Título: deus não é Grande
Autor: Christopher Hitchens
Tradutor: Isabel Veríssimo
Sinopse: Neste eloquente debate com os crentes, Christopher Hitchens apresenta argumentos contundentes contra a religião (e a favor de uma abordagem mais laica da vida), através de uma leitura atenta e erudita dos textos religiosos mais importantes.
Hitchens contra a história pessoal dos seus encontros perigosos com a religião e descreve a sua viagem intelectual para uma visão laica da vida, baseada na ciência e na razão, na qual o Céu é substituído pela panorâmica maravilhosa que o telescópio Hubble nos proporciona do universo, e Moisés e o arbusto em chamas dão lugar à beleza e simetria da hélice dupla.
"Deus não nos fez", escreve ele. "Nós fizemos Deus.". Explica que a religião é uma distorção das nossas origens, da nossa natureza e do cosmos.
Prejudicamos os nossos filhos - e colocamos o nosso mundo em perigo - ao doutriná-los.
Opinião: deus não é Grande é um ensaio com o objectivo principal de mostrar que a religião, tome ela a forma que tomar, não é algo tão moralmente elevado como muita gente pensa. E embora fale disso, não se foca muito na existência ou não de Deus, de um deus ou de vários, mas sim na religião em si, naquilo que ela fez e provocou ao longo da história, e nas consequências nefastas que a ignorância e os dogmas da fé ainda conseguem provocar, apesar da suposta civilização cada vez mais iluminada em que vivemos.
Entre especulações que não podem ser provadas nem refutadas, Hitchens fala também de factos que não se podem negar, como o envolvimento da religião com o regime fascista/nazi, graças à aproximação estreita de ideias partilhadas.
É importante notar que o autor não tem uma posição radical, apesar de ser um ateu convicto se medo de dizer aquilo que pensa: da mesma forma que ao longo de todo o livro vai contando as atrocidades cometidas em nome da religião, não se esquece de apontar que também os não-crentes cometem atrocidades e que não são os crentes que são os maus da fita e os imorais, nem a sua crença, mas sim a crença radical e os crentes extremistas, o mesmo se aplicando a quem não acredita. Ou seja, Hitchens afirma peremptoriamente que há "bons" e "maus" em todo lado, e não tenta de forma alguma desculpar crentes ou não-crentes por crimes cometidos ou por consequências provenientes da ignorância, da crença ou da mais pura estupidez.
Aquilo que o autor critica, acima de tudo, é que hajam actos atrozes cometidos em nome da religião e até mandatados pela religião. Como pode alguém afirmar que acredita num deus omnipotente e benevolente, cuja principal característica é perdoar os pecadores, e depois matar em nome desse deus? Como é que é possível que a Inquisição tenha existido? Que ainda hoje se dêem as lutas internas que se dão, no Médio-Oriente? No fundo, como é que qualquer instituição ou pessoa religiosa justifique actos contrários à natureza e aos princípios da sua própria religião, com a natureza e os princípios da sua própria religião?
O problema, ou a vantagem, dependendo do ponto de vista, de existir um sistema baseado unicamente na fé, é que não precisa de recorrer à lógica ou à razão para se defender. Num sistema destes, alguém dizer que fez algo só porque sim, torna-se válido. A ausência de motivo coerente torna-se um motivo. Invoca-se a fé, e justifica-se tudo, responde-se a tudo. É assim em praticamente todas as religiões, desde tempos imemoriais.
Mas bem, resumindo, o autor fala dos defeitos e falhas da religião, usando argumentos convincentes e refutando os pseudo-argumentos que a religião tem a seu favor. Não tenta converter ninguém ao ateísmo ou "desconverter" ninguém do que quer que seja, tenta apenas abalar as convicções que os leitores possam ter, de forma a que pensem de forma crítica em relação àquilo em que acreditam e em relação às autoridades que ouvem e seguem. Mais importante do que acreditar ou deixar de acreditar, é nunca deixar de pensar de forma clara e não deixar que a fé, seja no que for, tolde o raciocínio e o pensamento livre.