Título: Aprender a Rezar na Era da Técnica
Autor: Gonçalo M. Tavares
Sinopse: Gonçalo M. Tavares é já considerado um dos melhores escritores que a literatura portuguesa ganhou na última década. Com uma fértil produção, que abarca diversos géneros e temáticas, é, no entanto, com os Livros Pretos (O Reino) que tem conquistado uma maior notoriedade, tanto pela crítica como pelo público. Os Livros Negros de Gonçalo M. Tavares têm um novo Reino: Aprender a Rezar na Era da Técnica.
Opinião: Este quarto livro foi de longe o meu favorito desta saga. Apresenta uma linha narrativa mais robusta, ainda que sempre com o objectivo bem explícito de transmitir algo.
Continua a ser uma escrita densa e um livro complicado, mas as suas personagens fortes ajudam a perceber pelo menos alguns dos meandros filosóficos em que o autor se deixa deambular.
Dito isto, é com alguma pena que confesso que Gonçalo M. Tavares não me deixou convencido. É certamente um autor original e bastante diferente, com qualidade e talento às pazadas, mas nestes livros em particular não mostra um estilo que me diga muito.
E neste em especial, admiro muito o excelente trabalho que Tavares fez com as personagens, nomeadamente com a principal, Lenz Buchmann, cuja vida é contada.
Desde a sua iniciação guiada e forçada pelo pai ao mundo do prazer, o autor conta a história de Lenz e de como ele subiu na vida como médico brilhante e, mais tarde, como político de excepção.
Acho que foi através das particularidades desta personagem que pelo menos algumas das mensagens se tornaram mais evidentes. Lenz é um homem frio e secretamente cruel, criado com uma espécie de código de honra e moral que lhe foi inculcado pelo seu pai. Não olha a meios para fazer o que quer, e age sempre com uma racionalidade impecável.
Uma das coisas que penso ter percebido, foi uma tentativa do autor em demonstrar que o excesso de razão rapidamente pode ter consequências nefastas. Talvez o próprio título do livro tenha a ver com isso, é preciso "aprender a rezar", ou seja, a ter mais fé, não necessariamente num deus, mas nas pessoas e nos sentimentos, já que cada vez mais vivemos numa "Era da Técnica", uma era em que a Ciência tem cada vez mais relevância e se dá cada vez mais predominância à razão.
Pelo menos foi esta a minha interpretação. Acho que um livro deste estilo se assemelha um pouco à poesia, no sentido em que cada pessoa acaba por tirar conclusões diferentes e muito pessoais.
Para terminar, gostei da forma como o autor ligou os 4 livros, misturando personagens e situações, ainda que só de raspão, de um livro para o outro.
Não foi, como já disse, uma leitura que me agradasse inteiramente, mas reconheço a qualidade de Gonçalo M. Tavares, apesar de achar que há demasiado alarido em seu redor. Reservo, no entanto, a esperanço de me render aos seus escritos com outros livros como os pertencentes a'O Bairro e ao Viagem à Índia.
3 comentários:
Na minha opinião este livro tem tanta qualidade como o Memorial do Convento de José Saramago.
São no entanto livros muito diferentes, e eu pessoalmente tenho dificuldade em sequer compará-los...
Apenas estou a falar na qualidade. Todo o resto é incomparável.
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