Título: O Homem Duplicado
Autor: José Saramago
Sinopse: Tertuliano Máximo Afonso, professor de História, vive só, num bairro da cidade sem nome, só com a sua solidão. Um dia aluga um velho filme para ver em casa como repouso do cansaço que lhe deu a correcção dos trabalhos dos alunos. E acontece algo que lhe modificará a vida de solitário e pacato cidadão - um dos actores secundários do filme é exactamente igual a si próprio, é o seu duplo. Inquieto com a possibilidade de existir, eventualmente perto de si, na sua cidade, um outro que é ele próprio, lança-se numa investigação para encontrar esse outro, provocar um encontro, medir-se com ele. Com base neste ponto de partida, com uma intriga complexa conduzida com mão de mestre, José Saramago oferece-nos, com O Homem Duplicado, um dos seus mais belos romances.
Opinião: Saramago é daqueles escritores que acho que nunca me vai decepcionar, leia eu o que leia. Ainda só lhe li 4 obras, é certo, mas cada uma mais genial que a outra, nem sei bem por onde começar quando me perguntam de qual gostei mais.
E se até agora essa minha confusão pessoal já existia, só com 3 livros lidos, este "O Homem Duplicado" vem complicar ainda mais a coisa. Uma história soberba, personagens soberbas, um livro soberbo.
Acho que comprei escolhi comprar este livro, entre vários dele que tinha à escolha, por causa da citação que vem na contracapa:
"O caos é um ordem por decifrar."
Citação que vi pela primeira vez no documentário "José e Pilar", e que idolatrei de imediato, por ser uma frase tão simples e tão paradoxal, por conter nela não uma explicação, mas talvez um apaziguamento no que toca a tentar entender o que quer que seja, desde o acaso do dia-a-dia e das relações interpessoais até à matemática e à física. Genial, sem dúvida.
Pois bem, livro comprado, já nem sequer me lembro quando, e lido algum tempo depois. Não demorei mais do que 3 dias a devorar as 318 páginas da escrita compacta, ainda que não propriamente densa, daquele que é para mim, e para muitos, o melhor escritor português até à data.
Cada vez mais compreendo aquela história de "ou se ama ou se odeia", quando se fala de José, o homem e de Saramago, o escritor, mas quer se queira quer não, a forma como escreve e como expressa as suas ideias é bastante original, quebrou e continua a quebrar barreiras e, além disso, permitam-me aqui a subjectividade, é absolutamente genial. A torrente quase contínua de palavras, aqui aplicada à história de um homem que se vê duplicado noutro até ao mais ínfimo pormenor, é a forma perfeita de misturar uma narração bem feita e bastante pessoal com diálogos elaborados e interessantíssimos, tudo isto enquanto vai de facto contando uma história.
E não posso acabar de dizer que além de todos estes louvores que já fiz, ainda tenho que acrescentar que Saramago não descurava as personagens. A principal, Tertuliano Máximo Afonso, professor de História, está excelentemente caracterizada, da mesma forma que o seu duplo e Maria da Paz, sua amante. A história em si é uma trama complexa, como o diz desde logo a sinopse, e é de facto guiada com mão de mestre, pelo escritor, que consegue introduzir temas como o desespero pelo contacto real com os outros, o medo da perda da individualidade, a resignação ou a rebelião ao destino e a inutilidade de uma coisa e outra...
Enfim, acho que basta dizer que o Nobel não ficou mal entregue a José Saramago.
1 comentário:
Para mim Saramago também é o "melhor escritor português até à data."
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