no fim, a coisa até compense. Acabo por conseguir mais livros, e não são livros ranhosos. Entre um de ficção científica escrito pelo António de Macedo, um livro do Stephen King e Argonautas aleatórios, desafio-vos a encontrarem um livro que não seja interessante.

Quanto à feira em si, aconselho-vos vivamente a procurarem bem no meio dos alfarrabistas. Ainda que estejam mais caros que em anos anteriores, encontram-se autênticas preciosidades ao preço da chuva. E não se esqueçam de ir aos Argonautas. Acho que é crime ir à feira do livro e não passar lá. Se procurarem bem no resto da feira, também encontram outras pechinchas aleatórias, portanto não desesperem, investiguem bem e vasculhem por entre os livros.

Não desesperem, que já volto ao meu refilanço habitual! Nem só de coisas boas se faz uma feira do livro, e o resmungão em mim agradece. As editoras estão cada vez mais comerciais, mas pronto, já nem vale a pena bater nesse ceguinho em particular. E o site é asqueroso. A informação não é propriamente fácil de navegar, tem muitas coisas desactualizadas, não é propriamente apelativo, só ficou disponível 1 ou 2 dias antes da feira abrir... Uma grande, grande falha.

Felizmente há editoras que se destacam e que nos animam o dia. Se a Livros do Brasil tem Argonautas a 1 euro (gosto sempre de referir isto), e a Tinta da China tem algumas das edições mais bonitas de Portugal, a Book.it tem um tipo a escrever retratos. Por curiosidade, esse tipo é meu primo. Chama-se André Pereira, e o que gosta de fazer na vida é humor daquele que faz as pessoas soltarem barulhinhos incomodados enquanto o fulminam com olhares reprovadores capazes de fazer corar qualquer um. Isso, ler, ver o Benfica e escrever. Foi por essa última que se juntou a esta editora, para nos fins de semana da feira e no dia 10 de Junho, escrever retratos de pessoas, numa máquina de escrever. Aconselho, e não só porque é meu primo. Hoje fez o meu, e não podia estar mais satisfeito com o resultado.

Portanto, já sabem, a mensagem do costume. Visitem a feira do livro, aproveitam e perdem uns quilos a andarem para cima e para baixo à procura de pechinchas. E depois compram as fantásticas pechinchas!


domingo, 26 de maio de 2013

V for Vendetta

Título: V for Vendetta
Argumento: Alan Moore
Arte: David Lloyd

Sinopse: A frightening and powerful story of the loss of freedom and identity in a totalitarian world, V FOR VENDETTA is the chronicle of a world of despair and oppressive tyranny.

A work of startling clarity and intelligence, V FOR VENDETTA is everything comics weren't supposed to be.

England prevails.

Opinião: Há alguns livros que já sabemos à partida que vamos gostar. Ou que pelo menos temos uns 99% de certeza de que isso vai acontecer. É assim quando pego num Saramago, e já é assim quando pego num Alan Moore.

O meu primeiro contacto com o autor foi quando li o brilhante Watchmen, ao qual me rendi de forma incondicional. Quando depois de pesquisar descobri que também tinha escrito este livro, sobre vingança (obviamente) e anarquia, a única coisa que fiz foi andar sempre à procura de uma oportunidade para agarrar nele.

Graças às abençoadas BLX, essa oportunidade chegou. Depois de também ter lido Saga of the Swamp Thing da mesma forma, requisitei e devorei V for Vendetta. E agora o que é que querem que diga? Conheço poucos livros tão perfeitamente concebidos para me agradarem: num futuro distópico, a sociedade oprimida é forçada a ver a luz da verdadeira liberdade graças a um misterioso homem com uma máscara de Guy Fawkes, um anárquico que espalha o caos por Londres, muitas vezes sob a forma de explosões, sem nunca perder um pingo que seja da sua teatralidade.

Culto, misterioso, ameaçador e carismático, V, o terrorista com um fascínio pela letra V e uma paixão assolapada pela liberdade, rouba completamente todo o protagonismo do livro para si próprio. Quando aparece, é difícil ver outra coisa que não ele, quando não aparece é fácil sentir-lhe a falta. Mas não fiquem a pensar que V é a única coisa interessante no livro. Nada disso. Todo o ambiente está muito bem construído, a Evey, o Leader e o próprio computador que tudo comanda, o Fate, são personagens interessantíssimas, mesmo que o último seja apenas um computador muito poderoso.

As relações entre as personagens são outro dos pontos fortes. A ligação entre V e Evey é intensa e uma das mais bem exploradas ao longo das quase 300 páginas do livro. Há até um momento, que me foi parcialmente estragado por já ter visto o filme, que é simplesmente chocante, e que só adensa e aumenta o estreitamento entre as personagens.

Mas, e como todos os grandes livros, V for Vendetta consegue a proeza de fazer passar uma mensagem forte através da sua história contada através de um enredo sólido e interessante. A mensagem neste caso é uma muito querida ao autor, simpatizante dos ideais anárquicos: a sociedade oprimida tem que se libertar das grilhetas da autoridade e viver livre. A forma escolhida para a fazer passar é este futuro distópico, decadente, governado em parte por uma máquina, com um regime que V, o terrorista de serviço, tenta deitar abaixo, de forma magistral e impressionante.

A escrita de Alan Moore é muito boa, e nota-se que neste caso há mais da personalidade do autor nas palavras das personagens do que nos outros dois livros que já li. Talvez Alan Moore gostasse de ser V, talvez gostasse de conhecer um V, mas este livro é claramente muito pessoal, em termos ideológicos, o que só lhe acrescenta qualidade. Por outras palavras, aconselho vivamente a leitura deste livro, mas quer dizer, quem é que não quer ler um livro cujo protagonista se apresenta assim:

"Me? I'm the King of the twentieth century. I'm the boogeyman. The villain... The black sheep of the family."

sábado, 25 de maio de 2013

água, cão, cavalo, cabeça


Título: água, cão, cavalo, cabeça
Autor: Gonçalo M. Tavares

Opinião: Eu tento, eu juro que tento, mas começo a perder a paciência com as obras de Gonçalo M. Tavares. Reconhece que escreve bem, sem sombra de dúvida, e que é com toda a certeza um homem inteligentíssimo e com capacidade e um potencial enorme. Reconheço.

Mas do que já lhe li até agora... Santa paciência. A sério que já não consigo ler mais um parágrafo que seja de literatura moderna metida consigo própria, cheia de preocupações existencialistas e com vontade de me enfiar uma mensagem ética, moral e filosófica pelos olhos dentro.

E se isso se desculpava nos livros, com alguma extensão e com um certo fio condutor a ligar os vários episódios narrados, no caso deste conto, bastante pequeno, os fragmentos apresentam-se desconexos, apenas com uma ténue ligação temática entre cada um, talvez algumas referências aqui e ali, mas nada mais.

Sinceramente, nem percebi o conto. Pode ter sido a minha mente obtusa, ou o facto de ter embirrado com isto logo após as primeiras páginas, já esperava que o autor nos contos contasse mais uma história, e fez exactamente o contrário, mas não apanhei a mensagem. Passou-me completamente ao lado.

E depois lá está, eu reconheço o talento ao autor. Mesmo a dizer tanto mal dele, e a queixar-me tanto da forma como escreve, reconheço que tem talento. Não suporto é este tipo de literatura, que tenta à força toda ser algo mais, ser superior. Acaba por ficar impregnada de uma arrogância que a escrita de Saramago também tem, por exemplo, mas o falecido autor tinha várias vantagens, para além de escrever muito melhor, incluindo o saber contar uma história, que por vezes fazia de forma praticamente perfeita.

O veredicto final é que me vou abster de ler este autor durante uns tempos, para lhe dar uma última oportunidade com o Viagem à Ìndia, ao qual ainda dou o benefício da dúvida por causa do paralelo com Os Lusíadas e das boas opiniões de amigos que tenho ouvido. Mas as expectativas têm vindo a descer, isso é certo.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Simbólica do Espaço em O Senhor dos Anéis de J.R.R.Tolkien

Título: A Simbólica do Espaço em O Senhor dos Anéis de J.R.R.Tolkien
Autora: Maria do Rosário Monteiro

Sinopse: Com o sucesso da trilogia filmada por Peter Jackson, a obra de J.R.R. Tolkien O Senhor dos Anéis teve um novo impulso de popularidade em Portugal, inspirando uma vaga de obras epigonais dentro do género da fantasia por parte de autores jovens, lidas por um público ainda mais jovem.

Mas tem faltado pensamento e produção crítica que acompanhe essa vaga, e que remeta devidamente à sua fonte literária. Esse é o propósito de Maria do Rosário Monteiro neste que é o primeiro ensaio publicado em Portugal sobre este autor e o seu livro seminal. A ler atentamente por todos os que escrevem, desejam escrever, lêem ou apenas dizem gostar disso a que se chama “fantasia” ou “fantástico”.

Contém ilustrações originais de Tolkien, sob autorização do JRR Tolkien Estate e da HarperCollins. “Desenvolvido ao longo de mais de uma década de trabalho criativo, o espaço ficcional de ‘O Senhor dos Anéis’ é profundamente simbólico, com as suas raízes nas mitologias ocidentais, o que permitiu a criação de um mundo complexo mas profundamente coerente dentro das regras que o autor definiu. [...] 

Tolkien abriu o caminho que muitos trilharam depois, descobrindo novas vozes, novos mundos fantásticos, mas muitas vezes oferecendo apenas formas eficazes de escapismo, desenvolvendo fórmulas desprovidas de qualidade poética, promovidas pelas editoras ‘à sombra’ do êxito de ‘O Senhor dos Anéis’.” (Maria do Rosário Monteiro)

Opinião: Ler Tolkien é ler um dos expoentes máximos da literatura. Simples. Mas depois de ler este ensaio de Maria do Rosário Monteiro, não tenho qualquer problema em dizer que o génio de Tolkien é um tipo de génio verdadeiramente inacessível aos comuns mortais.

Todo o cuidado que ele teve ao escrever as suas histórias da Terra Média, o planeamento, a forma como tudo é um símbolo e se encaixa de forma coerente e justificada no resto da obra... Todos esses pormenores são dissecados neste livro, de forma a dar-nos uma visão mais compreensiva dos espaços em que as histórias decorrem.

Sempre a com a ressalva da própria autora de que todos os temas que ela aborda podiam ser muito mais aprofundados. Não duvido. Ao longo de todo o texto, senti que a autora se tentou conter, com algumas análises, não direi superficiais, mas mais leves. Em termos mais gerais, vá. Sem perder o interesse, atenção!

A escrita da autora é como deve ser a de quem escreve um ensaio: directa e cuidada. A autora fala do que tem a falar, deixando entrever a profunda admiração que sente por um dos maiores escritores do Fantástico e da literatura em geral.

Do pequeno Shire a Mordor, passando por Rivendell e Lothlórien, todos estes locais são descritos e analisados, evidenciando as várias camadas de simbolismos de praticamente tudo, como a localização geográfica dos sítios, as cores dominantes, a forma como as coisas estão construídas... Tudo é analisado com algum pormenor, de forma interessante e coerente.

Devo dizer que achei o ensaio realmente interessante. Quando voltar a pegar na trilogia vou de certeza estar atento aos pormenores que a autora realça. E destaco ainda o simbolismo numérico, que não podia faltar, existente no número de membros da Irmandade do Anel, no número de anéis do Poder, no número de membros dos vários segmentos da Irmandade do Anel, depois de se separarem, tudo muito bem explicado. Digamos que fiquei particularmente deliciado com esses simbolismos em particular.

Este livro é, portanto, aconselhado a praticamente toda a gente. É óbvio que vai saber muito melhor a quem já conhecer a obra de Tolkien, mas pode ser lido por todos. E imagino que tenha um efeito interessante em que pegar na trilogia pela primeira vez depois de o ler. Mas uma coisa é certa, é um livro espectacular!

quinta-feira, 23 de maio de 2013

83ª Feira do Livro - Lisboa 2013


Começa hoje mais uma edição do evento mais esperado do ano, para quem compra livros! Em Lisboa, pelo menos. Livros relativamente baratos, descontos malucos por todo o lado, pechinchas, que é como quem diz, ARGONAAAAAUUUUUTAAAAAS!, e outras coisas que tais que são difíceis de encontrar fora desta altura.

É ver pessoas por todo o lado, a acotovelaram-se e a perguntarem coisas aos vendedores, à procura deste e daquele livro... Já se sabe que há alguns que vão esgotar, os obviamente chamados bestsellers, a maior parte dos quais não me interessa muito, exceptuando alguns mais na onda do fantástico.

Esta é provavelmente uma das raras ocasiões em que me sinto feliz por haver tanta gente entregue às leituras mainstream, e a darem total desprezo ao tipo de coisas que eu leio. Preços ainda mais baixos, menos cães para aqueles ossos... É um doce.

Mas pronto, o que interessa é que andem por lá, a comprar livros, ou só a ver, já lá passei tardes espectaculares só a olhar e a remexer. Encontram-se sempre coisas engraçadas para se ir buscar uns dias depois. Também é verdade que este ano o orçamento ainda terá que ser mais contido, mas ainda vai dar para qualquer coisa... Ainda não sei é bem o quê, para além de, adivinharam, ARGONAAAAAAAAAUUUUUUUTAAAAAAAS! E sem esquecer a Hora H, a fantástica Hora H...

Enfim, darei notícias. No entretanto, fiquem com o site da feira, não percam as sessões de autógrafos, os vários eventos e, acima de tudo, os livros.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Mania


Título: Mania
Autora: Luísa Costa Gomes

Opinião: Confuso e sem qualquer espécie de fio condutor, neste conto nem a escrita se safou. De peripécia (acho eu) em peripécia, o protagonista, Sáurio, um escritor acabado e uma personagem muito pobrezinha, tenta fazer algum sentido da sua vida, ou algo do género. Nem percebi muito bem.

Na ânsia de filosofar um pouco, e de tentar criar uma narrativa profunda e complexa, a autora conseguiu apenas escrever um conto sem ponta por onde se lhe pegue, que começa com um telefonema enganado e acaba com um leitor enganado.

Afinal, a autora supostamente tem uma carreira já cimentada em torno da escrita, nomeadamente de contos. E este Mania é o que é. Possivelmente é por ter sido reescrito, já que é uma reciclagem de um outro conto, mas vou manter as minhas reservas.

Aquilo que encontrei foi uma escrita miserável e um conto deplorável. Um dos piores exemplos que esta colecção tem para oferecer, no meio de tanta coisa já de si bastante mediana.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Defensor do Vínculo


Título: Defensor do Vínculo
Autor: Pedro Mexia

Opinião: Este conto ainda conseguiu ser dos mais suportáveis, dentro dos que já li nesta colecção. Mas também já não espero grande coisa destes contos, portanto já não caio na desilusão que me atacou após ler os primeiros.

O conceito neste caso é engraçado, uma espécie de advogado cujo papel é defender o vínculo do casamento, não o marido, não a mulher, não os filhos, não os bens, mas o casamento em sim.

Mas o autor acaba por se perder numa pequena salganhada de termos e descrições meio desconexas, permeadas aqui e ali com leves avanços da história, que nunca se percebe muito bem qual é.

Pelo menos a escrita não está má, mas como tem vindo a ser hábito com esta colecção, muito aquém da qualidade que se poderia esperar de um autor conhecido e com algum currículo. Não só em termos de escrita, mas em termos de história. Talvez os autores tenham sido pressionados para escreverem estes pequenos textos, e o resultado ocasionalmente deplorável seja devido a isso?

Não sei, mas até agora quase nenhum dos contos me agradou como deve ser, e este não é excepção.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

The Big Trip Up Yonder


Título: The Big Trip Up Yonder
Autor: Kurt Vonnegut

Opinião: Este conto de Vonnegut foi das coisas mais hilariante e críticas que li nos últimos tempos. Aborda a questão da imortalidade e da consequente imoralidade, da ganância, da falta de escrúpulos e da liberdade, seguindo um enredo bastante engraçado e assertivo, com personagens interessantes, manipuladoras e, acima de tudo, sedentas de alguma coisa.

Num mundo em que inventaram um elixir que garante imortalidade, um ancião de 200 e qualquer coisa anos com ar de 70 convive com os seus filhos, netos, bisnetos, tetranetos e sei lá mais o quê, reunindo uma família absurdamente gigantesca numa casa não muito grande. A razão pela qual ali se reúnem? Todos querem ficar com a herança do velho, quando este se decidir a morrer.

A parte engraçada começa aí, com o testamento a ser reescrito uma e outra vez, alterando constantemente a pessoa que tudo herdará conforme o humor do ancião nesse dia. Isto cria favoritos, renegados e indiferentes, num processo cíclico em que todos passam pelas 3 categorias numa altura ou noutra.

No meio disso, como devem imaginar, as guerrinhas pessoais são imensas, o respeito pelos outros é pouco, mesmo quando são os próprios pais ou os próprios filhos, uns com 100 e muitos anos e outros lá muito perto, e a maior parte da história é sobre a forma como os parentes se digladiam uns com os outros, na vã esperança de ficarem com tudo.

Até que um dia algo muda, e é o descalabro total. Digamos que no entretanto, o ancião se fartou daquela brincadeira toda. Toma de repente consciência da prisão em que vive e em que vivem os seus descendentes, e decide mudar tudo.

Com uma escrita muito boa e um enredo interessante, Vonnegut prendeu-me à leitura e fez-me soltar algumas gargalhadas, ao mesmo tempo que me re-acendeu o interesse em ler mais qualquer coisa da sua obra.

domingo, 19 de maio de 2013

thud, fwoooosh, zás!


Não sei qual é o processo criativo por detrás da criação de onomatopeias, mas cada vez mais considero esse acto como uma arte de direito próprio. Gosto de imaginar que para saber como "escrever o som de um soco", alguém tem que andar aos murros vezes e vezes sem contas até conseguir ver a palavra a formar-se à sua frente, de cada vez que o seu punho atinge a cara de alguém.

Imagino que seja mais complicado arranjar onomatopeias para coisas como uma nave espacial do século XXIII a descolar, ou o som que os tentáculos de um monstro inominável fazem ao percorrer o chão de asfalto, mas alguma coisa se deve arranjar.

Com o número de BD's que ando a ler, não consigo evitar ficar fascinado com cada onomatopeia, que mesmo falhando redondamente algumas vezes, conseguem transmitir de facto o som que é suposto transmitirem. Há quem diga que o verdadeiro génio literário se vê na poesia, pois eu acho que o verdadeiro génio literário se vê na criação de uma boa onomatopeia.

Ainda por cima é um trabalho tantas vezes menosprezado... Voltem lá a pegar nas vossas BD's e imaginem-se a lê-las sem esses palavrinhas ou conjuntos aparentemente semi-aleatório de letras. Provavelmente não vos parece tão bem, porque aquilo que se está a passar não está a soar nada. Mesmo quem não lê as onomatopeias em voz alta, algo que eu gosto bastante de fazer, elas dão uma nova dimensão à BD, adicionando-lhe sons que ouvimos de forma mais ou menos voluntária e consciente.

E é um trabalho difícil. Eu já tentei criar onomatopeias, e ou já existem ou os barulhos que tento replicar não me soam a palavra nenhuma. Como raio é que as pessoas fazem isto?

Também é verdade que nunca prestamos muita atenção a isso. Um soco nunca me soou propriamente a "thud" até começar a ler BD. Agora, sempre que vejo um soco nalgum filme, é como se alguém estivesse atrás do ecrã a gritar "THUD!", porque realmente soa àquilo. É fascinante.

Ou seja, tenho que descobrir quem são estes génios escondidos que andam por aí a ouvir o mundo e a escrever a pauta, atingindo níveis de imaginação e excelência muitas vezes perfeitos.

sábado, 18 de maio de 2013

Beyond the door


Título: Beyond the door
Autor: Philip K. Dick

Opinião: Pequeno conto, com um conceito bastante interessante, achei Beyond the door demasiado curto para explorar todo o seu potencial. A ideia, lá está, é muito boa, mas as poucas páginas não foram suficientes para que a história se desenvolvesse como podia ter desenvolvido, com uma maior extensão.

A desavença conjugal que serve como pano de fundo para um relógio de cuco bastante misterioso e imprevisível não passa de vagamente interessante e um mero pretexto para explorar o mencionado cuco.

Mas se nos concentramos nisso, no cuco, tudo corre bem. A partir do momento em que só sai da sua casita quando lhe apetece, só canta para quem lhe apetece, e consegue quase hipnotizar uma pessoa ao mesmo tempo que recebe apenas desprezo total de outra, fiquei curioso.

Philip K. Dick nunca explica o que raio se passa com o sacana do cuco, mas não precisa, pois é exactamente esse mistério em seu redor que faz dele interessante. Fiquei a querer saber como é que funcionava, porque é que agiu da forma que agiu, como raio é que podia agir por decisão própria e fazer as coisas que fez... Enfim, não achei um grande conto, mas tem uma história interessante que talvez beneficiasse de mais 3 ou 4 páginas.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Booze, Broads, & Bullets (Sin City #6) [2/2]

Título: Booze, Broads, & Bullets
Autor: Frank Miller

Opinião: Com Blue Eyes voltam a aparecer os pequenos toques de cor que já se tinham visto em Aquele Sacana Amarelo, e que adiciona qualquer coisa de espectacular ao aspecto gráfico da história. Neste caso nem resulta tão bem quanto isso, porque o azul não se destaca tanto como o amarelo ou o vermelho que vem mais à frente, mas continua a ter o seu efeito. No que toca à história, é interessante, principalmente pelo homem completamente maluco da cabeça, que é sempre agradável de encontrar numa história qualquer.

E para não me deixar ficar mal, Rats volta a apresentar uma personagem louca, desta vez um antigo veterano de guerra, que passa as poucas páginas da história a bater mal da cabeça. O destaque nesta história, ainda assim, vai para o tipo de letra, diferente do habitual e que encaixa na perfeição na loucura da personagem.

Daddy's Little Girl foi provavelmente a história que mais me impressionou, pelo simples facto de me conseguir surpreender. Eu bem que já devia saber que o amor em Sin City é sempre a mesma coisa, mas juro que desta vez estive enganado o tempo todo. Brutal e "ligeiramente" violento, esta história é outra que beneficia do toque de cor, desta vez cor-de-rosa, que acaba por resultar estranhamente bem, acentuando a inocência da personagem e contrastando bastante com a violência da história.

Depois de ter sido introduzida em Blue Eyes, Delia volta a aparecer em Wrong Turn, uma história que mostra como a personagem ainda é mais interessante do que aquilo que tinha deixado prever.

É por isso que volta a aparecer em Wrong Track e eu não me chateio que apareça em mais histórias neste volume do que o Marv. A personagem é de facto interessante, e embora a história seja sempre a mesma, acho que consegue manter-se interessante. Eu pelo menos não me fartei de ler sobre Delia, a Blue Eyes, ao mesmo tempo amante fogosa e cabra sacaninha.

Para finalizar aparece The Babe Wore Red, uma história tipicamente noir, com femme fatale incluída e tudo. Desta vez os toques de cor são vermelhos, e ajudam muito mais a contar a história que os próprios diálogos. É uma boa história para finalizar, tem mistério e tem a sua dose de violência, como não podia deixar de ser, e uma qualidade bastante boa em termos de enredo.

Como podem ver, quase todas as 11 histórias têm os seus pontos fortes e os seus defeitos, como era de esperar, mas os primeiros são claramente superiores e abafam por completo os segundos, de tal forma que mal dei conta pelas falhas. Este é um livro que vem novamente elevar a qualidade média desta saga para várias níveis acima da que é possível atingir por comuns mortais.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Booze, Broads, & Bullets (Sin City #6) [1/2]

Título: Booze, Broads, & Bullets
Autor: Frank Miller

Opinião: O formato deste livro é um pouco diferente dos volumes anteriores. Enquanto que os primeiros 5 números tinham uma única narrativa, este Booze, Broads, & Bullets colecciona vários one-shots, histórias mais pequenas entre as 3 e as 30 páginas.

E pensam que isto prejudicou a qualidade, de algum forma? Antes pelo contrário, este novo formato permitiu a Miller contar vários tipos de histórias, de várias formas, dando asas à sua imaginação e presenteando-nos com algumas pequenas pérolas.

Um dos melhores exemplos disso é Just Another Saturday Night, a primeira história, sobre Marv, como não podia deixar de ser, sendo ele a personagem que para mim é a mais bem conseguida. Há violência e a história avança de forma interessante, deixando algumas dicas sobre o passado de Marv. Aguçou o apetite e foi a entrada perfeita neste livro.

Depois vieram Fat Man and Little Boy, duas personagens absolutamente geniais e das quais me esqueço sempre de falar: têm o ar mais criminoso da história do crime, mas são mais eloquentes e faladores que qualquer académico que conheçam. A história é curta e serve apenas para exibir um pouco as duas personagens, sempre hilariantes, mas acaba por ser bastante representativa do que são as duas personagens, criminosos demasiado eloquentes que gastam demasiado tempo a falar e pouco a pensar.

Em The Customer is Always Right podemos ver o exemplo perfeito do que pode ser o amor em Sin City: violento, traiçoeiro, intenso e inesperado. A brevidade da história, pequena mesmo para os padrões deste livro, é um ponto a seu favor, pois adiciona-lhe uma brusquidão que se enquadra muito bem com a história de amor fugaz e intenso que quer contar.

Silent Night é simplesmente soberbo. Praticamente sem diálogos, é mais uma história sobre Marv, muito focada nos desenhos e com o contraste entre o preto e o branco acentuado pela expressividade que cada vinheta precisa de ter, para contar a história sem palavras. O coração doce de Marv, escondido debaixo de uma autêntica máquina de guerra, não é propriamente uma surpresa, mas não deixa de impressionar pelo contraste que faz com o aspecto e as atitudes da personagens, um contraste quase tão forte como o preto e o branco que contam a história. Fenomenal!

A próxima história, And Behind Door Number Three..., é que não beneficia com a brevidade, sendo apenas demasiado rápida e servindo como mero pretexto para mostrar como as prostitutas de Sin City têm mais poder do que é normal, e não hesitam em fazer justiça pelas suas próprias mãos, muitas vezes de formas bastante violentas.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Family Values (Sin City #5)

Título: Family Values
Autor: Frank Miller

Opinião: O talento de Frank Miller enquanto autor de BD's tem-me convencido, e de que maneira. Os seus Sin City's são das melhores coisas que já me passaram pelas mãos. Mas este desiludiu-me.

A história não tem muito mais para além do factor "a Miho é espectacular e bastante mortífera". Normalmente não me queixaria muito disso, mas para a qualidade normal do argumento de Miller, isso faz deste quinto volume um livro meramente mediano.

Ainda por cima a história ficou demasiado presa a isso, não se conseguindo elevar à fantástica qualidade das histórias anteriores. Continua negra e os desenhos ainda têm o forte contraste preto e branco para adicionar o seu quê de brilhantismo ao livro.

E a Miho é de facto bastante espectacular e mortífera. O facto de não ter qualquer fala só lhe adiciona carisma, um carisma bastante assustador, mas carisma. Já a personagem masculina não tem nada de particularmente interessante e serve só como engodo para a Miho espalhar espectacularidade.

Tirando isto, pronto, é uma história de vingança particularmente violenta e com requintes de sadismo, com Miho num papel de destaque e o poder que as prostitutas da Cidade Velha têm em Sin City, graças à sua atitude independente e extremamente agressiva. Como se viu em praticamente todos os livros, elas agarram os assuntos com as próprias mãos e resolvem-nos, com mais ou menos sangue, mas sempre com bastante violência.

Enfim, um livro mediano tendo em conta os outros, mas que acaba por não manchar a aura de brilhantismo que emana desta saga negra (e branca).

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Que as citações nos caiam em cima [28]


"Devia limitar-me a ser o que esperam de mim. Ficar quieto no meu estado de autismo privilegiado e indulgente. Só que a vida a sério não é como nos livros ou nos filmes. Aqui, vacilamos e reagimos, consoante o que estamos a sentir. Aqui tornamos cinzento o que devia ser branco ou preto. Agimos com coragem, mesmo sendo cobardes, usando todos os meios ao nosso alcance, sem medir bem as consequências de tais actos. Sem perceber que a felicidade de uns é o maior pesadelo de outros. E que no fim todos ficamos sozinhos?!"

Victor, em A Fórmula da Felicidade #1
Nuno Duarte

domingo, 12 de maio de 2013

A Fórmula da Felicidade #2

Título: A Fórmula da Felicidade #2

Argumento: Nuno Duarte
Desenhos: Osvaldo Medina
Cores: Gisela Martins, Ana Freitas, Patrícia Furtado, Sara Ferreira e Filipe Teixeira
Legendagem: Mário Freitas

Sinopse: Servindo-se da fórmula matemática da felicidade que um dia brotou da sua imaginação, Victor tornou-se numa espécie de santo com personalidade e tiques de diva da pop.

Usando este estatuto, o outrora simplas e virtuoso rapaz de província é agora uma celebridade amoral e mega-mediática, a quem nenhum capricho é negado.

Todavia é num mundo à beira de um cataclismo bélico que sombras do passado o farão reavaliar as suas prioridades, em busca daquela que será a sua redenção e a sua própria fórmula da felicidade...

Opinião: Depois de um fantástico primeiro volume, seguiu-se um fantástico segundo volume. Passaram-se 3 anos desde que Victor descobriu a fórmula da felicidade, e a história é agora um pouco mais negra e depressiva.

De costas viradas para o mundo, Victor perdeu todas as noções de moral e é agora uma estrela a nível mundial, com um estranho fetiche por bater em prostitutas. Leva uma vida fácil, com direito a tudo o que quer, rios de dinheiro e mulheres sempre a postos a baixarem as calças e a apanharem umas pancadinhas não tão suaves quanto isso.

E tudo isto em troca de ocasionais leituras da fórmula da felicidade. O interessante neste livro é ver como uma personagem capaz de gerar felicidade instantânea se tornou em alguém infeliz e amargurado, incapaz de sentir algo para além de tristeza e depressão, nos intervalos da sua apatia quase cruel.

Com ilustrações do mesmo nível, este volume tem um argumento mais negro por ser uma história do "depois". A história podia ter acabado no final aberto do primeiro volume, mas este livro vem continuá-la, mostrando as consequências da descoberta da fórmula da felicidade. Curiosamente, ou não, nenhuma dessas ditas consequências é propriamente boa.

As pessoas estão viciadas na fórmula, que já só é dita a pessoas ricas que paguem bem por ela. Isto leva a que as classes mais baixas se revoltem por lhes ser vedada a oportunidade de serem felizes, mesmo que seja uma felicidade temporária e genuína apenas na medida em que é vazia de significado e tudo menos duradoura. Com a fórmula, as pessoas tornam-se felizes sem razão aparente, aquilo a que eu chamo "palermas entretidos". Não é de estranhar que a felicidade dure pouco, pois não significa nada!

E no meio disto tudo Victor, o centro das atenções, provavelmente a pessoa (cão?) mais influente da história, com as prioridades trocadas e cada vez mais farto da sua vida. Excepcional. As personagens são expressivas e mais humanas que algumas pessoas que conheço, a história não tem grandes requintes nem complicações, é simples e relativamente linear, conseguindo ter uma grande força sem se esforçar muito. Os desenhos são óptimos e o conjunto é genial.

Não falo só deste volume, tudo isto se aplica também ao primeiro. Em suma, A Fórmula da Felicidade é, no seu conjunto, uma das melhores BD's que já tive o prazer de ler.

sábado, 11 de maio de 2013

A Fórmula da Felicidade #1

Título: A Fórmula da Felicidade #1

Argumento: Nuno Duarte
Desenhos: Osvaldo Medina
Cores: Ana Freitas, Gisela Martins, Jorge Coelho
Legendagem: Mário Freitas

Sinopse: Filho de uma vendedora hippie de marijuana e de um pedaço de vinil de um álbum de Jimmy Hendrix, a vida de Victor, um jovem génio enterrado algures no Baixo-Alentejo, ganha um novo alento quando descobre a fórmula matemática da felicidade.

É entre o mito e a verdade da sua figura que se apercebe que é mais fácil oferecer felicidade do que obtê-la. Começa aqui a jornada de descoberta de um deus em potência que, na realidade, quer ser apenas um homem comum.

Opinião: Uma fábula dos tempos modernos. É assim que vejo este livro. Todas as personagens são animais antropomórficos, e tudo se processa exactamente como se fossem humanos. Não conhecia o livro, mas a capa convenceu-me. Tem ali umas derivadas e uns integrais, e uns números imaginários, e funções de onda... E um cão de óculos.

Pois bem, como devem imaginar, não sabia o que esperar deste livro. Pareceu-me interessante, ou pelo menos intrigante, pela capa. Mas a história de Victor, o génio menosprezado que descobre a fórmula matemática da felicidade, é muito mais do que isso.

Começando por mostrar a sua infância complicada, com uma mãe com problemas e um pai que nunca conheceu, Victor era gozado pelas outras crianças e ocasionalmente apanhava porrada. O seu único retiro era a matemática. As contas, as equações, os números. Era a única coisa que o segurava e lhe dava alguma paz. E desde cedo que demonstrou que não só tinha amor à matemática, como um jeito natural.

Não é portanto de estranhar que anos mais tarde faça um curso mais depressa do que era suposto e seja professor, vivendo apenas para a matemática. Apático e sem rumo, tenta ignorar todos os sentimentos e vive cabisbaixo e derrotado pela própria vida. A única coisa que lhe anima os dias é a matemática.

Mas a sua vida toma um novo rumo quando descobre a fórmula matemática da felicidade. Se a história já estava interessante até aqui, com as emoções latentes em cada personagem e acontecimento, a partir daqui foi a loucura. A noção de existir uma fórmula matemática que quando lida por Victor leva as pessoas à felicidade instantânea é fantástica. A forma como o mundo reage a isso é ainda mais fantástica.

Victor vai espalhando felicidade, até praticamente toda a gente andar atrás dele para que ele diga a fórmula. É aí que as coisas se complicam. A felicidade dada pela fórmula não é duradoura, e passado algum tempo as pessoas querem mais. Ficam viciadas. A felicidade induzida pela fórmula de Victor torna-se num vício, mostrando que algo tão desejado como a felicidade se pode tornar num pesadelo: basta tê-la e perdê-la para sentirmos um vazio e uma necessidade doentia de voltar a sentir aquela emoção.

Ao longo das poucas, mas suficientes, páginas deste primeiro volume, Nuno Duarte leva-nos numa viagem entre a fábula, a parábola e a metáfora, ilustrada de forma excepcional e estranhamente expressiva, tendo em conta que as personagens são animais antropomórficos. Achei este livro muito bom, uma BD que tem a Ciência como causadora de felicidade, e em como isso é das piores coisas que podia ter acontecido. Só lendo!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

The Man Without Fear


Título: The Man Without Fear
Argumento: Frank Miller
Desenho: John Romita Jr., Al Williamson, Christie Scheele

Sinopse: He was raised by a single father, an over-the-hill prizefighter with one last chance to make it good - a chance that cost him his life. Taunted and tormented by children while growing up, Matt's life was irrevocably altered after he was blinded by radioactive materials while saving the life of an old man. The payoff? An unbreakable will and a keen intelligence, helping focus the super-senses he was blessed with during the accident. His story is one of love, pain, disappointment and strength. Witness the tour de force origin of the Man Without Fear by industry legends Frank Miller and John Romita Jr.

Opinião: Nunca fui grande fã do Daredevil. No meio de tantos super-heróis, este é daqueles poucos que nunca me fascinou por aí além. Também nunca li grande coisa em que ele fosse o protagonista, e entretanto apareceu aquela abominação de filme com o Ben Affleck.

Mas encontrei este livro por acaso na nova biblioteca das BLX, em Alvalade, e reparei que o argumento era de Frank Miller, um autor ao qual já me rendi, graças aos seus fantásticos Sin City. Decidi, portanto, dar uma oportunidade ao herói cego.

E ainda bem que o fiz. Para minha surpresa, acabei por gostar do livro. Não tenho dúvidas de que o culpado é Miller, que conseguiu escrever uma história interessante sobre as origens desta personagem, um tema que me desperta sempre a atenção, seja qual for o super-herói, mas as ilustrações também tiveram alguma influência: têm os seus momentos noir, como é devido à personagem, e acrescentam bastante à história.

Neste The Man Without Fear, Miller dá motivações, objectivos, problemas, defeitos e virtudes ao Daredevil, focando-se na sua vida pré-super-herói-de-collants. Ao fazer isso dá uma profundidade à personagem que a faz ganhar muitos pontos, na minha opinião. E embora goste muito mais do Batman enquanto personagem, gostei muito mais deste livro do que de Batman: Ano Um. Só prova que Miller é um argumentista excepcional, capaz de me fazer apreciar um livro com uma personagem que não me diz nada.

Vamos assumir que o Batman foi um desaire... Porque de resto, a única coisa que quero é ler mais obras deste autor!

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Que as citações nos caiam em cima [27]


"A morte é apenas uma estrada secundária."

Várias personagens, em A Última Grande Sala de Cinema
David Soares