Tenho uma série de autores cujas obras quero ler na totalidade, sem falta, até ao dia em que morrer ou ficar incapacitado de ler (com sorte, ambos os dias coincidirão). José Saramago, David Soares, João Barreiros, Stephen King, H.P.Lovecraft, Italo Calvino e Jules Verne são a lista actual, se não me estiver a esquecer de ninguém. São daqueles autores que me marcaram de uma forma particularmente intensa e dos quais pretendo, pura e simplesmente, ler TUDO o que houver para ler.
Mas estava agora mesmo a pensar nisso, e surgiu-me uma dúvida. Combinando Saramago, King, Lovecraft e Verne, já tenho livros suficientes para me entreter durante uns anos... E João Barreiros e David Soares ainda andam aí a escrever, já para não mencionar Calvino que também escreveu que se desunhou. Mas então e depois?
Imaginem que daqui a uns anos chego a uma altura da minha vida em que li tudo o que havia para ler, desses escritores. Não consigo imaginar a sensação. Será que me vou sentir completo e feliz em termos literários? Será que me vou sentir finalmente livro daquilo que acabou por se tornar uma obrigação? Será que vou simplesmente sentir um vazio e um desgosto por já não ter mais nada deles para ler?
O meu caso é um bocado radical, mas pensem em vocês. Todos temos pelo menos um escritor ou escritora que praticamente divinizamos. Imaginem que a certa altura já leram tudo o que havia para ler dessa vossa divindade literária. O que sentem? Felicidade extrema? Tristeza absurda? Incredulidade? Colapsam ali mesmo, no momento em que fecharem o último livro? Entram num estado de apatia e vazio mental?
A minha questão pode-se resumir apenas em: leram tudo, e agora?
9 comentários:
Acho que, como em tudo o que é bom e chega ao fim, eu entraria num estado de apatia e vazio mental... que duraria até encontrar um outro livro ou autor. Ainda deve de haver tão boa coisa por aí...
Nos próximos dias, irá suceder-me isso com Tordo...É rezar para que ele se despache a escrever o próximo!
Eu já li tudo (o que me interessa) da escritora que foi para mim, durante anos, "A" escritora.Falo de Marion Zimmer Bradley. Considerando que a senhora morreu em 99 não há qualquer hipótese de escrever mais. Mas o mundo da literatura é imenso, eu mudo e evoluo um pouco todos os dias e os meus interesses continuam a formar-se. Se nunca mais te interessares por um autor, estranha, porque certamente, és tu quem não está a querer avançar.
A beleza da literatura é essa: é imensa. E o seu grande defeito é também esse: é imensa. Por mais que vivas nunca vais conseguir ler tudo o que, de bom, há para ler.
Boas leituras
Jorge, eu ando a evitar ler David Soares demasiado depressa, qualquer dia também se acaba!
WhiteLady e Patrícia, provavelmente acontece isso mesmo que dizem... Um vazio que entretanto é preenchido. Mas continuo a ter curiosidade e algum receio do que será esse vazio.
Fica o vazio de não teres mais onde voltar com esse autor, sem dúvida.
Mas há tantos, tantos livros por aí que nos enchem as medidas que rapidamente nos distraímos da falta que os outros nos fazem (pelo menos até acabarmos esse novo livro). E depois a maravilhosa sensação de descobrir um novo autor favorito. Achas que a tua lista de autores marcantes é finita? :)
No final de tudo, se nada mais te atrair, resta-te ainda o maravilhoso prazer da releitura. Reler um livro favorito é como um bálsamo para a alma. Não tenhas dúvidas de que quando já tiveres lido tudo, continuarás a ler.
Espero bem que assim seja, era chato isto às tantas prejudicar-me as leituras. Mas claro que não acho que a minha lista de autores marcantes seja finita, ainda há por aí tanta coisa por descobrir...
Começa por ler Tólstoi, Dostoievski,Charles Dickens ou, na literatura portuguesa, António Lobo Antunes. Recomendo também a excelente trilogia de Nova Iorque, de Paul Auster. Apenas sugestões que te possam ajudar.
Nunca tinha pensado nisto...
Estava eu a pensar enquanto lia o texto, que entretanto irias gostar de outros autores tanto como gostas desses e que portanto continuarias sempre a ter obras literárias que desejas ler.
Mas quando chegou à questão de pensar no meu caso em concreto, num autor que admiro, como seria no dia em que ele parar de escrever...
E aí o vazio começou. É realmente estranho pensar que nunca mais se poderá ler alguma coisa de novo do nosso autor preferido...
Sem dúvida que o que vou sentir é um grande vazio...
É uma questão complicada, lá isso é... Suponho que logo veremos :)
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