sábado, 31 de dezembro de 2011

Ano novo, vida nova, o mesmo cliché de sempre

Eu quis, quase à força, vir escrever este último texto do ano, para cumprir com o cliché. Algures nos últimos dias de cada ano, um blogger de respeito tem que escrever um texto qualquer a despedir-se do ano que passou, a fazer um balanço, e a preparar o ano que vem!

Mas isso este ano é complicado. Não que o ano não tenha sido óptimo em leituras, foi até dos melhores de que tenho memória, mas a verdade é que o grande acontecimento deste ano, na minha vida, foi a entrada na faculdade que eu queria, no curso que queria, o que foi óptimo e não me podia ter deixado mais feliz. No entanto, o facto de agora estar em Engenharia Biomédica, no Instituto Superior Técnico, não me trouxe só vantagens.

Para começar, estudo que nem um desalmado, coisa que nunca tinha feito durante mais do que 2 semanas, e que agora já vai em 3 meses. Mas eu gosto de estudar, por mais estranho que isso possa parecer a algumas pessoas, portanto, não é por aí. O problema é que a vida universitária me tirou algumas coisas, como por exemplo, tempo de leitura. Longe da minha glória de 100 e muitos livros lidos, este ano fiquei-me pelos 64. Em minha defesa, podia afirmar que também li livros maiores, ou mais densos, ou ambas as coisas, mas não gosto desse tipo de desculpas. Se bem que não tenho que pedir desculpas a ninguém, não leio por obrigação, e como tal, o único problema de ter lido menos livros é exactamente esse, ter lido menos livros.

E apesar de tudo isto, é mais do que óbvio que não me posso queixar. Li livros tão bons, mas tão bons... Iniciei-me em Saramago, fiz a minha temporada épica, revisitei todos os livros do Harry Potter, li uma das obras-primas de Gabriel García Márquez... Enfim, no meio de algumas leituras bastante ranhosas, tive umas boas duas dúzias de leituras absolutamente divinais. Como tal, não me posso queixar.

Mas sendo o resmungão que sou, preciso de resmungar com alguma coisa. Não pode ser com as leituras, refilo sobre aquilo que está mais perto. A passagem de ano. Vejo por aí pessoas todas felizes, a festejarem a passagem de ano, mas sejamos realistas, estão a celebrar exactamente o quê? A entrada num ano ainda mais miserável que este? Eu sei que isto é um discurso um bocado amargo, e passível de ser interpretado como derrotista ou coisa que o valha, mas estou apenas a ser realista. E possivelmente amargo e sarcástico, mas isso já não tem cura. 

O que é que o próximo ano vai trazer de bom? Eu sei que temos que ter esperança, e não baixar os braços e isso tudo, mas por favor... Deixemos de ser tótós. A esperança do que quer que seja não passa de um penso rápido que pomos sobre a ferida. Não faz nada, mas deixa-nos pensar que estamos bons e prontos para outra. É claro que não baixo os braços, é claro que quero que tudo melhore e que corra bem, mas também não tenho ilusões...

Por outro lado, sou apenas um rapazinho revoltado consigo mesmo, que não sabe bem o que diz, não é? Enfim, vou falar de outras coisas. Por exemplo, da edição de luxo que recebi do último livro das Crónicas de Allaryia, Oblívio, de Filipe Faria. Coisa mais linda. Vai ficar guardadinho até Fevereiro, para ler os 7 seguidos! E tenho que dizer que já acabei A Mãe, do Gorki, e que algures nos próximos dias publico a opinião, quando se acabar a preguiça de a escrever.

Pronto, é tudo. Já escrevi demasiado. Vou voltar ao meu covil, amargo como sempre, ligeiramente maniento como sempre. Se ainda forem capazes de acreditar nisso, tenham um bom ano!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Vollüspa (Parte 2 de 2)

Título: Vollüspa
Autor: Vários

Opinião: Perdoai-me, caros poucos leitores que ainda visitam o blog com frequência e com razão. Não tenho tido mesmo tempo nenhum. Nem devia ter tido tempo para vir aqui escrever esta segunda parte da opinião, mas enfim, já me estava a fartar de me preocupar com a universidade, e perdido por cem, perdido por mil... Já sabia que estes dias não ia conseguir estudar grande coisa, portanto...

Mas pronto, avancemos. A encerrar a secção de Terror, aparece um conto de José Manuel Morais, A Vida é Sonho, um conto que não me agradou muito. Começa com uma premissa interessante, ainda que não seja nada de super-original: sonhos e afins. Mas todo o conto parece que passa a correr, e de repente já estamos no fim, sem interesse nenhum...

Depois a abrir a última secção, de Fantasia, aparece A Máquina, de Álvaro de Sousa Holstein, que dispensa apresentações de maior e que apresenta aqui um conto que classifico como um dos mais interessantes desta antologia, sobre o poder das memórias. O autor homenageia alguns dos grandes vultos da literatura portuguesa, sem grande alarido, mas de forma sentida.

Já em A Queda, de Carla Ribeiro, não encontrei uma história que me prendesse por aí além. Em termos de escrita devo dizer que até gostei, apesar de ser fã de uma escrita mais directa e menos floreada. Mas a história não me convence minimamente... Soa a mais do mesmo, para dizer a verdade... Com todo o respeito pela autora, com quem já contactei em fóruns e afins, mas daquilo que lhe conheço (que não é muita coisa, confesso), penso que seria capaz de fazer bem melhor!

A seguir aparece Joel Puga, com O Último, do qual gostei. Bem escrito, bem estruturado, para um conto tão pequeno, e interessante, apesar de ser mais uma retrospectiva, ou umas memórias, o que preferirem... Passa muito bem a ideia de solidão e a de resignação forçada de quem sabe que não tem saída, mas que sabe uma coisa de certeza: vai sair a lutar. Muito bom.

De seguida temos A Sala, de Marcelina Gama Leandro, que não é mau de todo, mas que podia estar melhor escrito. As coisas parece que acontecessem muito rapidamente e os diálogos estão um bocado repetitivos e extremamente pouco naturais, se bem que eu sei perfeitamente a dificuldade que é escrever um diálogo decente...

Quase a acabar vem Uma Questão de Lugar, de Pedro Ventura, que no meio de tanto conto pequenino, parece apenas grande demais. E tem de facto alguma ronha. A história é moderadamente interessante, e a escrita é agradável, não haja dúvida, mas estendeu-se demais. Ainda por cima no meio de tantos contos tão mais pequenos, em contraste, ainda parece maior do que é. E depois no fim... Nada de especial. Mas pronto, não é o pior conto...

O pior talvez seja este último, Vermelho, de Regina Catarino. O recontar de um episódio bíblico pelos olhos de um observador aleatório não me convenceu mesmo nada, apesar de achar que Fantasia é a palavra certa para descrever tal episódio. E a escrita nem é má de todo, mas perde-se no meio da história sensaborona.

E pronto, cá ficam todos os contos opinados (finalmente!). O balanço geral é positivo, apesar de alguns defeitos e de uma secção de Fantasia relativamente fraquinha, quando comparada com a de Ficção Científica, já para não falar da quase ausência do Terror... Mas não se fica a perder nada, penso eu, são no geral bons autores, com bons contos, que demonstram que existe um forte sector Fantástico em Portugal por descobrir, e é esse o papel mais importante desta "Vollüspa", o de dar a descobrir autores e o de fazer as pessoas descobrirem o Fantástico. Como tal, e uma vez que foi uma leitura agradável, que só pude ter graças ao trabalho do Roberto Mendes, que lutou por este projecto, e que parece ter acertado. Esperemos que dê frutos!