quarta-feira, 31 de março de 2010

Cheira bem, cheira a livraria



Todos os bons leitores se regozijam ao entrar numa livraria.
Antes de entrar deparamos com o vislumbre da montra: «Todos os dias se lançam livros novos» pensamos. E sentimos uma pontada de excitação para os ficarmos a conhecer um pouquinho melhor. Entramos, e a primeira coisa que nos faz tremer os sentidos é o olfacto. Oh sim. Aquele cheiro familiar a papel que em qualquer parte associamos a uma livraria. Olhamos à nossa volta, e quer estejam muitas ou poucas pessoas presentes, ficamos sempre sozinhos com os milhares de mundos por descobrir à nossa volta. Salta-nos ao olhar um autor já nosso conhecido; um título interessante; uma capa convidativa.
Peço a quem esteja a ler este post que feche os olhos por um momento, e reviva esta sensação de transe, em que o quase que para tempo para.
Finalmente elegemos um entre muitos, que durante algum tempo nos fará companhia e mostrará algo que não vimos ainda. Saímos, e quando nos deparamos com o quotidiano cá fora e olhamos para o relógio, podem ter passado cinco horas ou cinco minutos, mas parecer-nos-ia igual.

O Tesouro


O Tesouro: Prémio Nobel da Literatura
Selma Lagerlöf: Primeira mulher a ser galardoada com o prémio Nobel da Literatura

Quase um conto devido à sua pequenez, esta obra de Selma Lagerlöf, deixa-nos com um ligeiro sabor a intenso na boca. É impressionante como a autora explora o inconsciente humano quanto ao bem e o mal, o divino e o sentido da vida com laivos de sobrenatural em apenas 94 páginas. A história ficou-me deveras marcada, e aconselho vivamente à sua leitura numa tarde chuvosa de Primavera.

Na pequena vila de Marstrand, os habitantes perguntam-se o que se passa com o tempo: é quase Primavera e o gelo ainda permanece intacto. Três homens aguardam impacientemente que o gelo derreta para que o seu barco desencalhe e possam então partir para a Dinamarca com o seu misterioso baú. Nessa mesma aldeia, uma bela jovem de nome Elsallil vê-se obrigada a amanhar peixe nas docas como forma de sobrevivência depois de a sua família ter sido brutalmente assassinada por três homens incógnitos. É então que Elsallil conhece o misterioso e atraente Sir Archie, e uma paixão mútua nasce entre ambos.
No entanto, quando a rapariga descobre que Sir Archie e os seus companheiros foram os responsáveis pela morte da sua tão querida família, surge o dilema que decidirá a sua felicidade: viver em paz com o homem que ama ou vingar a sua família.

sábado, 27 de março de 2010

Porquê ler?

Quando eu digo que gosto de ler, a pessoas que não gostam, a primeira pergunta que lhes vem à mente é "porquê ler?", e ficam à espera que eu, um leitor quase compulsivo, lhes dê uma resposta objectiva e satisfatória, e que lhes explique, detalhadamente, porque é que devem ler.

Ora bem, eu não consigo responder a isso. Na minha opinião, nem eu nem ninguém. Ler é uma coisa muito pessoal, e cada pessoa tem motivos diferentes. Há quem leia porque quer aprender coisas novas, há quem leia para fugir à realidade, há quem leia pelo puro prazer de ler, entre muitas outras razões. E ainda por cima, muitas vezes as pessoas não sabem dizer exactamente porque é que gostam de ler. Apenas gostam.

Como tal, é muito complicado conseguir explicar isto. Torna-se tão pessoal que o melhor que uma pessoa pode fazer é explicar, mais ou menos, porque é que gosta de ler, e as razões que dá podem não ser suficientes para outra pessoa começar a ler. Convenhamos, ninguém gosta de ler por obrigação, por isso se alguém não lê, não é por algum gato-pingado, que lê 3 ou 4 livros por mês (ou mais), se chegar ao pé desse alguém, e lhe dizer que deve ler, que esse alguém lê. Não funciona assim.

Cada pessoa tem o seu próprio motivo, e cada pessoa deve descobrir o seu. Pode até nem ter nenhum. Sejamos realistas, há pessoas que não foram feitas para ler, nem nunca lerão nada na vida, e não vão ser menos felizes por isso. Sem querer ofender ninguém, claro, mas nem toda a gente pode gostar de ler. Ou porque não tem paciência, ou porque não tem tempo, ou porque tem coisas mais interessantes para fazer.

Eu também não gosto de patinagem artística, e nunca na vida faria tal coisa, mas no entanto, há pessoas que dedicam as suas vidas a isso. Ler é a mesma coisa. Eu pessoalmente não sobrevivo se não estiver a ler qualquer coisa, mas há pessoas que olham para os livros e apenas vêem material para fogueira. Não tenho nada contra isso.

Como já se deve ter percebido, não acho que toda a gente deva ler, até porque há gente que não consegue, que simplesmente não tem perfil para isso. Mas acho que todos deviam pelo menos tentar. Um mísero livrito. Pode ser que não se goste mesmo, e nunca mais se pegue noutro, ou pode ser que se descubra uma grande paixão.

E claro, sou completamente contra as leituras obrigatórias. Eu próprio, que gosto de ler, fico logo de pé atrás, ante um livro que me obrigaram a ler. Imagino para aqueles que não gostam de ler, deve desmotivá-los ainda mais. Sim, que isto dos professores nos tentarem motivar para a leitura raramente corre bem. Sei isto por experiência própria. O que muitos fazem (e o próprio programa está assim feito), é pôr-nos a ler grandes clássicos e obras portuguesas, e não podia haver uma abordagem mais errada. Esses livros são por vezes de leitura difícil, já para não falar do tamanho (lembro-me das 716 páginas d'Os Maias, assim de repente), o que, como devem imaginar, não motiva lá muito à leitura.

Espero que isto mude, num futuro próximo. Nem toda a gente gosta de ler, mas de certeza que andamos a perder muitos leitores por causa de uma campanha completamente errada.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Uma promessa

Que não é minha. Vejam:


"Não posso terminar este post sem referir algo que veio à baila ontem, numa troca de ideias via Twitter com a White Lady: faltam mais textos de opinião nos blogs literários portugueses. Não me refiro às opiniões literárias, mas a textos que acrescentem conteúdo a este vasto mundo dos livros, que reflictam quem os escreve, que dêem gosto ler. Há tanta coisa que se pode fazer! A crítica que faço também se aplica a este blog e, por isso mesmo, vai daqui a minha promessa para tentar melhorá-lo nesse sentido ;)"


Foi a Célia (ou canochinha), que escreveu isto, no seguinte post: Blogs literários.


Como vêem, a promessa não é minha, mas acho que é realmente uma boa ideia, para dinamizar o blog e tudo, e como tal, vou tentar escrever qualquer coisa de vez em quando.

domingo, 21 de março de 2010

Utopia

Um livro pequeno, onde o autor retrata uma hipotética sociedade perfeita, Utopia. Foi, aliás, a partir da publicação deste livro que o termo utopia passou a designar algo perfeito e inantigível, graças à nação aqui descrita.

E, curioso, é um navegador português que relata a história! Rafael Hitlodeu, de seu nome. Mais curioso ainda é que vem uma notinha no final do livro, a dizer que Hitlodeu vem do grego huthlos, que significa patranha. Não sei se me hei-de sentir lisonjeado, enquanto português, por uma personagem portuguesa aparecer num livro inglês, ainda por cima desta importância, ou se me hei-de sentir insultado por ser um marinheiro cujo nome remete para patranha.

Mas não interessa, Rafael faz o relato de uma sociedade onde viveu durante 5 anos, e que diz ser a sociedade perfeita. Uma pequena ilha, chamada Utopia, onde os utopianos vivem, felizes, auto-suficientes, e com a resposta ideal para todos os problemas que possam surgir.

Não é um livro que tenha propriamente uma história, é quase um ensaio, diria eu. Fiz um pouco de pesquisa, e descobri que há quem diga que esta era a hipótese do autor para uma sociedade perfeita, e há quem diga que era uma sátira da sociedade da época. De qualquer das maneiras, é no mínimo interessante, ver esta sociedade que teoricamente funciona realmente na perfeição, mas que quanto mais pensamos nela, mais percebemos o porquê de ser uma utopia.

Repito, não é uma história. Mas recomendo a sua leitura. Aponta praticamente todas as falhas das sociedades actuais, e apresenta soluções, ao mesmo tempo que nos demonstra como são simplesmente impraticáveis. De leitura rápida, ainda por cima.

sábado, 20 de março de 2010

A Máquina de Xadrez

A maior parte das pessoas olha para este livro e diz "Xadrez? Eu não percebo nada disso, é melhor não pegar neste!", e quando eu ouvi falar dele pela primeira vez, também pensei que era capaz de assustar quem não sabe jogar xadrez, mas como sei, fiquei interessado. Depois, variadas opiniões disseram-me exactamente o contrário, e agora depois de o ler, vejo isso. Embora fale de xadrez, não é, de maneira nenhuma, um livro técnico, incompreensível para quem não saiba jogar.

Aliás, o xadrez neste livro não é um mero jogo, é um ponto fulcral da história, que envolve um Autómato Xadrezista, uma máquina que joga xadrez, que, afinal, não é bem um Autómato, mas sim um embuste, manobrado por dentro por um anão, génio do xadrez.. A parte interessante é que toda esta história é baseada em factos verídicos (ainda que com alguma ficção à mistura). Existiu mesmo um Autómato Xadrezista, que não passava de um embuste, e grande parte das personagens presentes no livro  são também reais.

Quanto ao livro em si, queria começar por dizer que custou um bocado a deixar-me preso. O livro 300 e poucas páginas, e passadas umas 150, eu ainda não estava agarrado ao livro. A certa altura, perto do final, ganhou um novo ritmo, as coisas evoluiram todas muito depressa, com o culminar das várias coisas que se tinham vindo a desenvolver, e tive pena que o livro não tivesse sido todo assim. Mas é um bom livro, no geral, com personagens ricamente trabalhadas, um enredo minuciosamente tratado, e um ambiente perfeitamente capturado.

Não lhe chamaria uma obra-prima, longe disso, mas não acho que tenha sido essa a ideia do autor. Acho que o objectivo era mesmo retratar a época, e esta história em particular, e isso foi muito bem conseguido, sendo, aliás, o principal objectivo (e ponto de interesse) num romance histórico. Como livro, no geral, há muito melhor, sem dúvida, e só o recomendaria a alguns, mas como romance histórico, é dos melhores que por aí anda.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Melodia do Adeus

Nicholas Sparks, é actualmente, um dos autores mais vendidos em todo o mundo, no entanto a contradição engraçada à volta das suas obras é que os entendedores de literatura criticam severamente os seus livros. Onde está então o meio-termo? A resposta na minha opinião é simples: Nicholas Sparks não escreve obras, escreve sim, histórias de vida com as quais as pessoas se identifiquem. Pode não ter um vocabulário muito vasto, mas descreve emoções como ninguém. E é isso que as pessoas procuram: emoções. Julgo que por vezes nos é mais agradável acabar um livro e dizer "Uau, esta história tocou-me mesmo" do que "Fantástico, ele(a) escreve mesmo bem".
E ao acabar A Melodia do Adeus escolhi a primeira hipótese.
Nesta história, somos acompanhados por Ronnie (Veronnica Miller), uma adolescente de dezassete anos, que vê o seu pior pesadelo tornar-se realidade, quando é obrigada pela mãe a passar o Verão inteiro na companhia do pai, com o qual por sua própria abstinência, não fala há três anos, desde que este se divorciou da mãe, e deixou a casa deles em Nova Iorque para ir morar numa pequena cidade da Carolina do Norte.
Ronnie, aos poucos vai adoçando o seu carácter rebelde de adolescente resignada à medida que vai convivendo com o pai e estabelecendo relações mais profundas com o seu irmão mais novo Jonah. Em simultâneo, Ronnie encontra o amor em Will, um rapaz carinhoso, belo e original que se mostra disponível a apoia-la em todas as turbulências da sua vida.
No entanto, as coisas começam a correr mal quando um jovem delinquente se começa a interessar por Ronnie.
Resumindo adorei o enredo, e verti algumas lágrimas no final, como não podia deixar de ser num livro de Nicholas Sparks.
Curiosidade: A história foi escrita em simultâneo com o guião do filme The Last Song com Miley Cyrus no papel de Ronnie. Deixo aqui o trailer.


domingo, 7 de março de 2010

Um Brinde à Morte


Sendo já o quarto livro desta autora que leio este ano, ainda não me fartei. Desta vez é uma história que conta com a participação do Coronel Race, embora este seja praticamente uma personagem secundária.

O enredo é algo misterioso. Durante um jantar, Rosemary Barton morre, envenenada com cianeto, depois de beber da sua taça de champanhe. Pensa-se em suicídio. Um ano depois, ainda com toda a gente mais ou menos abalada com esta situação, George Barton decide repetir o jantar, de forma a encontrar o assassino, pois está convencido que sabe quem ele é.

Só que, surpresa, durante o jantar, uma pessoa cai morta, depois de beber champanhe. Tinha sido envenenada com cianeto. Tal e qual como Rosemary um ano antes. Levantam-se suspeitas, investigam-se pessoas, tudo numa tentativa de descobrir o assassino.

Mas o livro propriamente dito, começa com a preparação dos vários intervenientes de ambos os jantares, para o dito jantar e, sempre fiel ao seu estilo, a autora faz com que toda a gente possa ser o criminoso. Todos têm motivo, todos têm oportunidade, todos agem de forma suspeita. Depois, claro, vai afastando as dúvidas de certas personagens, só para voltar a reincidir nelas as suspeitas, numa autêntica dança incriminatória, em que todos são acusados, sem que se descubra muita coisa.

No final, claro, uma reviravolta, e um criminoso que já não se estava à espera! Divertido e bem construído (embora, se me perguntarem, com defeitos gritantes nos diálogos... e algumas cenas menos bem conseguidas, que se tornam um pouco confusas), é um típico livro de Agatha Christie. Surpreendente, original, imaginativo, e com uma enorme capacidade de nos manter em suspense. Aconselhado, claro está.

terça-feira, 2 de março de 2010

Rainha das Trevas


Se há coisa que me apercebo depois de ter lido este livro, é de quão pouco eu sei, pois lembro-me de vários adjectivos para classificar este livro (bem como a trilogia que finaliza), mas no entanto, não me parecem nem perto de serem suficientes.

Vejamos: Não existem mais do que 2 ou 3 páginas "desperdiçadas", no sentido de conterem puramente palha, ou de informações pouco relevantes e dispensáveis. Tudo é importante, para a caracterização das personagens, para que entremos um bocado nas suas mentes, para que as percebamos melhor, e para termos uma melhor noção da história, bem como do mundo onde ela se passa.

Na minha opinião, é neste livro que conseguimos apreciar totalmente toda a saga. Tal como as Teias de visões e de feitiços descritas nos livros, em "Rainha das Trevas", assistimos a um relativamente lento, ainda que extremamente intenso, emaranhar de todos os pequenos fios que se criaram ao logo dos outros dois livros, até culminar num dos mais bem preparados clímax que já li.

Embora o final em si não seja propriamente surpreendente, o caminho até lá é verdadeiramente invulgar. Começando pelo papel dos parentes no meio de toda a história, e acabando na peça chave que Daemon se revela, embora de forma muito, muito, mas muito disfarçada.

Anne Bishop consegue, mais uma vez, e neste livro mais do que nunca, transportar-nos para um mundo muito especial (e especialmente cruel), não precisando para isso de descrições muito exaustivas, nem de grandes paragens na acção. É aliás, muitas vezes, através da acção que o ambiente é caracterizado, pois conseguimos literalmente sentir a tensão que envolvem algumas cenas mais fortes.

Dizer que este foi o meu livro favorito desta saga, é dizer pouco, mas a verdade é que o foi. Uma trilogia que vale muito a pena, e que não deixa, nunca, de ser interessante.