quarta-feira, 31 de julho de 2013

Fire Above, Fire Below

Título: Fire Above, Fire Below
Autor: Garth Nix


Opinião: Baseado numa ideia interessante, este conto de Garth Nix agradou-me.

Logo para começar, envolve dragões, o que é sempre um ponto positivo, na minha não-tão-humilde-quanto-isso opinião.

Imaginem que os dragões são criaturas que vivem debaixo da terra, e que quando estão perto de morrer sobrem à superfície, para se escapulirem.

Agora imagem que um dos sítios preferidos para os dragões saírem das profundezas da Terra, fica numa cidadezinha pacata, e que andaram a construir coisas por cima desse local.

Como devem imaginar, acontece bodega. A fantástica ilustração de David Hunt que tenho ali em cima, para além de absolutamente fantástica, é bastante sugestiva. Acho que conseguem perceber...

Felizmente a cidade tem um pacto com os Dragonborn um estranho grupo de pessoas que são meio-dragão. Ou talvez um pouco mais de meio... Ylane é a mulher misteriosa (e badass, diga-se de passagem) que responde ao chamamento do Mayor e do Chefe dos Bombeiros, e que promete resolver a situação.

A forma como o faz é bastante curiosa, e só fiquei desapontado com o fim. Embora faça o seu sentido, e esteja bem escrito, foi demasiado repentino e pouco explicativo. Isto podia até nem ser mau, mas neste caso achei que a explicação final caiu ali um pouco de pára-quedas, sem necessidade nenhuma.

No entanto isso não me estragou a leitura, e posso afirmar que gostei deste conto. Tendo já lido uma trilogia de fantasia do autor, Fire Above, Fire Below (grande título, já agora) conseguiu despertar a minha curiosidade adormecida sobre as restantes obras de Garth Nix.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Lenda de S. Julião Hospitaleiro

Título: Lenda de S. Julião Hospitaleiro
Autor: Gustave Flaubert
Tradutora: Maria Franco

Opinião: Cá está um exemplo dum conto de que gostei bastante, mas que ainda podia ter gostado mais. Os ingredientes para o adorar incondicionalmente estão todos lá, mas o autor conseguiu estragar isso, já no fim.

A história está dividida em 3 partes, e são as duas primeiras que para mim fazem o conto sobressair, com a terceira a estragar tudo.

É que na primeira e na segunda parte, o narrador conta-nos a vida de Julião, predestinado a ser santo, mas que se revela uma criança eminentemente cruel e sádica.

Castigado por isso mesmo, já adulto, acaba por matar os pais, no meio de voltas e reviravoltas que me conseguiram surpreender e deixar agradado.

O final da segunda parte é a sua queda em desgraça, a espiral descendente de Julião enquanto enfrenta os remorsos e a culpa, olha de frente o homem mau que era, e anseia por obter redenção.

Até aqui o conto é negro e está muito bem construído. É então que chega a terceira parte, em que o narrador conta como é que Julião ascende da criatura miserável que se tinha tornado, até santo.

É uma parte cheia de luz e graça divina, aborrecida por isso e não só, e que não me pareceu acrescentar nada de relevante à história. O final da segunda parte era aberto o suficiente para criar especulação na mente de quem lê, e fechado o suficiente para parecer de facto o final de história, portanto não percebo esta terceira parte, para além do facto de ter que lá estar, pois este conto é, afinal de contos, uma lenda sobre um santo.

Mas apesar desse pequeno contratempo final, não deixa de ser um bom conto, que apreciei bastante, e que me deixou curioso para ler mais obras deste autor.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Lenda da Rosa

Título: A Lenda da Rosa
Autora: Selma Lagerlöf

Opinião: Com uma escrita agradável e uma história apenas vagamente interessante, são as descrições que se destacam neste conto. Todas, sem excepção, são excelentes, em particular a do desabrochar do jardim de Natal, no meio do mato selvagem.

Sem ser nada de especial, o conto é sobre um jardim escondido, um jardim maravilhoso e inigualável em beleza. Uma mulher conta ao monge sobre a existência desse jardim, que fica curioso, acabando eventualmente por ir até lá, ficando estupefacto.

A descrição do desabrochar desse jardim, como já disse, é excepcional. Tremenda! Só é pena, lá está, que o conto em si não me tenha conseguido despertar o interesse por aí além.

Fiquei maravilhado com as descrições, é certo, e a mensagem final de redenção está muito bem contextualizada, mas de uma forma geral o conto acaba por ser parado e ter pouca fluidez, o que faz dele um conto mediano. Mediano-alto, vá.

domingo, 28 de julho de 2013

O Segredo de Copérnico

Título: O Segredo de Copérnico
Autor: Jean-Pierre Luminet
Tradutor: Filipe Guerra

Sinopse: Sob a forma de uma biografia romanesca, O Segredo de Copérnico permite-nos descobrir aspectos da pessoa que se esconde por trás da figura deste extraordinário pensador e da sua vida, tal como sobre o início do século XVI, em Cracóvia. Copérnico, a quem o tio e tutor, o bispo de Ermelande, abrira as portas da Universidade, da Igreja e da própria política, vive numa época controversa, exercendo as suas múltiplas funções de astrólogo, médico e de homem da Igreja. Os Cavaleiros Teutónicos travavam os seus últimos combates, a reforma luterana ia criando cisões no seio da ortodoxia católica, enquanto em Itália os Farnese teciam as suas intrigas políticas. No meio dessa agitação, Copérnico prossegue as suas investigações sobre a organização do Cosmos, tal como a haviam estabelecido Ptolomeu e Aristóteles séculos antes, derrubando-a e colocando o Sol no centro do nosso Universo. Este romance pinta com forte colorido uma época de grandes mudanças, iluminando os debates teológicos e científicos de então. Uma leitura inspiradora, que nos permite aprofundar a compreensão do mundo em que vivemos.

Opinião: Tenho entre os meus vários interesses, a História da Ciência. E por causa disso, uma tristeza sempre presente algures no cantinho do meu cérebro, por não me dedicar mais a aprender sobre esse assunto.

Seja por falta de tempo, de paciência, ou de material, sinto que o consigo saber sobre o tema é insuficiente. Quando encontro algo, devoro-o avidamente, o problema é em encontrar esse algo.

Claro que na internet há mais informação do que aquela que eu posso esperar ler na minha vida inteira; mas há também muito lixo e muita informação errada. A filtragem é complicada, e mesmo assim, acreditem, já passei dias inteiros na Wikipédia, página atrás da página, a ler sobre este ou aquele matemático, físico, químico, biólogo, médico, cientista maluca, descoberta estranha, conhecimento arcaico e outras tantas coisas do género.

Portanto não é de estranhar que obras como esta consigam, volta e meia, entrar rapidamente para o topo da minha lista de leituras. É que sei que a não ser que o livro seja uma autêntica nódoa, eu irei ficar interessado o suficiente para valer a pena.

Pois bem, este livro não é uma nódoa. Também não é nenhuma obra-prima, nem um livro excepcional, qualquer que seja o ponto de vista, mas cumpre aquilo a que se propõe, e de forma bastante acima do mero aceitável.

Começando na adolescência de Copérnico, e acabando com a sua morte, Jean-Pierre Luminet (astrofísico!) conta a história de vida desse grande astrónomo através desta biografia romanceada.

O principal problema deste livro é exactamente esse formato de "biografia romanceada". Para cumprir o papel de biografia, é um relato algo exaustivo da vida de Copérnico; enquanto que para se inserir na categoria de romance, tem momentos de liberdade criativa que permeiam toda a obra.

O resultado é algo que não é tão rigoroso como uma biografia, nem tão literário quanto um romance. E por aí, é a obra que perde. As intrigas políticas acabam por ter tanto peso quanto as românticas, por vezes, e muitas das personagens não se livram de parecerem caricaturas de quem retratam, graças às acções e falas teatrais e exageradas.

Mas nem tudo é mau, e a história do cónego-astrónomo polaco que começou a revolução da forma como vemos o mundo, e o nosso papel nele, é bastante interessante. Digo que até fiquei admirado que o desgraçado tenha conseguido tempo e paciência para um trabalho tão árduo e rigoroso como o seu, no meio de tanta intriga e confusão amorosa, política e religiosa!

Este é então um livro de que gostei, mas não adorei. Podia ter ficado melhor, mas não ficou mau de todo. Fiquei foi curioso com o resto da obra de Luminet, que conta com obras como Le Bâton d'Euclide, e mais 3 livros do género de O Segredo de Copérnico, mas sobre Kepler e Tycho Brahe, Galileu, e Newton. Ficarei à espera que sejam vertidos para o português.

sábado, 27 de julho de 2013

$er um autor


O meu conhecimento do mundo editorial português é quase nulo. Não sei exactamente como funciona, nem qual o processo que vai da entrega de um manuscrito até à distribuição de um livro nas livrarias.

Mas sei que há cada vez mais coisas sinceramente deploráveis a acontecerem nesse campo. Não falo dos livros que vêm em saquinhos coloridos, ou que oferecem velas perfumadas e coisas afins.

Também não falo da vertente comercial glutona que alguns grandes grupos editoriais perseguem com cada vez mais ardor.

E muito menos do facto de existirem bons livros e bons autores que vão ficando fora das opções de publicação, tanto a nível nacional como internacional, por um motivo ou por outro.

Não, não é disso que falo, ainda que sejam 3 coisas que me fazem espécie, com a primeira a ser estúpida, a segunda preocupante, e a terceira perfeitamente normal.

Falo de editoras que publicam mediante pagamento. É complicado conseguir ser publicado, especialmente em Portugal, de certeza, e estas editoras aproveitam esse "nicho": os autores enviam os manuscritos juntamente com um pagamento, e as obras são publicadas.

O resultado é que qualquer macaco publica um livro, por mais terrível e objectivamente mal escrito que ele esteja.

Pode-se argumentar que as edições de autor são basicamente a mesma coisa, mas discordo. Não tenho qualquer problema com edições de autor. Seja por terem sido rejeitados ou pura e simplesmente por quererem o controlo total da sua obra, por despeito ou não ao mundo editorial, uma edição de autor é uma decisão que é tomada por alguém que quer ver o seu livro publicado e ponto final.

O princípio com as editoras de que falo pode ser o mesmo: os autores que aí publicam querem ver-se publicados e ponto final, e para isso estão dispostos a pagar. Tudo bem. A diferença é que nestes casos normalmente saem prejudicados por condições manhosas.

Às vezes não é preciso pagar, basta ceder a totalidade dos direitos de autor. Aceitar coisas destas é estar à beira do desespero e mais vale estar quieto.

E depois há o caso da antologia da Editorial Minerva. Podem ver o blog aqui, e o regulamento aqui. Reparem em como é suposto que este projecto seja "uma referência literária em Portugal e CPLP". E agora reparem em como participar: enviar os textos... e dinheiro.

Portanto temos aqui uma antologia cujo objectivo é ser uma referência literária e isso tudo, e depois tudo o que eu tenho de fazer é escrever algo que se pareça com uma tentativa séria de escrever poesia, juntar-lhe entre 50 a 150 euros, e já está?

Supostamente há uma selecção, mas mesmo que seleccionem os melhores, pelo critério que lhes apetecer, os autores continuarão a ter pago para participar. Pessoalmente acho isto aberrante e errado.

Não sei de mais casos específicos que ache tão absurdos quanto este, mas de certeza que eles andam aí. É uma pena que estas empresas que insistem em dizer que são editoras existam e propaguem estes métodos, mas suponho que seja um sinal dos tempos: uma saída fácil é sempre mais apetecível, por mais batota que envolva.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Já não sou a mesma



Título: Já não sou a mesma
Autora: Nancy Kilpatrick
Tradutora: Brigith Guimarães

Opinião: Narrado na primeira pessoa, este pequeno conto é interessante e ligeiramente arrepiante, mas acho que peca por ser demasiado curto.

Mas até envolve fantasmas índios! E sugestões de que há vampiros envolvidos, bem como crianças demoníacas.

O tom da narradora é frio, seco e distante, quase nunca mostrando nenhum ardor nem qualquer tipo de sentimentos, excepto mais perto do fim, quando se começa a exaltar. Esse tom desapaixonado pareceu-me estar de acordo com a ideia de que a narradora já não era a mesma.

No entanto, lá está, merecia mais páginas, mais desenvolvimento, mais pormenores. Acaba por ficar apressado e aquém daquilo que podia ter sido.

Mas pelo menos é mais um sinal da qualidade desta autora, que só conheci recentemente, quando comecei a ler os seus contos de vampiros. E não deixa de ser um conto bastante interessante.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

O Regresso do Monstro #2


Título: O Regresso do Monstro #2

Argumento: Bruce Jones
Desenho: Lee Weeks
Arte-final: Tom Palmer
Tradutor: Paulo Moreira

Sinopse: Bruce Banner bem que tenta passar despercebido, mas os seus misteriosos perseguidores não desistem e o Hulk continua a ser acusado da morte do jovem Myers.

Os acontecimentos precipitam-se subitamente quando Banner se vê envolvido numa tomada de reféns - e onde ele próprio é um dos sequestrados! Como lidará o Hulk com esta situação explosiva?

Opinião: Se a minha opinião do primeiro já não foi propriamente favorável, esta segue a mesma linha.

Confuso e aparentemente aleatório, este segundo volume em português deixa muito a desejar, embora tenha mais Hulk e 1 ou 2 momentos muito bons.

A verdade é que isso não chega para salvar o livro, que não me conseguiu encher as medidas de forma alguma, tal como o primeiro.

O Banner continua a estar muito mal aproveitado, parecendo apenas chato e aborrecido, e sente-se a falta da raiva demolidora do Hulk.

Parte da culpa é de me faltar o resto da história, eu sei, mas estes livros não têm qualquer indicação de que falta alguma coisa, e portanto fiquei obviamente confuso, porque parece que caí dentro duma história um bocado de pára-quedas.

Resta-me esperar pela BD do Hulk que ache verdadeiramente boa, porque nem este livro nem o anterior andam lá perto.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Leesville, Louisiana

Título: Leesville, Louisina
Autora: Nancy Kilpatrick
Tradutora: Brigith Guimarães

Opinião: Não há forma mais fácil de descrever este conto do que dizer que é verdadeiramente arrepiante.

A história é sobre uma rapariga que se junta a um circo em que, entre várias figuras estranhas, se encontra um "Apanhador de Sonhos", uma personagem repulsiva e aterrorizadora por si só.

Com estranhos sonhos e estranhos acontecimentos, Nancy Kilpatrick consegue criar uma atmosfera negra e arrepiante bastante intensa, com tudo a parecer girar em torno do dito Apanhador de Sonhos, ainda que não de forma tão óbvia quanto isso, ao início.

Essa sensação arrepiante prolonga-se durante o conto e apenas se intensifica, até chegar ao final que está muito bom para o conto que é, e que me deixou com uma sensação estranha.

Só não chamaria a isto um conto de vampiros, é preciso ser-se um bocado liberal na definição de vampiro para que o seja. Mas consigo ver o porquê de o enquadrarem nesta antologia.

Resumindo, é mais um bom conto desta autora, provavelmente o meu favorito.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Mulher de Lavrador



Título: Mulher de Lavrador
Autora: Nancy Kilpatrick
Tradutora: Isabel Sousa

Opinião: Conto interessante e que achei bem escrito, Mulher de Lavrador mostra-me que esta é uma autora a ter em conta.

A história mantém-se muito calma durante a maior parte do tempo, apenas com algumas pistas aqui e ali sobre o que vai eventualmente acontecer, e é no fim que desaba tudo. De forma literalmente explosiva, já agora.

Bem, mais ou menos. Mas a protagonista pareceu-me bem construída e bem aproveitada, com um conflito interior interessante e uma caracterização psicológica surpreendentemente profunda, tendo em conta a brevidade do conto.

Há alguns pormenores mais previsíveis, e mais banais, mas pronto, de uma forma geral acaba por ser uma boa história, e é só isso que eu peço.

Se eram precisas provas de que ainda é possível escrever como deve ser sobre vampiros, basta ler os contos desta autora.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Last Argument of Kings (The First Law #3)

Título: Last Argument of Kings
Autor: Joe Abercrombie

Sinopse: Logen Ninefingers might only have one more fight in him, but it's going to be a big one. Battle rages across the North, the King of the Northmen still stands firm, and there's only one man who can stop him. His oldest friend and his oldest enemy. It's past time for the Bloody-Nine to come home.

With too many masters and too little time, Superior Glokta is fighting a different kind of war. A secret struggle in which no-one is safe, and no-one can be trusted. And as his days with a sword are far behind him, it's a good thing blackmail, threats and torture never go out of fashion.

Jezal dan Luthar has decided that winning glory is far too painful a process, and turned his back on soldiering for a simple life with the woman he loves. But love can be painful too - and glory has a nasty habit of creeping up on a man when he least expects it.

While the King of the Union lies on his deathbed, the peasants revolt and the nobles scramble to steal his crown. Yet no-one believes that the shadow of war is about to fall across the very heart of the Union. Only the First of the Magi has a plan to save the world, but there are risks. There is no risk more terrible, after all, than breaking of the First Law...

Opinião: Depois de 2 livros à espera que as coisas começassem realmente a acontecer, chego ao livro em que tudo acontece! E embora tenha gostado, tenho a dizer que fiquei desapontado.

O ritmo é praticamente o mesmo que no resto da trilogia, excepto as últimas 200 páginas (o livro tem quase 700, nota-se bem) que são mais aceleradas e incluem uns 2 ou 3 capítulos mesmo muito bons, quase apocalípticos, com constantes saltos de pontos de vista, muito rápidos, que dão intensidade à história.

As personagens continuam fenomenais, especialmente Glokta, como é óbvio, que vai coxeando por entre desgraças e sucessos, sempre a safar-se de alguma forma, mesmo que para isso tenha que fazer algumas coisas um bocado desagradáveis, como torturar os seus amigos mais chegados.

Mas é de facto neste livro que tudo acontece. A primeira metade, mais coisa menos coisa, é bastante focada em porrada. As batalhas sucedem-se no Norte, e a ameaça do Sul está cada vez mais próxima, portanto muito do tempo de antena é dado a pessoas a estraçalharem-se umas às outras.

Isto podia ter-se tornado extremamente aborrecido, pois tanta acção normalmente não dá azo a grandes desenvolvimentos de enredo, mas acho que o Abercrombie até se safou mais ou menos com isso. As cenas de luta estão bem feitas e são contrabalançadas por alguma evolução da trama, que consegue manter o interesse.

Depois as coisas começam a suceder-se, numa autêntica catadupa de revelações e desenvolvimentos, que culminam numa batalha final que infelizmente não achei tão bem descrita quanto isso.

Foi durante os tais capítulos semi-apocalípticos, dos melhores de toda a trilogia, em que o autor salta constantemente de personagem para personagem, mostrando várias perspectivas do que se está a passar, a um ritmo muito rápido e intenso, com um final a aproximar-se a passos largos mas a parecer nunca mais chegar.

Durante essa altura, o livro torna-se ainda mais viciante do que é habitual. Mas depois tudo acaba um bocado de repente, e é demasiado fácil. Há inimigos que são uma enorme ameaça praticamente desde o começo do primeiro livro, e que mal participam na batalha, sendo chacinados sem dó nem piedade pouco depois de entrarem em cena.

E depois seguem-se ainda umas boas dezenas de páginas para fechar os arcos narrativos todos e para fazer as grandes revelações que faltam, mas isso também me desapontou, mais que não seja porque antecipei mais de metade das grandes revelações deste livro, que seguiram muitas vezes um caminho fácil e demasiado óbvio para o meu gosto.

Gostava que o enredo tivesse sido mais intrincado, menos óbvio, porque é isso que espero deste autor. Em Best Served Cold fui enganado e aldrabado montes de vezes, e ao longo desta trilogia, e deste livro em particular, fui apenas ocasionalmente surpreendido, porque o resto se via a milhas.

Mas isso não fez deste um mau livro: foi, aliás, uma óptima leitura, e uma conclusão bastante boa da trilogia. Apenas não foi tão estrondoso como eu imaginava que seria e gostava que tivesse sido.

domingo, 21 de julho de 2013

Elitistas e Pragas [2/2]


Bem, agora que já passei a parte de algo parecido com desculpas esfarrapadas, vamos ao que interessa realmente num blog sobre livros.

Quanto ao texto dos elitistas, continuo a apoiar 100% do que lá disse. Já quanto ao texto das pragas, preciso de clarificar as coisas.

Logo para começar, há modas e modas. As modas a que eu me referia eram modas na escrita e não na leitura. Sim, as duas estão claramente associadas, mas pensem comigo. Uma coisa é de repente toda a gente querer ler Saramago. Outra coisa é que por causa disso, toda a gente passe a querer escrever coisas como o Saramago. Há modas e modas.

Os romances sobre criaturas sensuais dirigidos a um público mais jovem são de facto uma praga, digam o que disserem. Iniciou-se com Stephenie Meyer e continuou por aí fora, com dezenas e dezenas de autores a escreverem os mesmos tipos de livros, com os mesmos tipos de histórias, pura e simplesmente para aproveitar a boleia.

E isso chateia-me. Quero lá saber que haja gente que só leia isso. Não me podia estar a borrifar mais, a sério que não. Mas de facto não foi isso que transpareceu.

Quero então deixar aqui bem claro que continuo a não querer saber o que cada um lê, divirtam-se. Porno literário, romances sobre criaturas sensuais, Fantasia do mais hardcore que existir, livros só com sangue e tripas, livros de autores com um Nobel, clássicos com mais de 100 anos, ou livros de poesia moderna.

Não quero é ver o panorama literário a estagnar por causa de algo assim. Foi por isso que me insurgi contra aquilo que denominei de “pragas literárias”.

Mas vendo bem, o panorama literário não está estagnado. Talvez esteja um bocado, em algumas coisas, mas continua a haver por aí muita literatura bastante acessível, muita dela mais do que nunca.

Portanto sim, eu estava errado. Ligeiramente. Só um bocadinho. Quase nada… Ok, eu estava errado. Mais na forma como escrevi o que queria dizer do que outra coisa, mas reconheço que havia alguma falha de ideias.

Não desesperem! Podem continuar a mandar vir. Nem que seja porque eu continuo a não dar crédito às donas de casa que lêem porno literário e olham com ar enojado para outras coisas.

Don’t get me wrong, são livres de lerem o que quiserem e isso tudo, mas não façam de conta que o fazem pela extrema qualidade literária, nem me digam que isso não é porno.


E pronto, era isto. Acho que acabei por falar pouco sobre livros e estive mais tempo a desculpar-me do que outra coisa, mas pronto. Acordei bem disposto e achei que era uma altura tão boa como outra qualquer para ganhar algum juízo.

sábado, 20 de julho de 2013

Elitistas e pragas [1/2]


Ora bem, vamos já tratar da parte mais complicada: eu às vezes cometo erros. Raramente digo algo assim, portanto aproveitem. E não desesperem que isto não é uma crónica intimista em que confesso os meus pecados e vos faço uma visita guiada aos cantos negros da minha mente.

Há coisas que ficam melhor escondidas.

Esta crónica tem um propósito muito claro, que é falar de elitistas e de pragas literárias. Nem sequer inventei muito no nome, para ser óbvio, já viram?

Não sei é muito bem como começar. Talvez por mencionar que na crónica sobre elitistas começo logo por mencionar que sou ligeiramente elitista. E que na das pragas digo que sou ligeiramente elitista, arrogante e pessimista.

Portanto quando parece que estou a ser hipócrita, ou a fazer algo que previamente condenei, é apenas defeito de fabrico de quem é arrogante e de quem tem uns dedos rápidos no teclado.

O meu objectivo não é vir contradizer algo que tenha dito antes, nem sequer desculpar-me pelo que quer que seja. Venho apenas reconhecer que cometo erros e que a minha abordagem aos temas em questão pode não ter sido a melhor.

Passo a explicar. Quando escrevi o texto dos elitistas foi de rajada, numa súbita fúria em resposta a algo que me disseram sobre o meu gosto literário. Curiosamente a crónica saiu bem estruturada, bem explicada, e extremamente pouco ofensiva, excepto para os idiotas dos elitistas.

Sim, eu incluído, relaxem.

Mais recentemente escrevi o das pragas, calmamente, com uma ideia clara em mente sobre o que queria dizer, e o que saiu foi um texto ligeiramente ofensivo para muita gente e muita coisa, que parece contradizer o outro texto, e que dá uma visão errada daquilo que eu penso.

Como podem ver nos comentários, o texto gerou debate, incluindo uma divertidíssima intervenção anónima que praticamente se limitou a espetar lá um link para uma crónica que eu escrevi, o que me leva a crer que o dito anónimo me conhece bastante bem, para temer pela minha falta de memória. Obrigado pela atenção, caro anónimo, palerma como todos os anónimos.

Avançando, volto a repetir que não me venho desculpar de forma alguma. Eu sou de facto elitista e arrogante, só um bocadinho do primeiro e bastante do segundo, mas sou. Defeitos. Virtudes. Falhas de carácter, ou talvez não, depende do ponto de vista.

Mas gostava de clarificar as coisas. Por um lado, têm toda a razão em discordar comigo no texto das pragas, fui apenas chato e pedante, nesse texto. Pouco melhor que os elitistas de que me queixei na crónica de há uns meses.

Só que isso foi mais problema de comunicação que outra coisa. Talvez as minhas ideias não estivessem tão bem definidas quanto isso, na altura em que escrevi a crónica mais recente, mas o que é certo é que olhando para ela agora só posso concordar com quem refila: o que lá está escrito é por vezes profundamente errado.

Não penso em retirar o que disse, no entanto. Admito que cometo erros, mas não cedo a uma humilhação pública assim tão facilmente, por mais que esta crónica até agora pareça apenas dizer "eu, aqui, bueda humilde e bueda fixe, a falar bué sobre como a culpa não foi minha, ya?". Não sei porque é que escrevi como se fosse atrasado mental, peço desculpa.

E por agora o texto vai longo, meus caros. Amanhã há mais. Prometo falar de livros.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A Montanha Aguarda


Título: A Montanha Aguarda
Autora: Nancy Kilpatrick
Tradutora: Eduarda Carvalho

Opinião: Um conto deveras interessante, este. A premissa começa por ser algo relativamente desinteressante, uma aldeia que faz sacrifícios anuais a uma vampira, que em troca não chateia ninguém o resto do ano.

Mas depois a história gira em torno de uma rapariga, que resiste a esse sacrifício e como que se revolta, "derrotando" a vampira de forma curiosa: com perguntas.

Esta revolta leva o conto para além da simples história de vampiros, transformando-o numa história de confronto entre a passividade e a resistência, a passividade e a sobrevivência.

Ao revoltar-se, e resistir, a protagonista causa problemas na sua aldeia. Sobrevive, mas a que custo? Ter-se deixado servir de alimento, como as outras crianças, teria salvo a aldeia, mas a que custo?

É um debate duro, em que as opções são uma aldeia inteira arrebanhar as suas crianças e entregá-las a uma vampira, ou resistir e condenar a aldeia a um ano de mortes e tormentos afins.

Não sacrificar ninguém e perder alguns, ou sacrificar alguns e não perder ninguém? Esta é a pergunta que o conto faz, sem propriamente responder. Mostra-nos o que acontece nos dois casos, com a tradição a levar ao sacrifício sem que ninguém pense muito nisso, e a essa mesma tradição a ser quebrada e a levar à desgraça.

A Montanha Aguarda é então um bom conto, que levanta questões interessantes e que conseguiu deixar-me a pensar bem depois de o ter acabado. Ainda por cima a escrita não é má.

Por outras palavras, e apesar de ser de vampiros, aconselho!

quinta-feira, 18 de julho de 2013

O Regresso do Monstro #1

Título: O Regresso do Monstro #1

Argumento: Bruce Jones
Desenho: John Romita Jr.
Arte-final: Tom Palmer
Tradutor: Paulo Moreira

Sinopse: A terrível destruição que o Hulk aparentemente provocou em Chicago causou uma vítima mortal: o pequeno Ricky Myers. Agora, com as autoridades no seu encalço, Bruce Banner vê-se obrigado a fugir de cidade em cidade. Mas a polícia não é a única interessada na captura do Hulk. Alguém pagou a dois assassinos para capturarem o Banner. Ajudado por um misterioso senhor "Azul", Bruce Banner começa a aperceber-se de que a morte de Myers não é exactamente aquilo que parece, e que algo bem mais sinistro se encontra por detrás desta trama intricada.

Opinião: O Hulk sempre foi uma das minhas personagens favoritas do Universo da Marvel. A óbvia inspiração em Dr. Jekyll e Mr Hyde seria mais do que suficiente, mas a forma como a personagem é normalmente abordada é muito mais do que isso.

No entanto ainda estou para ler uma BD do Bruce Banner/Hulk que ache realmente boa. Onde gostei mesmo de o ver foi nos filmes: a versão do Eric Bana não foi muito boa, e a do Edward Norton foi suportável, mas o Mark Ruffalo foi memorável.

Não só como Banner, mas também como Hulk. Nunca me vou esquecer do grande monstro verde a atirar o Loki dum lado para o outro, qual boneca de trapos, e a sair de cena com a linha: "Puny god.". Matei-me a rir!

E depois pronto, as BD's ainda não me deixaram satisfeito. Esta em particular tem pouco Hulk e muito Banner, o que só é uma pena porque o Banner parece seco e aborrecido.

A culpa é provavelmente do facto deste livro não ser o primeiro de coisa nenhuma. Pelo que percebi das versões em inglês há mais livros para trás, nesta história, o que ajuda a explicar a confusão que senti durante a leitura.

Banner recrimina-se por algum motivo que nunca é completamente descortinado, há pistas quanto ao facto dele ser acusado de ter matado um rapazito e criminosos que ressuscitam. Tudo isto enquanto o bom doutor tenta fugir, vagueando de forma mais ou menos aleatória.

A verdade é que me senti perdido e não consegui gostar do livro. A história até podia ser interessante, mas era se eu a soubesse toda e a acompanhasse desde o início.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A Cave


Título: A Cave
Autora: Nancy Kilpatrick
Tradutora: Virgínia Rocha

Opinião: Confuso, ainda que interessante, a verdade é que cheguei ao fim sem perceber muito bem o que se tinha passado. Ou se se tinha sequer passado alguma coisa.

Um conto sobre uma cave misteriosa, que encerra um caixão misterioso. É isso que isto é. A personagem principal, aparentemente neto da dona da casa (e do caixão?) anda por ali, indeciso quanto a alguma coisa.

E borradinho de medo. Mas eu cá não consegui muito bem perceber o quê. Era medo da avó, que era uma vampira? É possível, mas não garanto nada.

A escrita não é má, mas não me pareceu particularmente brilhante. E foi, acima de tudo, bastante confusa. As descrições da cave não foram as melhores, e as constantes intromissões do estado de espírito do protagonista pareceram deslocadas.

Portanto a autora fica com um conto interessante e um conto não muito agradável, até agora. Logo vejo os próximos.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Before They Are Hanged (The First Law #2)

Título: Before They Are Hanged
Autor: Joe Abercrombie

Sinopse: How do you defend a city surrounded by enemies and riddled with traitors, when your allies can by no means be trusted, and your predecessor vanished without trace? It's enough to make a torturer want to run - if he could even walk without a stick - and Inquisitor Glokta needs to find answers before the Gurkish army comes knocking at the gates.

Northmen have spilled over the Angland border and are spreading fire and death across the frozen country. Crown Prince Ladisla is poised to drive them back and win undying glory. There is only one problem: he commands the worst-armed, worst-trained and worst-led army in the world.

And Bayaz, the First of the Magi, is leading a party of bold adventurers on a mission through the ruins of the past. The most hated woman in the South, most feared man in the North, and most selfish boy in the Union make strange companions, but, if only they didn't hate each other so much, potentially deadly ones.

Ancient secrets will be uncovered. Bloody battles will be won and lost. Bitter enemies will be forgiven - but not before they are hanged.

Opinião: Depois de um primeiro livro bastante parado, eis que o segundo volume da trilogia The First Law, de Joe Abercrombie, ainda consegue ser mais parado. E ainda assim estranhamente viciante, mais ainda que o primeiro!

A culpa dessa dualidade é claramente de 3 coisas: a escrita, as personagens, o tipo de coisas que acontecem.

A escrita, por um lado, desliza que é um doce. É daquela escrita que se lê mesmo bem. Não dá para encalhar, nem para demorar muito, lê-se rápido e bem. Depois as personagens continuam fantásticas. A construção que este homem faz é indescritível. A maior parte das personagens, sejam mais ou menos secundárias, transmitem uma sensação de plausibilidade tão grande que é ridículo.

Pelo menos dentro do universo dos livros, já que estamos a falar de uma mulher com sangue de demónio, um feiticeiro careca que gosta de explodir pessoas com o pensamento, um bárbaro do Norte com um sangrento problema de dupla personalidade, um inquisidor aleijado com um ar bastante estranho (GLOKTA! GLOKTA! GLOKTA!) e coisas afins.

E há ainda o tipo de coisas que acontecem. Esta deve ser a parte mais difícil de explicar. Para ser justo, nem posso dizer que tenha acontecido pouca coisa; o que se passa é que ao longo das 1000 e tal páginas que já li desta trilogia, aconteceu muita coisa, só que bastante espalhada, o que leva a (desculpem) uma densidade de acontecimentos bastante baixa, consequentemente dando a impressão de que nada se tem passado.

Mas, e aqui está o pormenor interessante, quase tudo o que acontece tem, ou parece ter, uma qualquer pista para um acontecimento futuro. Ou então vários acontecimentos parecem convergir de alguma forma. Ou então há linhas narrativas extremamente díspares mas que se está mesmo a ver que eventualmente vão dar bodega da grande, só pode.

Isso é algo que o Abercrombie faz com mestria: vicia. A forma como escreve e a forma como desenvolve a história têm-me deixado sempre com água na boca. Tenho a sensação de que ainda não se passou nada, mas estou sempre a achar que tudo está à beira de colapsar.

E conhecendo o autor como o conheço do Best Served Cold, já sei que o fim vai ser terrível, sangrento, violento e tudo o resto. Sinto que estou a dar passinhos de bebé em direcção a um precipício. Tenho a sensação de praticamente não estar a avançar, mas vejo a queda cada vez mais perto. É fascinante.

Portanto este segundo livro, ainda que provavelmente mais parado que o anterior, agradou-me mais. Já conhecia as personagens desde o início, e algumas questões começaram a ser respondidas. De forma bastante lenta, como é óbvio, mas respondidas.

Apenas posso esperar que o desenvolvimento e a conclusão nas 700 páginas de Last Argument of Kings seja tão estrondoso como eu o imagino, e como me têm dito. Sinceramente tenho receio do que possa vir a acontecer. Mas mal posso esperar para o saber.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A Clarabóia


Título: A Clarabóia
Autora: Nancy Kilpatrick
Tradutora: Virgínia Rocha

Opinião: Com uma escrita agradável e um começo tão banal quanto possível, este conto surpreende.

Muitos, eu incluído, argumentam que já é difícil escrever boas histórias de vampiros que sejam de facto interessantes, mas Nancy Kilpatrick conseguiu-me surpreender.

E por uma razão muito simples: este conto sobre uma mulher a tomar banho, aborrecida com o barulho que os vizinhos fazem, tinha tudo para ser bastante previsível, e conseguiu não o ser.

Curto, dá pistas, mas passam ligeiramente ao lado, especialmente face àquilo que domina a história, a clarabóia. Misteriosa e imponente, não se percebe muito bem o porquê da relevância de algo tão banal, e a autora consegue torná-la no ponto central das suas descrições de forma bastante interessante.

Já no fim, mesmo no fim, dá uma volta ao que está a passar, e juro que fiquei surpreendido. Estive o conto todo a pensar em algo parecido com a revelação final, mas os últimos acontecimentos apagaram-me essas desconfianças... Só para as últimas linhas me provarem que estava certo!

Não sendo propriamente original, porque enfim, A Clarabóia acaba por ser um interessante conto de vampiros, o que, devo dizer, é sinceramente refrescante.

domingo, 14 de julho de 2013

Pragas literárias


É demasiado fácil, não é verdade? Só têm que ler o título para me imaginarem a refilar por causa dos vampiros sensuais, dos anjos sensuais, dos zombies sensuais, dos livros sensuais, e de outras coisas não necessariamente sensuais que por aí andam e que chateiam toda a gente.

É. Demasiado. Fácil. Vampiros que brilham e se tornam vegetarianos, no mesmo mundo em que os "lobisomens" são gajos com alergia a roupa da cintura para cima, e que se podem transformar quando lhes apetece... Aborrecem-me.

A onda de vampiros sensuais que por aí apareceu a seguir tornou-se num autêntico tsunami que entretanto começou a arrastar água de outros mares: anjos de físicos impecáveis armados em Romeu, por exemplo.

Ou zombies com um ligeiro vislumbre de consciência e armados em Romeu. E já nem falo da literatura porno para donas de casa que também anda a despontar que nem cogumelos num canto húmido.

A sério, o que raio é que andam a pensar? Eu sei que isto de seguir modas é a coisa mais comum de sempre, e que raramente dá bom resultado, mas as pessoas que lêem é suposto serem espertas.

Não quero ofender ninguém, a sério que não. Mas caras pessoas que só lêem essas sagas ranhosas sobre o-que-quer-que-seja sensual, claramente direccionadas para raparigas com as hormonas aos saltos, não vos posso dar muito crédito.

E quanto às donas de casa que lêem porno à paisana com o chicote de fora, até me aborrece menos que leiam isso do que histórias com vampiros que brilham ao Sol. Mas se há algo que me chateia é que lancem os vossos ares do mais profundo nojo quando alguém fala de porno, e que se sintam genuinamente ofendidas quando alguém diz que o que estão a ler é porno.

Se tem pessoas nuas a fazerem coisas para maiores de 18 como tema central da história, garanto-vos, mesmo não sendo especialista, que isso é porno. Escondam a capa o que quiserem, mas estão a ler porno. Porno. Porno.

E isto são as pragas mais visíveis hoje em dia... Eu nem sei bem, mas tenho medo de pensar nisso muito para trás no tempo, e ainda mais medo se estivermos a falar de andar para a frente.

No passado não sei bem quais foram as pragas, tirando uma que ainda vigora hoje em dia, que é a de escrever coisas profundas, como poesia ou prosa muito poética, mas sem que faça qualquer sentido. Escrita moderna. Demasiado avançada para que as nossas mentes mortais a captem.

O melhor é não me pôr a pensar muito nisso, ou ainda deparo com alguma moda que só gerou obras de alto calibre, e toda a minha resmunguice vai por água abaixo. Pensemos no futuro.

Tenho, por exemplo, medo que daqui a uns anos, não muitos, a expressão "o livro com o Big Brother" deixe de se referir ao 1984 de George Orwell para se passar a referir a uma novelização qualquer de um desses programas estúpidos, ou algo parecido. Nem sei como é que ainda ninguém se lembrou disso. Vou riscar este parágrafo, para dissuadir as pessoas de o lerem, just in case.

Gostava de vos poder dizer que tenho esperança de no futuro começarem a haver pragas boas. Que escrever histórias de terror vai estar na moda. Que a ficção científica vai estar tão na berra que os fãs hardcore vão deixar de gostar, porque toda a gente gosta.

(Eu talvez esteja a misturar fãs hardcore de FC com indies, mas às vezes parecem ter os mesmos ideias, assim como os fãs hardcore de livros do género Fantástico em geral. Contra mim falo.)

Mas infelizmente não sou uma pessoa com grande fé em quase nada. Este tipo de esperanças está praticamente condenada à partida, para sempre. A boa literatura Fantástica parece pré-destinada a ser uma literatura de nicho. Um nicho que tem vindo a crescer, mas um nicho.

Quer dizer, com tantas sagas juvenis que por aí andam, acredito que mais uns anos e o Fantástico se comece a disseminar. Mas se for a seguir o caminho que está a seguir actualmente... Enfim.

Com tanta coisa dita sem dizer grande coisa, o melhor é calar-me enquanto não digo algum disparate muito grande. Esta é apenas a minha opinião, ligeiramente arrogante, ligeiramente elitista, ligeiramente pessimista, mas quando se é ligeiramente arrogante, ligeiramente elitista e ligeiramente pessimista, não se pode pedir muito mais não é?

Acho que mesmo assim há mais leitores, nada como eu, nem ligeiramente nem extremamente, que acham o mesmo. Pessoalmente digo: "parabéns, estão certos, porque concordam comigo". Em termos racionais digo algo mais: "não estou sozinho, o que significa que não posso estar muito errado, ou que pelo menos tenho companhia na minha palermice!".

Sintam-se à vontade para discordar, preparem-se é para eu refilar de volta.

sábado, 13 de julho de 2013

O Barril de Amontillado


Título: O Barril de Amontillado
Autor: Edgar Allan Poe
Tradutor: Alair de Oliveira Gomes

Opinião: Tenho a certeza de já ter lido este conto, bem como muitos outros de Poe, mas já foi há uns tempos e só pelo título não me lembrei de qual era este.

Só quando os tijolos começaram a ficar no sítio é que me lembrei, e mesmo assim não consegui impedir um arrepio face aos acontecimentos.

O protagonista, que narra a história, é muito provavelmente um psicopata. A forma fria e distante com que conta tudo é extraordinária e tenebrosa.

Poe era um mestre, disso ninguém pode ter dúvidas. A escrita é fantástica, a personagem principal está muito bem construída, é credível e transpira o seu aspecto psicopata. Fá-lo de forma discreta, ao princípio, mas esse sentimento que transmite vai-se intensificando com o passar da história e com o que ele vai fazendo.

Enfim, O Barril de Amontillado é um conto que acho ser bastante típico de Poe: por muito ao de leve que se comece a ler, acaba-se fascinado pelo ambiente, que Poe era muito bom a criar e a adequar à história que queria contar, e aprisionam-se pormenores na memória de forma quase primitiva.

As descrições de O poço e o pêndulo nunca me abandonaram, por exemplo, nem o que acontece no final deste conto, que é terror num dos seus expoentes máximos, se querem a minha opinião.