sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Piada Mortal


Argumento: Alan Moore
Arte: Brian Bolland, John Higgins


Opinião: Alan Moore domina a arte de bem contar uma história. Nem sequer é algo aberto a discussão, e sobrevive perfeitamente aos maus exemplos. É inegável dizer que Watchmen, V for Vendetta, League of Extraordinary Gentlemen e Saga of the Swamp Thing são obras-primas (e são só os que eu li!), e portanto é com facilidade que pego num livro de Moore, sempre com altas expectativas.

Ora, uma história escrita por Alan Moore sobre o Batman e o Joker, duas das minhas personagens favoritos do universo da banda desenhada... Fácil! Toca a ler e a delirar! Vamos lá!

Calma.

Sim, é bom. Não, não é assim tão bom. Assim a seco diria que Alan Moore faz melhor em criar as suas personagens, ou pelo menos reinventá-las, que este livro não funcionou muito bem para mim. É uma boa história do Batman e uma boa história de Moore, mas não é excelente. Está longe de excelente, até.

O primeiro pecado, e que para mim é fatal em qualquer história, é que dá uma história de origem ao Joker. Para além de ser algo que já foi contado várias vezes, e quase sempre de maneira diferente, não acrescenta nada à personagem, antes pelo contrário. É que o Joker é um vilão fantástico exactamente por ser um vilão puro. Não quer dominar o mundo, nem se quer vingar de nada, é apenas maléfico e louco. Caótico.

Esta história de origem dá-lhe um motivo para ser como é. Obriga-nos a simpatizar com o vilão. E isso aborrece-me, porque é uma forma de dizer que não existem verdadeiramente vilões, apenas pessoas com azar, ou pessoas que são empurradas para fora do caminho certo. Eu pergunto: e porque não pessoas que escolhem o caminho errado? Ou melhor ainda, e porque não pessoas que escolhem outro caminho certo que não aquele que toda a gente segue?

O Joker, para mim, é isso. A mais pura encarnação do Mal, um psicopata caótico cujo único objectivo é espalhar esse mesmo caos. É isso que funciona tão bem no Joker de Heath Ledger, no filme de Christopher Nolan: ao contar várias histórias de origem diferente, inviabiliza-as a todas e mantém o mistério. Dá a dica de que não há uma história de origem. Ele é louco. Gosta de matar pessoas. Adora o caos. Ponto final.

Mas tirando isso, nota-se um grande poder narrativo nesta história que evolui de forma mais ou menos óbvia para um confronto final que não é deixado claro, o que também me aborreceu. Mas a caracterização feita do Joker, do Batman, e de Gordon, é quase perfeita. E sendo este um livro de Moore, há a sugestão de uma violação, ou pelo menos de violência cruel e sem sentido contra uma mulher, Barbara, a filha de Gordon.

O arco narrativo que a isso obriga é que é bom. O esforço que o Joker faz para quebrar a mente de um dos melhores amigos do Batman, para provar que toda a gente está à beira de se tornar como ele, é fantástico. A motivação disso, que é a história de origem do Joker, já não, mas pronto.

No final é um bom livro, como eu já disse, e que vale a pena ser lido. Para quem gosta do Batman, e especialmente para quem gosta do Joker, desde que não tenham ilusões quanto à sua história de origem. Leiam e digam de vossa justiça.

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