Título: O Príncipe e o Pobre
Autor: Mark Twain
Tradutor: José Couto Nogueira
Sinopse: As aventuras de um príncipe e de um rapaz pobre que um dia resolveram trocar de vestes e experimentar viver o dia-a-dia um do outro.
Opinião: Mark Twain prova mais uma vez ser um escritor hilariante e de uma qualidade inegável. Entre piadas e momentos engraçados, consegue ainda lançar ferozes críticas à realeza e ao seu modo de vida de duas formas diferentes, ao colocar um pobre a viver na corte, e um príncipe a viver na rua.
A história do livro já é provavelmente conhecida de toda a gente, de uma forma ou de outra, numa versão ou noutra. Um príncipe e um pobre trocam de roupas e vivem como o outro durante uns dias. Mas não se deixem é enganar pela sinopse que vem na contracapa desta livro, cuja edição é muito boa, pois parece que quem a escreveu não leu a história toda. Houve troca de vestes, é verdade sim senhor, e viveram o dia-a-dia um do outro, mas não foi propriamente por vontade própria, essa última parte...
Mas se ignorarem esse pormenor e mergulharem no livro, a única reacção possível é ficarem maravilhados. Quer dizer, eu sou um pouco suspeito, pois o príncipe da história é o filho de Henry VIII, rei de Inglaterra. Cá está algo que eu não sabia, esta história passa-se na época dos Tudors! Toda uma dinastia absolutamente fascinante, que conta com o rei que volta e meia decapitava as mulheres, a rainha que ficou conhecida por Bloody Mary, e a que ficou conhecida por Virgin Queen. Esta dinastia reinou durante uma época turbulenta, após guerras, durante guerras e a cisão com a Igreja Católica, e tem uma história absolutamente fascinante.
Sim, fascínio é a palavra certa. Entendem agora que sou um pouco suspeito, assim que vi que o príncipe da história era um Tudor, só não iria apreciar bastante o livro se este fosse uma terrível abominação da literatura. E estamos a falar de Mark Twain, a opinião mais objectiva e imparcial sobre o seu trabalho não pode negar que foi um escritor que marcou a literatura de forma muito positiva.
Este livro em particular, como eu já referi, solta crítica atrás de crítica ao modo de vida luxuoso da realeza e da nobreza em geral, através de situações como a do pobre Tom Canty, tomado como rei, ter 300 e tal pessoas a trabalharem para lhe servirem o jantar, ou outras tantas para o vestirem e despirem. Impossibilitado de fazer o que quer que fosse sozinho ou por si só, incluindo apanhar chibatadas por erros nos estudos, tarefa para a qual tinha sido designado um rapaz como apanhador oficial de chibatadas em vez de Sua Majestade, o pobre rapaz pobre acaba por se habituar a viver rodeado de tanto luxo, gastos e protocolos estapafúrdios.
Enquanto isso, o verdadeiro príncipe, e mais tarde rei, Edward VI, era arrastado pelas ruas, tomado como mendigo enquanto tentava convencer toda a gente de que era o príncipe de Inglaterra. O choque entre aquilo a que estava habituado e a, digamos assim, vida real de uma pessoa normal é tão grande que leva a situações deveras engraçadas. Além disso, durante o período em que anda vestido de andrajos pelas ruas de Londres, como apenas mais um pedinte, testemunha actos de crueldade e de violência permitidos e até decretados pelas leis de Inglaterra, e fica genuinamente horrorizado por alguns.
Tom Canty de um lado e Edward VI do outro apercebem-se das diferenças abissais entre a vida na corte e a vida nas ruas, e tanto um como o outro sofrem na pele as dificuldades, ou completa ausência delas, de ser o príncipe de Inglaterra ou um simples mendigo. A crítica social não podia ser mais evidente e mordaz, através de situações ligeiramente bizarras e quase sempre engraçadas, tudo isto com uma prosa sem falhas e um narrador completamente à-vontade. Caso não tenham reparado, gostei bastante do livro, e mal posso esperar por ler mais deste brilhante escritor.
1 comentário:
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