sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A Praia mais Longínqua (Ciclo de Terramar #3)


Autora: Ursula K. Le Guin
Tradutor: Carlos Grifo Babo


Opinião: Sem dúvida um dos mais interessantes do Ciclo de Terramar, este A Praia mais Longínqua fracassa. É que inverte completamente as minhas expectativas. Começo a ler, e sim senhor, vamos lá, fico um bocado chateado de ter perdido tanto tempo de vida da personagem mais interessante, mas pronto, siga. Depois tudo evolui muito bem, tranquilo, uma boa história como se quer. Até chegar ao fim. As últimas páginas são sofríveis, e não só quase anulam o interesse do resto do livro, como me tiraram a maior parte da vontade de acabar de ler a saga.

Voltamos a encontrar Gued, mais velho e já Arquimago, numa altura em que a magia está lentamente a desaparecer de Terramar. Um jovem princípio, Enlad, encontra-o e diz-lhe que é preciso resolver a situação. Partem os dois em busca da solução, ou pelo menos do problema.

O primeiro ponto de forte do livro, e o mais bem explorado, é sem dúvida o mistério do desaparecimento da magia. O que raio pode estar a acontecer de tão tumultuoso que até o poder dos magos se vai esvaindo? Mas aquilo que o livro tem de mais cativante é a interacção entre Gued e Enlad, o Arquimago idoso que faz muito pouco uso da magia, e o jovem princípe que ainda tem muito que aprender.

Pelo caminho encontram personagens interessantes, que merecem o destaque que lhes é dado, quase todos ex-magos ou ex-bruxas, enlouquecidos e enlouquecidas pela ausência das suas artes, mas principalmente devastados. E isso é algo que Le Guin retrata exemplarmente, a desolação de alguém que perde as faculdades, como a de alguém com Alzheimer que tem consciência de estar a perder a sua mente.

Mas a veia antropológica da autora também tem direito a algum destaque, em particular com o fabuloso povo das jangadas que Gued e Enlad encontram para lá das terras mais longínquas do arquipélago. Mereciam um livro só para eles! A autora consegue, nas poucas páginas em que aparecem, dar a entender o funcionamento de uma sociedade radicalmente diferente da nossa, habituada a viver em alto mar, em jangadas gigantescas. É fascinante.

E também há dragões. Não falha.

O que falha é o final. A explicação do “mistério” não é grande coisa, e o “confronto” final, tão antecipado, arrasta-se mais do que devia, e de forma ridícula. Não é realmente um confronto, mas sim, novamente, uma espécie de conversa anti-climática. De tal forma que aquilo que me apetecia era regressar às outras linhas narrativas presentes no livro para saber mais sobre os Mestres de Roke, o povo das jangadas, os dragões, a tintureira desolada e tantas outras personagens com muito mais interesse do que qualquer coisa que tenha acontecido nas últimas páginas do livro.

No final fiquei com a opinião de que não é um mau livro, apenas um livro agradável com um final péssimo. A vontade de continuar para o seguinte é pouca, que a sensação é a de que me ando a arrastar por estas páginas, mas só falta esse, portanto lá há-de ser!

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