Uma grande questão que já me pus a mim mesmo muitas vezes, é exactamente esta do título. Porquê reler um livro? Se já foi bom, já foi bom, se já foi mau, já foi mau, se já foi indiferente, já foi indiferente, acabou!
Que lógica tão... palerma. Há uma carrada de motivos para alguém reler um livro. Por exemplo, eu já li a Trilogia d'O Senhor dos Anéis. Há uns 6 ou 7 anos, tinha eu uns 12 ou 13. Alguém no seu perfeito juízo acha que eu me lembro de alguma coisa? Nem é tanto por ter sido há meia dúzia de anos, é mais por serem 3 livros densos e pesados, com uma escrita e uma temática complicada, que eu li no início da adolescência... Não ficou cá nada, por muita coisa que eu diga.
Outro motivo é aquele que me levou a cometer a loucura de reler As Crónicas de Allaryia todas. Não é que não me lembre da história, mas não me lembro dos detalhes. E pôr-me de repente a ler o sétimo e último volume, ia ser como cair de pára-quedas já quase no fim da saga. E isso claramente não pode suceder.
E há ainda um terceiro e um quarto motivo, que me deixam curioso para reler alguns livros: o facto de ter crescido e (teoricamente) amadurecido, e o ler na língua original. O primeiro deixa-me com vontade de reler coisas como A Aparição, de Vergílio Ferreira, e até mesmo O Principezinho, do Exupérry, pelo simples facto de querer comparar a minha leitura de agora com a leitura de há uns anos, e ver se a opinião se mantém ou quão diferente é.
Já o querer ler um livro na língua original, depois de o ter lido na versão portuguesa, tem motivos ligeiramente diferentes. Falando por experiência própria, é sempre diferente, e acho que é sempre melhor, ler algo na língua original. Acho que é uma leitura mais fiel, pois uma tradução já implica, de certa forma, uma adaptação. Eu próprio já traduzi vários textos, por diversos motivos, e não é um trabalho nada objectivo... E nestas coisas, basta optar por uma palavra em vez de outra, que sem alterar o seu significado, se altera de certa forma a frase a ideia original do autor.
Mas sinceramente, este último caso já não considero propriamente uma releitura. Para mim é quase como se fossem 2 livros diferentes. Pode até acontecer que as leituras não sejam muito diferentes, como foi o caso do Flatland, que li primeiro em português, e uns anos depois em inglês, mas há autores que são quase intraduzíveis... Não acredito que se ler o Este País Não É Para Velhos, do Cormac McCarthy, na sua versão original, a leitura seja a mesma, de todo. Tem um estilo demasiado peculiar para isso. Digo o mesmo do Carrie, do Stephen King. E deste autor posso adiantar mais! Não li ainda nenhum livro dele nas duas versões, mas já li coisas em português e coisas em inglês, e é muito diferente. É bastante mais agradável ler em inglês...
Portanto, tirando este caso particular, fico com pelo menos 3 motivos que me parecem bastante válidos para uma releitura. Podia talvez acrescentar o facto de ser um livro tão bom que volta e meia apetece pegar nele. Mas tal nunca me aconteceu, provavelmente porque todos os livros realmente bons que tenha lido, li-os nos últimos anos, não tive tempo para ter, vá, saudades. Ainda por cima com tanto livro promissor à minha espera!
Falando da releitura da Crónicas do Filipe Faria, tem sido uma experiência de que certeza não me vou arrepender, apesar de serem livros grandes o suficiente para me fazerem demorar mais tempo do que gostaria a acabá-los, agora com as coisas da faculdade a começarem a precisar de serem feitas. Mas a verdade é que estou a gostar muito mais desta leitura. O primeiro livro, que tinha adorado, achei abaixo de mediano. Muito abaixo. Mas a partir daí tem sido sempre a subir, com o quinto, Vagas de Fogo, a ser de facto um bom livro. Como é óbvio, isto deixa as minhas expectativas para os últimos dois bem lá em cima...
Ou seja, isto tudo para dizer que há muitos e bons motivos para se dar início a uma releitura. Pode parecer contra-intuitivo, tanto livro para ler e ainda perder tempo a reler alguma coisa, mas eu pessoalmente ainda não encontrei nenhuma releitura que tenha considerado tempo perdido.
5 comentários:
O Aparição do Vergílio é realmente um caso de estudo dessa coisa das releituras. Conheço várias pessoas que o leram na escola e depois por volta dos 30. E a diferença é incrível. Eu senti um abismo enorme. E embora tenha gostado de ambas as vezes, a segunda foi quase uma revelação. Lá está, quase como se fossem dois livros diferentes.
Esse é apenas um dos motivos pelos quais as releituras são importantes. Relativamente à Aparição, não lhe achei grande piada, mas acho que sou capaz de apreciar muito mais agora numa segunda leitura...
Reler livros não é, de todo, simplesmente "reler". Eu reli metade da saga de George R. R. Martin e apreciei muito, mas muito mais, da segunda vez. Já sabia o que esperar, estive mais atento a outros pormenores, e acho que isso acaba por nos fazer apreciar melhor os livros. Se não tivesse relido essa saga, certamente há muito tempo que teria perdido o interesse e já me tinha esquecido de mais de metade das personagens e situações.
Precisamente como dizes, por muito que tenhamos gostado ou odiado um livro, por vezes o sentimento fica mas o livro em si é esquecido! Já referiste algures que custa um pouco reler e sentir que não estás a diminuir os livros em espera, mas acho que compensa muito mais releres um livro e ficares com a sensação de que foi lido, que pode ser posto na estante sem ficares com a sensação de que queres reler já de seguida.
E para sagas dá realmente muito jeito, há tantas situações desde o primeiro livro fundamentais para "desvendar" o final que nos esquecemos!
Eu adorei a Aparição, e li era muito novo. Já passou tanto tempo, e já não me lembro da história (ora aí está), que também me apetece reler.
E mesmo que não tivesses motivos "válidos" para uma releitura... Why not? =P
Concordo com tudo o que dizes! E tenho definitivamente que reler a Aparição, a única coisa que me lembro é duma tirada filosófica inspirada por uma galinha xD
Bolas, toda a gente se lembra da cena da galinha... E eu, que adorei o livro, não me lembro nada disso! xD
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