Título: A Estepe
Autor: Anton Tchékhov
Tradutor: Cordeiro de Brito
Sinopse: Considerada uma das mais belas narrativas de Tchékhov, A Estepe narra a viagem de um rapaz para uma cidade distante, onde irá estudar, acompanhado por um padre e um mercador. A despedida da sua casa, é também a despedida da sua infância. O romance foi publicado pela primeira vez em Março de 1888 na revista "Severnyi vestnik", representando a maturidade da sua ficção publicada numa revista literária e não num jornal como era habitual. O livro foi posteriormente considerado "o dicionário da poética de Tchékhov".
Opinião: Um pequeno livro, este quinto volume da colecção "Não Nobel". Escrito por Anton Tchékhov, um dos grandes vultos da literatura russa, conhecido especialmente pelos seus contos e textos dramáticos, deixou-nos esta obra que aparenta não ser nada de especial, mas que contém uma série particularidades e de temas passíveis de escapar a olhares mais desatentos.
A história em si, em termos narrativos, não é nada de muito extravagante. Iegoruchka é um jovem rapaz que parte com o tio, Ivan Ivanovytch, com o padre Cristovão e com Deniska, com o intuito de atravessar a gélida estepe russa e assim ter a oportunidade de prosseguir estudos, para se tornar alguém. Pelo caminho, os seus companheiros têm necessidade de fazer um desvio, para fazerem negócio, e deixam Iegoruchka entregue a uma caravana de infelizes carroceiros, junto dos quais enfrenta uma tremenda tempestade, que o deixa doente, e após a qual chega finalmente ao seu destino, ficando entregue a uma amiga da sua mãe.
Aquilo que é de facto relevante no meio disto tudo, para além da visão inocente que Iegoruchka tem daquilo que o rodeia, é que a travessia da estepe acaba por se tornar, como vem referido na sinopse, um autêntico ritual de passagem para o jovem russo, que de forma absolutamente inconsciente e gradual se vai apercebendo de como a vida é e de como é que as coisas realmente se processam. A sua inocência, que se vai perdendo, no fim de contas, permite a Tchékhov retratar na perfeição as condições das classes russas mais pobres, como terem que atravessar uma extensão gélida e mortificante como a estepe russa, completamente descalços, enfrentando tempestades e sabe-se lá mais o quê.
Mas o que eu achei mais fascinante foi a descrição sorrateiramente personificante que o escritor faz da estepe ao longo do livro, dando-lhe vida e deixando-me sempre à espera que ela simplesmente falasse com as outras personagens. Foi um trabalho verdadeiramente bem feito, esta caracterização da estepe enquanto personagem omnipresente, à qual todas as outras personagens parecem ser inconscientes. Chegam até a haver alguns deliciosos momentos de empatia entre a estepe e as personagens, especialmente Iegoruchka, um fenómeno que não consigo descrever, que deixa apenas uma breve impressão, depois de se acabar de ler as passagens em que isso acontece, e que apenas me deixa a opção de vos aconselhar a ler o livro, que apesar de não me ter deixado de forma alguma assombrado com aquilo que oferece, já valeu a pena, graças à personagem principal desta pequena novela: a estepe.
Sem comentários:
Enviar um comentário