domingo, 29 de janeiro de 2012

Neverwhere

Título: Neverwhere
Autor: Neil Gaiman
Tradutor: Alberto Gomes e Carlos Afonso Lobo

Sinopse: A ideia que deu origem a este romance é basicamente simples, como todas as ideias geniais. Gaiman representa a Londres não como uma cidade mas como duas, a Londres-de-Cima e a Londres-de-Baixo. São dois mundos que coexistem, e se ignoram, articulados por uma única estrutura ordenada: a rede do metropolitano. O protagonista, Richard Mayhew, um rapaz cândido que vem da província para trabalhar em Londres, reflecte na inquietante estranheza dos nomes das estações do Metro. Será que alguma vez existiu um circo em Oxford Circus? Knightsbridge, Earl's Court, Angel Islington ou Marble Arch são outros tantos nomes inspiradores. A um mundo de aparente racionalidade contrapõe-se um outro, insuspeitado, com as suas próprias leis, habitado por personagens bizarras, encerrando perigos e maravilhas. Esse mundo é constituído por tudo aquilo que Lá em Cima caiu por uma qualquer quebra de "lógica". Como acontecerá a Richard quando se cruzar com Door, uma fugitiva que ele acolherá em sua casa, por humana compaixão, quebrando assim o compromisso com a noive Jessica. De repente descobre que ninguém o vê, como se nunca tivesse existido. Resta-lhe então descer, ele que tanto sofre de vertigens, cada vez mais profundamente, no mundo da escuridão, dos túneis, dos esgotos, dos edifícios abandonados. Resta-lhe acompanhar Door na sua demanda através das trevas assustadoras. Perseguida e ameaçada, ela procura saber a razão por que toda a sua família foi morta, a mando de alguém sem nome. Sem o saber, Richard que só desejaria voltar para casa terá de chegar ao fundo de si mesmo para descobrir o Ser que verdadeiramente é. Esta fantasia urbana, thriller psicológico (será sempre algo mais) é Gaiman no seu melhor, brilhante, cheio de espírito, sublime de inspiração, resplandecente de humor e graça, mesmo quando é assustador.

Opinião: Vou ter que discordar da sinopse. Neverwhere não é, de forma alguma, um livro em que se encontra "Gaiman no seu melhor", cheio de brilhantismo e sei lá mais quantos adjectivos e expressões abonatórias. Neverwhere é, isto sim, um livro fraquinho.

E eu gosto bastante de Neil Gaiman, graças à minha anterior experiência com o seu Deuses Americanos, esse sim um livro verdadeiramente genial, o que não ajudou à minha experiência com este livro, já que em comparação, Neverwhere sai a perder. E de que maneira. Foi um bocado como ver o Benfica a arrebatar jogos à goleada, numa época, para na época a seguir o ver a ganhar de forma tangencial e até a perder. É passar de cavalo para burro. Enfim.

É que ainda por cima este livro não é mau de todo. Quer dizer, talvez seja. As personagens são ocas, a história é apressada e incoerente, com montes de passos mágicos espectaculares que só servem para desatar nós intrincados que o autor tinha dado ao enredo. Morreu? Ressuscita-se. É preciso fazer alguma coisa? Que curioso, esta pessoa aleatória por acaso é especialista nisso. Está tudo perdido? Nem pensar nisso, eu sei um truque novo que não me tinha ocorrido até agora e que salva o dia. E mais uma dúzia de coisas que infelizmente não posso contar, caso alguém ainda queira ler este livro. A juntar isso, só mesmo as cenas de luta, completamente anti-climáticas. Se bem que os diálogos nem eram maus de todo. Apenas ligeiramente tótós, já que, enfim, o enredo não era grande coisa.

Depois, não gostei do final. Nem do meio, nem fui particularmente fã do princípio... Digamos que me aborreceram as facilidades e os momentos de deus ex machina... Resumindo, um mau livro, apesar do excelente autor. Se querem conhecer Neil Gaiman, fujam deste e ataquem o Deuses Americanos. Por favor.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Os Passos Perdidos

Título: Os Passos Perdidos
Autor: Alejo Carpentier
Tradutor: António Santos

Sinopse: Um livro estimulante, quase mítico. Representativo daquilo a que o próprio Alejo Carpentier chamou "o real maravilhoso americano", este romance constitui uma busca das origens, a procura de uma Idade de Ouro perdida. A personagem central dispôe-se a subir Orenoco, na Venezuela, em busca de um tempo primordial, tentando assim alcançar as raizes da vida. Desfilam nesta obra os mineiros dos campos de petróleo, os padres missionários, os vaqueiros, os astrólogos, as prostitutas em busca do El Dorado, os índios dos lugares visitados, os espirítos, os rituais, as histórias e os mitos de um tempo em que um homem branco ainda não pisara o continente americano. Para Carpentier, a América é um repto de um "novo mundo" apressadamente entrevisto por viajantes e poetas, poucas vezes correctamente apreendido.

Opinião: Tanto tempo para ler este livro... Ainda por cima tempo mal aproveitado, pois não escrevi nada, nem me concentrei como deve ser neste livro. Com a época de testes e exames à perna, pode-se dizer que a leitura teve que perder pontos na lista de prioridades. O que é perfeitamente compreensível.

E talvez a atitude mais sensata fosse ter largado o livro e pegado num mais leve, ou não ter feito o esforço de ler, fazer uma pausa. Mas não sou capaz. Por idiota que pareça, mesmo que não esteja a apanhar quase nada da leitura, o simples prazer de tirar a mente do estudo para ler outra coisa qualquer, mesmo que durante uns breves 10 minutos... Ainda por cima quando o livro é este, de Carpentier, com características de realismo mágico. A verdade é que me lembro pouco da história, apenas tenho uma vaga ideia de um homem que é mandado para o meio da selva, à procura de instrumentos primitivos, e que acaba por lá ficar, numa espécie de colónia. Mas as descrições são absolutamente mágicas, no meio da prosa corrida, com poucos ou nenhuns parágrafos durante páginas e páginas cheias de reflexões e contemplações.

Não, não me ficou grande coisa da história, e duvido ter apanhado grande coisa da mensagem do livro, ou seja lá o que for. Mas apanhei na perfeição o ambiente disfarçadamente místico, bastante explícito nas divagações do narrador/protagonista.

O que é que isto significa? Que esta opinião tem praticamente nenhum valor enquanto opinião sobre este livro. Gostei de ler, maravilhei-me com as descrições, aborreci-me com algumas partes, mas não sei precisar bem do que mais gostei, de qual é a história exactamente, quais são os ideais em confronto, nem sequer se as personagens me pareceram muito vívidas ou não. Ficou um livro para ler noutra altura, definitivamente.

domingo, 1 de janeiro de 2012

A Mãe

Título: A Mãe
Autor: Máximo Gorki
Tradutor: Egito Gonçalves

Sinopse: Depois da morte do seu marido, Pelágia Nilovna começa a observar o filho Pavel. Apesar de morarem juntos, eram praticamente desconhecidos. Um dia, Pavel diz-lhe que está a ler livros proibidos: “São proibidos porque dizem a verdade sobre as nossas vidas de operários”. A história passa-se num dos bairros fabris da Rússia em princípios do século XX. Já com alguma idade, a Mãe interessa-se pelos ideais pelos quais o filho de bate e quando Pavel é deportado, Pelágia toma o seu lugar.

Opinião: A Mãe é um livro a tender para o denso, ou melhor, intenso. Digo isto porque as ideias e os ideais não estão escondidos, antes pelo contrário, são gritados aos 7 ventos! Eu pessoalmente acho fascinante ler um clássico, ainda por cima de um autor russo, com uma mensagem tão clara e explícita, e tão ansiosa para saltar para fora das páginas. Não que eu conheça muito de literatura russa, mas do pouco que li, a ideia que tenho é a de que os autores russos são romancistas por excelência, capazes de gastarem um livro inteiro sobre algum ideal menor, quanto mais algo da magnitude desta contínua e efervescente revolução do proletariado russo, no princípio do século XX.

Mas Gorki, pelo menos neste livro em particular, não é adepto de grandes floreados, no que toca a diálogos e a imagens transmitidas pela narrativa, apesar de, como qualquer autor russo que se preze, ser bastante dado a floreados na narrativa em si e em tudo o que seja descrição. E a forma como o faz é óptima, se bem que aquilo que mais apreciei foram de facto os diálogos, muitas vezes mais monólogos que outra coisa, praticamente todos mais do que inflamados pelo mesmo espírito revolucionário.

O livro começa por contar o dia-a-dia de uma família, representativa de muitas famílias parecidas, na qual o patriarca morre, deixando Pelágia, a Mãe, e Pavel, o filho, sozinhos e livres da tirania de marido e pai. É então que Pavel conhece os ideais socialistas, e não tarda a ver-se bastante envolvido na luta secreta que se desenrolou ao longo de vários meses e anos, tornando-se inclusivamente um dos seus principais instigadores. No entanto, um dia as coisas correm mal e Pavel é preciso, deixando Pelágia sozinha. E não é que Pelágia, quando se vê sem o filho, cujos discursos tinha começado a ouvir e a interiorizar, se torna cada vez mais activa e interessada na luta que ele e os seus camaradas travam, e acaba por praticamente tomar o lugar dele nas fileiras revolucionárias?

É nessa altura que Pelágia se torna não só a mãe de Pavel, o homem, não só a mãe de Pavel, o revolucionário, mas literalmente a Mãe de uma revolução silenciosa com ocasionais e violentos surtos de barulho. E é sobre isso que o livro fala, sobre Pelágia, a Mãe, da sua força enquanto mãe e da sua força enquanto Mãe. Da sua vontade em dar a melhor vida possível a filho e da sua vontade em dar a melhor vida possível a todo o povo russo, fazendo tudo aquilo que está o seu alcance para ficar um bocadinho mais perto de ambos os objectivos. Pelágia não desaponta e mostra uma força quase inimaginável, ultrapassa contratempos e luta activamente contra a repressão.

Resumindo, posso dizer que gostei bastante. Demorei um bocado a ler, mas tudo graças à minha maravilhosa vida de estudante universitário. Garanto-vos que gostei mesmo, e que se tivesse estado de facto de férias, tinha começado a ler do princípio e tinha lido tudo em 3 dias. Portanto... Leiam!