segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Última Caçada de Kraven (Universo Marvel #3)


Argumento: J.M.DeMatteis
Arte: Mike Zeck, Bob McLeod, Janet Jackson, Bob Sharen
Tradução: Paulo Furtado


Opinião: O que dizer? Acho que mais dia menos dia tenho que repensar a minha posição relativamente ao Homem-Aranha. Nunca foi dos meus super-heróis favoritos, mas ultimamente tenho lido coisas muito interessantes dele, incluindo este A Última Caçada de Kraven, que é muito bom.

O principal antagonista nem sequer me era conhecido. Kraven, o Caçador. À primeira vista parece um ricalhaço meio doido, que quando se fartou de, enfim, ser rico, decidiu pôr uma tanga à là Tarzan e causar problemas na cidade.

Sinceramente, não duvido que até esta história tenha sido exactamente essa a sua caracterização. Os comics mais antigos não são propriamente conhecidos pela densidade das suas personagens. Mas este arco narrativo ainda se torna mais interessante por isso mesmo: pega num vilão mais do que secundário (dois, até!) e dá-lhe um excelente tratamento e uma excelente história.

O enredo, esse, é bastante parecido com a temporada mais recente do Homem-Aranha. E isso é o único motivo para não me render por completo a esta personagem: as histórias que li que me deram uma visão diferente são essencialmente a mesma. Esta é bastante superior, no entanto!

Os temas mais pesados são aqui retratados com cuidado, mas sem medos. Suicídio, culpa, loucura, tudo compete nas páginas deste livro. O próprio Homem-Aranha, ainda que tecnicamente ausente durante a maior parte do livro, passa uns dias complicados em termos mentais, e o argumento leva-nos numa viagem fascinante ao interior da sua mente e aos seus - pesadelos? - sonhos.

Kraven, por outro lado, é glorioso do princípio ao fim. A personagem carrega uma gravidade e um carisma que se vê em falta em muitos vilões modernos um pouco por todo o lado. Os seus monólogos são das passagens mais interessantes do livro, e no fim o seu plano revela-se tão fantástico quanto triste.

É preciso destacar ainda Rattus, outro vilão menor e com todo o potencial para ser bastante ridículo, mas que é bem explorado e acaba por ter um papel muito relevante em toda a história.

Além de tudo isto, é preciso ainda dizer que há uma sensação algo... perturbadora ao longo de toda a história. A cena em que Kraven se deixa cobrir de aranhas e desata a comê-las, por exemplo, é dos momentos mais perturbadores que já vi numa BD, e eu já li muito Alan Moore e David Soares.

A arte ajuda, com aquele toquezinho clássico misturado com disposições peculiares das vinhetas e algumas sequências mais longas sem diálogos e até sem narração. Tudo junto faz deste um livro muito, muito bom.

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