Título: A Varanda do Frangipani
Autor: Mia Couto
Opinião: Os adjectivos que talvez fossem mais justos para descrever este livro são adjectivos que eu não costumo usar, e os conceitos que preciso para justificar o quanto gostei dele, são conceitos que me fazem alguma comichão.
Passo a explicar. Palavras como "belo", "lindo" e "maravilhoso", apesar de correctos, não ficam bem. São termos pouco do meu agrado, pelas palavras em si, embora talvez fossem a melhor forma de descrever o livro, de forma a que toda a gente perceba o que eu quero dizer. Mas vou tentar fazer à minha maneira.
Pois bem, gostava que prestassem muita atenção a esta opinião, pois vou apelidar este livro de poético e dizer que gostei bastante de o ler por isso mesmo. A minha ligeira aversão à poesia, que é matéria para outras conversas, é bastante conhecida e não tão ligeira quanto isso. Por isso pode ser um pouco inesperado, e acreditem que o mais surpreendido sou eu, o facto de eu gostar tanto de um livro com passagens que tanto se aproximam da poesia.
Pelo menos foi esse o meu primeiro pensamento. Depois percebi que fazia todo o sentido. Isto é o mais parecido com poesia que eu sou capaz de apreciar: prosa bem escrita, lírica e... E novamente me faltam palavras. Acho que o melhor é dizer que a melhor parte deste livro é exactamente a beleza da escrita.
Mia Couto, moçambicano, escreve um português com uma gramática diferente daquilo a que eu estou habituado, inundado de termos africanos de culturas em grande parte desconhecidas dos portugueses, e fala bastante de tradições e costumes parcialmente esquecidos.
Tudo isto enquanto conta uma história que avança a um ritmo muito próprio e que serve, mas não só, como forma de transmitir a poesia inerente à sua escrita. Os termos africanos, como maka, para conflito, ou ximpoco, para fantasma, dão um tom bastante especial a toda a narrativa, ajudando bastante a criar o ambiente certo para esta história.
No fim disto tudo, o meu último conselho é para que leiam, pelo menos este livro. Só não aconselho vivamente a lerem mais coisas de Mia Couto porque eu próprio ainda não o fiz, mas uma escrita destas de certeza que não é coisa que só aconteça para um livro.
6 comentários:
Olá. Meu primeiro livro do Mia Couto foi lido esse ano (Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra), e posso dizer que, até então, é o melhor livro do ano. O cara tem uma narrativa incrivelmente deliciosa. Com certeza vou querer ler mais coisa do autor ;)
Também já li este livro. Confesso que não consegui entrar na escrito de Mia Couto.
Concordo, Bruno!
Tiago, por alguma razão em especial?
Talvez seja o facto de não acreditar na "magia negra" e de o autor dar-lhe bastante ênfase; ou o facto de a obra retratar uma realidade e uma cultura que desconheço, a moçambicana.
Pelos cometários que tenho ouvido, Mia Couto é um daqueles autores que se adora ou se detesta. Geralmente esse tipos de escritores, autores não consensuais, são os melhores. Foi assim com Saramago, é assim com António Lobo Antunes ou Gonçalo M. Tavares. Por isso pretendo regressar a Mia Couto e quem sabe render-me à sua escrita.
Estou a ver, compreendo. Para mim essa parte da magia negra tinha que lá estar, só assim a história faz sentido: recorrendo aos mitos próprios daquela cultura que também me é largamente desconhecida.
Ainda não li nada dele, mas apoio a iniciativa de lhe dares uma outra oportunidade.
Mas Mia Couto é simplesmente fabuloso, leiam por favor...tal como SARAMAGO e Gonçalo M. Tavares; António Lobo Antunes é que, actualmente, não consigo passar da página cinco...
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