Argumento: Jeph Loeb
Arte: Tim Sale, Matt Hollingsworth
Tradução: João Miguel Lameiras
Opinião: Senhoras e senhores, meninos e meninas, vejam bem a capa deste livro. Decorem o nome. Os autores. Procurem por ele. Em português, em inglês, em francês, em romeno, em latim ou em klingon, não interessa, mas arranjem-no. Comprem-no, peçam-no emprestado, roubem-no, qualquer coisa!
É que este livro, simplesmente chamado Hulk: Cinzento, é das melhores coisas que já li e vai ser sem dúvida um dos destaques de 2015. E ainda só estamos em Janeiro!
Não, não estou a exagerar. Há aqui alguma contribuição de não ter grandes expectativas e elas terem sido facilmente (e fantasticamente) ultrapassadas, mas garanto-vos que vale a pena. Esta BD é dos livros mais bem pensados e mais bem executados que vi nos últimos tempos.
No fundo não é mais do que um recontar da história de origem do Hulk, ainda na sua versão cinzenta (não sabia que ele tinha realmente começado por ser cinzento!), através de um gigantesco flashback de Banner, a falar com o seu psiquiatra.
O resultado é uma história bonita, intensa e muito triste. Ouvir alguém a contar sobre como perdeu o controlo de forma abrupta e teve que aprender a viver com um monstro dentro de si, com quem se recusava a identificar, mas com quem não conseguia evitar identificar-se... Fantástico.
E a parte mais incrível? A expressividade que Tim Sale dá ao Hulk, uma personagem normalmente retratada como uma espécie de neandartal gigantesco, um brutamontes incapaz de ter um pensamento ou uma emoção mais complexa do que "ESMAGAAAAAR". É fascinante ver como Loeb conseguiu dar tanta profundidade a uma personagem assim, e ter Sale a acompanhar isso mesmo no desenho.
Outra coisa que funciona muito bem é o ritmo da história. Narrada pelo próprio Banner, com uma espécie de respostas/comentários do seu psiquiatra, tudo anda em uníssono: diálogos, narração, desenho, narrativa. É uma coreografia complexa, mas tornada simples pela fluidez de cada página.
Já mencionei as páginas duplas divinais? Digam o que disserem, Sale esmerou-se e conseguiu encaixar aqui autênticas obras-primas para as quais dá realmente gosto olhar. A sério. Parar e observar.
Também é incrível como a maior parte da emoção é transmitida pelo Hulk, como quando Betty, a amada de Banner, fica ferida, e é preciso curá-la. As tentativas do grande monstro cinzento são desastradas e o resultado final menos do que satisfatório, mas a preocupação é real. Ver a Betty a desprezar tudo isso tem um peso muito forte.
E já no final, a conclusão simultânea do Hulk no flashback e de Banner no presente, está muito bem construída. O primeiro percebe, e fica enraivecido por isso, que ele não é um monstro e só protege a Betty, mas ela ama é o pai, um tipo à beira da psicose e que só a magoa; o segundo apercebe-se de que ela só o amava porque ele era como o pai dela. Primeiro odeia o Hulk pelas razões erradas, e depois ama o Banner pelas razões erradas.
É muito doloroso, e é muito triste, e está muito bem feito. Fiquei seriamente impressionado, e vou sem dúvida procurar os outros livros desta trilogia: Demolidor: Amarelo e Homem-Aranha: Azul. A vocês digo-vos o que disse no início, arranjem este livro!
4 comentários:
Eu acho que fazes de propósito para eu te roubar livros! Eu não me vou queixar mas não tardas muito a ficar sem este!
Eu avisei... Sabes que gosto de emprestar livros :p
Esta dupla especialmente o Loeb sai-se estranhamente bem,este é só mais um.
Há mais coisas? Tenho que procurar!
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