Uma das coisas mais difíceis de gerir quando se escreve uma história, é o tempo. Especialmente se for uma história da envergadura das Crónicas de Allaryia. E infelizmente, acho que o Filipe Faria tem momentos muito pobres, nesse campo.
O problema vai-se diluindo, com o passar dos livros, o que é compreensível. O autor e a sua escrita cresceram e amadureceram, o que se nota muito claramente ao longo da leitura dos vários volumes, mas há sempre alguns momentos que me fizeram confusão. Momentos que se tivessem sido manipulados por outros autores, teriam de certeza tido outro tratamento e deixado a experiência da leitura absolutamente incólume.
Os piores casos aparecem quando mais para trás na saga se andar, atingindo o expoente máximo, como seria de esperar, no primeiro livro. A Manopla de Karasthan, aquele que é para mim o livro mais fraco destas Crónicas, tem saltos completamente incompreensíveis. De um capítulo para o outro passaram 2 semanas, e os próximos 4 decorrem ao longo de 12 horas.
Isto não é grave e raramente é de facto importante, num livro. Simplesmente não se nota. Excepto quando acontece constantemente. Os saltos temporais das Crónicas são, na sua maioria, incoerentes e algo atabalhoados, especialmente nos primeiros livros.
Volta e meia tive aquela sensação de que algo não estava certo. Estas mudanças bruscas quebram bastante a fluidez da narrativa e o próprio ritmo da história. E quem é capaz de passar 5 ou 6 páginas a descrever uma luta de minuto e meio, vários vezes ao longo dos livros, não se pode dar ao luxo de em duas linhas dizer que se passaram 2 ou 3 semanas... várias vezes ao longo dos livros.
Ainda para mais quando os protagonistas estão separados e ora estou a ler um capítulo de 30 páginas sobre 2 dias de umas personagens, ora estou a ler um capítulo de 7 páginas sobre 2 horas de outra personagem, em que o narrador comenta ao de leve aquilo que essa personagem andou a fazer... nos últimos meses. Em meia dúzia de linhas.
É demasiado desconexo. Não é uma falha de maior e é um pormenor que facilmente leva a "erros" deste estilo. Contar uma história é difícil, contar uma história ao longo de 1 ano e tal ou 2 anos, com tanta coisa a acontecer... é extremamente difícil. E fazer isso tudo numa história que se começou a escrever aos 16 anos? Não é de todo uma tarefa fácil.
No entanto, e apesar de quebrar o ritmo de leitura e chamar a atenção para si própria, esta pequena falha não é um obstáculo de maior. Pode ser ligeiramente aborrecido, mas há coisas piores, não é verdade?
Sem comentários:
Enviar um comentário