domingo, 29 de abril de 2012

deus não é Grande

Título: deus não é Grande
Autor: Christopher Hitchens
Tradutor: Isabel Veríssimo

Sinopse: Neste eloquente debate com os crentes, Christopher Hitchens apresenta argumentos contundentes contra a religião (e a favor de uma abordagem mais laica da vida), através de uma leitura atenta e erudita dos textos religiosos mais importantes.

Hitchens contra a história pessoal dos seus encontros perigosos com a religião e descreve a sua viagem intelectual para uma visão laica da vida, baseada na ciência e na razão, na qual o Céu é substituído pela panorâmica maravilhosa que o telescópio Hubble nos proporciona do universo, e Moisés e o arbusto em chamas dão lugar à beleza e simetria da hélice dupla.

"Deus não nos fez", escreve ele. "Nós fizemos Deus.". Explica que a religião é uma distorção das nossas origens, da nossa natureza e do cosmos.

Prejudicamos os nossos filhos - e colocamos o nosso mundo em perigo - ao doutriná-los.

Opinião: deus não é Grande é um ensaio com o objectivo principal de mostrar que a religião, tome ela a forma que tomar, não é algo tão moralmente elevado como muita gente pensa. E embora fale disso, não se foca muito na existência ou não de Deus, de um deus ou de vários, mas sim na religião em si, naquilo que ela fez e provocou ao longo da história, e nas consequências nefastas que a ignorância e os dogmas da fé ainda conseguem provocar, apesar da suposta civilização cada vez mais iluminada em que vivemos.

Entre especulações que não podem ser provadas nem refutadas, Hitchens fala também de factos que não se podem negar, como o envolvimento da religião com o regime fascista/nazi, graças à aproximação estreita de ideias partilhadas.

É importante notar que o autor não tem uma posição radical, apesar de ser um ateu convicto se medo de dizer aquilo que pensa: da mesma forma que ao longo de todo o livro vai contando as atrocidades cometidas em nome da religião, não se esquece de apontar que também os não-crentes cometem atrocidades e que não são os crentes que são os maus da fita e os imorais, nem a sua crença, mas sim a crença radical e os crentes extremistas, o mesmo se aplicando a quem não acredita. Ou seja, Hitchens afirma peremptoriamente que há "bons" e "maus" em todo lado, e não tenta de forma alguma desculpar crentes ou não-crentes por crimes cometidos ou por consequências provenientes da ignorância, da crença ou da mais pura estupidez.

Aquilo que o autor critica, acima de tudo, é que hajam actos atrozes cometidos em nome da religião e até mandatados pela religião. Como pode alguém afirmar que acredita num deus omnipotente e benevolente, cuja principal característica é perdoar os pecadores, e depois matar em nome desse deus? Como é que é possível que a Inquisição tenha existido? Que ainda hoje se dêem as lutas internas que se dão, no Médio-Oriente? No fundo, como é que qualquer instituição ou pessoa religiosa justifique actos contrários à natureza e aos princípios da sua própria religião, com a natureza e os princípios da sua própria religião?

O problema, ou a vantagem, dependendo do ponto de vista, de existir um sistema baseado unicamente na fé, é que não precisa de recorrer à lógica ou à razão para se defender. Num sistema destes, alguém dizer que fez algo só porque sim, torna-se válido. A ausência de motivo coerente torna-se um motivo. Invoca-se a fé, e justifica-se tudo, responde-se a tudo. É assim em praticamente todas as religiões, desde tempos imemoriais.

Mas bem, resumindo, o autor fala dos defeitos e falhas da religião, usando argumentos convincentes e refutando os pseudo-argumentos que a religião tem a seu favor. Não tenta converter ninguém ao ateísmo ou "desconverter" ninguém do que quer que seja, tenta apenas abalar as convicções que os leitores possam ter, de forma a que pensem de forma crítica em relação àquilo em que acreditam e em relação às autoridades que ouvem e seguem. Mais importante do que acreditar ou deixar de acreditar, é nunca deixar de pensar de forma clara e não deixar que a fé, seja no que for, tolde o raciocínio e o pensamento livre.

sábado, 21 de abril de 2012

The Age of Zeus

Título: The Age of Zeus
Autor: James Lovegrove

Sinopse: The Olympians appeared a decade ago, living incarnations of the Ancient Greek gods on a mission to bring permanent order and stability to the world. Resistance has proved futile, and now humankind is under the jackboot of divine oppression. Until former London police officer Sam Akehurst receives an invitation too tempting to turn down: the chance to join a small band of guerrilla rebels armed with high-tech weapons and battlesuits. Calling themselves the Titans, they square off against the Olympians and their ferocious mythological monsters in a war of attrition which some will not survive.

Opinião: Não é um daqueles livros que está maravilhosamente bem escrito e que tem um valor literário acima da média. É leitura de entretenimento, sem grandes objectivos filosóficos ou metafísicos, apenas com o intuito de descrever grandes cenas de pancadaria e com o bónus de incluir deuses e monstros das Grécia Clássica em confronto com um pequeno esquadrão de homens e mulheres armados com o equipamento mais tecnologicamente avançado de sempre.

Parece maior do que é, com as suas 600 e tal páginas de formato de bolso, mas lê-se num instante, mesmo tendo em conta que está em inglês, o que me costuma atrasar ligeiramente a leitura. Não foi o caso, já que o li em 3 ou 4 dias, com estudo e afins pelo meio.

A história é interessante, mas, muito honestamente, não é o mais importante. As personagens até estão relativamente bem desenvolvidas e isso tudo, mas é quando há cenas de porrada a sério que o livro fica mesmo bom. Ou então quando há deuses ou monstros a aparecer. O meu fascínio por mitologia grega e mitologia em geral é absolutamente gigantesco, portanto não é de estranhar que um deste género atraia a minha atenção. E como seria de esperar, gostei bastante de o ler. Ainda por cima não tem um enredo muito complexo, daqueles em que temos que estar super atentos a todos os detalhes, é um livro que pode ser lido na mais completa descontracção, simplesmente a apreciar os confrontos ora épicos ora sorrateiros, mas sempre dignos de umas boas páginas de sangue.

Ainda por cima descobri que há mais uns poucos do mesmo autor que estão dentro do mesmo estilo. Um Age of Ra, um Age of Odin, um Age of Anansi e um Age of Aztecs. Se isto não tresanda a espectacularidade, não sei o que raio vai mal no mundo...

Concluindo, este Age of Zeus é um bom livro, fácil de ler, entretém e ainda me deixou curioso para ler os outros. Isto significa que o aconselho, especialmente se apreciarem mitologia... e pancadaria.

domingo, 15 de abril de 2012

King Arthur - Tales from the Round Table

Título: King Arthur - Tales from the Round Table
Autor: Andrew Lang

Sinopse: A ruler said to be the model of goodness over evil and a formidable comrade in the ever-present struggle between right and wrong, the figure of King Arthur of England prevails at the heart of the Arthurian legends. The myths surrounding his reign have been recounted in endless tales. This collection includes thirteen of the best-loved legends of the man and his Knights of the Round Table.

Opinião: Quando se compra um livro que não se conhece por quase nada, não se fica com muitas expectativas. Eu pelo menos não fico. Comprei este porque, lá está, era praticamente oferecido e porque tenho curiosidade relativamente às lendas e histórias que rodeiam esta figura mítica que é o Rei Artur.

Bastou folhear um pouco para ver as imagens que esta edição traz, imagens antigas que quer o sejam ou não, têm ar de pinturas medievais. Também deu para ver que os contos que o constituem eram quase todos bastante pequenos, alguns apenas com 2 ou 3 páginas, o que significava que a leitura ia ser rápida. Todos os leitores sabem que capítulos/contos pequenos são quase sinónimos de leitura rápida.

E assim foi, li-o num instante, sem que o inglês relativamente antigo, formal e elaborado fosse um obstáculo, já que era perfeitamente perceptível apesar de ser bastante diferente do inglês a que estou habituado.

As personagens que aparecem, para além do mítico Rei Artur, são todas aquelas que se ouvem falar nas lendas e histórias à volta desta personagem, e ainda mais algumas. De Merlin a Sir Lancelot, de Guenevere a Morgan le Fey, incluindo todos os cavaleiros da Távola Redonda e ainda mais umas poucas personagens, todas elas aparecem nalguma das histórias, que, já agora, chegam a ter ar de lendas, daquelas transmitidas oralmente, de geração em geração, e que alguém um dia se lembrou de passar para o papel.

Histórias, ou lendas, como a busca do Santo Graal, a morte de Merlin e, como não podia deixar de ser, a mais essencial e fulcral numa colectânea destas, a história de como Artur tirou a espada da pedra e se tornou no Rei Artur. Até tem a história de como ele encontrou a sua espada, a Excalibur, uma das poucas histórias desta obra que me era desconhecida, ou pelo menos da qual eu não me lembrava.

Posso agora afirmar que é um livro muito interessante, especialmente para quem, como eu, tiver algum tipo de curiosidade relativamente a esta figura ou às que normalmente a acompanham, e que não apresenta falhas de maior, de tal forma que eu nem lembro de nada em específico. É claro que não acho que seja uma grande obra de literatura mundial, mas é de facto um bom livro.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O Terror

Título: O Terror
Autor: Arthur Machen
Tradutor: Susana Clara e José Manuel Lopes

Sinopse: Arthur Machen foi um dos grandes e incontornáveis escritores do início do século XX. A sua obra é imprescindível à compreensão de autores como H.P.Lovecraft, Stephen King, Bram Stoker, Sir Conan Doyle, Oscar Wilde, ou mesmo Alfred Hitchcock. Foi apontado por Luís Borges como a grande influência do realismo mágico.

O Terror é um dos três contos reunidos nesta obra. Neste conto, ambientado numa região isolada a Oeste de Gales, relatam-se acontecimentos bizarros e inexplicáveis, onde a natureza parece ganhar vontade própria e revoltar-se contra a humanidade. O poder contagioso de forças obscuras cria um clima de tensão e leva à violência.

Numa época em que todas as atenções estavam viradas para a Primeira Guerra Mundial, este conto é susceptível de diversas interpretações ou analogismos que o autor terá escondido na sua trama enigmática. Trata-se de uma obra literária muito estudada, e que merece um lugar de destaque em qualquer biblioteca.

Opinião: Aquilo que me levou a comprar este livro, para além da edição espectacular (tenho um fraquinho por capas), foi aquele primeiro parágrafo da sinopse. Uma obra absolutamente necessária à compressão de Lovecraft, Stephen King, Bram Stoker, Conan Doyle, Oscar Wilde e Hitchcock? Um autor que Luís Borges aponta como a grande influência do realismo mágico? Só se fosse parvo é que não comprava isto.

É que eu gosto de livros de terror e do terror como tema, em geral, isso já se sabia. E este livro é um verdadeiro clássico de terror. Acho que dificilmente se arranja um livro classificado como clássico cujo tema seja, de forma tão predominante, o terror, o medo irracional, a fobia extrema.

Como não podia deixar de ser, e apesar de ser um livro excelente, parece-me que é pouco conhecido. Não digo que seja melhor ou pior que outros clássicos extremamente mais conhecidos mas, verdade seja dita, toda a gente conhece os grandes romances clássicos, ou os arquétipos dos policiais, mas no que toca à literatura de terror, algumas pessoas pensam que é um género que nasceu ontem. Para essas, cá têm um autor de finais do século XIX, início do século XX, que não escreveu literatura de terror, como o fez a um nível de excelência raramente visto hoje em dia, em qualquer género.

Este livro em particular, com os seus 3 contos, tem o medo supremo do desconhecido, tema tão presente em Lovecraft, uma atmosfera de suspense quase permanente, apesar da aparente calma a que decorrem os acontecimentos, característica bem marcante de Bram Stoker, e uma escrita impecável, pormenor de que todos os autores mencionados na sinopse se podem vangloriar, à excepção, talvez, de Stephen King, mais preocupado com a história do que com a beleza literária em si.

Enfim, aquilo que estou a tentar dizer é que cada um destes 3 contos é excelente, com particular atenção para o primeiro, que dá o nome ao livro. O Terror é praticamente uma novela, tal é a sua extensão, dividido em pequenos capítulos que contam uma história assustadora e enigmática e que culminam num final no mínimo curioso e bastante interessante.

É óbvio que este livro fica aconselhado, especialmente para os fãs do género, mas sem descurar de forma alguma os menos interessados. Se há livro capaz de dar uma perspectiva do que é o terror enquanto género literário, é este, que não é tão denso como o Drácula nem tão elaborado como os contos de Lovecraft, mas que espelha na perfeição aquilo que se espera de alguém que se propõe a escrever literatura de terror.