Título: A Máquina de Joseph Walser
Autor: Gonçalo M. Tavares
Sinopse: «Não tinha sequer uma pistola, mas eliminara a grande fraqueza da existência, fizera desaparecer a primária fragilidade da espécie: não possuía qualquer inclinação para o amor ou para a amizade! E nesse momento, a caminhar em plena rua, desarmado, observando de cima os seus sapatos castanhos, velhos, sapatos irresponsáveis como troçava Klober, nesse momento Walser sentia-se tão seguro — e, ao mesmo tempo ameaçador — como se avançasse dentro de um tanque pela rua. Porém, subitamente, deu um salto para o lado. Quase pisara uma massa alta. Era um homem. E estava morto.»
Opinião: Segundo livro da saga O Reino, de Gonçalo M. Tavares, já o consegui digerir melhor que o anterior, apesar de ser igualmente denso e profundo.
Aquilo fala-se de um homem, Joseph Walser, e da relação quase doentia que este tem com a máquina com que trabalha numa fábrica.
O cenário, a guerra, é exactamente o mesmo que o do primeiro livro, na mesma altura, apesar desta personagem nunca se cruzar com Klaus Klump.
E, mais uma vez, tudo isto parece ser apenas um pretexto para o verdadeiro motivo do autor: transmitir uma mensagem forte.
Nota-se, aliás, tal como no primeiro livro, um intenso esforço para que essa mensagem fique bem cimentada em quem lê. Na sua escrita "moderna" e diferente, Gonçalo M. Tavares, mais do que um escritor, é um idealista, ou melhor, um pensador, e os seus livros (estes, pelo menos) afiguram-se meramente como veículos das suas ideias e da sua visão do mundo.
Uma visão não muito simpática, diga-se. A aura do livro, se assim lhe quiserem chamar, é bastante negra e melancólica.
É nesse tom que o autor divaga através dos meandros de uma história em que o enredo assume um papel mais secundário, especialmente face às personagens, todas elas habilmente modeladas e encaixadas no plano geral do livro.
Consigo ver que é um bom escritor, certamente diferente, inovador e até corajoso, em certa medida, mas tenho que ser honesto e confessar que ainda não me convenceu. Há demasiada preocupação com a filosofia num livro que não pretende ser filosófico.
Também há crítica, e divagações mais do que interessantes, mas, no que a mim me diz respeito, ainda falta qualquer coisa.
Já gostei mais do que o primeiro, é certo, mas agora a ver vamos como corre com o terceiro.
1 comentário:
"Gonçalo M. Tavares, mais do que um escritor, é um idealista, ou melhor, um pensador, e os seus livros (estes, pelo mnos) afiguram-se meramente como veículos das suas ideias e da sua visão do mundo."
Concordo plenamente, mas discordo quanto afirma:
"Há demasiada preocupação com a filosofia num livro que não pretende ser filosófico", pois , todos os livros que li dele são extremamente filosóficos. Essa é uma das suas “imagens de marca”, logo o livro é e pretende ser filosófico.
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