quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Punhal do Soberano


Ao contrário do livro anterior, esta foi uma leitura a todo o vapor, pois já não precisei do período de me adaptar ao ritmo e afins.

E que posso dizer que não tenha dito ainda? É bom, é muito bom... As personagens voltam a revelar-se magnificamente construídas, a escrita é simples e directa, o enredo nem por isso. Os meandros das tramas e intrigas da corte têm mais profundidade do que aquela que eu tinha imaginado inicialmente.

Houve personagens que se revelaram mais importantes do que pareciam à primeira vista, e outras que se tornaram ainda mais importantes e misteriosas do que já eram. O Bobo, em especial, fascina-me. Desde o primeiro livro que se vê que há ali qualquer coisa com aquela personagem que ainda está por contar... Já para não falar da inesperada interacção entre Veracidade e Fitz.

Bem, mas quanto à história não posso dizer muita coisa sem revelar pormenores do enredo. Acho que esta é daquelas sagas que quase que podiam ser só 1 único e gigantesco livro, pois, pelo menos até agora, entre o primeiro e o segundo livro, a continuação é extremamente directa. Quero com isto dizer que não é daquelas colecções que se podiam ler os livros individualmente e fora de ordem. É daquelas que é para ler seguidinhos e de empreitada.

Mas, sendo um livro muito bom, tem um grande ponto negativo. Enorme, mesmo, se bem que não é culpa da autora, mas sim da editora. Este livro corresponde à primeira metade do livro no original. Ou seja, acabei o livro com uma sensação de incompleto do piorio. É das coisas mais horríveis ter que ler um livro que foi dividido em dois, pois fico com a sensação que acabei o livro, mas sei que ainda só vou a meio. Eu compreendo que façam isto, mas continuo a achar que deviam fazer algo para o evitar.

Não pensem que tenho algo contra a Saída de Emergência, até é das minhas editoras preferidas, e faz um trabalho excelente, tanto a nível da publicação das sagas, com 2 e 3 livros por ano, como a nível das capas e do catálogo que apresenta, que são e é, das melhores e do melhor que por aí anda. Mas podiam arranjar maneira de contornar esta chatice de dividir os originais...

Enfim, esqueçamos isso. É um grande livro, com o pormenor de ser só meio-livro. Só me resta fazer uma coisa: ler o próximo, rápido!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Custo da Leitura


Um assunto delicado: o preço dos livros em Portugal.

Se compararmos o preço de um livro no nosso país e noutro (em que se dá mais valor à leitura) como por exemplo no Reino Unido, a diferença é tão grande que até pensamos ser impossível, mas a verdade, é que um romance comum com cerca de 400 páginas, em Inglaterra custa cerca de cinco libras, ao passo que em Portugal pode custar-nos entre quinze a vinte euros.

Estou mal informada quanto às razões pelas quais os nossos livros são tão caros, mas a causa, passa muito provavelmente pelo facto de em Portugal ainda se ler pouco.

É também verdade que os hábitos de leitura no nosso país crescem de ano para ano, o que pode também ser uma consequência do fenómeno que eu apelidarei de livros-de-supermercado.

De há uns anos para cá as grandes superfícies passaram a ter uma secção dedicada à literatura, onde se vendem (mais baratos do que nas livrarias) os livros mais recentes e best-sellers. Claro que o facto de termos à disposição uma pequena livraria no supermercado, faz com que as pessoas parem para dar uma vista de olhos, quando provavelmente nunca iriam a uma livraria de propósito para comprar um livro, seja isto por falta de interesse ou de tempo. Para além de os livros também serem mais baratos nas grandes superfícies, o que leva mais facilmente um português afectado pela crise a comprar um livrinho para se entreter nas férias.

Bom, mas com isto só quero chegar à conclusão do seguinte: o facto de os livros serem bastante caros no nosso país é uma consequência da pouca leitura que aqui se pratica, mas a pouca leitura é também uma consequência do preço dos livros.

E por isto - e acho que falo por todos os leitores - quando digo ser imperativo que os livros em Portugal sejam consideravelmente mais baratos, ou que as bibliotecas sejam mais divulgadas. Porque se um livro barato não faz com que o consumidor o queira comprar, pelo menos ajuda muito.

O Deus das Pequenas Coisas


Demasiado belo para ser lido uma única vez na vida. Foi o que me ocorreu quando acabei este romance arrebatador de Arundhati Roy.
A história das pequenas coisas. A história das belas coisas invisíveis. Impensáveis. Impalpáveis.
A história da família Kochamma, que não sabia que tudo poderia mudar um dia. A história dos gémeos (biovulares) Estha e Rahel, que depois de separados perdem uma Grande coisa. A história da sua mãe Ammu, que ama de noite o homem que os seus filhos amam de dia. A história do tio Chacko, um Marxista não-praticante que anseia a chegada da sua filha Sophie Mol e da sua ex-mulher Margaret de Inglaterra. A história da tia-avó Baby que um dia amou um homem e que depois foi seduzida pelos encantos da televisão. A história da avó Mammachi, que cega toca o seu violino, ainda recordando a violência do marido. A história de Velutha, o homem Intocável amado de dia e de noite. O Deus das pequenas coisas.

O enredo apanha-nos logo desde o início com as constantes e ritmadas mudanças cronológicas pelo que o fim da história nos é logo relatado no principio. Depois vêm as pequenas coisas, os pormenores que nos conduzem ao fim no início.

Uma leitura profunda e filosófica, sobre o mundo. Extremamente inteligente, de facto, Arundhati Roy, consegue ser a escritora que melhor descreve sentimentos que eu já vi. Lindo, uma poesia em prosa. Seria impossível não classificar este romance com cinco estrelas.

Um livro o b r i g a t ó r i o.

domingo, 25 de julho de 2010

Aprendiz de Assassino


Este é um daqueles famosos casos de "primeiro estranha-se, depois entranha-se". A ver se me consigo explicar. Quando comecei a ler, não me senti minimamente interessado, durante as primeiras páginas. E ainda estive umas boas dezenas a ler sem qualquer interesse em especial. A história não me parecia suficientemente boa, as personagens pareciam-me demasiado superficiais, e o desenrolar da acção parecia-me demasiado lento e, à falta de melhor palavra, estúpido.

Mas então, como é que acabei a gostar tanto deste livro? Talvez se deva ao facto de a autora ter um ritmo a que eu não estou habituado, e que me fez gostar da história, das personagens e do desenrolar, de forma lenta e gradual, quase sem eu dar por ela.

Sem reparar, vi-me apegado a FitzCavalaria, a temer e respeitar Castro, a odiar Galeno, a sentir uma curiosidade desconfiada acerca de Breu, a admirar Veracidade, e a sentir nojo por Majestoso, entre muitas outras personagens. A verdade é que embora ao princípio tudo me tenha parecido algo fraco, era apenas mera aparência, pois todos os pequenos efeitos não passaram de meras distracções de aquilo que se passava na realidade e que importava, e que eu não notava conscientemente. A autora conseguiu transmitir-me a ideia, sem eu fazer a mais pálida ideia de que isso estava a acontecer.

E só nas últimas páginas é que comecei a ver o quanto gostei das personagens, e o quanto a história fazia sentido. Juntei as peças todas, vi a imagem geral pela primeira vez, e fiquei espantado, pois só aí me apercebi que estava a ler uma história com um enredo riquíssimo, e bem estruturado, que continha personagens que se tornaram quase reais para mim, fossem elas adoráveis ou simplesmente detestáveis.

A escrita é boa, sem ser excelente. Uma linguagem não muito complicada, e uma capa que engana, pois dá a ideia (pelo menos a mim deu) de um livro muito mais infantil do que aquilo que realmente é. E como em muitos bons autores, a autora pode não ter um grande poder de escrita, como têm os melhores escritores, mas a forma como usa aquilo que tem é excelente.

À primeira vista, apenas mais um romance de fantasia medieval. Mais a fundo, um dos melhores que li até agora, e que me fez ansiar pelo próximo. Venha ele!

domingo, 18 de julho de 2010

Se Acordar Antes de Morrer


Uma colectânea de contos de Ficção Científica... de um autor português!

Primeiro pensamento: os deuses editoriais devem estar loucos!

Segundo pensamento: os autores portugueses são mais de lamechices, filosofices e reflexões... o que é que irá sair daqui?

Terceiro pensamento: que se lixe, vou mas é ler!

E agora que li... WOW! Não fossem as referências a Lisboa e afins, eu nunca acreditaria que o autor é português.

É que isto é FC a sério, não tem historietas com pistolas laser (bem, tem pistolas laser... mais ou menos. Mas não só!), é pure hardocre Sci-Fi.

Ainda por cima contos. Contos! Num meio onde já só se publicam sagas, ou sagas condensadas num único e gigantesco volume, aparece uma colectânea de contos, essa forma de escrita tão sub-apreciada...

Ainda por cima João Barreiros fá-lo com mestria relativa. Quer a parte do conto, quer a parta da FC. E só ali tenho o "relativa", pois o autor usa e abusa dos palavrões técnicos, que podem dificultar a leitura (e tudo o que é demais enjoa), apesar de ser compreensível... Afinal, é FC!

Quanto aos contos em si, espantou-me a originalidade fora do comum... Uma Horda de brinquedos à procura de alguém que brinque com eles; uma brilhantíssima homenagem a H.P.Lovecraft; a evolução levada ao extremo; gatos modificados para serem assassinos... Há de tudo!

Até uma infeliz crítica, no meio de outras muito bem feitas. O autor critica a sociedade, critica a educação (de forma particularmente eficaz), e... critica a Fantasia. O doloroso "Fantascom" custou a ler... E não digo isto por ser fã confesso deste género, mas porque esta crítica borda o insulto a Filipe Faria, a todos os autores e leitores de Fantasia, bem como ao próprio género!

E eu gosto de criticar, mas insultar desta maneira... vamos lá ter calma, sim?

Bem, tirando isso, adorei. Verdadeira FC, com uma escrita simples (tirando a linguagem técnica) e directa, genuinamente portuguesa, e recheada de ideias geniais, desenvolvidas por uma imaginação fora do comum...

Quarto pensamento: onde é que encontro mais coisas deste homem?

sábado, 17 de julho de 2010

O Enigma do Sapato


Não é dos melhores livros que leio desta autora, podendo mesmo classificar-se como meramente razoável.

Mas não por causa da escrita, que continua simples e clara, focada em contar a história sem descrições supérfluas, e com a sua tendência para o humor inteligente.

E não é, de certeza, por Poirot, que é brilhante neste livro, como em todos os outros.

É mais por causa da história, do enredo em si, que embora no final pisque o olho ao seu habitual brilhantismo, não consegue, ao longo do livro, subir acima do ligeiramente interessante.

Não é que não tenha sido uma boa leitura, porque foi, aliás, foi exactamente aquilo que eu queria: uma leitura mais leve e mais... despreocupada, para como que "ressacar" da minha última leitura, mais pesada e exigente. Isso foi atingido na perfeição.

Agora enquanto policial, especialmente enquanto policial de Agatha Christie, com Poirot, falhou um bocado.

Não deixo, no entanto, de o aconselhar, com apenas algumas reticências, para não se desiludirem...

sábado, 10 de julho de 2010

A Hora do Vampiro


Assim de repente, à primeira vista, a podem pensar que até Stephen King se rendeu à moda dos vampiros... Mas a verdade é que foi apenas a editora portuguesa do livro que se aproveitou dessa moda para lançar um livro escrito há 35 anos.

E desenganem-se... Isto não é um livro de vampiros, é um livro de vampiros a sério! Não brilham ao sol, e não têm o aspecto eterno de adolescentes mimados. Stephen King consegue criar aqui uma verdadeira história de vampiros, que assusta, e que não é muito aconselhável ler a altas horas da noite.

Se bem que primeiro que um vampiro apareça, ainda correm muitas páginas, e até mesmo para que se mencionem vampiros correm muitas também. O truque, a magia, se quiserem, deste livro é o ambiente, a atmosfera. King consegue, através de dezenas de personagens, e de narrativa intercalada entre elas todas, relatando acontecimentos aparentemente desconexos, criar uma... uma teia de acontecimentos, que quando damos por ela está a fazer sentido.

E é nos pormenores que a coisa realmente acontece. Pormenores que se for preciso só damos por ela algumas páginas depois de os termos lidos, mas que nos ficam logo gravadas na memória, e ajudam a transmitir uma estranha impressão, um sensação de sufoco, de medo e de pânico, até. Stephen King demonstra-se aqui, no seu segundo livro publicado, como um exímio contador de histórias, com uma escrita que em momentos roça o absolutamente brilhante, e um enredo que parece complexo, mas que é apenas vasto.

Consegue criar as situações mais inverosímeis, e fazê-las parecer reais, ao mesmo tempo que vai dando pistas sobre o que vai acontecer a seguir. Pistas que, claro, só percebemos depois de tudo ter acontecido. Uma espécie de "ah, então era isso que aquilo significava!".

Só posso aconselhar este livro a praticamente toda a gente. Gostem de fantasia ou não, gostem de terror ou não, gostem de vampiros ou não. Leiam! Só não aconselho a fãs mais devotos de Stephenie Meyer e afins... É capaz de ser demasiado forte para esses corações habituados ao brilho ofuscante da pele pálida de uma qualquer tentativa de vampiro...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Géneros Literários (4) - O Género Lírico


Mais uma vez tenho que começar por dizer que não sou fã, aliás, que não gosto de poesia. Ou melhor, do género lírico, pois nem todo o género lírico é poesia, e nem toda a poesia pertence ao género lírico. Embora, pessoalmente, nunca tenho visto o género lírico representado por outra coisa que não a poesia.

O essencial deste género é o eu-lírico ou sujeito poético. Como já devem ter percebido, este género é normalmente escrito na primeira pessoa do singular, com especial destaque para os sentimentos e emoções do sujeito poético. E é, na maior parte das vezes, escrito em verso, que pode, ou não, rimar.

E ao contrário dos outros géneros, o importante aqui não é propriamente contar uma história, no sentido normal da palavra. O que importa é passar as emoções para o leitor, admitindo até que cada leitor pode tirar diferentes emoções do mesmo texto lírico. O foco está na beleza da palavra em si, com uma preocupação extrema na construção dos versos, o que faz com que os textos líricos sejam normalmente curtos, e mais de exploração da melodia.

Pessoalmente, tenho a dizer que há vários coisas que me chateiam neste género. Primeiro há a parte subjectiva, não consigo mesmo gostar de poemas. Não consigo apreciar significados escondidos atrás de muralhas de metáforas e outros milhares de figuras de estilo, significados esses tão bem escondidos que nunca sabemos se os encontrámos ou não, pois cada um encontra vários diferentes! Mas enfim, muita gente me crucifica por isto, e vai continuar a crucificar, mas mantenho a minha opinião.

Em segundo e último lugar, há aquilo que realmente me chateia. Sabem quantas vezes já ouvi alguém dizer "Poesia é que é literatura!" e outras coisas do género? Muitas. Demais. E nunca gostei. No fundo, aquilo que muita gente diz é que a poesia é que é a verdadeira forma de literatura, que a poesia é a forma da literatura por excelência! E deixam de lado o género narrativo e o dramático! E isso deixa-me furioso.

Acredito que haja muito boa literatura em forma de poesia, mas sei que existe muito boa literatura em forma narrativa. E enquanto a opinião geral não mudar, eu mantenho-me anti-poesia a todos os custos.

Mas bem, parece-me que me estou a desviar um bocado do assunto, desculpem. Como já disse, este género tem mais figuras de estilo que versos, e tem como principal objectivo transmitir emoções, ainda que diferentes de leitor para leitor, e mesmo de leitura para leitura.

É possível que fique muito por dizer sobre este género, como de certeza ficou do género dramático, mas a minha especialidade é mesmo o narrativo. Mais um post sobre o lírico, e depois ataco em força o meu objectivo principal!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Catarina de Aragão - A Princesa Determinada


Antes de ler este livro, nem eu próprio sabia o quanto gosto de romances históricos. As minhas leituras nesse campo são um bocado limitadas (embora contem com grandes livros, como os dois Aztec, de Gary Jennings), e embora sempre tenha gostado de história, sou mais virado para os antigos gregos e romanos, vikings e afins. Assim essa história mais antiga. A época dos reis começa a desagradar-me, em especial quando é de uma época já tão próxima da nossa como a época deste livro (embora já tenha sido há 500 anos).

Mas este livro tratava de uma série de personagens em específico que sempre me agradaram. Henrique VIII de Inglaterra e Catarina de Aragão. E além do mais, esta autora só tinha boas críticas. E, qual cereja em cima do bolo, encontrei-o a 13€. Não resisti, foi mais por impulso que outra coisa, mas não me arrependo.

O livro retrata a vida de Catarina, primeiro Infanta de Espanha e Princesa de Gales, depois Catarina de Aragão, Rainha de Inglaterra. E a autora consegue acompanhar a vida da personagem de forma magistral, registando os momentos mais marcantes, e alternando entre narrativa na terceira e primeira pessoa, esta última pela voz da própria Catarina.

Está realmente muito bem escrito, e consegue transmitir a ideia que nos é logo dada pelo subtítulo: A Princesa Determinada. Pois isso é realmente a única coisa que é constante durante todo o livro, a determinação de Catarina. Desde a primeira à última página, ela nunca desiste, não se submete e não se resigna. Enfrenta sempre todo e qualquer obstáculo de cabeça erguida, e consegue, na maior parte das vezes, ultrapassá-lo. É a vida de uma mulher espantosa, que aqui podemos acompanhar no seu trajecto de Infanta de Espanha a Rainha de Inglaterra.

Para finalizar, tenho só que destacar duas coisas, uma positiva e uma negativa. Pela positiva, devo dizer que embora seja um período da história relativamente conhecido, muito graças à série Os Tudors, a autora consegue criar suspense. Juro. Embora eu já soubesse o que ia acontecer, pois conheço este período histórico, houve alturas em que duvidei se aquilo ia mesmo acontecer ou não. Nisso, foi genial. Por outro lado, pela negativa, tenho o final. Não gostei. Ou melhor, não gostei do salto temporal dado no final. Depois de um livro a evoluir de três em três meses, mais coisa menos coisa, temos um salto de 16 anos, que me deixou um gosto algo amargo na boca. Será que não aconteceu nada de interessante durante esse tempo? Duvido muito. Sendo assim, fiquei com a sensação que o livro podia ter esticado mais um bocado, o que teria sido muito bom, pois adorei o livro.

Mas pronto, nada que tire o prazer ao livro... É uma autora a reler, sem dúvida.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Géneros Literários (3) - Subgéneros Dramáticos


Não tenciono alongar-me muito mais sobre este género. Como já disse, não sou propriamente fã, e muito menos conhecedor. E para vos ser honesto, não tenho bem a certeza de como escrever esta parte. Não posso emitir uma opinião pessoal sobre os subgéneros teatrais, uma vez que nem faço a mais pálida ideia da maior parte, e mesmo aqueles que conheço de nome, só lhes conheço praticamente isso: o nome.

Para vos dar uma ideia melhor das minhas dificuldades, durante a minha pesquisa, descobri que o stand-up comedy é um subgénero dramático. E descobri que existem coisas como o "teatro invísivel", que é uma espécie de teatro à paisana. Confusos? Imaginem uma peça de teatro que decorre numa praça qualquer. Agora imaginem os actores a irem para uma praça qualquer, e a actuarem ali mesmo, sem dizerem a ninguém que é um teatro. A coisa torna-se real, pelo menos para os inocentes observadores, que podem chegar a participar na peça, sem o saberem, pelo simples facto de estarem no sítio certo, à hora certa.

Não sei se esta ideia me fascina se me assusta... Mas adiante. Entre os subgéneros dramáticos, encontram-se a comédia e a tragédia (ah!, eu sabia!), algo chamado tragicomédia, o auto, a ópera, o musical, o teatro de improviso, o teatro de marionetas, o teatro de miniaturas, a farsa, o muito na moda teatro moderno, entre alguns outros. E, como é óbvio, cada um destes subgéneros há-de ter os seus próprios subgéneros. E isto, se só pensarmos na "teoria clássica", pois segundo a "teoria moderna", se juntarmos qualquer um destes géneros, a qualquer outro, temos um género novo, e por aí adiante e... nunca mais daqui saíamos.

O meu objectivo não é aprofundar este género, mas houve algo que me chamou a atenção. Eu já antes tinha falado sobre o facto de existirem avaliações de forma e avaliações de conteúdo, e ainda irei falar disso, em posts mais à frente, mas deixem-me começar aqui a desenvolver um bocadinho, aproveitando estes exemplos do teatro.

O auto, por exemplo, género [ironia] tão querido dos alunos portugueses [/ironia], graças ao pai do teatro em Portugal, Gil Vicente, que escreveu O Auto da Barca do Inferno, entre outros. Quando se diz que um texto é um auto, diz-se que esse texto está escrito em redondilha. Isso é uma classificação quanto à forma, não nos diz nada sobre o conteúdo. Mas ao dizermos que é um auto, estamos também a dizer que é uma peça que utiliza personagens-tipo (estereótipos) com o objectivo de satirizar, e que assenta fortemente na moral. Isto já é uma classificação quanto ao conteúdo.

E só com esta definição, já arranjo um problema na classificação de obras. Basta encontrar um texto dramático escrito em redondilha, que utilize personagens-tipo, que assente fortemente na moral, em tudo semelhante a'O Auto da Barca do Inferno, até aqui, mas cujo objectivo não seja a sátira. E agora? Já é um género diferente? Pela "teoria moderna", se calhar, é um qualquer híbrido, mas e segundo a "teoria clássica"? Será que é um auto, com excepções? Será que existe um género assim, como eu descrevi?

Não sei, a sério que não. Nem me atrevo a achar seja o que for, pois, como disse, não percebo nada de teatro. Mas o problema que (no meu entender), todos nós enfrentamos quanto ao género narrativo, é algo deste estilo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Géneros Literários (2) - O Género Dramático



Vou ser honesto: não sou apreciador de teatro. Passo bem sem ver uma peça de teatro, e não sinto particular interesse em ler uma peça de teatro, porque acho que são textos que foram escritos para serem dramatizados. Lê-los, a seco, não permite tirar a impressão completa, que os autores querem que tiremos. Por isso, digo já, não percebo absolutamente nada de teatro. O pouco que sei, é graças às aulas de português, e já me esqueci de muita coisa. Para escrever isto, tive que ir fazer pesquisa, e puxar pela memória.

Aquilo que me lembro é da estrutura. São textos baseados em diálogos, com poucos cenários, e todos eles descritos ao pormenor. E claro, não me posso esquecer da didascália (sempre gostei desta palavra), as indicações cénicas antes das falas. Lembro-me também de aprender que existiam, nos primórdios deste género, durante a Antiguidade, dois tipos de textos dramáticos. As tragédias e as comédias, cujos nomes são demasiado óbvios. Lembro-me vagamente dos nomes de alguns dos primeiros dramaturgos, como Sófocles e Ésquilo... Mas aquilo que eu me lembro não chega para aquilo que quero desenvolver aqui e, portanto, fui pesquisar.

E aprendi que existem duas definições, segundo o "Teoria da Literatura", de René Wellek e Austin Warren. A primeira, chamada "teoria clássica", dizia que os géneros "deveriam ser mantidos separados", e tinha como fundamento a distinção entre os vários géneros, preocupando-se com as diferenças entre cada um, e as suas definições. A segunda, chamada "teoria moderna", não está preocupada com regras e definições, nem sequer diz que existe um número limitado de géneros. A "teoria moderna" está mais interessada nos géneros híbridos, e admite o surgimento de novas espécies.

Aquilo que eu tiro daqui, é que a "teoria clássica" é uma definição mais científica, que sistematiza o género, distinguindo claramente cada tipo, e tentando encaixar as várias obras nos sítios certos; já a "teoria moderna" é uma espécie de definição unificadora, mais "artística", que tenta chegar à essência do teatro.

Na minha opinião, a existência destas duas definições, é um claro sinal da evolução do teatro em si, enquanto arte. A "teoria clássica" é um teoria que assenta nos ideais mais antigos sobre o teatro, nomeadamente os ideais gregos. É mais que óbvia, nessa primeira teoria, a preocupação em formalizar, sistematizar e classificar, tão própria dos antigos gregos. A "teoria moderna", por sua vez, surge nos tempos actuais, em que já se sistematizou e classificou tanto, que começam a surgir tendências unificadoras. É assim na Física, com a tentativa de unificação das 4 forças fundamentais, porque é que não haveria de ser assim no teatro?

Pessoalmente, devo dizer que prefiro a "teoria clássica", embora saiba que é a "teoria moderna" que mais se aproxima daquilo que é a maior parte do teatro, nos dias de hoje. Mas eu gosto de ter as coisas definidas e classificadas. É aliás, por isso mesmo, que ando a escrever estes textos.

domingo, 4 de julho de 2010

O Terror na Literatura Sobrenatural


Imaginem a minha excitação ao encontrar um ensaio sobre o terror (um dos meus géneros favoritos) na literatura, escrito por H.P.Lovecraft, um dos grandes mestres do terror (e um dos meus autores favoritos).

Nem pensei duas vezes, comprei-o logo. E não me arrependo. Apesar de ser um livro pequeno, tanto no formato, como no número de páginas, aquilo que se pode aprender com ele ultrapassa largamente aquilo que se aprende com alguns calhamaços que por aí andam.

O conhecimento literário do autor é profundo... Desde os livros e textos mais mainstream, na altura, até a algumas coisas mais obscuras e praticamente esquecidas, Lovecraft conhece-as todas. E leva quem lê este livro a uma viagem, que começa nos primórdios da literatura de terror, e percorre toda a história deste género (até à altura em que o livro foi escrito, obviamente).

A nível pessoal, este livro deu-me algumas coisas. Primeiro que tudo, ensinou-me as bases da escrita de terror. Lovecraft disseca completamente este género, e ensina, a quem quiser aprender, como escrever terror, não directamente, mas através das explicações sobre o que outros autores fizeram, e o que não deviam ter feito.

E ainda me deu vontade de ler uma data de coisas aqui mencionadas... Algumas de autores que eu nunca tinha ouvido falar, outras de autores que eu já tinha ouvido falar, mas que não sabia terem escrito coisas dentro deste género, e ainda livros que eu já conhecia, de autores que eu já conhecia, mas que nunca me tinham interessado por aí além.

Além de ensinar... Este livro é um autêntico arrasa-carteiras. Mas mais do que aconselhado, a todos os leitores, e em especial a fãs do fantástico e do terror. Um livro a não perder.

O Banqueiro Anarquista


Trata-se da primeira obra que leio de Fernando Pessoa, uma narrativa curta, um pequeno ensaio sob a forma de diálogo sobre a Anarquia.


A conversa desenrola-se entre um banqueiro, aparentemente anarquista que justifica os seus ideais a um amigo, que pensa inconciliável o estatuto de banqueiro com a política anárquica.

O banqueiro expõem, então uma série de pontos de vista e ideias com a mais racional linha de pensamento, e defende ainda que a única forma de um anarquista se tornar um pleno homem livre, é ser rico.

Diz ele, que só se sendo rico, se pode estar imune ao factor de maior peso da sociedade burguesa: o dinheiro. E justifica assim a sua profissão, dizendo-se ainda um homem praticamente livre, uma vez que é imune ao peso do capital.

Muito interessante, e realista, bem aos modos de Fernando pessoa, e considerado por muitos a melhor ficção do autor, um ensaio com o seu quê de contraditório, que deixa definitivamente o leitor a meditar sobre o assunto.

Girl Meets Boy


Devo dizer que fiquei bastante surpreendida com o conteúdo do livro. Girl Meets Boy, acaba por ser mais uma espécie de Girl Meets Girl.


A história foca-se num pequeno período da vida de duas irmãs, Anthea e Midge (ou Imogen, como insiste que a tratem), que trabalham numa empresa de águas. Anthea, a mais nova e rebelde, sonha com o impossível, enquanto Midge, co-lider da empresa, só tem como objectivo subir na sua carreira. Porém, algo muda quando um belo rapaz (ou seria uma rapariga? Anthea não sabia identificar) escreve por baixo do logótipo da empresa com letras grandes e vermelhas a seguinte frase: "NÃO SEJAS ESTÚPIDO. A ÁGUA É UM DIREITO HUMANO. VENDÊ-LA DE QUE FORMA FOR É MORALMENTE ERRADO."

A rapariga (ou rapaz, Anthea continuava sem conseguir destingir), descobriu-se mais tarde, chamava-se Robin, e Anthea apaixonou-se perdidamente por ele (ou por ela), porque afinal aquela Robin era o rapaz mais bonito que ela alguma vez tinha visto.

Um amor intenso nasce entre as duas raparigas (sim, aparentemente Robin era uma rapariga, embora também fosse um rapaz), que se rebelam contra o sistema, e acabam por fazer história, enquanto Midge vai descobrindo a pouco e pouco aquilo em que realmente acredita.

Cómico e fresco, poético e político, Girl Meets Boy é um verdadeiro conto de mudança para o mundo moderno.

Nota: A versão portuguesa desta obra ainda não está disponível, sendo que a tradução das frases transferidas são da minha inteira autoria, e nada têm a ver com uma possível futura tradução oficial.

Momo


Momo ou A História dos Ladrões do Tempo e da Menina que Devolveu aos Homens o Tempo Roubado é mais uma deliciosa narrativa de Michael Ende, célebre escritor de A História Interminável.

A história, fala-nos de uma menina, Momo, que tem um dom muito especial: sabe ouvir. A menina utiliza, portanto, o seu dom para ajudar todos os seus amigos e habitantes da aldeia a tomarem decisões sensatas e viverem em harmonia entre si. Porém um dia, sem que ninguém o previsse, chegam à cidade os Senhores Cinzentos Cinzentos, todos iguais e que actuam em segredo. O propósito destes homens é nada mais, nada menos que fazer com que as pessoas poupem tempo.

Assim, embriagadas pelas palavras do Senhores Cinzentos, as pessoas começam mesmo a poupá-lo, e o mundo acaba por se transformar aos poucos num lugar cinzento e sem vida, em que ninguém tem tempo para nada nem para ninguém. Cabe a Momo devolver aos homens o tempo roubado.

Ende consegue com uma destreza extraordinária, transformar os seus contos infantis, numa história muitíssimo madura destinada a tocar os adultos. Penso que todos os "crescidos" deviam ler Michael Ende, um refresco para a alma e uma recordação do que é realmente importante: manter o espírito jovem.

"Porque tempo é vida e a vida mora no coração." Momo

sábado, 3 de julho de 2010

Géneros Literários (1) - As Bases


Se perguntarem a um professor de português quais são os géneros literários, ele diz-vos, com muita calma e serenidade, que são o dramático, o lírico e o narrativo. E é exactamente a partir daí que eu quero começar.

Ao contrário do que muita gente pensa, os géneros literários, por excelência, não são as categorias em que se inserem os tipos de livros. Tem a ver com a forma, e não o conteúdo.

Isto é como quem diz que em vez de se avaliar a história em si, avalia-se a forma em que está escrita. E, partindo desse pressuposto, criou-se uma divisão, que já remonta à Antiguidade, aos nossos amigos Platão e Aristóteles, em três géneros, acima mencionados: o género dramático, o lírico e o narrativo.

E é dentro destes três géneros, que, agora sim, se acabará por avaliar o conteúdo, e se dirá se são livros de terror, fantasia, ficção-científica, etc. De notar, no entanto, que acima destes três géneros-base, ainda existem dois "domínios": ficcional e não-ficcional. Ou seja, os textos dramáticos, líricos ou narrativos, podem todos ser ficcionais ou não-ficcionais.

Bem, adiante. Embora se distingam os géneros, há, obviamente, pontos em comum entre eles. Todos eles são influenciados pelas personagens, pelo espaço e pelo tempo, sendo até eles que, por vezes, definem a categoria do texto/livro. Mas levanta-se agora uma questão. Se até têm pontos em comum... Porque é que se distinguem? O que é que os faz diferentes uns dos outros? Eu sei que agora pode parecer uma pergunta meio-parva... Afinal, toda a gente que saiba ler sabe distinguir um poema de uma peça de teatro e de um romance. Mas pergunto-vos: formalmente, o que é que os distingue?

O mais fácil de distinguir é o género lírico, que vem normalmente em verso (nem sempre!), e que se foca principalmente na beleza das palavras e na melodia das frases, não se preocupando tanto com o contar uma história, característica base para os outros dois géneros. Géneros esses que também não dificultam muito a distinção, diga-se. Os textos dramáticos são aqueles que são escritos para serem representados e, para esse efeito, têm certas particularidades que o distinguem da narrativa, embora ambos os géneros sejam normalmente escritos em prosa, como o nome das personagens antes das suas falas, as descrições detalhadas dos ambientes (que são poucos, normalmente), bem como indicações entre parênteses sobre as reacções das personagens, a famosa didascália.

Sobra-nos, portanto, o género narrativo, ou, como algumas pessoas o conhecem, o texto corrido. Este género foca-se essencialmente em transmitir tudo ao leitor através da escrita (ao contrário do género dramático, que tem como objectivo as dramatizações), e que normalmente não explora a musicalidade das palavras de uma forma tão intensa como o género lírico. É, no fundo, o tipo de texto mais comum, no qual este post (e todos os outros, acho) se inserem.

E pronto, são estas as bases, os pilares sobre os quais assentam todas as outras categorias, e que eu não posso deixar de referir, se quero que o resto, daqui para a frente, faça algum sentido.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Fórum de Leitores


E cá fica, a prometida divulgação:


Um belo fórum-em-potência, com um formato ligeiramente diferente, mas que ainda vai longe! Eu estou lá praticamente desde o início, e espero que por lá apareçam. Vocês. Todos. A sério.

...

Agora a sério, apareçam, sim?

Este fórum merece!