Título: Mostra-me a tua espinha
Autor: David Soares
Sinopse: Um premiado fotógrafo profissional vai descobrir a verdade que existe por trás de um segredo centenário; um escritor vai confrontar-se com as suas origens e descobrir que é feito do mesmo material com que foi construída a sua cidade; através dos anos, numa europa envelhecida pela guerra, duas criaturas nómadas têm como desporto cruel a destruição da vida de um homem mudo; e, finalmente, uma mulher irá pactuar com o mal para obter o filho que o seu útero árido é incapaz de incubar.
Opinião: Ter encontrado este livro à venda foi uma sorte descomunal. Praticamente fora de circulação, Mostra-me a tua espinha foi dos primeiros livros publicados por David Soares e contém já os traços característicos do seu estilo, sem que os contos nele contidos atinjam a qualidade literária de trabalhos posteriores.
Com isto quero dizer que os seus 4 contos são viscerais e gráficos, têm descrições sangrentas e aterrorizadoras extremamente detalhadas e são bastante mais literários que as comuns histórias de terror. São histórias de horror quase poéticas, um estilo muito próprio que já predominava visivelmente neste que é um dos seus primeiros trabalhos e que apenas se foi apurando, com o tempo.
No entanto, e apesar de serem 4 contos bastante interessantes, ficam muito aquém da qualidade dos contos presentes em Os Ossos do Arco-Íris, por exemplo. E apesar de ser uma comparação algo injusta, muito, mas muito distantes da mestria e quase perfeição de A Conspiração dos Antepassados.
Não quero com isto dizer que sejam maus, ou que o livro em si não tenha qualidade, como é óbvio. Estou apenas a tentar transmitir que após ter lido trabalhos mais recentes, este livro não fascina por aí além. Já têm o factor "eugh literário", mas falta-lhe o factor "wow!, David Soares!".
Mas falando do livro em termos mais concretos, a introdução escrita pelo autor demonstra toda a sua genuína paixão pelo horror e em particular pela literatura de horror. No primeiro conto, A Mãe, aparecem os primeiros indícios de uma mente bastante doente, dizem alguns. Eu cá prefiro mente bastante genial, sabendo à priori quem é o autor. Este conto só peca por ser curto e pelo desenvolvimento algo apressado, pois a ideia é interessante.
O segundo, Cidade-Túmulo, é ligeiramente confuso e desconexo, mas tem uma atmosfera pesada bastante coerente. Esta frase não parece fazer muito sentido, mas espero que me percebam. A história em si avança aos solavancos, sem se perceber muito bem o que está a acontecer, mas o ambiente é sempre igualmente negro, há sempre uma ténue ameaça em cada página.
O Homem Oco, que se segue, é um conto deveras curioso. Eu pessoalmente acabei por não perceber muito bem a história, fiquei demasiado entretido com o Ameixa e o Costeleta, duas personagens estranhas, verdadeiramente nasty, em bom inglês, com a sua pitada de sangue e vísceras. Personagens bastante à là David Soares, portanto.
Por fim, A Concepção Repulsiva foi, para mim, a melhor destas 4 histórias. É a que tem o enredo mais "banal", se é que tal palavra se pode aplicar a algo que veio da mente deste escritor, mas foi a que me pareceu melhor escrita, melhor desenvolvida e com o final mais espectacular. E tem uma personagem bastante... curiosa.
Resumindo, 4 bons contos, mas abaixo do esperado para David Soares, o que não é assim tão estranho, tendo em conta que esta foi uma das suas primeiras obras. Não posso é deixar passar todo o simbolismo presente em cada história, muito do qual me passou de certeza ao lado, tal é a densidade.
Um destaque ainda para a edição, que mesmo ligeiramente mal tratada, tem bom aspecto, e a capa é perturbadora por si só. E volto a dizer algo que já disse umas poucas vezes sobre David Soares: não é um escritor para toda a gente. É preciso um certo estômago para se conseguir apreciar as suas obras, e esta não é excepção, apesar de talvez ser um bom livro para alguém iniciar as suas leituras deste escritor, provavelmente por ser menos perturbador que obras posteriores. Ou talvez não.
Com isto quero dizer que os seus 4 contos são viscerais e gráficos, têm descrições sangrentas e aterrorizadoras extremamente detalhadas e são bastante mais literários que as comuns histórias de terror. São histórias de horror quase poéticas, um estilo muito próprio que já predominava visivelmente neste que é um dos seus primeiros trabalhos e que apenas se foi apurando, com o tempo.
No entanto, e apesar de serem 4 contos bastante interessantes, ficam muito aquém da qualidade dos contos presentes em Os Ossos do Arco-Íris, por exemplo. E apesar de ser uma comparação algo injusta, muito, mas muito distantes da mestria e quase perfeição de A Conspiração dos Antepassados.
Não quero com isto dizer que sejam maus, ou que o livro em si não tenha qualidade, como é óbvio. Estou apenas a tentar transmitir que após ter lido trabalhos mais recentes, este livro não fascina por aí além. Já têm o factor "eugh literário", mas falta-lhe o factor "wow!, David Soares!".
Mas falando do livro em termos mais concretos, a introdução escrita pelo autor demonstra toda a sua genuína paixão pelo horror e em particular pela literatura de horror. No primeiro conto, A Mãe, aparecem os primeiros indícios de uma mente bastante doente, dizem alguns. Eu cá prefiro mente bastante genial, sabendo à priori quem é o autor. Este conto só peca por ser curto e pelo desenvolvimento algo apressado, pois a ideia é interessante.
O segundo, Cidade-Túmulo, é ligeiramente confuso e desconexo, mas tem uma atmosfera pesada bastante coerente. Esta frase não parece fazer muito sentido, mas espero que me percebam. A história em si avança aos solavancos, sem se perceber muito bem o que está a acontecer, mas o ambiente é sempre igualmente negro, há sempre uma ténue ameaça em cada página.
O Homem Oco, que se segue, é um conto deveras curioso. Eu pessoalmente acabei por não perceber muito bem a história, fiquei demasiado entretido com o Ameixa e o Costeleta, duas personagens estranhas, verdadeiramente nasty, em bom inglês, com a sua pitada de sangue e vísceras. Personagens bastante à là David Soares, portanto.
Por fim, A Concepção Repulsiva foi, para mim, a melhor destas 4 histórias. É a que tem o enredo mais "banal", se é que tal palavra se pode aplicar a algo que veio da mente deste escritor, mas foi a que me pareceu melhor escrita, melhor desenvolvida e com o final mais espectacular. E tem uma personagem bastante... curiosa.
Resumindo, 4 bons contos, mas abaixo do esperado para David Soares, o que não é assim tão estranho, tendo em conta que esta foi uma das suas primeiras obras. Não posso é deixar passar todo o simbolismo presente em cada história, muito do qual me passou de certeza ao lado, tal é a densidade.
Um destaque ainda para a edição, que mesmo ligeiramente mal tratada, tem bom aspecto, e a capa é perturbadora por si só. E volto a dizer algo que já disse umas poucas vezes sobre David Soares: não é um escritor para toda a gente. É preciso um certo estômago para se conseguir apreciar as suas obras, e esta não é excepção, apesar de talvez ser um bom livro para alguém iniciar as suas leituras deste escritor, provavelmente por ser menos perturbador que obras posteriores. Ou talvez não.
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