sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Segredo de Chimneys


Título: O Segredo de Chimneys

Autor: Agatha Christie
Tradutor: Isabel Alves

Sinopse: Anthony Cade, que trabalha como guia turístico na África do Sul, recebe de um bom amigo uma estranha missão que o faz regressar a Inglaterra. À chegada, é envolvido numa teia de assassinatos, chantagem e traição, relacionados com as lutas e políticas internas da Herzoslováquia, e numa romântica e misteriosa história de amor. Tudo isto complica a vida de Anthony... mas quem é, na realidade, Anthony Cade?

Opinião: Os livros desta autora já são, quase por definição, mais retorcidos que a mente do Pessoa, mas este leva tudo a um nível muito mais alto. Em média, acho que a cada meia dúzia de páginas a história mudava por completo, tal era a reviravolta que se dava. Como tal, além do habitual avanço que algumas personagens desta autora costumam levar em relação a nós, leitores, no que toca à resolução do mistério, neste livro em particular esse avanço é gigantesco. Às tantas já nem se sabe exactamente qual é o mistério a desvendar.

Tudo começa quando Jimmy McGrath pede ajuda a um amigo, Anthony Cade, para que ele leve uma encomenda a Inglaterra. Anthony aceita a missão e ao chegar a solo inglês, vê-se completamente rodeado por uma autêntica "teia de assassinatos, chantagem e traição", como diz a sinopse. Vários mortos, cartas incriminatórias e pessoas disfarçadas aos montes.

É óbvio que sendo a autora quem é, eu já estava sempre de pé atrás com os desenvolvimentos e afins que se sucediam. Desconfiava sempre de todas as descobertas e nunca me afeiçoava muito a ninguém. No entanto, e apesar do final ser um mistério dos grandes, confesso que houve pelo menos uma parte da qual desconfiei desde relativamente cedo, parte essa que não vou revelar, como é de esperar.

Só posso dizer mais que gostei muito do livro, um dos melhores que já li desta autora, e que foi útil, como sempre, para desanuviar e descansar as vistas. É algo que não consigo perceber muito bem, mas os livros de Agatha Christie lêem-se sempre num fôlego, aparentemente sem esforço praticamente nenhum! Uma grande, grande escritora, não haja dúvida...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O problema da leitura

Começo a ficar preocupado. Sou um bookaholic confesso, nunca tive problemas com isso, mas começo agora a sofrer os efeitos. Até este ano lia em média, em tempo de aulas, 1 ou 2 horas por dia. Nestas últimas férias, de relaxamento supremo, cheguei a ler 6 e 7. Agora? Se conseguir 20 minutos, dou-me por feliz. O que me deixa preocupado. A este ritmo, o mais provável é começar a ter tremores e suores frios, e a andar mais nervoso, cheio de tiques. E depois entro em choque, ou algo do género.

O ritmo da universidade é intenso, e ainda não é nada comparado com o que aí vem. É sempre a subir. O que vai fazer com que eu precise cada vez mais de ler, pois vou ter cada vez menos tempo. Já aproveito as viagens de metro, cerca de 20 minutos para cada lado, e cada tempinho morto, daqueles que não são curtos o suficiente para passarem tranquilamente, mas que não são longos o suficiente para sacar dos livros e estudar um pouco. Pareço um verdadeiro agarrado. Que é o que eu sou, só que com aquela que é provavelmente a droga mais saudável do mundo: a literatura.

No entanto, e não se assustem com o que vou dizer a seguir, a falta de tempo para ler tem as suas vantagens. Parece estranho, eu sei, mas vamos com calma que eu explico. Para começar, faz com que eu preze muito mais o tempo que passo a ler. Seja um policial da rainha dos policiais, seja um artigo científico, seja um texto sobre lógica matemática ou sobre encontrar deltas e epsilons, sejam as fofoquices estupidificantes duma revista cor de rosa, ou sejam as vá, "notícias", do Correio da Manha, absorvo cada palavra como se fosse a última. Às vezes chego a dar por mim a apreciar mais o acto de ler, o de ver palavras escritas à minha frente, do que o conteúdo em sim (o que não é difícil, nos últimos dois casos). Esta falta de tempo tornou os meus momentos de leitura completamente sacrossantos.

Outra vantagem foi a de me pôr a pensar na leitura. Sim, estou assim tão mal, fico com tantas saudades de ler que me ponho a pensar e a imaginar o acto de ler. Crazy person? Só se ainda não tiverem percebido que ler se tornou um acto tão básico como comer, ou dormir. O que é que fazem quando estão cheiinhos de fome, mas não têm nada para comer? Não imaginam bifes suculentos a deslizar à vossa frente? Ou quando estão a morrer de sono, e não podem dormir, não começam a ver as vossas caminhas à frente, com o ar mais apetecível deste mundo? É o que já me acontece com a leitura.

Pois bem, avancemos. No que é que eu penso, exactamente? Bem, além da simples sensação de sentir um calhamaço nas mãos, dou por mim a pensar: "porque é que há cada vez mais gente a ler, mas cada vez menos gente a ler?". Antes que pensem que estou a dar numa de Pessoa e a ditar paradoxos ao ar só porque sim, sigam a minha linha de raciocínio. É um facto que há cada vez mais pessoas a ler, ou melhor, que pegam em livros e os lêem. O pormenor está aqui. Quando digo que pegam em livros e os lêem, não digo que peguem em livros a sério, ou que mesmo que peguem, que os leiam como deve ser. É a diferença entre o aumento da leitura e a banalização da leitura.

Do meu ponto de vista, acho que este fenómeno da banalização da leitura se intensificou até extremos insuportáveis, a partir da altura em que a saga de vampiros de Meyer teve o seu ponto alto de fama. São livros fáceis de digerir, com um aspecto grande e imponente, mas com pouco "sumo", que mesmo que sejam bem escritos (o que não acho que sejam, mas enfim), e que sirvam para entreter durante uns dias, não passam disso. São meros romances adolescentes extremamente comerciais. E desde essa altura é ver livros como esses a surgirem literalmente aos pontapés. Historietas de caracácá, com montes de páginas e montes de personagens lindas de morrer, cheias de amor para dar e mais sei lá o quê, mas com pouca história, essencialmente repetitivas e basicamente desinteressantes. São as novelas da TVI em formato de livro.

E isto irrita-me. Digam o que disserem, ninguém me convence que é melhor lerem alguma coisa, mesmo que sejam esses livritos (perdoem-me os fãs) ranhosos, do que não lerem nada. Acredito piamente que são altamente estupidificantes, tal como as telenovelas da TVI. E alguns são verdadeiros insultos a livros a sério. E sim, também sei que estou a ser mauzinho, até podem dizer que estou a ser injusto e isso tudo, para além de estar a escrever demasiado, mas não me consigo conter. Eu, um apaixonado pela leitura e pela literatura, que actualmente mal tempo tem para se coçar ou para escrever textos irritados mais longos que o usual, quanto mais para ler, ia ser simpático e ficar feliz por pessoas que não liam nada e agora devoram livrinhos todos feitos do mesmo molde, às dezenas, todas contentes por estarem finalmente imersas no mundo da "literatura"? Sim, estou a ser mauzinho, mas reservo-me esse direito.

Quer dizer, há rapaziada mais nova, até da minha idade ou mais velhas, que nem sequer sabem quem é o Júlio Verne. Ou o Edgar Allan Poe. Lovecraft. Mark Twain. Que nunca leram uma história do Sherlock Holmes, ou que acham que o Poirot é francês. Que adoram O Senhor dos Anéis, mas não fazem a mínima ideia de quem seja Tolkien. Que nunca pegaram em Oscar Wilde. Que dizem que Saramago era aquele chato armado em revolucionário que não sabia escrever QUE DIZEM QUE MEYER É A MELHOR ESCRITORA DO MUNDO. Que acabam de ler Os Maias e só sabem dizer "é engraçado, mas aborrecido, tem umas descrições muito grandes". Que odeiam Os Lusíadas sem sequer fazerem a mínima ideia de como é o livro, e daquilo que narra.

E depois não querem que eu me irrite. Irrito-me, aborreço-me e enervo-me. E muito. É preciso salvar a leitura deste autêntico abandalhamento, é preciso mostrar por a mais b que qualquer linha escrita por Oscar Wilde tem provavelmente mais amor e sentimento que os fast-books que andam a ler, e que os contos de Poe e de Lovecraft têm mais conteúdo que grande parte destas pseudo-sagas que aparecem em todos os cantos... Nós, leitores, temos que mostrar a toda a gente que precisam de começar a ler e não apenas a ler. Não podemos, ou melhor, ninguém pode ser assim tão simpático e tolerante. Enquanto leitores e enquanto pessoas, temos que ser realistas, e ver que isto está a descambar. Que Meyers e companhia não são literatura, e a não aceitar que alguém argumente que estamos errados. Uma coisa é ser tolerante para com as crenças e ideias dos outros, outra coisa é ser estúpido e ceder à lógica da batata e a argumentos furados.

Façam-me companhia, chateiem-se nem que seja um bocadinho com esta situação e perdoem-me o longo, longo discurso. Boas leituras meus amigos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

História Política do Diabo

Título: História Política do Diabo
Autor: Daniel Defoe
Tradutor: Maria João Medeiros

Sinopse: Originalmente publicado em 1726, e agora pela primeira vez traduzido para Portugal, a História Política do Diabo, de Daniel Defoe, é um texto que combina a visão bíblica e o senso comum, oferecendo uma panorâmica abrangente do papel do Diabo na sociedade ao longo dos tempos.
No seu estilo vigoroso e exótico, o feroz crítico de Milton e do seu Paraíso Perdido apresenta o Diabo como um Robinson Crusoe na sua ilha deserta, condenado ao destino de se ver rodeado de hipocrisia e cupidez por todos os lados humanos.
Satã - como anjo caído ou cavalheiro de levantada condição - revela-se-nos nas duas partes bastante diferentes que compõem o livro e que fascinam pela sua irreverência mordaz, cuidado histórico e... actualidade.

Opinião: Peço desculpa por não andar a escrever nada. Mas como já vim aqui dizer, acabei de entrar na Universidade, e o ritmo alucinante não me deixa muito tempo livre e, como tal, tenho que abdicar de algumas coisas, nomeadamente de tempo para vir aqui escrever. Por outro lado, isto é mais por serem as primeiras semanas, ainda me estou a habituar, e a organizar e tal... Tenho a certeza que quando a rotina se enraizar definitivamente, vou ter mais tempo para o blog.

Passando às leituras, a deste livro arrastou-se mais do que seria de esperar por causa de uma infeliz conjugação de situações: os motivos de que falei em cima e o facto de ser um livro do século XVIII e que, portanto, e apesar de a tradução estar excelente e ter tentado conciliar a escrita com os 3 séculos que entretanto já passaram, não deixa de ser típica daquela época, muito formal e trabalhada, espectacular, como é óbvio, mas que leva a um ritmo mais lento de leitura.

Ora, isto tudo fez ainda com que a minha atenção ao livro não fosse a que ele merecia, com muita pena minha, porque é um livro mordaz e crítico, escrito de forma bastante inteligente e argumentativa, que é uma das minhas formas de escrita favoritas. Ou seja, não posso dizer com grandes certezas que é um livro tremendamente espectacular ou que é um livro mediano, nem nada do género. Mas posso afirmar, sem grandes dificuldades, que é um bom livro, escrito por um grande escritor, o mesmo Daniel Defoe de Robinson Crusoe, com uma estrutura paralela à da Bíblia: uma primeira parte com a história do Diabo até ao nascimento de Jesus, e uma segunda parte com a história após o nascimento de Jesus. Digo ainda que a ironia e a crítica velada, ainda que disfarçada, espreitam a cada linha, o que permite ao autor falar de assuntos sérios de forma aparentemente algo leve.

É óbvio que sendo um livro escrito no século XVIII não podemos esperar outra coisa que não seja a crença em Deus como um dado adquirido, e a noção pré-concebida de que os cultos dos índios sul-americanos, por exemplo, são cultos de adoração ao Diabo. É normal que haja este tipo de preconceito religioso, e também em relação ao papel da mulher, sempre vista como inferior ao homem. Mas não é nada que não se ultrapasse, pois Defoe é o mais objectivo possível, dentro das suas limitações religiosas, como é normal.

É interessante, e não sei se me deva arriscar a aconselhar, mas acho que sim, que vale a pena ler, especialmente para os mais interessados em questões de teologia. E não se preocupem, que o autor não é excessivamente faccioso... Eu pelo menos gostava de voltar a pegar no livro, com mais atenção.

domingo, 9 de outubro de 2011

Sim, eu estou na UNIVERSIDADE !


Ainda não tinha vindo aqui dizer que sou a rapariga mais feliz do mundo, é assim que eu me sinto e ninguém me convence do contrário! A verdade é que passei quase toda a minha vida, ainda que curta, a desejar entrar na universidade. Lembro-me de ser bastante pequenina, andar para aí no meu quinto ano, e sonhar com o traje académico, de ficar com um brilho nos olhos sempre que sabia que alguém estava na universidade ou que um primo se tinha formado. Este desejo de um dia vir a ser universitária acompanhou-me desde cedo, sempre gostei muito da escola, dos livros, do cheiro a novo no início de um novo ano lectivo, de ir aos pulinhos comprar os materiais escolares e comprar o estojozinho da cor do dossier, e decidir quais as cores das canetas que iriam colorir os sumários no primeiro período, e no segundo e no terceiro...

Os três últimos anos do secundário foram uma corrida longa e intensa, com todas as dificuldades a que uma prova física tem direito e também com vitórias pelo meio. Depois veio aquele horrível e duradouro mês (e picos) de espera dos resultados do acesso ao ensino superior, mês esse que se transformou numa autêntica montanha-russa de emoções. Se num momento quase explodia de ansiedade e de medo, no outro sentia-me em plena paz comigo mesma de que fiz tudo o que esteve ao meu alcance e fosse qual fosse o resultado não estaria mais dependente de mim. O dia chegou, e naquele e-mail vinha a melhor notícia que poderia receber: eu, Marina Sequeira, entrei na faculdade, entrei naquilo que sonhava ser: Engenheira do Ambiente, depois de querer ter sido tanta coisa como médica, jornalista, advogada, pintora, hospedeira e até astronauta. Entrei no curso dos meus sonhos, o meu curso, na universidade que queria. A batalha está ganha e a vitória não me poderia saber melhor. Agora? Agora é viver o meu primeiro grande triunfo e acreditar que ser estudante universitária já não é um sonho é a (minha) realidade.