quarta-feira, 20 de maio de 2015

Equilibrium (2002)



Cá está um filme que não é muito conhecido e que até merecia algum destaque. Acusado, e bem, de ser uma mistura de várias obras de ficção-científica, tem actualmente o estatuto de filme de culto, mas esconde muito mais do aquilo que as pessoas pensam.

Primeiro, é fácil de reparar nos vários paralelos e inspirações, principalmente no que diz respeito a distopias. Uma droga para controlar as massas? O Admirável Mundo Novo faz isso melhor. Uma enorme importância à proibição de livros e arte? É o tema central de Fahrenheit 451. Uma sociedade de quase-autómatos, todos iguais uns aos outros? Bem-vindos ao enredo de Nós. Um governo totalitário que gera falsas notícias e tudo vê e tudo controla? 1984, chapadinho.

Tem este filme alguma coisa de novo e original? Em cada uma das partes que o compõem, nem por isso, mas no total? Eu acho que sim, logo a começar pela mensagem que transmite e os temas que aborda.


Falando daquelas quatro distopias, toda a gente sabe que se Huxley diz que é o excesso de entretenimento que nos vai dominar, Orwell diz que é a falta de entretenimento. Bradbury, por seu lado, transmite a mensagem de que é a nossa procura por entretenimento que nos vai salvar, enquanto que Zamiatine diz que é a nossa procura instintiva por liberdade que nos vai salvar.

São visões um bocado simplista das quatro obras, mas verdadeiras na sua essência. E mais do que suficiente para se perceber que são visões extremistas, que falam sobre as duas pontas do espectro, o bem e o mal, a liberdade e a ausência de liberdade, e por aí fora. Equilibrium, como o nome indica de forma bastante óbvia, é um filme feito de equilíbrios.

É uma diferença algo subtil, mas muito relevante. A sociedade de Equilibrium é forçada a viver em equilíbrio com o Estado através da droga que lhes tira as emoções. O enredo do filme está centrado no equilíbrio precário do protagonista, Christian Bale, entre o dever e a liberdade. O próprio estilo de luta marcial criado para o filme é composto de movimentos precisos e calculados, e assenta num peculiar equilíbrio entre manobras estudadas e improvisação.


A mensagem que o filme transmite, desde o início com Sean Bean a desvirtuar o protagonista até ao final, com esse mesmo protagonista a desvirtuar toda a sociedade a um nível máximo, é uma que nem concorda nem discorda com todas as outras distopias que mencionei. É uma mensagem de equilíbrio, mas não a de que é preciso viver dessa forma, mas antes que, digamos, em média é preciso viver dessa forma.

É por isso que o protagonista tem momentos tão contrastantes e isso funciona tão bem: por vezes tem que estar mais próximo de uma ponta do espectro e por vezes mais próxima da ponta oposta, mas no fim, tudo somado, está no meio, uma posição radicalmente diferente da imposta pelo Tetragrammaton (o governo do filme, simbolizado por quatro T's, que curiosamente também é o símbolo idolatrado em Brave New World, em honra ao Model T de Henry Ford), que tenta obrigar as pessoas a viverem perfeitamente em equilíbrio, sem um único desvio dessa linha.


Todo o filme está planeado de forma meticulosa, e é interessante ver como pequenas coisas, no início, descambam num final grandioso e espectacular. É óbvio que há falhas, com algumas cenas de acção menos bem conseguidas, e pelo menos uma perseguição que só tem o resultado que tem porque é num filme, já para não falar de algumas coincidências que são demasiado convenientes para serem verdadeiras.

Mas é um bom filme, que transmite uma mensagem muito interessante. Gosto dos actores e gostei particularmente do twist perto do fim que adicionou mais uma camada de significado a todos os acontecimentos. Sem dúvida uma visualização aconselhada.

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