Título: Filhos e Amantes
Autor: D.H. Lawrence
Tradutor: Cabral do Nascimento
Sinopse: Este clássico de D. H. Lawrence passa-se nas minas de carvão de Nothingham e acompanha a vida da família de Walter Morel, mineiro de profissão. Cansado e desiludido com o seu trabalho, Morel é um homem rude que está frequentemente alcoolizado. A sua mulher, decepcionada com o seu comportamento, acaba por depositar todas as suas esperanças nos filhos, principalmente em Paul, o protagonista do romance. Filhos e Amantes é considerado o primeiro retrato moderno do Complexo de Édipo, estudado por Freud.
Opinião: Esta colecção Não Nobel está a exceder as minhas expectativas de forma estupidamente espectacular. Então neste livro, que eu não sabia bem o que esperar e que me assustou um bocado por ser tão grande (507 páginas), e ter letrinhas tão pequenas. É que isto de andar em época de exames não é brincadeira, e eu já calculava que fosse um livro com uma escrita minuciosa, bastante descritiva, o que diminui bastante o meu ritmo de leitura.
No entanto, e para minha surpresa, lê-se surpreendentemente bem. Não é daqueles livros com uma história mirabolante cheia de peripécias absolutamente inesperadas. É daqueles livros que tem uma história, ponto. Uma narrativa bem contada, gerida com mestria pela mão do autor, que manipula a acção de forma calma e detalhada, entrançando as vidas das várias personagens numa única linha principal que redunda sempre no mesmo assunto: o amor que há entre Paul Morel e a sua mãe, Gertrude.
O rapaz está quase que preso à sua mãe, em virtude do estreito laço que se estabeleceu entre os dois, graças a um pai/marido alcoólico, brutamontes e desrespeitador, que causou uma necessidade de Gertrude encontrar carinho noutro lado, depositando todas as suas esperanças em Paul, o seu rapaz do meio, uma vez que foi aquando do nascimento deste que Walter Morel (o marido abusador) se encontrava numa das suas piores fases.
Ao longo do seu crescimento, Paul é absolutamente devotado à mãe, ao contrário dos seus três irmãos, William, Annie e Arthur, que mais tarde ou mais cedo se desligam da mãe, afastando-se, coisa que Paul não é capaz de fazer. William é ofuscado pela alta sociedade londrina e abandona a família, dando pouca importância aos laços que os unem; Annie acaba por encontrar marido e por se afastar também; Arthur, o mais parecido com o pai, no que toca ao temperamento, toma uma série de decisões irresponsáveis que o afastam a ele também. Por fim, Paul, embora procure activamente pelo amor, e ache por vezes tê-lo encontrado, nunca se sente realmente ligado a outra pessoa que não a sua mãe.
Ou melhor, sente um laço, algo que ele reconhece que devia ser amor, assume que pertence a determinada pessoa, mas não é capaz de a amar de facto e de lhe pertencer mesmo. Tem pavor a sentir-se subjugado por outra pessoa e acha que é precisamente isso que vai acontecer, sempre que se aproxima mais de uma mulher.
A verdade é que este acabou por se tornar num dos melhores livros que já li. A escrita, por estranho que pareça, fez-me lembrar um Júlio Verne romântico, de tão minuciosa e atenta aos detalhes, ou até um Eça de Queirós inglês, substituindo o que é tipicamente português em Eça com aquilo que é tipicamente inglês.
Resumindo, uma boa escrita, uma boa história, um óptimo livro e um óptimo autor, pelos vistos. Aconselho, recomendo, e todos os outros sinónimos que se lembrarem.
4 comentários:
Tenho viso algumas opiniões em outros blogs em relação a este livro, e são sempre boas. Agora fico arrependida de não ter aproveitado a oportunidade de o ter comprado a uma bem mais simpático.
Books Lovers
Mas olha que ainda deves conseguir encontrar numa loja do público ;)
O melhor livro deste autor é, sem sombra de duvida, OS SETE PILARES DA SABEDORIA, que inspirou o filme Lawrence de Arábia. Recomendo!
Aí está uma curiosidade interessante que eu não sabia! Sinto-me oficialmente tentado a procurar esse livro ;)
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