Título: O Banqueiro Anarquista
Autor: Fernando Pessoa
Opinião: Só tive duas razões para ler este livro: a minha curiosidade natural e a pequenez do livro. Não sou fã dos escritos de Pessoa, embora tenha lido maioritariamente poesia. Portanto, a minha vontade de ler um livro escrito pelo poeta não era lá muita. No entanto sou demasiado curioso, e aproveitei o reduzido tamanho deste livro para experimentar.
A estrutura é simples, um imenso diálogo, que me fez lembrar os diálogos de Platão e dos gregos afins, em que duas personagens discutem uma ideia (ou várias), neste caso a anarquia.
Só que, uma vez que foi Pessoa a escrevê-lo, isto não podia ficar por aqui. Tinha que haver um qualquer tipo de paradoxo. Então não é que o homem que não só afirma ser anarquista, como afirma ser mais anarquista que os outros proclamados anarquistas, é um banqueiro, que enriquece à custa dos outros? É um bocado contraditório que alguém que se diz seguidor de uma doutrina que deseja abolir todas as convenções sociais, e criar uma sociedade verdadeiramente livre, seja afinal alguém que faz uso dessas mesmas convenções sociais para enriquecer, indo contra os ideais anarquistas que defende.
Mas a verdade é que Pessoa consegue, através do banqueiro, fazer uso de uma argumentação surpreendentemente lógica, culminando com uma espécie de "se não os consegues vencer, junta-te a eles" muito peculiar, em que o banqueiro diz que a única maneira de se ser verdadeiramente livre é estando livre das convenções e imposições sociais, e como destruí-las é impossível, tem que estar acima delas, ou seja, neste caso, tem que ter tanto dinheiro que deixa de ser escravo do sistema capitalista, sem ter necessidade de se preocupar com o dinheiro.
Surpreendente e único, tresanda a Pessoa e ao seu uso de uma linguagem extremamente acessível para transmitir ideias complexas e possivelmente rebuscadas, bem como à estrutura ideológica paradoxal e retorcida, tão frequentemente presente nos seus poemas, e que são praticamente a única coisa que realmente me agrada, na sua lírica. Neste pequeno livrinho encontram-se estas e outras características muito pessoanas, que fazem dele um pequeno livrinho invulgar e invulgarmente agradável.

Concordo com pessoa, acho que os verdadeiros anarquistas são aqueles que em muito dinheiro.
ResponderEliminarÉ impressionante como ele consegue antever que os banqueiros são “açambarcadores notáveis” numa atura em pouca gente sabia o que era um banco. Também consegue antever o futuro, nomeadamente quando aponta o fim da União Soviética como um caminho inevitável.
Aproveito para deixar o link da sugestão que fiz da obra:
http://sugestaodeleitura.blogspot.com/2010/12/o-banqueiro-anarquista-fernando-pessoa.html
Não creio que o Pessoa acreditasse mesmo nesta teoria, penso que é apenas o seguimento de uma linha de pensamento.
ResponderEliminarSou completamente contra esta teoria, tanto mais que temos provas vivas de que se pode viver em anarquia completa.
É uma escolha simples: liberdade vs conforto.
Não creio que Fernando Pessoa o reconhecesse.