segunda-feira, 31 de março de 2014

Que as citações nos caiam em cima [47]


"Às vezes rimo-nos com gosto com pessoas que padecem de ironia. No entanto, ninguém lhes dá crédito, não se confia nelas. O irónico pode afirmar que está a morrer e ninguém acredita nele. O homem que ri, morre solitário. Bom, talvez isso seja bom."


Da Ironia
Aleksandr Blok

Da Ironia

Autor: Aleksandr Blok
Tradutor: Dimíter Ánguelov


Opinião: De vez em quando sabe bem comprar livros por impulso. Passar num sítio e ver qualquer coisa que nos chama a atenção, a custar menos de três euros... É quase impossível resistir! Este livro é um desses casos.


Em Da Ironia estão reunidos cinco ensaios de Aleksandr Blok, poeta russo nascido em finais do século XIX, antecedidos de uma pequena nota biográfica sobre o autor.

A minha pesquisa sobre o autor resume-se à sua página da Wikipédia, mas fiquei a perceber o essencial, que Blok era admirado por alguns vultos da literatura russa e que a sua poesia era bastante valorizada. Além disso o desgraçado do homem foi um idealista que morreu de forma injusta: a autorização para sair da Rússia e receber tratamento só lhe foi dada depois de morrer.

Um homem interessante, sem dúvida. É ao descobrir estas coisas que me pergunto quantas pessoas e obras fascinantes não me estão vedadas pela barreira da língua? Por ler em inglês, além de português, já tenho acesso a uma quantidade simplesmente brutal de livros e de autores, mas nem imagino o que ando a perder por não ler mandarim, russo, grego...

Mas adiante! O conjunto de ensaios aqui reunido transmite uma ideia muito clara de Blok, a de um homem extremamente lúcido, com um óptimo sentido de humor, mas que se debateu com demónios interiores que assimilava do mundo que o rodeava.

No primeiro ensaio, que dá o nome ao livro, são o sentido de humor e a clareza de espírito que mais se destacam, com um texto convenientemente irónico e bastante engraçado sobre (surpresa!) a ironia, a falsidade e a importância do sentido de humor.

É num tom sério mas hilariante, curiosamente parecido com o do humor britânico, que Blok descreve a doença da ironia, as suas causas e as suas consequências nas pessoas e na sociedade, discorrendo brevemente sobre os irónicos.

Nos restantes quatro ensaios há de tudo um pouco: textos sobre o Humanismo, poesia, o povo, a inteligência e uma crítica a uma crítica literária. O fio condutor que une tudo é Blok, os seus ideais e, acima de tudo, os seus medos.

Os defeitos que vê nos outros e as falhas que aponta à sociedade parecem-me ser defeitos e falhas de que ele tinha medo nele próprio. Fiquei com a sensação que o humor nestes ensaios é defensivo, em vez de acusatório, e que o autor se escondeu por detrás da sua escrita para desabafar e tirar pesos de cima dos ombros.

Da Ironia revelou-se um livro inesperadamente interessante e que me deu a conhecer um autor do qual eu muito provavelmente nunca iria ouvir falar, mas que assim conseguiu cativar a minha curiosidade.

sábado, 29 de março de 2014

Opiniões influenciadas

Está para chegar o dia em que alguém consiga acabar um livro sem ter feito um qualquer juízo de valor. Comentar livros até pode ser o seu trabalho, e passado cinco minutos ir escrever a crítica mais objectiva de sempre, mas a opinião, pessoal e subjectiva, está lá.

No entanto, quão pessoal é essa opinião? Depende do que entenderem como pessoal, e isso tudo, mas pensem lá um bocado no assunto. A opinião do vosso amigo talvez vos influencie um pouco. O facto de ser um autor que detestam talvez vos influencie um pouco. Ou talvez estivessem a ler um livro sobre terrorismo, a 11 de Setembro de 2001.

É inegável que existem factores que nos influenciam, não só a leitura como a opinião. Por vezes mesmo depois de já termos lido o livro há uns tempos.

O exemplo mais simples é um livro que tenhamos achado mesmo muito bom. Apregoamos para quem queira ouvir que é um dos melhores livros que já lemos na vida. Fazemos publicidade aos nossos amigos todos, insistimos para que leiam, emprestamos a quem quiser, fazemos tudo!

E passadas duas semanas, lemos um livro dez vezes melhor. Repetimos o procedimento acima. E provavelmente reclassificamos o outro livro. É apenas um bom livro, agora. Se nos perguntarem, se calhar desviamos a conversa para o mais recente, mais tarde ou mais cedo. Se tivermos as opiniões escritas e a formos rever, até nos dói o coração: no que é que eu estava a pensar?

Acontece a toda a hora.

Outro caso, que eu acho mais grave mas do qual não estou isento, são as reclassificações que fazemos por causa de outras opiniões. Ter uma opinião mázinha dum certo livro, mas ouvir falar tão bem dele, em todo o lado, da boca de pessoas nas quais confiamos (nestes assuntos, pelo menos), que damos uma abébia.

"Não era assim tão mau, vá...", "Também embirrei um pouco com aquilo, pronto.", "Quer dizer, a história em si é boa, e a coisa tem potencial, só que pronto, a execução não foi a melhor."

Um número interminável de desculpas que querem todas dizer a mesma coisa: se estas pessoas têm todas esta opinião, talvez eu esteja errado. Não é uma perspectiva que me agrade, pois não gosto de ser influenciado nem de estar errado, mas já me aconteceu com alguns livros que, em retrospectiva, foram ligeiramente perdoados.

Há ainda o caso de ser o próprio livro/autor a influenciar-nos. Ou não gostamos daquele género e já começamos a ler de nariz torcido, ou odiamos/veneramos o autor e a opinião nunca é boa/má, ou o livro fala sobre alguma assunto que abominamos ver discutido, ou uma outra coisa qualquer.

Também não é tão raro quanto isso. As minhas opiniões de David Soares, João Barreiros, Stephen King e mais alguns têm sempre o benefício da dúvida, enquanto que as minhas opiniões de Gonçalo M. Tavares e José Luís Peixoto são sempre implacáveis logo à partida.

Para escrever aqui para o blog tento sempre, pelo menos, desligar-me dessas coisas e dar uma opinião que não seja baseada em "ESTE AUTOR É MESMO FIXE" ou "esse gajo uma vez olhou-me de lado", mas torna-se complicado. Onde está o limite? O que é opinião válida e o que é embirranço?

Enfim, é preciso ter cuidado. O outro da relatividade é que tinha razão.

Tem piada, porque ele se casou com uma prima materna E paterna.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Homem-Aranha Superior #0


Título: Homem-Aranha Superior #0

Argumento: Dan Slott
Desenho: Richard Elson, Humberto Ramos
Tradução: Filipe Faria

Opinião: Já tinha ouvido falar muito desta nova fase do Aranhiço, antes de pegar nisto, e as opiniões raramente eram muito boas. Foi com surpresa que gostei bastante de ler esta revista arraçada de livro, que junta os três primeiros comics desta nova fase.

O problema agora para escrever esta opinião é mesmo fazê-lo sem estragar a leitura. É que o ponto fulcral da história, ainda que seja mais do que conhecido para qualquer geek minimamente atento, é verdadeiramente chocante.

Vou fazer o seguinte: aviso já que os próximos dois parágrafos têm spoilers dos grandes, e se ainda não souberem do que se trata e quiserem ler isto, saltem-nos.

Isto conta-se rapidamente: o Doutor Octopus, um dos vilões icónicos do Homem-Aranha, conseguiu trocar de corpo com Peter Parker, deixando-o a morrer no seu corpo em decadência, e toma o manto de Homem-Aranha Superior.

Não sei o que passou pela cabeça destes tipos para matarem assim o Peter Parker, mas a verdade é que o fizeram, e ainda o substituíram por um dos arqui-inimigos, se não o seu arqui-inimigo.

O choque! O horror! Acho que nunca vi nada igual no mundo dos comics. É certamente original e bastante arriscado, e percebo perfeitamente a revolta dos fãs, mas... a coisa está bem feita. A primeira parte é particularmente forte, porque mesmo estando à espera, conseguiu surpreender-me pela forma como a história é contada.

Não fiquei fã da arte, mas não é má de todo. A história é que me parece ter mais do que pernas para andar e prometer excelentes desenvolvimentos. Mesmo que não passe a comprar esta revista, vou certamente fazer um esforço para a ler!

quarta-feira, 26 de março de 2014

A terrível criatura sanguinária


Título: A Terrível Criatura Sanguinária
Autor: Nuno Markl

Opinião: A história é confusa, mas curiosa. Até porque envolve um conceito bastante interessante: um mosquitomem! Porque é que não há dezenas de autores portugueses a pegarem neste tipo de conceitos? É genial!

Entre criaturas da noite, que são perfeitamente aceites como algo normal no mundo criado pelo autor, e pessoas que ora as evitam, ora se esforçam por se tornarem nelas, as personagens não são particularmente marcantes.

Acho que o autor podia ter pegado na história de outra forma, e tê-la tornado muito mais interessante, mas não foi dos piores contos que já li, nesta colecção, o que é dizer muito, se tiverem acompanhado as minhas críticas!

segunda-feira, 24 de março de 2014

Peril at End House


Autora: Agatha Christie

Adaptação: Didier Quella-Cuyot
Ilustrações: Thierry Jollet

Opinião: Se ler Agatha Christie é sempre uma bela duma experiência, porque não experimentar as adaptações a BD? Esta foi encontrada casualmente ao desbarato na FNAC, e nem sabia que existia.

A primeira impressão é que a adaptação está bem feita. A história já é boa, pois foi imaginada e escrita por Agatha Christie, portanto não havia muito por onde falhar, desde que não se inventasse muito. E Quella-Cuyot não se perde, mantendo-se fiel à autora e ao seu estilo, sem cair no erro da caricatura ou da interpretação pessoal.

Sim, as personagens soam um bocado artificiais, os acontecimentos precipitam-se um pouco, e o Poirot consegue fazer as suas deduções de forma demasiado disfarçado durante toda a história, mas isto são tudo pormenores que fazem parte do encanto da autora, nomeadamente o facto dela ter conseguido quase sempre contornar essas "falhas" incorporando-as no seu estilo ou construindo uma narrativa tão forte e envolvente que atira o resto para a categoria de "pormenores irrelevantes".

Nesta adaptação isso não funciona tão bem, pois não são exactamente as palavras da autora que estamos a ler. Perde-se um bocado o efeitio, se preferirem, apesar do bom trabalho de Quella-Cuyot.

Mas o que funcionou pior foi outra coisa. Começo por apresentar David Suchet no seu papel de Poirot, provavelmente o mais famoso e a definitiva representação do mais famoso detective francês belga.

Fonte
O desgraçado do actor não é particularmente deformado, mas olhem para aquela foto. Ele tem a cabeça de ovo que Agatha Christie diz nos seus livros que o Poirot tem. Não vou ficar aqui a desbobinar todas as formas como Suchet é um Poirot perfeito, mas é inegável que é bastante semelhante à ideia que toda a gente tem do detective.

Não é que o aspecto físico de Poirot seja particularmente relevante para as histórias, mas é um traço distintivo e é parte do que faz o Poirot o Poirot. Nada que seja imutável, entenda-se, que eu uma vez vi um filme que tinha uma versão aloirada (ia tendo um ataque cardíaco), mas funciona melhor quando o resultado é bastante parecido com a visão original que a autora transmite nos seus livros.

Pois bem, apresento-vos agora o Poirot deste livro.


Reparem na banalidade. Na cabeça completamente normal. No leve ar de galã de Hollywood dos anos 60. Não, não e não! Esta personagem é descrita em todos os livros basicamente como um homem um pouco estranho, e não só por estar constantemente a falar das suas "célulazinhas cinzentas". Esta sua representação, para mim, cai completamente ao lado.

Mas tirando esse pormenor, que não é tão insignificante quanto isso, gostei desta leitura, que passou demasiado depressa. Fiquei seriamente espantado com a rapidez com que se consegue ler este livro. Os policiais desta autora raramente são leitura que se aguente mais do que três ou quatro dias nas minhas mãos, mas esta BD lê-se em coisa de meia hora.

E a história percebe-se. É de louvar. Tirando isso, a história em si é o costume: acontecimentos estranhos, assassínios curiosos, esquemas estranhos e rebuscados, deduções brilhantes que nos fazem sentir burros, e uma série de coincidências que atraem invariavelmente o detective para o centro da trama.

Assim, sem ser nada de extraordinário, aconselho este livro, que permite ter um vislumbre da rainha do crime num formato completamente diferente do habitual de forma bastante satisfatória.

sábado, 22 de março de 2014

Estantes Emprestadas [3]: Três livros, três imagens [3/3]


A conclusão desta excelente crónica chega hoje, com um texto sobre um livro que a Carolina não leu. Apesar das inseguranças dela, acho que é seguro afirmar que fez um bom trabalho (como todos os convidados têm feito até agora). Um obrigado, Carolina!


O livro que não li


A minha avó tem, mais coisa menos coisa, uma prateleira de uma vasta estante reservada a Saramago. Isto algures numa parede forrada a livros de economia, livros de histórias, alguns exemplares que não sei categorizar, pequenas esculturas feitas de lixo reaproveitado trazido de vários países da África e umas quantas molduras com fotografias, que se contam pelos dedos das mãos. A disposição dos livros, ainda que numa edição esteticamente pouco apelativa, chama à minha atenção quando, de visita, me sento no sofá do escritório. Talvez do efeito conjunto, a dar ares de colecção que embora modesta, dá-se a ares de importância, como cantinho de orgulho, uma homenagem a alguém que honrará concerteza a tinta com que mancha o papel.


O primeiro dia em que Saramago se registou no meu cérebro foi num dia de Verão, descontextualizado da estante e do seu estatuto de colecção. Reparei num livro que assentava sobre a mesa de cabeceira. As Pequenas Memórias, de José Saramago, dizia. O título intrigou-me. O nome não era inteiramente desconhecido. Já o tinha ouvido várias vezes antes, nas palavras do meu avô... E afirmava ele, lembro-me eu, que Saramago era um escritor português que tinha ganho um prémio Nobel. Então peguei-lhe, atraída pelas palavras com que se apresentava, e pela curiosidade em ter uma primeira impressão de um nome tão aclamado. E na página, escolhida ao acaso, lia-se:

"Não sei como o perceberão as crianças de agora, mas, naquelas épocas remotas, para as infâncias que fomos, o tempo parecia-nos como feito de uma espécie particular de horas, todas lentas, arrastadas, intermináveis. Tiveram de passar alguns anos para que começássemos a compreender, já sem remédio, que cada uma tinha apenas sessenta minutos, e, mais tarde ainda, teríamos a certeza de que todos estes, sem excepção, acabavam ao fim de sessenta segundos..."


Penso sempre que se o dissesse a um fã de Saramago, provavelmente apontar-me-ia noutra direcção. O Homem tem mais fascínio pela sua obra, afinal, e no caso de Saramago As Pequenas Memórias seguem um estilo autobibliográfico. Talvez devesse ter escolhido outro livro da estante. Mas este primeiro contacto terá sido há cinco ou seis anos, e juro que o travo da nostalgia que li nas suas palavras me convenceu que não podia haver frase mais bonita no livro inteiro. Não sei de que mais se trata. Se chega à idade adulta entretanto, se os assuntos perdem o tom que me chegou aos ouvidos quando li esta passagem... Afinal, não o li. Mas este pedacinho de retrospectiva sobre o passado de Saramago despertou em mim uma curiosidade de ler a sua perspectiva... E a ideia que sempre me ficou deste livro, errada ou não, foi a de que havia uma forte tentativa de se colocar no lugar de uma criança, e de uma forma geral num tempo menos claro que o presente, e de ver as coisas de então com os olhos de agora. E essa simples ideia tem aguçado a minha curiosidade cada vez que o nome de Saramago se pronuncia em qualquer lugar.

Dito isto e virando-me para o desafio que me foi proposto, houve uma fotografia que encaixou como possível imagem mental quando penso n´As Pequenas Memórias, e em como ter cinco anos demorou mais tempo que qualquer outra idade, e num Saramago ou noutra criança qualquer a viver num mundo que já passou. 

Assim, sem me debruçar muito sobre uma explicação forçada de pormenores, e porque as imagens têm interpretações mais bonitas se as deixarmos ao critério de cada um, escolhi esta fotografia, porque me lembra a infância.

Fotografia por Maria McGinley

sexta-feira, 21 de março de 2014

Meia década de QAENCEC

Cá estou eu, cinco anos depois de tudo ter começado. Uma ideia simples da Alice que se tornou num projecto de grande envergadura pessoal. Podia até dizer que escrever para o Que a Estante nos Caia em Cima se tornou no meu primeiro emprego.

Pois é. Quando penso nisso mais a sério, vejo que gasto uma quantidade absurda de horas com isto. Entre escrever, planear, pensar, pesquisar, arrumar, limpar, gerir e sei lá mais o quê, aqui fica um pedaço da minha semana.

Às vezes arrependo-me um pouco. Isto ainda dá trabalho. E já há algum tempo que sinto uma certa responsabilidade para com quem vem visitar. No início era fácil, as opiniões mal passavam de resumos com um "gostei muito!!" no fim, e publicava quando me apetecia.

Mas depois comecei a ter mais visitas e mais seguidores (e poucos comentários, mas já lá vou). A partir de certa altura começaram a haver pessoas que vinham cá com regularidade, que acompanhavam o que eu escrevia, as minhas opiniões e as minhas crónicas. Comecei a sentir, cada vez mais, que além de ser para mim, isto também era para outras pessoas. Principalmente para outras pessoas.

O meu objectivo nunca foi o de ter um sítio para me gabar das minhas leituras, mas sim, tal como ficou acordado com a Alice há meia década, o de ter um sítio para discussão e incentivo à leitura. Como tal, era importante que me passasse a esforçar como deve ser para escrever textos decentes.

Ninguém quer cá vir ler resumos. Ou melhor, eu não quero que isto se torne num repositório de resumos, para que a juventude que é obrigada a ler livros na escola não tenha de os ler. Quero ter opiniões e crónicas interessantes, cativantes e que transmitam aquilo que me vai na cabeça.

E durante uns tempos andei bastante satisfeito. Consegui criar ritmo e actualizar regularmente. Por menos tempo que tivesse, um problema que ainda me aflige, arranjava sempre forma de escrever qualquer coisa para ser publicado quando era suposto. Como tem acontecido nestes últimos tempos.

Só que isto nem sempre foi espectacular para mim. Já tive momentos em que me apeteceu largar o blog e remeter-me à minha vidinha, nariz enfiado nos livros sem me preocupar com ter que escrever uma opinião no espaço de uma semana, para não me esquecer de nada. E sim, já pensei seriamente em fechar o blog e fazer isso.

Ainda agora, que isto anda relativamente encaminhado, me sinto assim. Seja por não conseguir aumentar o número de visitantes diários, seja por ter poucos comentários, seja por achar que perco demasiado tempo com isto, seja por não estar a gostar de como as opiniões andam a ficar, a verdade é que penso em parar, de vez em quando.

Também não me posso queixar muito do número de visitantes, mas confesso que quando passam meses e anos e os números não evoluem de forma positiva, fico um bocado desanimado. A questão dos comentários é mais grave, pois isso aborrece-me mesmo, e não só por aqui mas em toda a blogosfera. A sensação que tenho é a de que há muita gente a ver, mas muito pouca a comentar. E não percebo porquê. Os blogs servem (de uma forma geral) exactamente para a discussão e para a interacção! Onde é que ela anda?

E por aqui gostava realmente de ter mais comentários. É sinal de que as pessoas leram de facto as coisas e que se está a discutir o assunto, seja ele qual for, e isso é importante. Só espero que isso melhore.

Já a questão do tempo, não tenho que lhe fazer. Já consegui arranjar um sistema que funciona mais ou menos bem, que é simplesmente ter coisas escritas armazenadas, que posso publicar em casos de aperto. Agendo com alguma antecedência e não tenho problemas de maior. Perco na mesma tempo a escrever, mas se num estiver lançado e escrever dois textos, já fico com meia semana garantida.

O último ponto é capaz de ser o mais crítico. Não ando a gostar muito das opiniões e crónicas que escrevo. Também não ando inteiramente satisfeito com as outras coisas que escrevo. Sinto que conseguia fazer melhor e que só não faço porque não me empenho como deve ser, e que não me empenho porque "ando desencantado" com o blog.

A questão de desistir levanta-se nessas alturas: quando isto já não me dá o prazer e a satisfação que deu durante anos. E nunca sei muito bem se os grandes blogs literários que por aí andam, com várias publicações por dia, cheios de passatempos e parcerias e publicidades e seguidores me motivam ou me desmotivam. Se por um lado acho que os devo combater, por serem banais e efectivamente desnecessários na sua grande maioria, pois limitam-se a repetirem-se uns aos outros, por outro não consigo evitar sentir-me sufocado no meio disto. Quem é que me vai ler?

Essa pergunta insiste em aparecer-me em frente, e tenho sempre respondido que "há aí pessoal interessado e que se mantém activo e presta atenção". E também penso sempre em outros bloggers que sigo e admiro, os que se mantêm fiéis aos seus objectivos simples de divulgação e discussão literária, pouco interessados em terem um número suficiente de seguidores para começarem a receber livros de borla. Enquanto houver pessoas assim, vale a pena.

É assim que após cinco anos, cá ando, mais ou menos motivado. Se tiveram paciência para lerem o texto todo (coisa que também rareia, pessoas com paciência para lerem mais do três ou quatro parágrafos magrinhos), já sabem o que penso. Se quiserem um resumo que vos poupe a coisas como "sentimentos", o essencial é que me vou esforçar activamente para escrever melhores opiniões e melhores crónicas, e que gostava mesmo muito de ter mais visitantes e, acima de tudo, mais comentários.

A quem me segue, quem me lê e quem comenta, obrigado. Por tudo.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Estantes Emprestadas [3]: Três livros, três imagens [2/3]


Continuando a crónica da Carolina, que já despachou a associação entre um livro que gostou e uma fotografia, hoje é sobre um livro que ela detestou. Neste Sábado podem ler a conclusão, com um livro que não leu!



O livro que não gostei (bolas, era mesmo mau!)

O tema central do desafio que me foi lançado passava por procurar, entre as galerias de fotografias por que ando a vaguear quando tenho um tempinho de sobra, uma imagem que a meu ver caracterizasse um livro. Porquê? Porque se me perguntassem, dir-vos-ia que fotografia é uma das coisas mais fixes do mundo. Daí talvez seja previsível que alguém, conhecendo o meu entusiasmo, tenha achado que eu podia estar interessada n’As Pontes de Madison County, de Robert James Weller, já que uma das metades desta história gira em torno de um fotógrafo.

Mas para ser sincera, depois de me ter sido praticamente impingido, se não fosse tão pequeno... Se calhar nem tinha acabado de o ler. 

As Pontes de Madison County conta a história de um amor súbito e inesperado, e acima de tudo proibido, entre Francesca, mãe e mulher, dona de casa, e Robert Kincaid, fotógrafo. 


Robert não era um fotógrafo qualquer. Era uma espécie de fotógrafo mágico que não dava um passo em falso. Cada movimento, sempre certeiro e seguro, compreendia um vasto conhecimento técnico, um entendimento das formas como a luz cai sobre os objectos, e um apuradíssimo sentido estético. Dominou a arte. Não há acidentes. Sabe usar os rolos certos, focar com exactidão, usar todos os acessórios sem ajudantes, colocar-se no milímetro certo de solo que lhe permite ter a melhor perspectiva do que quer que seja no momento o alvo da sua objectiva. E toda esta perfeição vale-lhe um trabalho na National Geographic – e, para mim, uma personagem desinteressante. 

Francesca não tem muito mais que se acrescente. A breve descrição que dei como introdução é praticamente tudo o que o livro me fez crer que havia para saber acerca da “mãe e mulher, dona de casa”. A única coisa que ficou a faltar é que aparentemente era muito, muito bonita. E é esta personagem que é seguida a maior parte do tempo, muito depois de Robert desaparecer, após a recusa de Francesca de abandonar a família e fugir com ele.

E foi aqui que comecei a ficar verdadeiramente desiludida. Não houve um trabalho cuidado de adornar a história com grandes adjectivos, de trabalhar o cenário mental. E porque não estava a ouvir a prosa de um contador de histórias, mesmo neste livro tão pequeno dei por mim a fazer um esforço para ler à medida que passava os capítulos. E se não bastasse ter em memória este como o livro com a pior escrita que alguma vez li (seja do livro ou da tradução), a história é muito parada, com muito pouco conteúdo, e na verdade nunca cheguei a sentir que sabia o suficiente sobre estas personagens para me envolver na sua história e sofrimento.

Chego a um ponto que não sei de que mais formas vos falar de um livro que me disse tão pouco. No entanto, se penso neste livro penso em Francesca, que apesar de tudo acompanhei, e achei que a imagem a retratava bem.

Fotografia por Alison Scarpulla

segunda-feira, 17 de março de 2014

Great Expectations

Título: Great Expectations
Autor: Charles Dickens


Opinião: Charles Dickens nasceu há mais de duzentos anos. Este livro já foi publicado há cerca de cento e cinquenta. O autor considerava-o o seu melhor trabalho. A opinião geral considera o autor como um dos melhores escritores de sempre. Já se fizeram pelo menos dois filmes baseados no livro, um em 1998 e um em 2012. Tinha que o ler.

Não sabia o que esperar, apenas que ia ser bom de certeza. Dickens foi um escritor prolífico, bem-humorado e original. Publicou romances em fascículos, escreveu humor e escreveu tragédia. Tudo isto há duzentos anos, e ainda é visto como um dos grandes, o seu trabalho para sempre imortalizado, e estudado e lido vezes e vezes sem conta.

Além do mais, olhem para a cara dele.

Fonte
Badass. O que é que há para não gostar? Só podia ter boas expectativas. E confesso que tinha uma vaga ideia de que as suas obras eram maioritariamente de humor. Por essas e por outras, achei que estava na altura de me estrear a ler Dickens, e Great Expectations foi o mais pequeno dele que encontrei aqui em casa. Sim, o homem escrevia que se fartava.

Depois de começar a ler apercebi-me que não podia ter escolhido pior altura para ler um romance de quatrocentas páginas em inglês com cento e cinquenta anos. A leitura arrastou-se, por falta de tempo e paciência para enfrentar a escrita detalhada e ocasionalmente densa do autor inglês.

Mas não desisti. Estava a ser demasiado espectacular! A história é narrada pelo protagonista, Pip, que começa como um rapaz com pouco futuro, um órfão a viver com a irmã, que lhe dá autênticos enxertos de porrada, e o marido desta, Joe Gargery, que também apanha porrada da mulher de vez em quando.

Joe é um ferreiro, e serve de pai para Pip, sendo a única pessoa com quem a criança é sempre honesta, e uma das poucas que tem verdadeira afeição pelo rapaz. Juntos tentam não irritar muito a irmã de Pip, uma figura autoritária e agressiva, que aproveita todas as ocasiões possíveis para se vitimizar por tomar conta do irmão e ainda ter um marido que não é muito esperto.

A infância de Pip ocupa mais ou menos um terço do livro, e é recheada de personagens memoráveis (assim como o resto do livro) e acontecimentos marcantes e importantes para o futuro do rapaz, embora ele só o descubra muito mais tarde.

Agora podia ficar aqui a desfilar personagens fantásticas, pois se Dickens tem uma escrita maravilhosa, com a qual consegue contar uma história interessante e intricada, narrada por uma personagem bem construída, são as personagens secundárias que brilham. A irmã de Pip, Joe, Miss Havisham, o prisioneiro foragido, Estella, Wemmick, Orlick, Mr Jaggers, enfim, tantos!

De uma forma ou de outra, Dickens consegue dar profundidade a dezenas de personagens, às vezes com muito poucas palavras, apenas o suficiente para causar uma impressão no leitor. Praticamente todas as personagens com um mínimo de importância têm um relevo fora do comum, sem serem profundamente caracterizadas nem demonstrarem preto no branco quais são as suas preocupações e questões existenciais.

A maior parte das vezes basta simplesmente o facto de serem peculiares, e terem defeitos. O facto de serem todas completamente diferentes umas das outras, únicas e individuais. E Dickens não faz isso a duas ou três, mas mais de quinze personagens, de certeza. Além disso, ainda consegue dar a algumas um percurso também ele memorável: Pip começa como órfão sem futuro e torna-se um cavalheiro com great expectations; Herbert passa de inimigo momentâneo a amigo e companheiro para a vida; Joe é o marido oprimido que se torna no marido feliz, entre outros.

Fonte
Mas é preciso destacar duas personagens, Miss Havisham e Wemmick. A primeira é uma solteirona fria e cruel que convida Pip, enquanto criança, para ir ao seu casarão onde onde todos os relógios estão parados na mesma hora, brincar com Estella, a sua filha adoptada. Miss Havisham sofreu enquanto jovem, e vive a sua vida determinada em criar Estella de forma a que esta possa tornar-se uma mulher capaz de fazer aos homens o que um homem lhe fez a ela.

A sua viagem de redenção é longa, mas brilhantemente executada por Dickens, que nunca lhe dá um protagonismo fora do comum, mas consegue torná-la numa personagem mais do que memorável.

Já o segundo tem uma personalidade dupla auto-imposta. Há o Wemmick do trabalho e o Wemmick em casa. Um é frio e calculista, completamente racional e focado no seu trabalho, enquanto que o outro cuida carinhosamente de um pai idoso. O peculiar é que Wemmick nunca deixa as duas coisas misturarem-se, como se levasse duas vidas, levando a algumas das passagens mais peculiares de todo o livro.

E é completamente impossível não sentir que o livro tem uma crítica à sociedade vitoriana, cheia de protocolos e formalidades ridículas que apenas serviam para esconder um vazio intelectual e emocional de muitas pessoas. Esses pormenores são levados ao extremo durante narrativa, expondo o ridículo das fundações daquela sociedade.

Como nota final, notei que o autor era fã da técnica mais usada nas telenovelas actualmente, a coincidência e uma espécie de destino mais ou menos subtil. Estão a ver aquelas histórias de "este afinal era o filho perdido daquela, que andava em segredo a ajudar a outra que era a sua tia desconhecida"? Pois, esse tipo de coisas acontecem. Aliás, são um grande motor da narrativa, e uma forte ponte de ligação entre os acontecimentos aparentemente aleatórios da infância de Pip com os da sua vida adulta.

Feito por outro autor, acho que isto me ia desagradar, mas Dicken fá-lo bem, integrando bem essas coincidências numa história intensa que apenas me deixou a desejar ler mais, por mais pesada que seja a leitura. Um autor que irei visitar, sem dúvida.

sábado, 15 de março de 2014

Estantes Emprestadas [3]: Três livros, três imagens [1/3]


Este mês a crónica convidada foi um dos desafios que mais gozo me deu de propôr. A Carolina, minha colega de curso e uma das minhas melhores amigas, é louca... Por fotografia. Tem um blog e uma página no Flickr. Quando me lembrei de convidar pessoas para esta série de crónicas, ela foi uma das primeiras em quem pensei. Sugeri-lhe, um pouco como fiz com o Jorge e com a Júlia, aliar à literatura algo que a faz delirar. Fotografia e literatura. Para tornar a coisa mais interessante, disse-lhe para o fazer com três livros diferentes: um que ela tenha gostado, um que ela tenha detestado, e um que não tenha lido. O resultado não me podia agradar mais. Ela não costuma escrever este tipo de coisas, e disse-me que tinha receio de não conseguir escrever nada de jeito, ou nada do que eu queria, ou sei lá (ela é capaz de me matar por revelar isto), mas depois de ler, disse-lhe logo que não precisava de se preocupar. Vejam por vocês mesmos!


O livro que gostei


Quando era pequena tinha hábitos de leitura completamente diferentes. Se bem me lembro tinha sempre um livro para ler, nem que relesse os livros que gostava mais na altura, e sempre fui descobrindo colecções que gostava e sabia que queria ler. Eventualmente a frequência com que fazia esse tipo de descobertas foi diminuindo e, com isso, aliado sobretudo à descoberta de novos interesses, diminuiu também a frequência com que pegava num livro. De vez em quando lia, e podia até gostar bastante, mas não era a mesma coisa. E foi tão gradual que nem estranhei.

E antes de mais, eu sei. Eu sei que provavelmente é absolutamente ridículo vir contar isto a esta audiência, que se já chegou aqui, em princípio é porque tem na literatura uma área de interesse e um hobby que acarinha. Mas não digo isto por acaso.

Na verdade, foi ler A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende, que fez com que essa realidade recaísse sobre mim. Foi a primeira vez em anos que um livro me agarrou desde a primeira página, que fiquei de tal forma presa ao que tinha nas mãos que reverti ao modo de antigamente e não o pousei até o acabar. E perante a constatação de que os livros afinal continuavam tão interessantes como outrora os tinha achado, tomei consciência da mudança e, pela primeira vez, o facto pesou-me. Este foi O livro que me deixou com pena de não ter andado mais atenta naqueles anos todos.


Imaginem a vossa história habitual. Há uma família enquadrada no cenário temporal da polémica política, inspirado na própria história do país. E é essa família, e como ela se entrelaça com outras, e como ela evolui ao longo de gerações, que vemos no contexto histórico do Chile da(s) época(s). E depois juntem os espíritos e os santinhos, mais as cores, e ainda (e sobretudo) a intensidade apaixonada com que a América Latina parece viver o mundo – contributos importantes para a atmosfera fantasiosa e carregada de superstição que caracteriza um dos meus livros favoritos do início ao fim.

Fiquei fascinada com a mística das personagens, que apesar de enquadradas num cenário muito real, conferia ao seus intervenientes, ou a alguns deles, um qualquer elemento sobrenatural, num misto de supersticioso e mágico. Como Rosa, a irmã mais velha de longos cabelos verdes, pele de boneca de porcelana, ou de um azulado leve quando a luz batia da forma certa. Uma personagem de mistério, meio sereia, que tricotava uma manta sem fim com criaturas impossíveis que se entretinha a imaginar, metade uma coisa, metade outra. Ou Clara, mais nova, dona de uma beleza mais discreta e com poderes psíquicos. Clara, que passaria nove anos sem proferir uma palavra após a primeira grande tragédia, e que acompanhamos no processo de uma documentação quase obsessiva do seu dia-a-dia nos seus cadernos, até à data da sua morte.

Sempre gostei de histórias com um quê de “realisticamente impossível”. E podia falar-vos muito mais. Mais sobre Rosa e sobre Clara, com relevâncias muito diferentes mas que acabaram por ser as personagens que mais me marcaram, e sobre todos os acontecimentos que determinaram o rumo da sua família e todas as coisas meio estranhas que se vão intercalando. Mas no que diz respeito às minhas observações escritas sobre esta obra, penso que vou terminar por aqui. Porquê? É simples. Dizer-vos mais seria estragar um livro que, na minha opinião, vale tanto a pena ler. Por isso, em alternativa, passo a partilhar convosco a imagem que escolhi. Para mim, foi sem dúvida a mais difícil de escolher. Quis encontrar algo que remetesse para a atmosfera em que me envolvi nas horas em que me ocupei de ler este livro. E tendo em conta todas as coisas diferentes em que estava a pensar, encontrar essa imagem parecia impossível. Mas entre os diferentes elementos que regista e os bocadinhos que formam a minha imagem mental, a questão harmonizou-se na minha cabeça. De uma forma um pouco menos literal, talvez... Não é propriamente fácil resumir numa imagem um livro que nos disse tanto.

Fotografia por Bella Kotak

sexta-feira, 14 de março de 2014

A Mão direita do Apocalipse (Hellboy #4)

Título: A Mão direita do Apocalipse
Autor: Mike Mignola


Opinião: Embora isto se apresente como o quarto da colecção, lê-se perfeitamente bem sozinho. Peguei neste livro porque gostei bastante de ambos os filmes do Hellboy, e acho-o uma personagem fascinante, com muito para contar.

Esta antologia de histórias curtas provou-me isso mesmo. Sempre engraçadas, algumas são mais fascinantes do que outras, mas quase sempre a puxar ao folclore e à mitologia, desde o japonês ao escandinavo, o que, como é óbvio, me agradou imenso.

A personagem é tão badass que até dói. Já a arte, apesar de ser muito característica e agradável, não é o meu estilo favorito.

Todas as histórias, por mais curtas que sejam, têm um pitada de humor, mais que não seja por causa das piadas e do sarcasmo de Hellboy, que não tem qualquer tipo de papas na língua.

É importante ainda realçar as notas do autor que acompanham as histórias e que permitem um vislumbre do processo criativo. No meio disto há uma história em particular que merece um destaque particular, pois envolve... o Hellboy a comer panquecas.

É a história mais curta e foi criada como piada do autor, em resposta a um pedido do editor que ele não tinha vontade de cumprir. O resultado é hilariante, não tem qualquer tipo de relevo para a personagem nem para o universo em que esta se insere, mas vale a pena ler, de tão palerma que é.

Se aproveitarem e lerem o resto do livro, não se perde nada.

quarta-feira, 12 de março de 2014

X-Men #1


Título: X-Men #1

Argumento: Brian Michael Bendis
Desenho: Stuart Immonen
Tradução: José H. de Freitas Filipe Faria

Opinião: Bem porreiro! Não sei porquê, mas os X-Men é mais a minha onda do que os Vingadores. Sempre foi assim. Não sei se é por me identificar mais com os misfits do que com os super-heróis ricos e aliens e companhia, mas não sei... Há qualquer coisa nos mutantes que me cativa mais do que na equipa de super-heróis mais conhecida e mediática.

Mais uma vez com uma boa capa, a publicação destas novas linhas de comics promete, e estou ansioso para ver a segunda vaga. Este número tem viagens no tempo, um Hank McCoy (Besta) e um Homem de Gelo badass, e duas facções de mutantes, com Ciclope do lado "errado" depois dos eventos de Avengers vs X-Men, uma saga que até tentei acompanhar por cá, mas à qual perdi o fio à meada e alguns volumes logo no início, portanto deixei de lado.

Já vi que aconteceram umas coisas tramadas, portanto vou fazer um esforço para reunir algum do material mais importante para a história, que mesmo não sendo propriamente preciso para acompanhar estas histórias... Não me faz mal nenhum, não é?

Resumindo, gostei bastante de ler e estou muito curioso para continuar! Das três opções (Vingadores, X-Men e Homem-Aranha), acho que a que vou comprar e acompanhar vai mesmo ser esta. Posso sempre ir a algum sítio e sentar-me meia horita a ler os outros! Façam como fizerem, aconselho a leitura.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Cidade Líquida


Título: Cidade Líquida
Autor: João Tordo

Opinião: Sem ter propriamente uma história, confesso que este conto de Tordo me aborreceu.

Normalmente até sou bastante fã deste autor, mas achei que neste caso a metáfora que tenta criar se enamora de si própria, tornando o conto numa pequena confusão.

Entre filmes, realidades, percepções estranhas de ambas as coisas, e coincidências não tão aleatórias quanto isso, o personagem principal percorre um caminho algo tortuoso, perdido entre auto-comiseração e melancolia.

Tudo temas bastante típicos de Tordo, mas que me parecem mal aproveitados neste caso. A escrita, pelo menos, tem a qualidade do costume.

sábado, 8 de março de 2014

Quando parar?


Uma das piores sensações que posso ter ao ler um livro, é o de querer parar. Aquela vozinha na nossa cabeça que após cada palavra nos diz: "larga isso... tens aí melhor... isso é tão mau...". É sinal de que o livro não me está mesmo a agradar, por uma razão ou por outra.

Raramente o faço, mas sinto isso algumas vezes. Costumo obrigar-me a acabar simplesmente porque não gosto de deixar livros a meio, mas a tentação é grande, e cada vez mais. A quantidade de livros que tenho em lista de espera continua a aumentar, para quê perder tempo com um livro que não me está a dizer nada?

Mas ainda há uma coisa que me faz mais confusão, e que acho que nunca fiz em definitivo: deixar uma saga/colecção a meio. Imagino que toda a gente também já se tenha debatido com esta questão. Aquelas alturas em que estão a ler um volume de uma colecção, ou que acabam de ler metade da saga, e só conseguem pensar que não vão continuar a ler aquilo. Nesses momentos podemos desistir da saga, a demonstração mais definitiva de que se perdeu a confiança num autor.

Ou então continuamos. Seja por hábito, por algum tipo de sentimento de compromisso com o autor, a saga, o universo criado ou as personagens, ou por outra razão qualquer, podemos chegar a uma altura em que não sentimos vontade de continuar, mas continuamos. Mais que não seja temos que saber como é que aquilo acaba, não é verdade?



Foi um bocado isso que aconteceu comigo e com As Crónicas de Allaryia. Da primeira vez que li os livros, ainda só tinham sido publicados os quatro primeiros. Lembro-me perfeitamente de delirar com o primeiro (coitado de mim) e de estar a ser a minha saga favorita de sempre (o Tolkien que me desculpe, que já tinha lido a sua trilogia, mas eu não pensava bem nesta altura) até chegar ao quarto volume. Li-o e achei-o... Aborrecido, na melhor das hipóteses.

Quando fiz a temporada temática aqui no blog, há dois anos, apercebi-me de que a qualidade era um crescendo, e que o quarto volume era muito superior ao primeiro. Também já me tinha vindo a aperceber, com o passar dos anos, que A Manopla de Karasthan não era a obra-prima de que eu me lembrava. Mas ainda assim, naquela altura, tinha eu onze ou doze anos, achei-o genial, e estava tudo fantástico até ao fatídico quarto volume.

Depois saiu o quinto, Vagas de Fogo, e comprei-o o mais rápido possível. E fiz o mesmo com O Fado da Sombra. E mais ou menos o mesmo com Oblívio. E fui lendo. Nunca desisti. Por hábito? Por querer saber o que se estava a passar? Por ter sido a saga que me acompanhou ao longo de alguns anos?

Acho que todas as opções se aplicam. A verdade é que fiquei tão envolvido com a saga, que mesmo depois de achar um volume muito parado e ficar sem vontade de continuar, não hesitei em comprar e ler o volume seguinte.


Outra situação ligeiramente diferente foi a que se passou com a saga-anteriormente-conhecida-como-trilogia do Christopher Paolini, iniciada com Eragon, que devorei completamente. Era difícil não gostar de algo com dragões, mas não fiquei fascinado. Mas ainda estava cativado quando comprei e li o segundo livro, Eldest. E foi então que o interesse esmoreceu.

Já só comprei o Brisingr por querer acabar a história. Definitivamente classificado nas minhas estantes como mediano, quando soube que a trilogia se ia tornar numa tetralogia e que ainda me faltava um livro... Bem, digamos que adiei indeterminadamente o último livro. Entretanto ofereceram-mo e tenho-os a postos para re-leitura e mergulhar no último volume, esperançoso de que os anos tenham feito bem aos livros e eu os ache maravilhosos.


Mas nem tudo são rosas e histórias felizes. Charlaine Harris não tem a mesma sorte de Filipe Faria e Christopher Paolini. Comecei a ler os seus livros vampíricos bastante interessado na perspectiva de ter vampiros a sério, mas a certa altura perdi o interesse. Não é que tenha achado os livros maus, mas a autora não conseguiu manter-me cativado.

Ainda comprei cinco, mas acho que logo ao terceiro comecei a ter dúvidas, que depois do quarto tinha poucas esperanças, e que quando acabei o quinto deixei de me preocupar. Basta ver que já nem sei em quantos livros é que isto já vai.

Talvez um dia volte a eles, de preferência em inglês, até porque vi algumas temporadas da série, e gostei moderadamente, mas até isso começou a perder o interesse e a ficar activamente palerma demasiado depressa para o meu gosto.


O criminoso mais recente é Steven Erikson, com Gardens of the Moon, o primeiro volume da saga Malazan Book of the Fallen. Comecei a leitura deste épico da fantasia com dois amigos, ligeiramente assustado com o compromisso de dez livros dos quais não sabia muita coisa, mas confiante de que era algo para se ir lendo nos próximos anos, com calma, e que ia ser tão espectacular que íamos despachar metade da saga este ano.

Querias. Não gostei nada do primeiro livro, e fiquei com praticamente zero de vontade de continuar. Ainda vou ler o segundo, porque parece que as críticas dizem que a série melhora exponencialmente, mas já tenho pouca confiança nisso, e se conseguir adiar um bocado as coisas... Melhor.

A questão é: como é que sabemos se devemos ou não parar? Acho que a única hipótese viável é mesmo pensar no que já lemos e em quantos livros ainda temos pela frente, e avaliar se vale a pena o compromisso. Malazan, com "um livro terrível e ainda mais nove para ler", não está com boas probabilidades, enquanto que os livros de Paolini, com "três livros medianos e um ainda para ler" lá se conseguiu safar.

O importante é não sentir que estamos a perder a tempo. Quando isso acontece, seja com uma colecção ou com um livro, larga-se a acabou. Ou achamos que aquilo ainda pode melhorar por uma razão qualquer, ou pomos de lado. Se definitivamente, se só por algum tempo... Logo se vê.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Saga #2

Título: Saga #2

Argumento: Brian K. Vaughan
Desenho: Fiona Staples

Opinião: Brilhante. Já foi assim que comecei a opinião ao primeiro volume, e por este andar vai ser assim que vou começar a de todos os volumes!

Vaughan tem aqui um universo rico, recheado de uma quantidade imensa de personagens, todas elas interessantes, e a maior parte bastante estranhas.

As ideias e os conceitos com que o autor povoou esta peculiar space opera são das coisas mais curiosas que já vi juntas, mas funcionam bem assim. O argumento é bom, a arte de Staples é fenomenal, e tudo o que acontece deixa-me completamente agarrado às páginas.

Como pano de fundo temos a história de uma batalha intergaláctica entre os tipos com asas e os tipos com cornos (que apelido carinhosamente de asinhas e chifrudos, respectivamente), que levaram os combates para longe dos planetas natais (um planeta e a sua lua), porque a destruição de um implica a catástrofe no outro. Pelo meio há freelancers, uma estranha realeza que em vez de cabeças, tem monitores, fantasmas... A sério, é escolherem.

E se no primeiro volume há bastantes pistas quanto ao passado do casal protagonista, Alana e Marko, neste contam-se de facto alguns pedaços, o que se revela mais do que interessante. O facto de tudo ser narrado (ainda que parcamente) pela filha de ambos, Hazel, que ainda é um bebé na história, torna tudo muito mais divertido. O tom é engraçado, a forma como apresenta as coisas é original... Enfim, uma catrefada de elogios, que se aplica ao livro, e à colecção, como um todo.

A melhor característica ainda é o facto de ser um verdadeiro épico, a saltitar entre planetas e com grandes planos da imensidão do espaço, mas nunca se esquecer que está basicamente a contar a história de um amor impossível. É só. Se de um lado há uma nave de madeira a impulsionar-se na negra vastidão do espaço, do outro existem dilemas como "os pais dele não gostam de mim", "o nome da tua filha é bonito" e "tenho que ir buscar a babysitter".

Uma junção conseguida na perfeição por Vaughan, que pelo meio de tanta coisa estranha mostra que a narrativa é sobre aquele casal, Alana e Marko, da forma mais banal possível. Tudo o resto são efeitos secundários. Além disso ainda conseguir contar uma história coesa, interessante e cativante, sempre acompanhado por uma arte irrepreensível e que não deixa nada a desejar... De mestre!