domingo, 26 de dezembro de 2010

Constantino, guardador de vacas e de sonhos



Uma leitura leve e animada, foi o que me trouxe Alves Redol. Não há muito que opinar acerca desta obra, sublinho que este clássico da literatura infantil (ou não) portuguesa me deixou com um sorriso na cara ao virar de cada página.


Constantino é um menino de doze anos, pequeno e franzino. A mãe e a avó acham-no bastante esperto, mas escola é que não é lá com ele - a pesca e a caça de pássaros preenchem mais os seus interesses. Enquanto guarda vacas, Constantino voa com a imaginação, sonhando tornar-se serralheiro de navios e construir um barco que o leve até Lisboa. De facto, vai começar já amanhã.


Um livro sobre as coisas simples da vida. A obra perfeita para ler numa tarde de primavera ao pé do campo. Curiosamente, a inocência de Constantino lembrou-me bastante Alice no País das Maravilhas.


My revolutions


Por vezes quando vivemos um dilema, um livro ajuda-nos a resolvê-lo. A mim isso acontece-me frequentemente. Histórias que apanho ao acaso revelam-se verdadeiros conselheiros e clarificadores de ideias. My revolutions de Hari Kunzru é disso caso.

A história foca-se na vida de Michael Frame, cuja mulher está a organizar uma festa para celebrar os 50 anos do marido. No entanto Michael não vai completar 50 anos e o seu verdadeiro nome é Chris Carver, um ex-revolucionário envolvido em atentados ditos terroristas e uma das figuras mais procuradas pela polícia no Reino Unido desde os anos 60.


Vivendo uma vida dupla de modo a esconder a sua verdadeira identidade, Chris vê a sua paz violada pelas recordações da mulher que realmente amou na sua vida: Anna Addison, que morreu de forma trágica em meados dos anos 60.


O henredo está formulado na perfeição, fazendo-nos balançar no tempo entre o presente e o passado de Chris, num romance histórico da era contemporânea. A história tocou-me de tal modo, que serviu de inspiração para um dos meus projectos na escola.


Espero que o romance esteja disponivel em português o mais brevemente possível, à semelhança de outras obras do autor bastante aplaudidadas em terras lusas como O Impressionista.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Boas festas!


E como não podia deixar de ser, chegam o Natal e o Ano Novo, e desaparecem os bloggers. Bem, pelo menos os deste blog em particular...

Divirtam-se, leiam muito e essas coisas todas.

Em nome do Que a Estante nos Caia em Cima, fica um desejo de boas festas e... até para o ano!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Esclarecimentos

Não sou o tipo de pessoa que goste de se justificar a pessoas que não têm a decência de pelo menos dar um nome, mesmo que seja um qualquer nickname completamente impronunciável. Acho que o mínimo, quando se critica, seja bem ou mal, é "dar a cara". Falo por experiência própria, eu que sou alguém que adora criticar, nunca me escondo atrás seja do que for. Com a Arisu passa-se a mesma coisa.

Como tal, acho que merecemos, pelo menos, o mesmo nível de respeito. Há comentários e observações descabidas e impróprias, sejam anónimas ou não, mas sendo anónimas não passam de bitaites implicativos, do género dos que eu mandava, quando estava na primária.

Ficam, por isso, a partir de hoje e por tempo indefinido, interditos todos os comentários anónimos. Para prevenir as brincadeiras, fica também o aviso que todos os comentários cujos autores assinem como "Anónimo" serão imediatamente apagados, sem qualquer tipo de aviso prévio nem explicação.

Relativamente ao concurso de escrita, já foram pedidas desculpas. Nós compreendemos, e já vos demos razão, procedemos mal. Foi a primeira iniciativa do género que tivemos aqui no blog, e talvez não soubéssemos bem onde é que nos estávamos a meter. Devíamos ter regras mais limitadoras quanto a certos aspectos, e devíamos ter programado as coisas para que os 3 membros do júri conseguissem dar conta do trabalho no tempo requerido. Tal não aconteceu por, volto a repetir, erro nosso.

Mas a decisão foi tomada, foi divulgada, e ficamos por aí. A decisão NÃO será mudada, a divulgação da mesma NÃO será impedida (a não ser, é claro, que os nossos parceiros não concordem, mas isso já são outras questões que ultrapassam a equipa deste blog). Sim, aceitamos críticas, mas críticas com pés e cabeça, minimamente educadas, mantendo o respeito para connosco, que escrevemos, para o vencedor do concurso, para os outros participantes, e para todos os intervenientes da conversa.

Espero ter deixado tudo suficientemente bem esclarecido e que, a partir de agora, se mantenha minimamente o nível de respeito e boa-educação.

Um muito obrigado pela atenção, boas conversas e boas leituras.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Seita dos Números - O teorema de Pitágoras

Deixem-me já dizer que um dos grandes mistérios para mim, antes de começar a ler o livro, foi o conjunto título/subtítulo deste livro. O que raio é que "O teorema de Pitágoras" tinha a ver com "A Seita dos Números"?

Pois bem, só vos tenho a dizer que tem. E muito. Afinal, a escola pitagórica, fundada por, adivinhem, Pitágoras, era não só uma escola, mas uma autêntica seita religiosa que tinha os números como divindades.

Como já devem ter percebido, também este livro tem uma forte componente de contextualização histórica, tal como os outros da mesma colecção, mostrando como os livros sobre matemática não têm obrigatoriamente que ser coisas horríveis cheias de fórmulas incompreensíveis.

É claro que também as tem. Lá mais para o fim do livro aparecem coisas mais chatinhas, mas nada de muito extraordinário...

E bem, fala muito do antes e do depois da fórmula, como é que se fazia antes dela, quando é que apareceu exactamente, e o que é que depois se desenvolveu com ela. É interessante ver a quantidade de campos que a matemática abrange e, neste caso, a quantidade de campos que uma simples fórmula consegue afectar. Da matemática pura à arquitectura, assim como a arte e aplicações mais quotidianas, e até mesmo, vejam só, os formatos das folhas de papel!

Eu pessoalmente, cada vez mais me fascino com todo este mundo matemático, e me pergunto como é que é possível haver pessoas que se desligam da matemática, ou que a odeiam e não a querem ver à frente. A sério. É impossível!

A escrita, como a dos outros livros, é simples, sem grandes artifícios literários, clara, e deixa transparecer a verdadeira paixão que o autor tem à matemática, e a este teorema em particular. Aconselho, portanto, este livro, na esperança que mais pessoas se deixem contagiar.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Vencedor do Concurso de Escrita!

Finalmente, depois de uns três meses de bastante stress e falta de tempo para as coisas que realmente importam - como a leitura dos contos na sua íntegra e consequente atraso desta mesma situação - eu Arisu, peço as maiores desculpas aos nossos leitores e principalmente aos participantes e agradeço a paciência que têm tido.

Não me querendo alargar mais (até porque já me alarguei bastante ao longo deste mês de Dezembro), tenho o maior prazer de anunciar que o vencedor do Concurso de Escrita do Que a Estante nos Caia em Cima foi O Carrossel de João Rogaciano.


  • Todos os contos foram avaliados numa escala de 0-20 por cada membro do júri (constituído por mim, pelo Rui e pela M. que tão amavelmente cedeu a sua opinião), e o conto com a pontuação mais alta foi nomeado vencedor.
  • Como critérios de avaliação tivemos em conta principalmente a criatividade da história, a ortografia e o respeito pelo número de palavras.
  • O conto de João Rogaciano será publicado n'O Que a Estante nos Caia em Cima bem como em vários outros blogs literários influentes. Desde já, os nossos agradecimentos.

Posto isto, muitos parabéns ao vencedor, gostámos bastante da experiência e esperamos voltar a repetir. Devo acrescentar ainda que na sua maioria os contos eram muito bons e temos pena, inclusivamente de não os podermos publicar também.

Ghost Rider - Corrida Infernal

Ora cá está algo que eu não leio assim muita vez: banda-desenhada. Não é que não goste, porque gosto, mas sim porque é mais difícil arranjar BD de qualidade.

Por sorte, de vez em quando lá desencanto umas coisas, como este, caridosamente emprestado pelo jaimacan scary guy. Só tenho a agradecer, uma vez que apesar do argumento ser meramente mediano, e dos diálogos (provavelmente graças à tradução) serem maus, a parte gráfica é fabulosa.

A história é obra de Garth Ennis, mas aquilo que realmente me agradou é obra de Clayton Crain, jovem artista que já desenhou várias mini-séries, fez várias capas para a Marvel, e que tem vários outros projectos em curso. Se duvidam da qualidade, olhem para a capa. Não é nada de extraordinariamente original, mas está MUITO bem feita.

É claro que a personagem teve um grande peso na minha avaliação deste livro. Tal como muitos outros super-heróis (sejam da Marvel, da DC, ou lá o que seja), Ghost Rider é uma daquelas personagens que me fascinam, pura e simplesmente por alguém as ter criado. Neste caso, fico feliz só com a capa.

Quer dizer, o ponto forte da maior parte da BD é o aspecto, as imagens, e há poucas personagens tão visualmente espectaculares como Ghost Rider. Tem uma caveira em chamas, e tem uma moto em chamas. É imune ao fogo, chegando mesmo a expeli-lo, assim como correntes, pela boca. O que é que se poder pedir mais?

Fica a vontade renascida de procurar mais livros de banda-desenhada.

As Investigações de Poirot

Pela milésima vez, lá voltei a repousar a mente num livro da rainha do suspense, desta vez um livro de contos, todos eles com Poirot como personagem principal, como não podia deixar de ser.

Também presente, temos Hastings, o narrador e o fiel companheiro de Poirot, que começo a reparar ser um Watson (companheiro do Sherlock Holmes) mas muito mais revoltado e muito menos sagaz. Talvez, em parte, por causa do gozo tremendo que o pequeno detective belga tem quando faz pouco dele.

Voltei a ter a sensação, nalguns dos contos, que Poirot sabe tudo desde o início, e vai revelando as informações aos poucos. Os seus métodos são absolutamente geniais, o que muitas vezes irrita o pobre Hastings, que quando pensa que o seu amigo vai falhar, revelando que não é assim tão inteligente, vê Poirot a dar a volta a situação das maneiras mais inimagináveis possíveis, provando que é assim tão inteligente.

A escrita sempre fluida de Agatha Christie permite que a leitura seja rápida, sem grandes demoras, ao mesmo tempo que se apanham todos os pormenores. A inteligência desta escritora devia ser qualquer de espectacular. Conseguir escrever histórias que muitas vezes têm enredos com montes de reviravoltas, que precisam de ser planeadas ao pormenor mesmo antes de se começar a escrever, com esta clareza e este ar natural e fluido... É obra.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Novas Crónicas da Boca do Inferno

O livro não passa de um conjunto de crónicas do Ricardo Araújo Pereira, nenhuma delas inédita (acho eu), retiradas da revista Visão. Não têm propriamente um fio condutor, a não ser a crítica, o que me fez, muitas vezes, andar a saltar de assunto em assunto, sem qualquer tipo de lógica. Ah, e acho que o livro só beneficiava se tivesse as datas de cada crónica.

Agora, será que me importei com isto? Muito pouco. Todas as crónicas são excepcionais, e alguma delas são mesmo absolutamente geniais!

O livro tem crónicas a malhar no primeiro-ministro e no governo em geral, crónicas a malhar na oposição, crónicas a malhar na gripe A, crónicas a malhar em quem malha... O que interessa mesmo, como já se deve ter percebido, é que são a malhar.

São poucos os que não conhecem este indivíduo de quase dois metros (e já está na altura de voltarem do fim-do-mundo), e quem o conhece, se ler este livro, não vai ter dúvidas que são textos dele. Se não me dissessem o autor, eu adivinhava, sem dificuldade. E aposto que praticamente qualquer pessoa faria o mesmo.

Ricardo Araújo Pereira domina completamente a língua portuguesa, como qualquer humorista que se preze (e provavelmente melhor que a maior parte), o que lhe permite entrar em toda uma série de brincadeiras e trocadilhos capazes de fazer sorrir qualquer um.

Mas o mais importante destas crónicas nem é o humor em si. É a capacidade que o autor tem para criticar. Eu gostava de conseguir fazê-lo como ele. Sem cair no ridículo, ou no insulto e muito menos em lugares-comuns, consegue dizer mal de tudo, com uma ironia tão requintada que chega a ser maléfica.

Fez-me lembrar Eça Queirós, se querem saber. Eu sei, é rebuscado, mas tem lá tudo: a acertada crítica social, a ironia, o gosto pelos diminutivos... E além disso, ainda demonstra uma das qualidades mais importantes de um bom humorista, o auto-gozo. São várias as crónicas em que goza consigo mesmo, de forma mais ou menos indirecta.

Destaco ainda a edição. É o primeiro livro que compro desta editora, a Tinta da China, e devo dizer que estou agradado. Acho que todas as capas de todos os livros deviam ter esta textura! E, é claro, as ilustrações de João Fazenda "encaixam" perfeitamente.

Falta dizer o que quanto me ri: MUITO!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Casino Royale

Primeira coisa que me vem à cabeça: ligeiro desapontamento. Digamos que cheguei à conclusão que gosto mais de ver os filmes (caso raro!). No entanto, dou o benefício da dúvida ao autor. É que eu gostei do livro... Só "estranhei" um bocado.

Toda a gente conhece o James Bond, o famoso 007. Acho que é praticamente impossível arranjar uma pessoa que nunca tenha visto um filme do 007. E ler o livro... Bem, é diferente. Repito, eu gostei do livro. Adorei mesmo algumas partes e alguns pormenores.

Mas e convencer-me que é o filme que não está fiel ao livro, e não o contrário? UI! Ora aí está algo complicado. Durante muito tempo achei que os filmes do 007 eram apenas isso, filmes. Não fazia a mínima ideia que eram baseados em livros, coisa que descobri há cerca de 2 ou 3 anos. E agora que li um deles tenho uma ideia muito diferente desta personagem.

James Bond não é apenas um engatatão com muita ginástica e sangue-frio, alguma sorte e uma coisinha por gadgets. Também tem um bocado de tudo isso, como é óbvio, mas no livro vê-se que ele é, acima de tudo, uma autêntica máquina. Nunca duvidei que fosse um homem inteligente, mas também nunca suspeitei que fosse assim tão inteligente, e que tivesse uma tão forte capacidade mental. Bond é um homem dotado com uma lógica natural e um raciocínio matemático impressionantes.

Como personagem, surpreendeu-me, pela positiva, e vou ver os filmes com os outros olhos, sem dúvida. Já Vesper, a bond girl deste livro/filme não me agradou assim tanto. Gostei muito mais de a ver no filme. Aqui pareceu-me demasiado sensaborona. Como se costuma dizer, uma personagem demasiado bidimensional. Até Mathis, uma personagem muito "mais secundária" que Vesper, me pareceu ter mais profundidade, mais cuidado na caracterização.

Quanto à história, nada a apontar. Tem menos acção que o filme, e até dói ver as partes em que diverge da sua adaptação cinematográfica... Mas tirando isso, nada de especial. A parte da tortura... Bem, arrepiante. Já li pior, mas não estava à espera de algo assim. Até estava, afinal, já vi o filme, mas não esperava descrições tão arrepiantes.

O livro é pequeno, tem capítulos curtos, e lê-se num instante, com alguns momentos verdadeiramente emocionantes. Só não é bem a mesma coisa que o filme, mas acho que vou deixar a conclusão definitiva sobre qual é melhor para depois de ler mais alguns.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Os Números Primos - Um longo caminho para o infinito

Alguns podem pensar que é tortura, ter que levar com matemática, química e física (todas envolvem muitas contas e muitos números), e ainda ler sobre matemática, mas para mim é algo natural. Eu que não gostava nada de matemática, tive que aceitar que ela faz parte da minha vida como estudante, e que há-de fazer para o resto da minha vida, estando eu na área em que estou, e tendo as ambições que tenho. Comecei a prestar-lhe mais atenção, a gostar, e descobri-lhe a beleza.

"Beleza?!", exclamaram, de certeza alguns de vocês. Mas acreditem em mim, se há ciência que consegue ser elegante, bela, prática e espectacular, é a matemática.

Os livros desta colecção, "O Mundo é Matemático", são a prova disso mesmo. Neste "Os Números Primos", o autor (que é provavelmente o que melhor escreve, dos autores desta colecção) fala sobre os números primos, uma autêntica pedra no sapato para os matemáticos por todo o mundo. É preciso executar cálculos para meter um satélite em órbita? Tudo bem. É preciso resolver equações que ocupam uma página A4? Também se arranja. É preciso arranjar uma fórmula que nos permite calcular todos os números primos? Se alguém conseguir, é só dizer, pois já lá vão 3000 anos que os matemáticos e estudiosos andam a tentar.

É claro que isto pode não parecer nada de especial... Afinal, qual é que é a verdadeira importância dos números primos? Bem, para vos dar uma ideia, podem pesquisar sobre matemáticos famosos. Estou capaz de apostar que na biografia de 90% deles aparece uma referência aos números primos. Gauss, Euler, Euclides, Rienman, os irmãos Bernoulli, Eratóstenes, Mersenne, Fermat, Goldbach, Napier e o espantoso Ramanujan, só para mencionar alguns.

Os números primos são de extrema importância. São usados na codificação de mensagens, foi através dos estudos sobre eles que se descobriram importantes propriedades dos números, e que se desenvolveram numerosas ferramentas de cálculo, e ainda ajudaram (e ajudam) a desenvolver computadores cada vez mais potentes.

O autor, Enrique Garcián, fala sobre todos estes assuntos com uma clareza surpreendente, dando uma grande importância à contextualização histórico-social, muito mais relevante do que nos livros precedentes.

Tal como os outros livros desta colecção, aconselho a toda a gente, goste ou não goste de matemática.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Eu sou a Lenda

Ora cá está um autor que sempre me despertou muita curiosidade, embora só lhe conhecesse o livro "Eu sou a Lenda", que era o que eu pensava que vinha neste livro da revista Visão. Mas aquilo que realmente cá vem, é o seguinte: esse livro "Eu sou a Lenda", e mais 3 contos, "Nascido de Homem e Mulher", "Presa" e "Perto da Morte".

Foi, no entanto, sem saber muito bem o que esperar que comecei a ler este livro. Em parte porque já tinha visto partes do filme, e não me tinha agradado por aí além. Tinha ficado com a ideia que era mais um filme de zombies/vampiros, baseado num banal livro de zombies/vampiros. Mas tenho sempre uma enorme desconfiança em relação às adaptações cinematográficas de livros, queria ler o livro, para tirar as dúvidas.

E só tenho a dizer que eu tinha razão em estar desconfiado. Depois de ler o livro, fico agora com medo de ver o filme todo. Primeira coisa: estão a ver o protagonista do filme, o Will Smith? Um afro-americano careca, de caçadeira na mão, sempre na companhia de um cão? Adivinhem lá como é que é o protagonista, no livro... Pois é, loiro, de olhos azuis, sem cão, e que raramente anda com armas nas mãos.

Enfim. Falemos do livro. A história é aquele tipo de história que eu gostava de conseguir dominar com esta mestria. Uma história inteira com apenas um punhado de personagens (1 central, e meia-dúzia que aparem em flashbacks, sonhos, ou já no final do livro), mas uma história que mesmo assim tem pouco momentos realmente monótonos.

É sobre o último homem na Terra, num mundo que foi assolado por uma estranha praga, que transforma as pessoas em vampiros, mas à qual Robert Neville parece ser imune. A escrita directa do autor favorece uma história que raramente aborrece (há alguns momentos mais mortos, mas nada de insuperável), sobre a vida deste homem, que se vê sozinho e rodeado por vampiros, o que o obriga a barricar-se em casa, durante a noite, e a sair à rua durante o dia, num verdadeiro contra-relógio, para chegar a casa antes que anoiteça.

A melhor parte? O final. Ainda que quando se comece a aproximar, tenha um travo ligeiramente sensaborão, a cena final é perfeita. Se eu pudesse ter escolhido o final de antemão, teria sido algo deste género. Adorei mesmo.

Destaque ainda para os 3 contos finais. O primeiro "Nascido de Homem e Mulher", foi aparentemente o primeiro que o autor publicou, e apresenta, numa escrita infantil, um relato na primeira pessoa daquilo que ao começo parece ser uma criança como outra qualquer, mas que com o desenrolar da curta história se revela algo mais.

O segundo, "Presa", é uma história absolutamente deliciosa, ao estilo dos filmes "Chucky" (até me pôs a pensar se não terá havido inspirações aqui pelo meio... seja do filme para o livro, ou do livro para o filme), sobre um boneco assassino. Muito bem escrito.

O terceiro e último, "Perto da Morte", ocupa apenas 2 páginas e um bocadinho de uma terceira, mas foi, sem dúvida, o meu favorito. Completamente banal o tempo todo, até que chega à última linha. Brutal!

Não se preocupem com o filme, que não me parece que tenha muito a ver, daquilo que vi, só mesmo o essencial, "último homem na Terra, rodeado de vampiros/zombies". Resumindo, está aconselhado.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Este País Não é Para Velhos

Já tinha ouvido falar muito (bem) do filme com origem neste livro, e tinha um outro livro do autor na estante dos livros a ler. A oportunidade que surgiu para comprar este livro era demasiado boa para não ser aproveitada, ainda que tenha uma capa horrível (não é tão má quanto isso, mas não acho piada a capas baseados nos filmes) e a qualidade não seja a melhor (mesmo assim é surpreendentemente boa).

A verdade é que no toca a ler, a qualidade, embora seja importante, passa para segundo plano. E quando me embrenhei neste livro, acho que até o podia estar a ler de um monte de folhas de jornal mal coladas umas às outras.

A história é, no mínimo, intensa. Tal como o livro no seu todo. E acho que vai ser difícil encontrar uma personagem que consiga superar Anton Chigurh em termos de intensidade.

É claro que tudo isto se deve à escrita de McCarthy, que, confesso, custa a habituar. O homem tem qualquer coisa contra travessões e vírgulas e frases mais curtas e uma sintaxe mais variada e menos repetições e uma construção frásica mais complexa e que se baseie menos em usar "e" atrás de "e". Mas a repetição constante dos "e", os diálogos que aparecem de repente, e a estrutura por vezes repetitiva até que dão uma certa fluidez à escrita. Falo por mim, que deslizei pelas páginas com uma facilidade tremenda.

O enredo não é complexo, como em 80% dos grandes livros. Um negócio de droga que corre mal, um caçador, Llewlyn Moss, com muita sorte económica, mas muito azar quanto às pessoas que chateia, já que acaba por ter um cartel de droga, a polícia, e um autêntico psicopata implacável, assustadoramente frio e eficaz, com uma mente prodigiosa e uma filosofia de vida extremamente simples, de tão brutal. Estou a falar de Anton Chigurh, claro.

Chigurh é uma personagem que não abre muitas vezes a boca, mas que quando o faz debita autênticos pedaços de uma sabedoria implacável, dotada de uma lógica fria e completamente desligada da realidade, da humanidade. Nunca vi uma personagem tão completamente vazia de humanidade, mas ao mesmo tempo com uma visão tão certeira (e dura) da humanidade. Absolutamente genial.

Os diálogos, todos eles, são autênticas obras-primas. Não emanam aquele sentimento a falso, a arranjado, a perfeitinho, que emanam muitos dos diálogos de outras obras. Os diálogos são assim, na vida real. Incompletos, por vezes sem sentido, com pausas, hesitações, repetições, pouco elaborados... São assim, directos e simples. Quer dizer, alguns dos diálogos no livro não são assim tão directos, e poucos são assim tão simples, mas são provavelmente a melhor aproximação de diálogos reais que já encontrei.

Só algumas partes é que se tornaram algo confusas, quer devido aos saltos narrativos, quer devido às características da escrita do autor. A ausência de travessões fez-se sentir, e de que maneira... Acabei por me habituar, mas há algumas passagens verdadeiramente complicadas de perceber, por causa disso. Mas nada que não seja insuperável.

Um livro genial, ou talvez seja um autor genial, ou talvez ambos. Só sei que adorei o livro, e que este entra directamente para o meu top 10 deste ano, sem a mínima hesitação.