Título: Biografia: José Saramago
Autor: João Marques Lopes
Sinopse: Nas páginas da primeira biografia do Nobel da Literatura português, acompanhamos o percurso de José Saramago, desde o seu nascimento na Aldeia da Azinhaga até à mudança para Lanzarote, descobrimos a sua obra e ficamos a conhecer em detalhe a vida daquele que é um dos mais importantes escritores da história da literatura portuguesa.
Opinião: Podia ser apenas um escritor polémico e genial, ou apenas um homem fascinante e extremamente crítico, mas Saramago-homem e Saramago-escritor eram duas facetas interligadas do nosso único Nobel da Literatura, algo que se nota na perfeição nas suas obras, em que a figura abstracta de um "narrador" se esbate e quebra todas as convenções, dando lugar a um autor que conta histórias de forma directa, sem intermediários ficcionados. Junte-se a isto o seu estilo, o chamado estilo saramaguiano, que entrelaça a escrita com a oralidade, e aquilo que se obtém ao ler um livro seu é a sensação de estar frente a frente com o autor, a ouvir as suas histórias.
No entanto e como não podia deixar de ser, apesar de esta biografia permitir um estudo e um entendimento muito mais aprofundado das obras de Saramago, foca-se essencialmente no Saramago-homem, e é a partir daí que se vê que o homem e o escritor se encontravam irremediavelmente misturados. E talvez fosse por isso que Saramago era tão polémico, porque ao dizer aquilo que escrevia (se é que me faço entender), a sua ficção deixava de ser ficção e tornava-se numa arma de protesto ou de simples consciencialização. Não que a maior parte dos outros autores não o façam, mas Saramago fazia-o com uma mestria fora do normal.
Gostei bastante de ler esta biografia sobre um autor que muito admiro e cujos livros muito aprecio, pois permitiu-me ficar a saber bastantes pormenores acerca da sua vida, inclusive episódios cómicos, como o dia em que, ainda a trabalhar como serralheiro, não se levantou à passagem dos chefes, ao contrário de toda a gente, continuando sentado, a almoçar calmamente. Embora não fosse ainda declaradamente apoiante de ideias comunistas, já tinha uma espécie de "comunismo hormonal", como é dito neste livro, e que também se nota sempre ao longo de muitas das suas obras.
De relevo há ainda o prefácio de João Tordo, que mostra uma enorme admiração por Saramago, tanto o homem como o escritor. Acho que posso, portanto, afirmar que João Marques Lopes teve sucesso na tarefa a que se propôs, a de relatar a vida de um dos maiores escritores da nossa língua, mantendo-se objectivo tanto quanto possível, ora falando dos casos em que Saramago sai bem visto, ora falando dos casos em que Saramago sai mal visto, seja o veto ao Evangelho Segundo Jesus Cristo, seja o saneamento dos 22 jornalistas do DN em Agosto de 1975. Ambos os casos (e outros, não fosse Saramago uma das figuras mais polémicas de que há memória) são descritos com a maior das correcções e objectividade, explicando muito bem explicado cada uma das situações.
Se Saramago já era um dos meus autores favoritos (com apenas 2 livros lidos!), graças a esta biografia posso afirmar que é uma minha das pessoas favoritas, na sua totalidade. A sua frontalidade, os seus ideais, a sua convicção e determinação, a sua escrita e as suas obras... Enfim, podia ficar aqui o dia todo. Vou agora partir para a leitura de As Intermitências da Morte, com as expectativas bem em cima e com conhecimento muito maior da obra/vida de Saramago.
4 comentários:
Como Saramago faz falta! Estou ansioso pelo lançamento do novo romance póstumo dele.
O único livro que tentei ler de Saramago foi O Memorial do Convento e não me caiu muito bem (nunca fui muito boa a ler livros obrigatórios). Mas tenho a sensação que iria gostar muito das obras dele se lidas com calma e paciência. E esta biografia parece-me uma fantástica adição aos conhecimentos que posso obter deste homem... :)
Saramago foi sempre a voz dos sem voz, tanto na literatura como no dia-a-dia. Não podemos esquecer que ele antes de ser Nobel da Literatura não tinha o estatuto que depois adquiriu, mas mesmo sem esse estatuto, sempre disse o que tinha para dizer.
Ó Laura mas que tem isso a ver com livros obrigatórios, ou se gosta de ler ou não se gosta.
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