sábado, 29 de novembro de 2014

Antologia "Limites do Infinito"


Quando tive um mini-conto publicado na Fénix III, inchei de orgulho. E prometi, aqui, num tom meio a brincar, que seria apenas a primeira publicação de várias. Quase um ano depois, venho aqui dizer que cumpri o prometido!

Podem ver aqui o anúncio da Editorial Divergência dos contos escolhidos para a antologia Limites do Infinito, onde vão ter a oportunidade de ler uma contribuição minha.

Pois é. Ainda por cima bem acompanhado. Estou particularmente curioso para voltar a encontrar o Ângelo Teodoro, que me assinou o seu conto em Na Sombra das Palavras durante o Fórum Fantástico. Conversámos uns minutos nessa ocasião, e pareceu-me uma pessoa muito simpática e com muito gosto por escrever e ter sido publicado.

Mesmo sem contar com a companhia, não podia estar mais satisfeito. É o trabalho de já alguns anos a dar frutos, e o culminar de um processo longo e quasi-doloroso iniciado quando me juntei à Oficina de Escrita Fantástica da Trëma, que entretanto evoluiu para o grupo Polícia Bom, Polícia Mau. Tenho que dizer, à là aceitação de um Oscar, que devo isto, em parte, aos meus colegas da Oficina e aos nossos dois mentores, o Rogério Ribeiro e o Luís Filipe Silva. Obrigado!

Sobre o conto, ficam a saber que se chama A colina que olha para ti (o título anunciado é parecido o suficiente, o definitivo logo se vê), e mais nada. Deixo ao vosso critério adivinhar a que género pertence, e se quiserem saber a história, vão ter que ler!

Essa parte assusta-me um bocado, porque já não é um micro-conto de 500 palavras, mas sim um conto bem maior. A minha primeira contribuição mais a sério! Em suporte físico! De um livro que as pessoas podem comprar! E depois comentar! Estou curioso, muito curioso.

Por agora fiquem à espera de novidades. E daqui a uns tempos já sabem, comprar, ler, comentar!

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Some Desperado


Autor: Joe Abercrombie


Opinião: Abercrombie já me é bem conhecido, graças à insistência de dois amigos, um deles em particular, que não se calou por um bocadinho até pegar no Best Served Cold. E se as recomendações desse amigo nem sempre são muito famosas, por esta estou-lhe imensamente agradecido.

É que este é um autor como há poucos por aí: a sua escrita directa e bastante gráfica são ideais para contar as histórias violentas em mundos muito pouco ideais que Abercrombie gosta de contar. Já para não falar de que vi pouca gente criar tantas personagens tão interessantes como ele, incluindo algumas que considero estarem na minha lista pessoal de melhores personagens de sempre.

Neste conto temos um vislumbre de tudo isso e de mais uma coisa, uma capacidade imensa de contar muito em muito pouco. Neste caso a narrativa começa praticamente in media res com a personagem principal, Shy, a fugir de uns bandidos como se não houvesse amanhã.

O que o autor faz é dar a conhecer as personagens e as suas histórias de forma mais ou menos subtil, seja através de pensamentos de Shy, de descrições que revelam muito ou até da forma como as personagem agem e falam. É assim que se conta uma boa história, não são precisas cinquenta páginas de prelúdio, a explicar tudo preto no branco, bastam algumas palavras no sítios certos et voilá!

Nesta história em particular, que é curiosamente circular, temos Abercrombie no seu melhor. A violência explícita, as personagens interessantes, a ambiguidade moral, o humor negro e cáustico. Tudo ingredientes que fizeram dos seus livros um sucesso, e que é bom ver transpostos para um conto sem perderem a sua força.

Já sabem, o link está ali em cima, não vos custa nada a ler e não precisam de qualquer tipo de conhecimento prévio sobre o mundo em que se situam as histórias do autor. Portanto, quer queiram revisitar ou ficar a conhecer Joe Abercrombie, este conto é uma óptima forma de o fazerem.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

As Mãos do Marido



Autor: Adam-Troy Castro
Tradutor: Manuel Alberto Vieira

Bang! #13

Opinião: Essencialmente perturbadora, este conto tem pernas para andar logo desde o início. E de vez em quando de forma demasiado literal.

Adam-Troy Castro usa o futuro para explorar os horrores da guerra, apresentando-os muito bem e de forma simples: os soldados só morrem se forem completamente vaporizados. Qualquer coisa que sobra é devolvido aos entes queridos, com a consciência do soldado.

Há quem volte sem cabeça, há quem volte só um monte de órgãos internos dentro de uma caixa, quem volte só como uma tira de pele... E o marido da protagonista recebeu-o de volta só como mãos.

Se pensam que isto é perturbador, esperem até ouvirem falar de outra personagem, cujo marido também voltou só como mãos, que decidiu amputar as suas para usar as do marido.

Como já disse, o assunto está bem explorado, com uma escrita boa e cativante e um final, digamos... Feliz e perturbador.

(devia arranjar sinónimos de perturbador)

Aquilo que o autor fez melhor foi descrever as acções e o conflito interno da protagonista e do marido-mãos, com ambos a oscilar entre o horror, o medo e o amor, incapazes de ignorar o que se passa, como é óbvio.

No fim é um bom conto, que vale a pena ler. É bom ver autores com ideias originais (tanto quanto eu saiba), uma boa execução, e sem medo das consequências das suas ideias!

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O Perraultimato (Felizes Viveram Uma Vez #1)


Autor: Filipe Faria
Ilustrador: Pedro Potier


Opinião: Vamos lá com calma. Vou fazer o mesmo que fiz quando acabei de ler o livro: respirar fundo, contar até dez, lembrar-me do Seltor. Infelizmente, isso não melhora nada, e este livro continua a ser mau. Abaixo do medíocre, sem sombra de dúvida, com algumas notas positivas mas, no geral, um completo descarrilamento para o Filipe Faria.

E chegado a este ponto gostava de ressalvar que gosto bastante do autor e continua a ter As Crónicas de Allaryia como uma das minhas sagas favoritas de sempre. Por causa disso, e da premissa apelativa de mistura de histórias tradicionais com sangue e tripas e o próprio estilo do autor, desde que O Perraultimato foi lançado que tenho bastante curiosidade para o ler.

É aqui que começa a minha história. Observem esta capa:


Não é propriamente feia, mas é infantil. Sofre do mesmo problema que as ilustrações no interior, não tem um estilo adequado ao conteúdo, quer do livro quer das próprias ilustrações. É uma pena, pois Pedro Potier parece ser um bom ilustrador, só que está completamente desadequado a este livro. E ainda por cima o livro foi relançado com a capa que podem ver no cimo do post, com o resto da colecção Felizes Viveram Uma Vez a acompanhar essa linha, muito mais interessante. Como devem imaginar, não queria esta capa, que supostamente até já nem devia estar a ser vendida.

Portanto fiquei aborrecido quando encomendei o livro e ele me veio com essa capa. Mais chateado fiquei quando fui à Fnac fazer a troca, e me sugeriram que eu devia estar à procura do segundo volume. Já não é a primeira vez que acontece, e eu sei que devem ouvir muito pedido estapafúrdio, mas é essencial que tentem compreender cada cliente, e não tentar tratar de todos pela mesma medida. Lá consegui explicar o problema e disseram-me que iam tratar do problema. Imaginem quão chateado fiquei ao voltar lá e ter um livro exactamente igual à minha espera. Só podiam estar a brincar comigo. Foi só com essa terceira tentativa que o livro veio com a capa que eu queria!

Mas pronto, lá o consegui, fiquei todo contente, ainda por cima devia ser interessante, de certeza que ia compensar!

Foi então que o comecei a ler. Novo Acordo, eugh. O prólogo ocupa quase metade do livro, eugh. Mas vamos lá. Nem começa nada mal, a primeira parte do prólogo (que está dividido em cinco) é bastante interessante. Uma versão melhorada e mais sangrenta (yay!) da história mais do que conhecida do Capuchinho Vermelho, e faz sentido que exista.

A escrita, no entanto, ainda mal tinha começado a ler, e já me estava a doer um pouco. Quase amadora! Ou melhor, amadora-que-se-esforça-demasiado-para-ser-profissional. Aquilo que me lembro das Crónicas, especialmente com o avançar dos livros, é de uma boa escrita, capaz de balançar as palavras pouco usuais com uma certa leviandade e um ritmo bastante variável. Neste livro, no entanto, há uma escrita a precisar urgentemente de revisão, com palavras arcaicas e excessivamente complicadas sem necessidade, e que apenas conseguem atrapalhar, e de que maneira, a leitura.

O resto das personagens apresentadas também é interessante, embora algumas histórias de origem (a certa altura só consigo pensar em super-heróis, e que quando acabar o prólogo vou ler uma coisa tipo Avengers) sejam menos interessantes que outras, as suas setenta ou oitenta páginas não me incomodaram. Fazem algum sentido. Talvez o autor pudesse ter lidado com isto de outra forma, mas nem ficou muito mal.

A história, quando "arranca", com aspas porque só arranca mais ou menos, é que deixa muito a desejar. E quando digo muito, quero mesmo dizer muito. Diálogos inconsequentes. Uma escrita consistentemente mediana e muito abaixo da qualidade a que o autor nos habituou. Enredo infantil e violência juvenil, com ambas as coisas a arrastarem-se ao longo dos capítulos sem qualquer necessidade. Uma série de falhas na própria lógica da história.

Enfim. Não quero bater mais no ceguinho. O meu maior problema, para além da demanda súbita e ligeiramente idiota em que os protagonistas se vêem envolvidos, é que este livro tem pouco valor por si só, a sua especialidade é em ser um primeiro volume. Não acreditam? Reparem no Perraultimato, um pergaminho com umas coisas escritas e que é o artefacto da demanda:

Tens de consultar o espelho -> este livro
Para saber onde encontrar o cristal -> próximo livro, O Andersenal, com um cristal na capa...
Com o qual deverás ler o livro -> terceiro livro
Que te permitirá encontrar os ingredientes -> quarto livro
Para o unguento capaz de trazer de volta 
As memórias daquela que se lembra... -> quinto livro

Juntem um final para que tudo se resolva e TA-DA! Temos uma saga. E este livro, o que faz, é passar imenso tempo a apresentar as personagens, com quase zero de desenvolvimento e a maior parte do pouco que é feito a acontecer fora de cena, e ainda divertir-se a apresentar o mundo criado e a história propriamente dita. É um primeiro volume profissional, sem tirar nem pôr.

Acho que o que me chateia mais ainda é o facto de a ideia ser boa, ainda que não propriamente original, e as personagens até terem potencial para caírem na sátira, por muito que agora estejam mais no domínio do ridículo. No fim senti-me desiludido e com a sensação de que era dinheiro mal gasto. As coisas positivas que consigo encontrar nestas páginas não são suficientes para balançar a mediocridade, ou pior, de tudo o resto.

domingo, 23 de novembro de 2014

1000!!!

Só reparei ontem à noite, mas com o post sobre o FF 2014 cheguei aos 1000 posts publicados desde que o blog começou!

Fica aqui esta breve nota, pouca depois de uma em que dei conta das 200 mil visitas. Não podia estar mais satisfeito!

sábado, 22 de novembro de 2014

Fórum Fantástico 2014


E foi no passado fim-de-semana que se deu o Fórum Fantástico deste ano, na Biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras, também conhecida como o sítio do costume.

O programa foi bom, como já é habitual, mas faltou-lhe ali qualquer coisa... Se fosse obrigado a descrever o que sinto, diria que o programa me pareceu morninho, compreendem? E embora tenha presenciado alguns momentos verdadeiramente fantásticos, também houve alguns que deixaram um pouco a desejar.

Com muita pena minha só consegui ir no na Sexta ao final do dia e Sábado, e foi com o dever de participar na sessão mensal da Oficina de Escrita - que já parece uma coisa profissional, nós quando nos concentramos, concentramos mesmo! - portanto deixei escapar algumas coisas.

Na Sexta queria mesmo assistir ao Debate sobre Blogues de Fantástico, que se revelou fraquito, pois incidiu pouco sobre os blogues e mais sobre a própria abrangência do género em Portugal. Ainda vi a apresentação da Editorial Divergência, que podia ter sido um bocadinho mais cativante, mas não foi nada má.

A primeira coisa a que assisti no Sábado foi ao Painel Tecnologia 3D, com a BeeVeryCreative e o ilustrador José Alves da Silva, moderado por Artur Coelho. Quando começou, eu estava excitadíssimo: tecnologia! impressão 3D! coisas! cenas! quero!, mas revelou-se um painel desapontante, em que a verdadeira informação sobre a tecnologia 3D chegou através do ilustrador presente e da sua experiência pessoal. Não deixou de ser interessante, mas ficou a faltar um representante activo da empresa a explicar as coisas com mais algum detalhe...

Depois foram duas apresentações de livros, Comandante Serralves - Despojos de Guerra, já lido e opinado, e a Insonho, uma antologia de portugueses editada no Brasil, com lançamento previsto para o início do próximo ano, se não estou em erro. O primeiro é bom, apesar das falhas e de alguns contos menos satisfatórios, mas parece ser um excelente primeiro passo deste projecto semi-louco que é o Imaginauta. Sobre o segundo ainda sei pouco, mas é focado no folclore português e promete!

A seguir foi a altura do intervalo, e do grupo da Oficina terminar a sessão, o que nos fez saltar a sessão de Artes Fantásticas e parte da Em torno de Cortázar, que incluiu, na parte que ainda apanhei, uma discussão muito interessante sobre Cortázar, Borges (BORGES!) e outros autores sul-americanos.

O painel com o convidado estrangeiro, Rhys Hughes, foi praticamente sobre o mesmo tema, mas deixou muito a desejar. O homem é super engraçado e afável, mas veio cá e não se falou nem um bocadinho sobre os seus livros. Isso foi, para mim, o ponto baixo do FF este ano (pelo menos do que vi...), terem cá um convidado estrangeiro e porem-no a falar inteiramente sobre outros autores!

Por fim, a entrega dos primeiros Prémios Adamastor do Fantástico, que foram cair no incontornável António de Macedo enquanto Personalidade Fantástica; Nome de Código Portograal, de Luís Corredoura, enquanto Literatura Fantástica Portuguesa; Lisboa no Ano 2000, a antologia organizada por João Barreiros, como Distinção do Público; Dicionário de Lugares Imaginários, de Alberto Manguel e Gianna Guadalupi, para Literatura Fantástica Estrangeira; O coração é um predador solitário, conto de João Barreiros presente na Lusitânia #2, enquanto Ficção Fantástica em Conto; e por em Dog Mendonça e Pizzaboy III: Requiem, de Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa, para Ficção Fantástica em BD.

Tudo escolhas que me pareceram altamente acertadas. Só não me pronuncio sobre o livro de Luís Corredoura, porque ainda não sei quase nada sobre ele, mas a descrição que foi feita durante a sessão deixou-me intrigado.

No Domingo gostava muito de ter conseguido ir, especialmente pela já tradicional sessão de sugestões, mas enquanto não inventarem uma máquina do tempo, posso sempre guiar-me pela recolha que o João Campos fez no seu tumblr.

Com tudo dito, resta-me expressar o meu contentamento pelas bancas de livros presentes do lado de fora do auditório, e o meu desagrado pela já gritante pequenez desse espaço, para o evento em que o FF se tornou.

E agora a minha parte favorita, para finalizar: o caça-autógrafos ataca outra vez! O ano passado consegui oito, este ano ultrapassei-me e consegui dez para mim mais quatro para a minha namorada (incluindo um do próprio Rogério Ribeiro)! Isto mais ano menos torna-se em algo sério e as pessoas já sabem o que esperar assim que virem o tipo barbudo com um ar conspirador... Mas vejamos o que consegui para mim!

A começar pelo Luís Filipe Silva e as piadinhas sobre sangue, no seu conto em Ficções Científicas e Fantásticas:


Depois um Comandante Serralves muito composto, com a equipa quase completa a deixar a sua marca:






Dois do Joel Gomes, colega e amigo da Oficina de Escrita:



E agora, caríssimos nerds, a jóia da coroa. Chorem, chorem muito, pois não só eu sou o tipo que encontrou dois Terrariums à venda, o primeiro foi parar às mãos do João Campos, e o segundo às minhas - o que já me valeu o título honorário de traficante de Terrariums - como sou o tipo que tem o Terrarium autografado por ambos os autores:


É assim, senhoras e senhores, que se faz história. Mais um Fórum Fantástico em cheio, mesmo tendo faltado a muita coisa. Agora vá, tentem lá descobrir onde moro para me virem roubar o Terrarium. Autografado. Aviso que tenho ninjas.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Crime no Vicariato


Autora: Agatha Christie
Tradutor: Carlos Lobo


Opinião: É impressionante como esta autora nunca deixa de me surpreender. Sempre que pego num livro de Agatha Christie, já sei que vou gostar, e este não foi excepção, mas há sempre qualquer coisa que me deixa ligeiramente boquiaberto.

Os casos mais gritantes são As Dez Figuras Negras, com um desenrolar fantástico e um fim para lá de soberbo, e O Assassinato de Roger Ackroyd com o seu narrador peculiar e um final novamente para lá de soberbo.

Este Crime no Vicariato seguiu pelo mesmo caminho. O narrador e a presença tangencial de Miss Marple são análogos ao narrador e à presença tangencial de Poirot em O Assassinato de Roger Ackroyd. Por momentos pensei que fosse pelo mesmo caminho, mas fiquei bastante satisfeito por ter um narrador assim, divertido, peculiar e extremamente cativante.

Aliás, acho que nunca li um narrador parecido em mais lado nenhum, o que é dizer muito! Agatha Christie já deve ser das autoras a nível mundial de quem se fala melhor, mas se ainda existir alguma alminha que duvide das suas capacidades, estes livros são uma prova fortíssima da sua qualidade.

O cenário é o do costume: pessoa morre em circunstâncias misteriosas e toda a gente nas redondezas parece ter tido motivo e oportunidade para o fazer. As personagens são extremamente realistas - e britânicas - e o enredo é intenso. Pelo menos a mim, deixou-me preso do início ao fim.

Já o final não é propriamente o do costume, e por causa disso foi bastante satisfatório, levando o livro, de certa forma, para muito perto do panteão dos outros dois livros que mencionei ali em cima.

Este narrador de que tanto falo é o próprio vigário, um homem interessante e relativamente blasfemo, para um homem da Igreja. A sua mulher (nada de estranho, eles podem fazer isso por aqueles lados) oscila entre irritante e ternurenta, mas nunca se torna aborrecida, e embora algumas personagens caiam um bocadinho de nada no exagero, não deixam de ser bastante realistas.

Tudo isto para dizer que gostei muito desta leitura e que a aconselho vivamente, especialmente se forem fãs da autora!

P.S.: um dia destes escrevo qualquer coisa sobre presenças tangenciais em livros...

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Estantes Emprestadas [11] - A narrativa e os RPG's [2/2]


Depois de uma fantástica primeira parte, segue aqui a segunda parte da crónica da Leonor, que até me conseguiu ensinar qualquer sobre o Rothfuss. Deliciem-se!

Se forem como eu e gostarem de um certo nível de veracidade nas histórias com que interagem, isto vai implicar criar uma passado para a personagem jogada que faça sentido. Um guerreiro poderá talvez ser um veterano de guerra que não sabe já fazer outra coisa que não lutar. Uma maga poderá estar na demanda por conhecimento ou poder. Um ladrão pode simplesmente não ter tido outra hipótese senão aceitar a missão quase suicida, quando a opção era a prisão... e todo um sem número de possibilidades, mais ou menos clichés; mais ou menos profundas. 

Para mim, a criação deste passado, este background, a criação da personalidade da personagem e depois o jogar de acordo com isto tudo, é uma das partes mais divertidas do jogo. 

É claro que aqui entra um pouco o meu espírito de escritora. Nem toda a gente joga RPGs com o intuito de seguir uma história ou de saber as motivação mais profundas das personagens.

Vamos ser honestos, o explorar de uma masmorra e o bater e derrotar monstros só por si é bastante divertido. E enquanto que está escrito nas regras que ter as bases do passado da personagem pode ser útil, acho que os criadores do jogo não estão à espera que cada jogador apresente páginas de background e contextualização, nem que todos os Game Masters tenham a paciência para as ler. 

Para mim, para além de ser parte da diversão, esta maneira de desenvolver personagens tornou-se numa ferramenta de escrita. Dou por mim a fazer as mesmas perguntas quando escrevo sobre um alguém imaginário do que quando preparo uma personagens que se vai entreter a mandar bolas de fogo a orcs. E funciona. 


Tenho mencionado ao longo texto vários pormenores de RPG muito ligados aos mundo fantástico, e de facto o primeiro RPG (do tipo que estamos a discutir aqui) que foi criado chama-se Dungeons&Dragons, e ia buscar inspiração a todos os cânones de fantasia a que agora estamos habituados e principalmente, claro a Tolkien. Hoje em dia, no entanto, há um sem número de jogos e sistemas de jogo que podem ser adaptados a qualquer tipo de ambiente e realidade. Há jogos que vão buscar aos autores de horror como Call of Chtulhu que surgiu, claro, dos contos de Lovecraft; há  Warhammer, Dark Heresy, para quem gosta de um mundo futurista, negro e muito perigoso; Há Vampire e World of Darkness para quem gosta de aventuras de sobrenatural mais urbano; existe até um jogo baseado em Doctor Who, mesmo ao gosto do nosso mui-whoviano anfitrião. E um sem número de outras possibilidades. 

Menciono isto porque quero focar aquela que acho que é a maior ligação entre RPGs e a escrita, que é no fundo aquilo que me foi pedido fazer: a imaginação. Independentemente do estilo de escrita que alguém queira desenvolver, e independentemente do tipo de ficção que goste, vai ter sempre de recorrer aos seus músculos de imaginação, para além de qualquer ferramenta técnica de escrita. E jogar RPGs é, na minha opinião, uma das melhores maneiras de exercitar esses músculos. 


Termino então, referindo alguns autores que basearam os seus escritos em RPGs que desenvolveram com amigos ou colegas, e um escritor que apesar de não usar os jogos como inspiração directa, os tem bastante presentes. 

O mais claro exemplo é a a saga Dragonlance criada por Tracy Hickman e Margaret Weiss, livros escritos sobre aventuras jogadas em Krynn um mundo ou setting criado especificamente pelos autores para a empresa de jogos TSR, Inc. 

Outro exemplo é a The Dark Elf Trilogy e subsequentes livros escritos por R.A. Salvatore, que foram baseados num outro setting de Dungeons&Dragons – Fogotten Realms. Note-se que este mundo foi criado ainda por outro escritor, Ed Greenwood que também é autor de vários livros passados nesse mundo. 

Estes dois exemplos são dos melhores que encontro em termos de permeabilidade entre escrita e RPG. Não vou comentar a qualidade de escrita de qualquer das duas sagas, apenas dizendo que se enquadram num subtipo particular de fantasia a que chamam sword and sorcery – um estilo leve que foca principalmente acção e o desenvolvimento de um mundo fantástico pleno de magia. Independentemente dessa questão penso que é interessante ter ambos em conta quando se fala da relação entre escrita e RPGs, principalmente quando se vê como a escrita e o jogo se alimentam mutuamente para criar todo um universo de referência sobre o qual as pessoas podem ler, mas no qual também podem participar. 

Por último, menciono Patrick Rothfuss e a a sua Kingkiller Cronicle. Rothfuss cria todo um mundo original e explora a história de Kvothe, ausa personagem principal. Tudo o que ele escreve é original e sem  objectivo de servir de jogo. Afasta-se totalmente do estilo talvez leve dos outros autores que menciono, e os seus livros estão numa categoria completamente diferente de fantasia. No entanto, o autor utilizou um sistema de jogo já existente para explorar o mundo de Kvothe como personagem e usou-o durante anos para jogar com amigos. E afirma que ter feito isso o ajudou a desenvolver a sua história como nunca teria sido possível sem a interacção que o RPG lhe permitiu. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Dias de um Futuro Esquecido (Universo Marvel #9)


Argumento: Chris Claremont, John Byrne
Arte: John Byrne, Terry Austin, Glynis Wein, John Romita Jr., Bob McLeod
Tradutor: Paulo Furtado


Opinião: Tenho a história principal deste volume, a titular Dias de um Futuro Esquecido, numa outra colecção de BD, mais antiga, de quando eu era mais novo. Essa colecção foi essencialmente o que me deu a conhecer muita banda desenhada, e a própria existência de banda desenhada de qualidade.

Não será surpresa, portanto, que tenha gostado bastante de ler isto. A nostalgia é um grande ponto a favor, e juntar X-Men com viagens no tempo e um mundo distópico é, confesso, mais de meio caminho andado.

A primeira coisa que fiz foi ver o índice, porque eu lembrava-me perfeitamente que Dias de um Futuro Esquecido não ocupava a média de 180 páginas que esta colecção costuma ter, e confirma-se: apenas ocupa dois capítulos em sete!

Isso apenas realça a eficácia da história, que nem tem cinquenta páginas e ainda assim é das histórias com um maior impacto de sempre dos X-Men. E já tem mais de trinta anos!

As outras histórias no volume são interessantes, e não fiquei chateado por "ter" que as ler para chegar ao mais importante, o que é bom sinal. O facto de a maior parte dar alguma relevância ao Nightcrawler ajudou, que é dos meus mutantes favoritos.

Mas do que quero falar é de Dias de um Futuro Esquecido, uma história curta quando comparada com os mega-eventos de hoje em dia, mas que foi mais do que suficiente para servir de base ao mais recente filme dos X-Men com o mesmo nome, e que infelizmente é bastante medíocre.

Nesta história podemos ver um futuro distópico em que os mutantes são perseguidos e oprimidos, mas o grupo do costume (menos alguns, que morreram, para dar alguma emoção à coisa logo à partida) não se contenta e decide enviar Kitty Pryde ao passado para tentar resolver a situação antes de ela começar.

A partir daí a história oscila entre o presente e o futuro, com as partes no presente a serem o elo fraco numa narrativa coesa e bastante cativante. A pobreza dos desenvolvimentos é um problema, mas tudo é compensado com as fantásticas e emocionais cenas no futuro, que deixam qualquer fã dos X-Men com o coração nas mãos.

O fim é suficientemente ambíguo para ficarmos sem saber se os X-Men realmente alteraram o futuro, simplesmente seguirem outro caminho que levará ao mesmo fim, ou se criaram simplesmente uma linha temporal divergente e os X-Men do futuro que conhecemos aqui continuaram condenados. É um dilema interessante e um bom tratamento deste tipo de paradoxos temporais.

Já perceberam que gostei, e embora tenha reconhecido algumas falhas, não me queixo muito. Aconselho que leiam, especialmente se já viram o filme, porque isto é tão, mas tão melhor...

P.S.: para ajudar à confusão, o futuro e o presente desta história já estão ambos no nosso passado!

sábado, 15 de novembro de 2014

Estantes Emprestadas [11] - A narrativa e os RPG's [1/2]


A crónica desta semana é novamente trazida por uma amiga que começou como colega da Oficina de Escrita, a Leonor Macedo. Antes de continuar com a introdução, gostava de mencionar que foi a pessoa que nos primeiros tempos conseguiu embater num maior número de embirranços meus com os seus textos - desde cães a psicólogos.

Com isto em mente, o que é que posso dizer? A Leonor escreve bem, e sempre achei que tinha imenso jeito para descrever os mundos das suas histórias, o que faz todo o sentido, depois de ler esta crónica. Realmente nota-se a influência positiva dos RPG's na escrita dela!

Obrigado Leonor!

Quando o Rui me convidou para fazer esta crónica, fiquei imediatamente entusiasmada. Era falar sobre escrita, aquilo que eu espero que venha a ser a minha ferramenta profissional, e falar sobre RPGs (Role-Playing Games), um dos meus maiores hobbies e vícios. Obviamente que aceitei e comecei logo a pensar em tudo o que podia dizer. Mas só quando me sentei para escrever é que me apercebi de que teria de começar por explicar o que é um RPG. 

Geralmente uso sempre a mesma analogia: “Imagina que estás a jogar um jogo de computador de aventura, mas um em que tens total controlo sobre a criação da tua personagem e onde o mundo todo à tua volta é controlado não por um computador mas por outra pessoa.”

Normalmente sou recebida por olhares confusos e uma pergunta na onda do: “Mas com o que é que jogas? O que é que controla o jogo?”

A minha resposta é geralmente “A imaginação controla o jogo. Mas há regras de combate e dados.” O que só aumenta os olhares confusos. Embora para ser justa, também há muita gente que responde com curiosidade. 

Se formos olhar para a definição da nossa amiga Wikipédia (versão português brasileiro) encontramos isto: 

Role-playing game, também conhecido como RPG (em português: "jogo de interpretação de personagens"), é um tipo de jogo em que os jogadores assumem os papéis de personagens e criam narrativas colaborativamente. O progresso de um jogo se dá de acordo com um sistema de regras predeterminado, dentro das quais os jogadores podem improvisar livremente. As escolhas dos jogadores determinam a direção que o jogo irá tomar. 

Foquem a vossa atenção no excerto “Criam narrativas colaborativamente.” Acho que isto é o que é mais interessante do jogo.  Quer dizer que quando estamos a jogar um RPG estamos a contar uma história. E no fundo é isso que fazemos quando escrevemos, embora na maioria dos casos não em conjunto com outras pessoas.

Como escritora, sinto que há muita coisa em comum entre as duas actividades. Existe a preocupação com a consistência da narrativa, as personagens, o enredo, o ambiente e o mundo em que acção decorre. É claro que existem diferenças fulcrais entre as duas actividades; quando jogamos toda a interacção é oral. Jogar é uma actividade social e que só é possível em grupo. Não há no jogo o objectivo de ter uma coisa “acabada”, há apenas uma continuidade de história que poderá, ou não, ter um fim. Escrever, por outro lado, é uma coisas que se faz sozinho. Existirá sempre uma interacção com o leitor, sim, mas é num grau de muito menor proximidade e pode nem sempre envolver reciprocidade. Para além disso, ao escrever uma história, seja em em que formato for, o escritor está a oferecer algo já terminado, que existe por si só, independentemente da interacção. 


Posto isto, devo dizer que ser jogadora e GM (Game Master, ou Dungeon Master para os da velha guarda) alargou a minha consciência da narrativa e do que a faz avançar. Ter personagens principais com vontade própria, controladas por outras pessoas fez-me compreender melhor como lidar com motivações individuais, e ver como cada personagem cresce conforme aquilo por que passa. E isso levou-me a desenvolver personagens mais profundas e ajudou-me a perceber como estabelecer as interacções entre elas e o que as rodeiam. 

Penso que ganhei uma capacidade de sistematização e organização na criação de mundo, sociedade e ambiente que uso, consciente ou inconscientemente, sempre que escrevo. Nos RPGs existe sempre um conjunto de regras bem definidas e todo um mundo de conceitos pré-concebidos nos quais nos basearmos quando jogamos, mas existe bastante liberdade criativa. Principalmente se a pessoa toma o papel de GM, aquele que eu acho que tem maior afinidade com o papel de escritor/a.

O GM é aquele que controla a aventura, no sentido em que é ele que apresenta a realidade com que as personagens dos jogadores se deparam. Ele é os monstros e o taberneiro, a feiticeira e o guarda da cidade... é tudo aquilo com que os jogadores se lembrem de interagir. Ou seja, um GM que faça uma aventura do zero tem de criar literalmente tudo: local, personagens secundárias, mapas, criaturas, história e enredo1.  E tem de ligar isto tudo com as personagens principais, os jogadores, porque eles são a força motriz da história. São os conflitos em que as personagens se encontram, e como eles as resolvem, que fazem a história avançar. 

Atrevo-me a dizer que qualquer escritor que tenha lido estas últimas linhas poderá concordar com elas. 

Falei mais especificamente do papel de Game Master, até agora, mas penso que a minha experiência como jogadora (controlando apenas uma personagem) também me deu uma perspetiva interessante. Seja qual for o mundo em que se joga, RPGs implicam aventura, missões com risco, batalha. Ou seja, implica personagens com uma certa personalidade, para querer fazer desse risco a sua vida. Ou então alguém com azar suficiente para se ver constantemente metido nas maiores das alhadas.

(continua)

1 -  Vá, há manuais com várias destas coisas já criadas, principalmente livros cheios de monstro. E há regras para a criação/utilização disto tudo. Existem até aventuras inteiras já criadas, com enredo e todo o tipo de pormenores, para facilitar o trabalho. Mas em última instância, é principalmente um exercício de imaginação.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde


Autor: Robert Louis Stevenson


Opinião: Por mais lugar-comum que seja, tenho que o dizer: este é daqueles livros a que vou voltar uma e outra vez, com o passar dos anos. Um autêntico clássico com um papel muito importante na literatura.

Qualquer que seja a perspectiva que escolha para olhar para este livro, a minha conclusão é sempre a mesma: fantástico. Tem as suas falhas, é certo, mas não posso deixar de ficar espantado com a assertividade de Robert Louis Stevenson ao contar uma história tão curta de forma tão eficaz.

Ainda por cima uma história tão interessante e que levante questões tão profundas. Da primeira vez que o li nem pensei muito bem naquilo que é fulcral, que é a dualidade entre Jekyll e Hyde, uma dualidade muito mais complexa do que parece à primeira vista.

É que se a interpretação fácil de bom e mau funciona bastante bem, o autor realça bem ao longo do texto, várias vezes, que não é assim tão linear. Se bem me lembro, é o próprio Jekyll que conclui que sim, o Hyde é uma amálgama de tudo o que nele é mau, levado ao extremo, mas que ele, Jekyll, o bom doutor, não é a faceta boa, mas sim uma mistura da faceta boa e de Hyde.

O que é que isto revela? Que o protagonista conseguiu de certa forma trazer ao de cima tudo o que nele é mau, mas não o que é bom. E que essa faceta malvada influencia a sua personalidade, enfraquecendo cada vez mais a faceta boa, que se mantém escondida!

Muito complicada, esta visão do assunto. Não deve ter sido de ânimo leve que Stevenson assim retratou a natureza humana. E no entanto afigura-se-me como uma visão muito certeira. Ou pelo menos muito em sintonia com o que se pensa. Afinal, o mal é sempre retratado como mais fácil.

Quando penso bem nisso, até é uma visão bastante católica da coisa. O mal é fácil, o bem é tortuoso, o primeiro é feio e repugnante, o segundo é recompensandor e certo. Curioso.

Outra coisa interessante é a estrutura da história, que é contada parcialmente em registo directo e parcialmente através de relatos, numa mistura interessante e bem conseguida de vários estilos narrativos.

A caracterização das personagens talvez seja o ponto fraco que sala à vista. Demasiado óbvia e sem grande profundidade, com as personagens a serem claramente veículos com um certo formato para passar uma certa mensagem da melhor forma possível. Perdem valor enquanto personagens para acrescentarem valor à história, uma troca que não é fácil de julgar.

No fim, acreditem, vale muito a pena. E lê-se numa tarde, vocês tenham vergonha na cara se ainda não tiverem lido isto!

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Os Vingadores #9


Argumento: Jonathan Hickman
Arte: Mike Deodato, Frank Martin, Jim Cheung, Mark Morales, John Livesay, David Meikis, Justin Ponsor
Tradução: Filipe Faria

Opinião: Jonathan Hickman deve ter dado ouvidos aos leitores, porque nos últimos números havia cada vez mais texto, e esse problema foi aqui resolvido. Começa bem!

A primeira parte, a final do Prelúdio a Infinito, é boa, explora ainda mais o conflito entre Namor e o Pantera Negra e deixa tudo em aberto para a grande e épica saga que se avizinha, Infinito e que começa na segunda e última parte desta revista.

O que tenho a dizer é que fiquei bastante satisfeito. A arte continua sóbria e detalhada como esta saga nos tem habituado, e o argumento parece que se resolveu finalmente a acalmar e a explicar as coisas como deve ser, sem exagerar nos info dumps nem em formas convoluídas de revelar acontecimentos.

Um dos grandes problemas destes Vingadores tem sido exactamente esse: a vontade de contar as várias histórias é tanta, a ansiedade para chegar ao Infinito é tanta, que a narrativa perde coerência em favor de mais momentos chocantes e inexplicáveis, retirados de meia dúzia de linhas narrativas diferentes com ligações ténues e escondidas entre si.

Felizmente, tudo isso acaba aqui, com Hickman a conseguir manter-se fiel à história, sem esconder nem revelar demasiado. Abre o apetite para o que aí vem, deixa a pensa o que já passou, e deixa quase toda a informação a descoberto, para que o leitor possa realmente apreciar e especular sobre o que aí vem.

E há-de algo extraordinário. Pelo menos eu assim espero. O hype por trás desta saga é grande, e a utilização de Thanos a espelhar a que tem sido feito no universo cinemático da Marvel é mais do que intencionalmente óbvio, mas não se perde nada com isso. A verdade é que este vilão é bastante carismático e consegue impôr a sua presença, mesmo com uma utilização tão resguardada. O que é bom!

Tudo o resto começa a fazer sentido, e é bom de ver como o foco não está inteiramente nos heróis, mas sim nos vários conflitos existentes que vão de certeza culminar em algo grandioso (ou que deviam, pelo menos). Entre bons e maus, entre maus e maus, e entre bons e maus. Ninguém está propriamente relaxado, e a única entidade minimamente satisfeita é o próprio Thanos, confiante como nunca.

Devo dizer que tenho de lhe dar razão. Os Vingadores estão a começar a unir-se, mas estão presos por fios, as tensões entre eles são demasiado grandes e a desconfiança é uma constante. Será que conseguem pôr esses problemas de lado durante tempo suficiente para salvarem o Universo? Será que valerá a pena, ou Thanos já ganhou e nós é que ainda não sabemos? E o que raio quer o vilão com a Terra? Resta-me esperar pelo próximo número, para o qual tenho boas expectativas, após um que, finalmente, me encheu as medidas!

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Que as citações nos caiam em cima [56]


"[...] em pequeno, eu costumava maravilhar-me com o facto das letras de um livro fechado não se misturarem e se perderem no decorrer da noite [...]"

O Aleph
Jorge Luís Borges

O Aleph


Autor: Jorge Luís Borges
Tradutor: Flávio José Cardoso


Opinião: Ah, Borges. Borges, Borges, Borges. Fazem-me falta mais génios como este senhor. Este é exactamente o tipo de literatura que mais gosto de ter entre mãos, complexa, não por capricho de escrita ou de enredo, mas pelos conceitos. Uma mistura de Matemática e Literatura que Jorge Luís Borges usa para construir vidas impossíveis, mas com uma escrita tão boa e tão consistente que parecem mais reais que as nossas.

Depois de ler O Livro de Areia, há dois anos, podem ter a certeza que fiquei fã incondicional deste escritor, posição apenas consolidado quando alguns meses depois peguei em Ficções. Aqui está um autor de contos, maioritariamente no género do Fantástico (e quanto mais bizarro melhor), que foi um autêntico génio. Sinto que me estou a repetir, mas depois de ler um livro seu é fácil ficar sem palavras.

É preciso dizer, no entanto, que não achei o livro genial - tem falhas problemáticas - mas é impossível não ficar fascinado com a pessoa por trás de todos estes contos. Sejam maiores ou mais pequenos, estão sempre repletos de pequenos pormenores, muito subtis no meio de todo o mundo criado por Borges, que me conseguem sempre deixar maravilhado.

Neste caso há a aparição súbita de Homero, que me conseguiu deixar boquiaberto, e o último conto, que dá nome ao livro O Aleph. Foram estes os dois momentos mais marcantes de todo o livro. Especialmente O Aleph, um conto sobre um objecto/fenómeno com esse nome, que é descrito como algo "que está para o espaço como a eternidade está para o tempo".

Só o facto de Borges ter sequer pensado nisto... Bem, incrível. As descrições do Aleph são fenomenais, verdadeiramente magia literária como poucos autores são capazes. Jorge Luís Borges consegue, tal como Italo Calvino (outro dos génios que tenho no panteão literário mais elevado), tecer um enredo à volta de um único conceito fantástico, muitas vezes de natureza emprestada da Matemática, e criar uma história interessante em que não deixa dúvidas sobre o que se está a passar, mas deixa tudo suficientemente em aberto para que, acredito eu, cada pessoa que leia estes contos faça uma leitura completamente diferente.

Acho que não tenho de dizer mais nada. Já perceberam o meu fascínio. Mas como disse, o livro tem falhas, e neste caso acho que talvez bastasse ordenar os contos de outra forma, porque alguns são extensos, e outros não são extensos, mas são densos, e não estão bem alternados com os contos mais leves, dificultando imenso a leitura. Não que Borges seja para ler duma assentada (sacrilégio!), mas senti alguns problemas em, por vezes, ler mais do que um conto seguido. E isto é algo que teria sido resolvido com uma melhor ordenação!

No fim, nada disto interessa e Borges continua a ser um dos meus ídolos literários indiscutíveis. Sabem aqueles autores que defendem com unhas e dentes porque os adoram, mas também porque sabem, objectivamente falando, que são bons como 99% dos autores já não são? Já compreendem como eu me sinto. Apenas posso desejar que encontrem o livro mais próximo (excepto poesia, o homem devia-se ter dedicado só à prosa) de Borges e o leiam. Se sentirem apenas um bocadinho tão maravilhados como eu já é suficiente para perceberem o calibre deste escritor. Deste génio.

sábado, 8 de novembro de 2014

Mais fácil do que uma crónica [1]



Sejam bem-vindos à primeira instância de algo que me vai dar muito jeito! Reparei nos últimos dias que a minha capacidade de acumular coisas interessantes é imensa, e portanto nada melhor do que partilhar as minhas descobertas. E já agora, ter menos trabalho do que a escrever uma crónica...

Comecemos pelo marco importante da vida deste blog: após 5 anos, cheguei às 200 mil visitas, o que já é qualquer coisa digna de se ver! Acho que estes números fazem desta estante um "pequeno blog amador" profissional, o que é algo muito engraçado de dizer às pessoas.

Mas é assim que me considero, tal e qual. Isto é claramente amador, mas já tenho regularidade, trabalho investido e - espero eu - qualidade, para me considerar um amador profissional. Isto já é claramente mais do que um passatempo! Mas este rótulos são só para me divertir, o essencial é que eu possa continuar a dizer parvoíces e que vocês as possam continuar a ler e a apreciar.

E por isso, um obrigado.

Continuemos agora com as novidades a sério. Primeiro há a nova iniciativa da Imaginauta, a Operação Livros no Sapatinho, que tem o objectivo de pôr mais gente a ler através dum incentivo à troca de prendas literárias este Natal. O que apoio incondicionalmente. Especialmente se forem para mim. Estão a ver aquela imagem? Não estou a brincar. Não preciso de mais meias, preciso de mais livros!

Para balançar a coisa, também gosto bastante de dar livros, portanto não se preocupem. E daqui a uns tempos darei mais notícias, possivelmente novidades, sobre este projecto.

Depois é preciso não esquecer que no próximo fim-de-semana há Fórum Fantástico, ainda sem programa revelado (será revelado hoje, às 17, na FNAC Chiado!), mas já com a indicação dos novos Prémios Adamastor do Fantástico, uma iniciativa fantástica para premiar principalmente o que de bom se faz por cá na área do Fantástico. E com a particularidade de, se forem ver na secção de contos elegíveis, ter lá o meu nome!

Sim, a minha modesta participação na Fénix III é tecnicamente elegível para os prémios Adamastor deste ano! Deixem-me que vos diga que é daqueles pequenos prazeres da vida que já ninguém me tira. É claro que não vou ganhar nada, já viram o resto da lista?, mas vão haver mais edições, e mais escritos meus (espero eu), portanto... Um dia!

Mas nem só de Fórum Fantástico se fazem os eventos de Novembro... Há também o Episódio III dos Mensageiros das Estrelas, um encontro com um programa interessantíssimo sobre o Fantástico, a Portugal Time Lord Academy e um evento do Whoniverso para celebrar o aniversário da série.

Só coisas interessantes, isto é uma desgraça... Mas falta uma que me é especial. Já ouviram falar dum tipo com uma máquina de escrever antiga que anda por aí a fazer retratos escritos das pessoas, e a escrever-lhes cartas e essas mariquices todas? Pois é, é meu primo, chama-se André Pereira, e lança o seu primeiro livro, chamado pequenas estórias de muitas vidas, este fim de semana.

Hoje em Leiria, amanhã em Lisboa, aconselho-vos a ir. Eu não vou conseguir, que Leiria fica-me longe e no Domingo trabalho, mas hei-de ir à apresentação do próximo, de certeza. Como é óbvio, sou um suspeito um bocado parcial neste assunto, que ele é meu primo e basicamente o culpado de eu me ter metido nos blogs, mas não deixarei de ler o livro com o mesmo espírito crítico de sempre... Talvez não seja tão mau como às vezes sou, se o livro não for muito bom, e talvez seja mais gozão do que seria normalmente, mas tenho a certeza que não vou ter problemas: sei bem a qualidade dos escritos do André.

E sim, há-de ser entrevistado. Não se escapa.

Para finalizar, gostava de publicitar aqui um concurso de escrita de horror e dois artigos muito interessantes que li esta semana, uma cronologia da ficção gótica, com links para ebooks e tudo, e um artigo que me foi mostrado pela minha amiga louca de Letras, a Beky, sobre como o pessoal de Ciências também sabe escrever umas coisas.

Este último ponto dava um artigo por si só, mas vou-me abster, pelo menos por agora! Acabei por escrever mais do que para uma crónica, mas garanto-vos que deu menos trabalho, portanto o título ainda se aplica. Agora já sabem, Fórum Fantástico, Portugal Time Lord Academy, Mensageiros das Estrelas, o lançamento do livro do meu primo, comecem a escrever contos de horror e não se esqueçam de oferecer livros este Natal!

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

X-Men #9


Argumento: Brian Michael Bendis
Arte: Frazer Irving, Frank Cho, Stuart Immonen, Wade Von Grawbadger, Marte Gracia
Tradução: Filipe Faria

Opinião: As partes correspondentes aos Uncanny X-Men continuam a deixar um sabor amargo. E por duas razões muito simples: a falta de ritmo e direcção da história criada por Bendis para a facção "menos boa" dos X-Men, e a arte de Frazer Irving, da qual não fiquei fã. Pelo menos não neste contexto.

Acho que é uma arte muito mais adequada a outro tipo de BD. E mesmo assim, tinha que ser algo muito específico. Gosto muito mais de ver uma arte mais cartoonizada, como a que aparece na primeira parte da Batalha do Átomo, uma história que promete, embora me dê algum receio, por causa destas brincadeiras de viagens no tempo.

É óbvio que isto não é mais do que um reaproveitar, à là Bendis, do famoso arco narrativo deste grupo que deu origem ao mais recente filme: Dias de um Futuro Esquecido. E isso podia ser óptimo, porque essa história, realmente, é das melhores de sempre dos X-Men, mas Bendis falha em algo muito básico, que é em dar algum carácter de urgência aos acontecimentos.

O que sucede é uma catadupa de desgraças que me deviam, enquanto leitor, ter motivado a ficar preso à história, ansioso por saber o que espera por estas personagens, mas Bendis conseguiu que eu ficasse tão emocionalmente desligado destes X-Men, que eu simplesmente não quero saber. Desde que vi a capa que estou mais curioso em saber como é que o Besta evoluiu para aquela figura grotesca com laivos de ave, do que propriamente em descobrir o que é que vai acontecer a seguir.

Isto leva a que tudo aconteça sem grande continuidade, mais como catalisadores de acção do que acção propriamente dita. O que é uma pena. A verdade é que estas revistas me têm vindo a desmotivar, e por muito que eu goste deste grupo, e vá gostando de cada novo número mensal, começo a duvidar que isto alguma vez vá ficar mesmo bom...