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sábado, 15 de agosto de 2015

Presenças tangenciais

Ah, piadas matemáticas, são sempre tão... derivativas.

Há coisas na Literatura que me fascinam. Não falo apenas de uma escrita particularmente bonita, como a de Mia Couto, ou de histórias particularmente cativantes, como as Stephen King, nem sequer de livros tão próximos da perfeição que até metem medo, como muita coisa de Saramago, muita BD de Neil Gaiman e Alan Moore e O Conde de Monte Cristo. Falo de pormenores, muitas vezes técnicos, que me deixam rendido.

Por exemplo, quem ler histórias minhas rapidamente se apercebe de que gosto de narradores peculiares. É algo complicado de manipular, de um ponto de vista puramente técnico, mas que pode ter efeitos espectaculares.

Algo que cai nesta categoria é algo a que chamo presenças tangenciais. O nome é bastante auto-explicativo, mas estou a falar de personagens que são importantes, muitas vezes até fulcrais, para a história, mas que aparecem muito, ou muito de raspão. Tangencialmente.

Também não é fácil, em termos técnicos, e torna-se particularmente difícil de conseguir em termos narrativos. Como raio contar uma história em que uma personagem importante mal aparece?

Leia um dos vários livros em que isso acontece, para perceber. Que tal O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie, que tem ao mesmo tempo um narrador interessante e um Poirot que mal aparece que mas que resolve o mistério (a autora deve ter escrito este livro a pensar em mim)? Todo o livro se lê como uma história normal de Poirot mas com o ponto de vista retirado a Poirot e ao seu fiel companheiro, Hastings, e entregue a uma das personagens secundárias.

É espectacular, e embora o ponto forte do livro seja o narrador e a revelação final (pois é, ainda por cima tem um plot twist de fazer corar muitos plots twists, obrigado Agatha Christie), esta presença tangencial de Poirot é importante para que o livro funcione.

O mesmo se podia de muitas das histórias da saga Sandman, de Neil Gaiman, em que Morpheus e Death, que me lembre, aparecem em várias histórias como personagens meramente tangenciais, completamente de raspão, mas acabam por ter um impacto enorme, como não podia deixar de ser. O segredo aqui é a arte de contar histórias de Gaiman, mas isso redundou nessas presenças tangenciais de duas das personagens mais importantes desse universo

De uma forma menos óbvia, podemos falar do que se passa em O Conde de Monte Cristo, livro imenso no qual o Conde de Monte Cristo do título é uma personagem tangencial durante muito tempo. A história do livro é a sua vingança, a sua vida é a motivação de tudo o que acontece, e todos os acontecimentos narrados são de alguma forma relevantes para ele ou por sua causa. E no entanto passamos longas páginas sem ter notícias dele, e quando aparece, muitas vezes disfarçado e com um nome e título diferentes, tem um papel secundário para a acção. Aqui foi novamente a mestria de Dumas que possibilitou esta presença tangencial, mas não deixa de ser impressionante a forma como o fez.

Mas querem dois exemplos a sério de personagens que praticamente não aparecem mas que são as mais importantes no meio daquilo tudo? Comecemos pelo Comediante de Watchmen, então, que morre nas primeiras páginas mas que tem um grande impacto em tudo o que se segue. Foi das coisas que mais me intrigou, quando li o livro, esta capacidade de não estar lá mas influenciar tudo, e é preciso abençoar Alan Moore pela capacidade que teve de fazer isto tão bem feita na brilhante desconstrução dos super-heróis que é esse livro.

O outro exemplo é parecido, mas ainda mais extremo: em Lágrima, o mais recente livro do meu primo André, há uma personagem tão tangencial que nunca chega a aparecer no livro. Os protagonistas são o pai e a mãe dessa personagem, um miúdo que morre antes dos acontecimentos narrados no livro. Mesmo assim, esse miúdo, ou mais propriamente, a sua morte, é o tema principal do livro em redor do qual tudo se desenvolve.

Também em leituras mais recentes, há uma personagem que me cativou e que teve o azar de cair numa série de livros que achei menos bem conseguidos, por um motivo ou por outro: Gued, o Gavião do Ciclo de Terramar, de Ursula K. Le Guin. Extraordinária feiticeiro, faz uma série de coisas para lá da compreensão humana e no fim mantém-se humilde e sábio como ninguém. O primeiro livro é do seu ponto de vista, e é claramente um protagonista muito presente, assim como no terceiro livro, mas a sua presença no segundo e no quarto livro é, durante muitas páginas, tangencial. E isso só faz dele mais interessante, pois adiciona mistério a uma personagem que podia ter sido muito banal.

Mas por falar em mistério, sabem onde é que estas presenças tangenciais caem muito bem? No género do terror e em vilões de uma forma geral. Veja-se quase tudo o que Lovecraft escreveu: o medo e as sensações de horror são transmitidas não pela presença, mas pela ausência. Como o próprio Lovecraft afirma, o medo mais antigo é o do desconhecido. É por isso que nos seus escritos são as sombras que dominam, e também aquilo que se consegue ver, mas não apreender.

Aliás, muito do horror é feito exactamente assim, através do desconhecido e muitas vezes através de personagens tangenciais. Como acontecem com Misery, de Stephen King, em que o protagonista ocupa sozinho uns 80% do livro, enquanto a sua enfermeira psicótica, a impulsionadora de tudo o que acontece, aparece de vez em quando, e quase sempre de raspão. Dá-lhe um ar mais instável e não nos deixa confiar naquilo que vemos: como é que podemos ficar a conhecer uma pessoa a vê-la durante cinco minutos de cada vez?

Tenho a certeza de que existem muitos mais exemplos, mas estes são só os que me lembro claramente, de olhar para a lista de livros que já li. Acho interessante, e é algo que ainda tenho que fazer com sucesso numa das minhas histórias, mas agora que já vos apresentei o conceito e alguns exemplos, lembra-se de mais algum caso? Seja para me relembrar, ou para me dar a conhecer, agradeço!

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Orquídea Negra


Argumento: Neil Gaiman
Arte: Dave McKean
Tradução: José de Freitas e João Miguel Lameiras


Opinião: A inconfundível arte de Dave McKean é bonita o suficiente para dar valor a qualquer livro em que apareça. O tipo consegue fugir às normas da ilustração da BD com um estilo muito característico e ao mesmo tempo cinematográfico e onírico, quase abstracto.

O argumento de Neil Gaiman por cima disso ainda melhora a coisa. Se bem que, reparem, por muito espectacular que Gaiman seja, este livro em específico quem ganha é McKean. A história é interessante, sim, e demonstra novamente que autores consagrados e semi-alternativos a trazerem de volta personagens semi-esquecidos é a melhor coisa de sempre, mas nada se compara às sequências oníricas que McKean espalha pelas páginas.

Até porque a história, apesar de interessante, é confusa e extremamente estranha, ao ponto de me ter deixado a perguntar "mas que raio?" e não no bom sentido.

Foi bom ver cameos de outras personagens de DC, assim como é fácil de apreciar a mensagem ecologista e tudo o mais, mas nunca é uma história que cative. Começa bem, e deixou-me logo em pulgas, mas depois acalma e torna-se num livro morno. Discreto.

Não tem menos valor por isso, apenas não me agradou tanto. Podia ter-se tornado mais envolvente, mas a personagem principal, a titular Orquídea Negra, nunca é suficientemente próxima do leitor. E nem sei se por culpa de Gaiman, se por culpa de McKean. O que acontece é que não há nada onde o leitor se possa agarrar. A personagem principal é completamente alienígena, os vilões são, enfim, vilões, e pouco mais há de relevante.

Portanto, digo-vos: esperava mais. Mas vale bem a pena, de qualquer forma. Abençoado sejas, Dave McKean.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Estantes Emprestadas [13] - Amálgama de coisas


Sejam bem-vindos ao primeiro Estantes Emprestadas de 2015, já no seu novo formato! Comecei por convidar a Júlia, também conhecida por Jules, porque quem melhor para inaugurar isto do que a minha namorada? Já sabia que ela ia dar um tema difícil, mas interessante, e tinha razão. Até começou por lixar, que primeiro que eu conseguisse começar a escrever... Mas depois tornou-se em algo que me deixou mais satisfeito.

Para quem não se lembra, a ideia desta segunda versão das Estantes Emprestadas é ter bloggers a sugerirem-me um tema, sobre o qual eu escrevo um texto, a que esses bloggers depois têm de responder. É uma experiência de interactividade entre bloggers!

Sem mais demoras, avancemos! Obrigado Jules!

P.S.: Aqui fica a resposta dela e a minha "defesa".

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Conhecendo-te bem, e a mim também, sei bem que gostamos de muita coisa e todas muito diferentes umas das outras. Gostando de tanta coisa acabamos por precisar de vários meios para obter satisfação para todas. Mas e se fosse possível reunir tudo num só sítio? Como é que isso aconteceria? É possível de maneira real e – isto é importante – que faça sentido?

No teu caso, por exemplo, reunir DW, epopeias, dinossauros, livros, mitologia, integrais, crianças pequenas, desgosto por cães, como é que isto tudo poderia ser junto? Resultava? Sendo nós tão ecléticos? E quereríamos que isso acontecesse? Retiraríamos realmente o prazer que retiramos dos pequenos pedacinhos num todo?


Pergunta difícil. A resposta fácil, e mais simples, é que não sei. Não consigo imaginar muito bem algo que conseguisse realmente conter todas essas coisas (e outras tantas) num todo coerente e razoável. Quem me dera a mim! Mas não me parece viável.

Posso, no entanto, falar de alguns exemplos, alguns bem recentes, que considero interessantes e que se encaixam, de certa forma, na tua pergunta.

A começar por Doctor Who. Toda a gente sabe o quanto é que eu gosto desta série, mas poucos compreendem verdadeiramente o motivo: é uma espécie de resposta à tua pergunta. Nunca vi nada que juntasse tanta coisa numa só. Os encontros com a mitologia são frequentes, a ciência é constante, há crianças adoráveis, dinossauros, zombies, naves espaciais, aliens, magia, figuras históricas, enfim, de tudo!


E isto feito de forma coerente, consistente (a maior parte das vezes), com bons elencos e boas histórias. É um bom exemplo de como se pode pegar num conjunto infindável de temas, juntá-los, misturar bem, e ter como resultado algo excelente.

Tu de certo que compreendes, és tão fanática por Doctor Who como eu. Cada episódio é uma pequena obra-prima de diversidade temática, alguns mais bem executados do que outros, mas sempre fascinantes, de uma forma ou de outra. A capacidade que o programa tem de fazer isso e ao mesmo tempo manter-me suficientemente embrenhado para nunca duvidar nem questionar grande coisa, apenas apreciar, é qualquer coisa de especial.

Falemos agora de exemplos mais literários. Há o caso simples, e óbvio, de The League of Extraordinary Gentlemen, que me oferecido por alguém (fazes ideia?) numa edição para lá de lindíssima. A mente irrequieta e arcaica de Alan Moore consegue criar um livro fantástico que mistura várias mitologias e várias ficções (mais ou menos) actuais, numa história coerente e, pior ainda, interessante.


O meu fascínio por este livro já está bem documentado aqui no blog, portanto não me quero alongar demasiado, mas percebem? Tu certamente que percebes, Jules, ainda não o leste e já tens o mesmo fascínio. A sensação que tenho deste livro é parecida com a que tenho da série Sandman, de Neil Gaiman. A mistura entre realidade e ficção é parecida, embora assuma contornos bastante diferentes. E o sense of wonder é exactamente o mesmo nestas duas BD's e em Doctor Who. Algo que nos faz sonhar e acreditar.

Para dar um exemplo mais discreto, deixa-me falar de Flatland. Ainda estou para perceber como é que um livro tão pequeno e aparentemente tão simples consegue exercer um fascínio tão grande sobre mim, mas a verdade é essa.

Nesta curta história sobre um quadrado muito vitoriano que é arrancado do seu mundo bidimensional e levado a conhecer todas as múltiplas dimensões “acima” e “abaixo” da dele, não se misturam muitas coisas: apenas conceitos matemáticos, literatura e crítica/paródia à sociedade vitoriana. Mas o autor consegue fazê-lo de uma forma que me deixou completamente rendido logo na primeira leitura, quanto mais na segunda e na terceira. Não sei se é de ver rigor matemático e explicações geométricas no meio de uma narrativa, mas Flatland é e sempre será um dos meus livros favoritos de sempre.


Agora que falo nele, no entanto, lembro-me de um autor que tenho de mencionar: Jorge Luís Borges. Aquela mistura de ficção com matemática, a sua utilização de conceitos matemáticos para construir uma história, e de usar uma história para explicar conceitos matemáticos, é completamente fora de série. É o tipo de coisa que eu gostava de fazer um dia.

Tenho que falar dos vários contos que envolvem labirintos? Ou uma biblioteca infinita? Um disco que só tem um lado? Um livro de infinitas páginas? O próprio Aleph? Genial não chega para o descrever!

Como vês, existem já vários exemplos de coisas que podem fazer mais ou menos essa enorme mistura de temas. Mas sinto que falta responder à tua pergunta de uma outra perspectiva. O que é que poderia existir que realmente fizesse essa mistura, e com sucesso? Queremos que aconteça?


A resposta à segunda pergunta é: digo-te depois de ler/ver/ouvir. Quanto à primeira... Bem, conheço casos de coisas que tentam fazer misturas e falham redondamente, como Falling Skies, que tenta misturar distopia, invasão alienígena e História, mas apenas consegue ter um professor de História estranhamente competente em termos militares, que aproveita qualquer oportunidade para relembrar toda a gente à sua volta de que era professor de História. É irritante e inútil.

Se queres que te diga, para mim, a única forma de isso acontecer seria em BD. Não há limites de orçamento, o que é um bónus, e não era difícil misturar isso tudo, nem que fosse em pormenores tão palerma como ter uma personagem que, como quase acontece comigo, só tem camisolas nerd/geek. Só isso já dava para introduzir algumas coisas, de forma discreta. O resto era deixar a imaginação correr.

Eu sei que este exemplo parece um bocado palerma, mas tu percebes-me, eu sei que sim. O que é realmente relevante nisto é a imaginação, tão simples quanto isso. É possível? Não tenho a certeza. Seria porreiro? Também não tenho a certeza. Gostava que acontecesse? Claro que sim, mais que não fosse para responder às duas perguntas anteriores, que só gosto de falar de incerteza quando a seguir digo “de Heisenberg” e antes disse “princípio da”.

Como tal, atiro-te novamente a pergunta, o que é que tu achas? E vocês, que estão a perguntar-se o que raio aconteceu à minha memória a longo prazo, para todos os exemplos serem de coisas com as quais lidei no último mês, o que têm a dizer?

sábado, 27 de setembro de 2014

Personagens favoritas


Tendo em conta o número reduzido de comentadores e comentários que este blog tem, basta alguém comentar mais do que uma vez e eu fico a conhecer essa pessoa. E a considerá-la, pelo menos, uma pessoa conhecida.

Alguns, no entanto, são bastante reincidentes. Por esses, poucos, tenho uma grande estima. Ainda para mais quando todas as suas intervenções são relevantes e interessantes, como é o caso do Francisco Fernandes (aka asesereis).

Esta conversa, para além de agradecer a sua contribuição para as discussões aqui no blog, é só para introduzir uma sugestão que o Francisco fez e que vou seguir (mais ou menos): personagens favoritas.

É complicado falar de favoritos, sejam livros, sejam autores, quando somos completamente viciados em literatura, mas no fim fica fácil. Se tiver sido um livro que nos marcou o suficiente para ser o nosso favorito, não nos vamos esquecer. E o mesmo para autores. Mas personagens favoritas? Personagens há muitas!

No meu caso, assim de repente, basta lembrar-me de Tolkien e de Stephen King, e já fico, literalmente, com um manancial de centenas de personagens disponíveis. E se ficar a saber os nomes dos cerca de cem livros que leio por ano já é abusar da minha memória, nem sequer pensem em ficar a saber os nomes de todas as personagens.

Mas no entanto há algumas que ficam. Outras cujo nome já não sei, mas que conheço perfeitamente. Quer queiramos quer não, é como os livros e os autores - só que a uma escala maior.

E com as personagens até é possível acontecerem coisas bastante curiosas... Como por exemplo, uma das minhas personagens favoritas é o Glotka, o torturador desfigurado e manipulador da trilogia The First Law, de Joe Abercrombie, que achei apenas mediana. Mas o meu livro favorito deste autor, Best Served Cold, também tem uma personagem que aprecio, embora bastante níveis abaixo de Glotka: Friendly, o tipo frio e obcecado com a matemática, cujo ponto de vista originou alguns dos capítulos mais interessantes que já li.

O "pior" é quando começo a desbobinar os nomes de que me vou lembrando, e o resultado é uma lista recheada de vilões. Seltor, Joker, Pennywise, a enfermeira psicopata que depois é interpretada por Kathy Bates... Podia ficar aqui o dia todo.

Por outro lado, como raio é que faço uma lista destas sem dar destaque a meia dúzia de personagens de Tolkien? Ou de Alan Moore? Ou de Neil Gaiman? Ou do George R.R. Martin? Ou da Rowling? Ou das outras centenas de autores?

E o Sherlock Holmes? E o Poirot? Impossível! Impossível!

A minha resposta ao teu desafio é esta, Francisco: provavelmente, se me perguntares qual é a minha personagem favorita, digo-te sempre o Seltor, mas se todos os dias me pedires uma lista de cinco personagens favoritas, o mais provável é eu dar-te uma lista diferente de cada vez.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Que as citações nos caiam em cima [44]


"I only have two kinds of dreams: the bad and the terrible.

Bad dreams I can cope with. They're just nightmares, and they end eventually.

I wake up.

The terrible dreams are the good dreams.

In my terrible dreams, everything's fine. I'm still with the Company. I still look like me. None of the last five years ever happened.

Sometimes I'm married. Once I even had kids. I even knew their names. Everything's wonderful and normal and nice.

And then I wake up. And I'm still me.

And I'm still here.

And that is truly terrible."

Elemental Girl em Dream Country
Neil Gaiman

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dream Country (Sandman #3)

Título: Dream Country
Argumento: Neil Gaiman
Arte: Kelley Jones, Charles Vess, Colleen Doran, Malcolm Jones III

Opinião: Dividido em histórias que passam por contos em formato BD, Dream Country é o terceiro volume da brilhante saga The Sandman, de Neil Gaiman.

Infelizmente não gostei tanto como dos outros dois. Mas mesmo assim foi uma leitura bastante agradável. Estranha, como não podia deixar de ser, com histórias bem estruturadas que apenas não se tornaram assim tão interessantes quanto isso.

Em todas elas, Morpheus, o Sandman, é apenas uma personagem secundária, na melhor das hipóteses. Ou pelo menos aparenta. Eu cá digo que ele aparece na mesma bem representado em todas, só que sem ser fisicamente. Afinal, ele é o senhor dos sonhos e, de certa forma, os sonhos assim. E estas histórias são todas mágicas, de alguma forma, não propriamente sonhadas, mas quase.

A primeira é Calliope, em que a musa da literatura é feita prisioneira por um escritor sem escrúpulos que a viola repetidamente para obter ideias para os seus livros, fazendo sucesso à sua custa. Com um ritmo lento e escondendo a personagem mais interessante (a musa) durante a maior parte do tempo, a história nada perde com isso. E a certa altura aparece o próprio Morpheus, chamado de Oneiros por Calliope, e a mostrar o seu lado mais frio e perigoso, muito perigoso...

De seguida vem A dream of a thousand cats, a primeira das histórias deste livro com uma estrutura deveras invulgar: é contada do ponto de vista de gatos. Neil Gaiman é de certeza uma cat person, porque embora sabendo o quão independentes e altivos são os felinos, a forma como aqui são retratados é mais humana que outra coisa. Temos direito a um Morpheus felino, também, e embora não tenha achado a história extremamente interessante, ganha uns pontos pelo ponto de vista peculiar e pela hipótese assustadora que apresenta.

A midsummer night's dream, a segunda história com uma estrutura invulgar, já não consegue ser tão interessante, apesar da ideia curiosa de basicamente ter, digamos, "pessoas" a assistirem a uma peça de teatro sobre eles próprios. As personagens não passam de "potencialmente interessantes", provavelmente por causa do fraco desenvolvimento. Além disso o entrelaçar da história com a peça de teatro não corre lá muito bem.

Por fim a minha história favorita, Façade, a mais estranha e que tem o bónus de ter a irmã de Morpheus, Death, na sua versão mais adorável. Estas poucas páginas lêem-se quase como um ensaio sobre a morte, tanto a definitiva como a que se processa enquanto estamos vivos e sozinhos, por uma razão ou por outra. Muito interessante, até pela forma como aborda a personagem principal, Element Girl, uma personagem obscura do mundo da DC.

Em suma, este é um livro interessante, mas não tão interessante quanto isso.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

The Doll's House (Sandman #2)

Título: The Doll's House
Argumento: Neil Gaiman
Arte: Mike Dringenberg, Malcolm Jones III, Chris Bachalo, Michael Zulli, Steve Parkhouse

Sinopse: Rose Walker finds more than she bargained for in The Doll's House - long lost relatives, a serial killers convention and, ultimately, her true identity. The master of dreams attempts to unravel the mystery, unaware that the hand of another, far closer to home, is pulling the strings.

Opinião: Muito bom. Não achei tão fantástico como o Preludes & Nocturnes, mas gostei bastante de qualquer forma.

Morpheus é uma personagem absolutamente fascinante, bastante poderosa e que transmite muito bem esse mesmo poder. Acho difícil não se ficar fascinado pela sua intensidade.

É agradável ter um pequeno sneak peak ao resto da família dos Endless, bem como a alguns episódios do passado de Morpheus, que desvendam mais pedaços do seu carácter.

O prólogo, da rainha Nada, é um bom começo, e faz depois uma boa ligação com o conteúdo do livro.

Os companheiros de casa de Rose (Hal, Barbie and Ken, Chantal e Zelda, e Gilbert) são todos bastante curiosos. Jed, o irmão de Rose, está envolto em mistério desde o início.

A fúria de Morpheus é assustadora. Os quatro sonhos perdidos (Brute e Glob, The Corinthian e Fiddler's Green) também são um aspecto curioso do livro.

As imagens fortes são já uma imagem de marca e sempre bastante marcantes e visualmente impressionantes. O breve interlúdio em que Morpheus visita o mesmo tipo, que se recusa a morrer, de 100 em 100 anos, diz mais sobre a personagem e a história do que aquilo que se poderia pensar.

A cereal convention é um nice touch, e uma das partes mais violentas e perturbadores do livro, até porque é um bocado inesperada.

O despertar do vórtex, com os sonhos estranhos dos companheiros de casa de Rose a juntarem-se e a misturarem-se é fascinante e poderoso!

A parte final é de certa forma mais etérea e terra a terra. Ver a raiva fria de Morpheus dirigida a Desire... Caraças. Aí está uma coisa à frente da qual não me quero meter de certeza.

Um bom livro, muito bom, até, mas falta-lhe qualquer coisa para chegar ao nível do primeiro.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Nocturnos (Sandman #1.2)

Título: Nocturnos

Argumento: Neil Gaiman
Desenho: Sam Kieth, Mike Dringenberg e Malcolm Jones III
Cor: Robbie Busch
Tradução: Pedro Vieira de Moura

Sinopse: Sandman: Nocturnos prossegue a saga de Morfeu, o Senhor dos Sonhos, em busca dos atributos que lhe permitirão restaurar o seu poder, ao mesmo tempo que se dá a conhecer ao leitor outro membro da família dos Eternos, a Morte.

Opinião: Gaiman consegue, mais uma vez, escrever uma BD fantástica, com uma arte irrepreensível, especialmente as cores (again!), da parte de Sam Kieth, Mike Dringenberg, Malcolm Jones III e Robbie Busch.

A busca de Morfeu continua, desta vez pelo seu rubi, detido por um tal de Doutor Destino, vilão clássico da DC e visto duma perspectiva bastante interessante e tenebrosa, com direito a 2 capítulos verdadeiramente excepcionais.


O capítulo em que se fecha num café com quem lá está, e usa os poderes do rubi para controlar tudo o que lá se passa, roça o genial.

Assustador e com momentos verdadeiramente psicadélicos e violentos, esse capítulo tem algumas das melhores páginas de BD que já me passaram pelas mãos, com a brutalidade a escalar e a surpreender-me a cada virar de página.

E isso foi, se não superado, pelo menos igualado, com o capítulo seguinte, em que Morfeu luta com Destino no Reino dos Sonhos, para reaver o rubi. As ilusões do vilão, os seus sonhos, os seus pesadelos, os seus desejos, tudo isso faz deste capítulo outro grande momento do livro.

Depois o capítulo final introduz a Morte, a irmã mais velha de Morfeu e outra dos Eternos. Morte é uma personagem caricata, tem o aspecto de uma jovem mulher, de pele pálida e cabelos negros, como os olhos, à semelhança de Morfeu, e transmite a mesma aura de mistério e poder que o irmão.

No entanto é muito diferente do Senhor dos Sonhos. Enquanto este é calmo e melancólico, paciente até, Morte é impulsiva e perde as estribeiras com facilidade. E como se isso não fosse suficiente, parece perfeitamente capaz de oscilar rapidamente entre essa personalidade explosiva e uma personalidade mais como a do seu irmão, mais calma e assertiva.

Suponho que isto reflicta as naturezas daquilo que representam: Morfeu tem um carácter etéreo, claramente não pertence ao nosso plano de realidade. É calmo, ponderado e sábio, ao mesmo tempo que é aterrador. Como os sonhos e os pesadelos.

Já a Morte é como a morte, ora repentina e demasiado rápida, ou lenta e ponderada, mas sempre fria, distante e dolorosa para alguém.

Neil Gaiman consegue assim construir duas personagens muito interessantes, que se juntam ao resto das personagens que têm aparecido ao longo destas páginas, algumas criadas outras emprestadas, mas todas bem aproveitadas.

E o resultado de misturar essas personagens com a sua história fantástica, e com a arte fabulosa daquela equipa de artistas ali em cima, é um livro excepcional.

domingo, 7 de julho de 2013

Que as Citações nos Caiam em Cima [35]


"Dizes que não tenho poder aqui? Talvez seja verdade... Mas que os sonhos não o têm? Então diz-me, Estrela da Manhã... Perguntem-se todos vós... Que poder teria o Inferno se aqueles que aqui são prisioneiros não pudessem sonhar com o Paraíso?"

Morfeu em Prelúdios
Neil Gaiman

sábado, 6 de julho de 2013

Prelúdios (Sandman #1.1)

Título: Prelúdios

Argumento: Neil Gaiman
Desenho: Sam Kieth e Mike Dringenberg
Cor: Robbie Busch
Tradução: Pedro Vieira de Moura

Sinopse: Sandman: Prelúdios introduz os leitores no universo misterioso e mágico de sonhos e pesadelos que é o domínio de Sandman, Senhor dos Sonhos, e dos restantes Eternos.

Opinião: Digo-vos, bastaram algumas páginas para ficar rendido. Gaiman conseguiu criar uma história interessante, aproveitando o Universo dos super-heróis da DC, uma história estranha, ainda por cima.

Os heróis e vilões pouco ou nada aparecem, tendo apenas papéis menores ou aparecendo só de raspão, mas há excepções, como John Constantine, que tem um papel mais preponderante.

Mas concentremo-nos no protagonista, Morfeu, o Rei dos Sonhos, capturado e mantido cativo durante décadas, sem dizer uma palavra que fosse até chegar a altura certa. O objectivo era capturar a sua irmã, a Morte, mas o ritual falhou por algum motivo e os mágicos humanos ficaram o Sonho aprisionado numa grande redoma de vidro.

Tiraram-lhe os seus artefactos (o elmo, o saco de areia, e o rubi), e Morfeu parte em busca desses artefactos, quando se vê livre. Interage com humanos, nomeadamente com Constantine, e vai até ao Inferno para recuperar as suas coisas, sempre a emanar uma aura de mistério e de poder que apenas cresce à medida que o tempo passa.

Essa sensação de poder calmo é aumentada quando consegue parar uma horda inteira de demónios só com algumas palavras. Não houve magia, nem qualquer truque ou luta. Limitou-se a falar. Morfeu tem um poder que transcende as suas habilidades sobrenaturais, um poder inato e um carisma poderoso. É um dos Eternos, seres praticamente omnipotentes, e isso nota-se bem.

No entanto o que mais me fascinou não foi a personagem, o ambiente, o mundo ou a história. Nada disso. Aquilo que me deixou realmente impressionado foi a arte. Os desenhos encaixam muito bem na história, e as cores são surpreendentemente vivas e vibrantes.

Com uma história de carácter negro, e personagens que, pelo menos na maior do tempo, ainda são mais negras, estranhei bastante a vida que as cores transmitiam. Eram vibrantes e diversas, um mundo colorido a partir de uma larga palete de cores intensas, e não de cores escuras nem à volta dos cinzentos e dos pretos, como podia ser de esperar.

Só por isso o livro já era capaz de levar quase a nota máxima, e depois ainda se tem em conta a história interessante, as personagens curiosas, como Morfeu, Abel, Caim, Constantine, o Triunvirato que governa o Inferno (ideia genial) e outras que tais, e o resultado é uma nota máxima bem esgalhada.

E se ignorarmos tudo e nos focarmos apenas na história e no enredo, aquilo que encontramos é terror, mistério, humor leve e humor negro, coisas estranhas, desenvolvimentos inesperados e um enredo cativante, de uma forma geral.

No fundo, uma boa introdução à saga de Sandman, um óptimo livro que serve de facto como prelúdio: prepara a história, dá alguns desenvolvimentos e ajuda a assentar o ambiente, negro e ao mesmo tempo estranhamente colorido.

sábado, 1 de junho de 2013

O dia em que troquei o meu pai por 2 peixinhos dourados

Título: O dia em que troquei o meu pai por 2 peixinhos dourados
Argumento: Neil Gaiman
Arte: Dave McKean
Tradução: Pedro Silva

Sinopse: O que é que aconteceria se quisesses tanto os peixinhos vermelhos do teu melhor amigo que darias qualquer coisa que tivesses por eles? Absolutamente qualquer coisa. Até mesmo o teu pai...

Opinião: Livro infantil escrito por Neil Gaiman, mesmo que não fosse minimamente engraçado, já ganhava pontos pelo título. É tão idiota que se torna hilariante. E bem, é basicamente a premissa do livro.

Apesar do autor ser um dos meus preferidos, isto é um livro infantil, acho que é complicado um escritor, por muito bom que seja, se destacar realmente enquanto escritor, num livro deste estilo. É por isso que a minha parte favorita foram mesmo as ilustrações de McKean, meio psicadélicas.

Só não sei é se agradam às crianças a quem o livro se dirige, talvez sejam demasiado psicadélicas... E a escrita é um bocado repetitiva. É defeito de ser um livro para crianças, portanto não o posso recriminar por isso, mas pronto, queria referir isso.

A história em si é engraçada, e está permeada com um certo sentido de humor bastante peculiar, que ainda me fez rir umas poucas vezes. A ideia do pai que passa de mão em mão, como vulgar moeda de troca, sem nunca despegar os olhos do jornal está genial. A demanda dos filhos para o trazerem de volta é engraçada, e o final mostra novamente como o humor pode ser mais infantil e ainda assim agradar a toda a gente.

Não aconselho propriamente a leitura, mas digo-vos que não perdem nada, tirando alguns minutos. Pelo menos dá para se rirem.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Marvel 1602: Volume 2


Título: Marvel 1602: Volume 2

Argumento: Neil Gaiman
Desenho: Andy Kubert
Cor: Richard Isanove
Tradução: Jorge Magalhães e Catherine Labey

Sinopse: Com a morte da Rainha Isabel e a subida ao poder do Rei James IV, a situação de Carlos Javier e dos seus pupilos torna-se cada vez mais perigosa. Enquanto isso, o misterioso tesouro resgatado pelos Templários do Templo de Jerusalém caiu nas mãos do Conde Otto Von Doom, que o levou para o seu castelo da Latveria, cujas masmorras guardam uma família de heróis que todos julgam mortos.

Opinião: O segundo volume desta história mantém a qualidade das ilustrações mas, na minha opinião, decresce um pouco em termos de argumento.

Continua a ser espectacular observar personagens tão famosas como este bando de super-heróis a viverem em 1602, mas o ligeiro plot twist revelado aborreceu-me um pouco. A história não está má, é até bastante interessante e achei que estava bem escrita e com um enredo bem construído. Só não gostei do rumo que as coisas acabaram por tomar.

Ou seja, Marvel 1602 acaba por ser um livro porreiro, mas que se perde um pouco ali pelo meio. Neil Gaiman fez um bom trabalho a construir a história, assim como Andy Kubert e Richard Isanove o fizeram a ilustrá-la, mas o destino dado a Rojhaz, ainda que surpreendente, decepcionou-me e estragou um pouco a história.

É claro que a partir daí, e como tudo ficou bastante mais rebuscado, o meu interesse foi diminuindo. Acabei por gostar mas... meh.

Mas reparem, pontos positivos, aos pontapés! Como não me canso de referir, ver um estas personagens completamente deslocalizadas e fora do seu tempo foi uma experiência fascinante, e que acho muito sinceramente que podia ter sido muito melhor explorada e continuada indefinidamente como continuidade paralela à principal da Marvel, se não tivesse sido ligeiramente estragada pelo final...

E lá estou eu a bater outra vez no ceguinho sem necessidade nenhuma, não é? Perdoem-me, mas fiquei genuinamente decepcionado com o final. Podiam ter sido os melhores livros do ano até agora! Enfim, não liguem.

A conclusão final é que é uma boa história que me deixou com ainda mais curiosidade relativamente a outros trabalhos de Gaiman. E tirando o que já mencionei, só tenho uma grande, grande falha a apontar: o Wolverine não aparece. Não sei qual é a razão, mas além de ser de longe a minha personagem favorita do universo Marvel, era uma personagem que acho que encaixava perfeitamente neste universo de Gaiman.

No entanto não me posso queixar, e devo é calar-me um pouco com os meus problemas de fã desiludido e aconselhar a leitura destas BD's!

domingo, 10 de março de 2013

Marvel 1602: Volume 1

Título: Marvel 1602: Volume 1

Argumento: Neil Gaiman
Desenho: Andy Kubert
Cor: Richard Isanove
Tradução: Jorge Magalhães

Sinopse: Sob o comando da Rainha Elizabeth, a Coroa Britânica afirma-se como a principal potência da época. Para isso muito contribui a eficiência dos Serviços Secretos britânicos, comandados por Sir Nicholas Fury e os misteriosos poderes de Stephen Strange, o médico da corte.
Com a Inquisição a perseguir incarniçadamente no continente todos os suspeitos de bruxaria, os jovens nascidos com estranhos poderes encontram refúgio em Inglaterra, no colégio de Carlos Javier. É neste ambiente de início do século XVII que vários acontecimentos invulgares começam a ter lugar, de tal forma que se começa a suspeita que o fim do mundo não andará longe.

Opinião: Neil Gaiman transporta personagens conhecidas do universo da Marvel para o fim da época da dinastia Tudor, em 1602. Temos Neil Gaiman a escrever uma história de BD de super heróis conhecidos, só que passada na Inglaterra de 1602. O que é que pode correr mal? Quase nada.

A juntar a isso temos o traço peculiar e muito distintivo de Andy Kubert, com cores de Richard Isanove, que distancia esta história da continuidade da Marvel e ao mesmo tempo demonstra como uma boa BD de super heróis não precisa de ter um ar cartoonesco.

No que toca ao argumento, curvem-se meros mortais perante a mestria de Gaiman, que mistura ficção e realidade num enredo com laivos sobrenaturais e que nos dá o gozo de ver Sir Nicholas Fury, com pala e tudo, e um tal de Stephen Strange a interagir com a Rainha Elizabeth I. A história é interessante e tem a sua dose de reviravoltas, mas a melhor parte é mesmo ver as personagens que tão bem conhecemos transpostas para esta nova realidade.

Há um Carlos Javier que tem uma escola para alunos especiais, que aqui não são mutantes mas embruxados; um Nicholas Fury e um Stephen Strange, que já mencionei, ao serviço da Rainha de Inglaterra; um trovador cego, Matthew Murdoch, capaz de se movimentar melhor que a maior parte das pessoas que vêem; um Grande Inquisidor capaz de controlar metais; um índio, Rojhaz, loiro e massivo, que protege uma criança chamada Virgínia Dare, que também tem os seus segredos.

E mais! O Quarteto Fantástico, o Homem-Aranha, o Dr. Doom, Quicksilver, Scarlet Witch e a Viúva Negra também participam em vários papéis. Entre conspirações e segredos dos Templários, Marvel 1602 tem sido uma boa leitura, e esta primeira metade tem muito poucas falhas ao nível do que quer que seja.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Neverwhere

Título: Neverwhere
Autor: Neil Gaiman
Tradutor: Alberto Gomes e Carlos Afonso Lobo

Sinopse: A ideia que deu origem a este romance é basicamente simples, como todas as ideias geniais. Gaiman representa a Londres não como uma cidade mas como duas, a Londres-de-Cima e a Londres-de-Baixo. São dois mundos que coexistem, e se ignoram, articulados por uma única estrutura ordenada: a rede do metropolitano. O protagonista, Richard Mayhew, um rapaz cândido que vem da província para trabalhar em Londres, reflecte na inquietante estranheza dos nomes das estações do Metro. Será que alguma vez existiu um circo em Oxford Circus? Knightsbridge, Earl's Court, Angel Islington ou Marble Arch são outros tantos nomes inspiradores. A um mundo de aparente racionalidade contrapõe-se um outro, insuspeitado, com as suas próprias leis, habitado por personagens bizarras, encerrando perigos e maravilhas. Esse mundo é constituído por tudo aquilo que Lá em Cima caiu por uma qualquer quebra de "lógica". Como acontecerá a Richard quando se cruzar com Door, uma fugitiva que ele acolherá em sua casa, por humana compaixão, quebrando assim o compromisso com a noive Jessica. De repente descobre que ninguém o vê, como se nunca tivesse existido. Resta-lhe então descer, ele que tanto sofre de vertigens, cada vez mais profundamente, no mundo da escuridão, dos túneis, dos esgotos, dos edifícios abandonados. Resta-lhe acompanhar Door na sua demanda através das trevas assustadoras. Perseguida e ameaçada, ela procura saber a razão por que toda a sua família foi morta, a mando de alguém sem nome. Sem o saber, Richard que só desejaria voltar para casa terá de chegar ao fundo de si mesmo para descobrir o Ser que verdadeiramente é. Esta fantasia urbana, thriller psicológico (será sempre algo mais) é Gaiman no seu melhor, brilhante, cheio de espírito, sublime de inspiração, resplandecente de humor e graça, mesmo quando é assustador.

Opinião: Vou ter que discordar da sinopse. Neverwhere não é, de forma alguma, um livro em que se encontra "Gaiman no seu melhor", cheio de brilhantismo e sei lá mais quantos adjectivos e expressões abonatórias. Neverwhere é, isto sim, um livro fraquinho.

E eu gosto bastante de Neil Gaiman, graças à minha anterior experiência com o seu Deuses Americanos, esse sim um livro verdadeiramente genial, o que não ajudou à minha experiência com este livro, já que em comparação, Neverwhere sai a perder. E de que maneira. Foi um bocado como ver o Benfica a arrebatar jogos à goleada, numa época, para na época a seguir o ver a ganhar de forma tangencial e até a perder. É passar de cavalo para burro. Enfim.

É que ainda por cima este livro não é mau de todo. Quer dizer, talvez seja. As personagens são ocas, a história é apressada e incoerente, com montes de passos mágicos espectaculares que só servem para desatar nós intrincados que o autor tinha dado ao enredo. Morreu? Ressuscita-se. É preciso fazer alguma coisa? Que curioso, esta pessoa aleatória por acaso é especialista nisso. Está tudo perdido? Nem pensar nisso, eu sei um truque novo que não me tinha ocorrido até agora e que salva o dia. E mais uma dúzia de coisas que infelizmente não posso contar, caso alguém ainda queira ler este livro. A juntar isso, só mesmo as cenas de luta, completamente anti-climáticas. Se bem que os diálogos nem eram maus de todo. Apenas ligeiramente tótós, já que, enfim, o enredo não era grande coisa.

Depois, não gostei do final. Nem do meio, nem fui particularmente fã do princípio... Digamos que me aborreceram as facilidades e os momentos de deus ex machina... Resumindo, um mau livro, apesar do excelente autor. Se querem conhecer Neil Gaiman, fujam deste e ataquem o Deuses Americanos. Por favor.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Deuses Americanos

Para um autor que ao princípio nada me dizia, e que depois me deixou ligeiramente curioso, tenho que confessar que "Deuses Americanos" superou as minhas expectativas de uma maneira que eu nunca tinha visto.

Aliás, a primeira vez que eu ouvi falar de Neil Gaiman, foi por altura da estreia do filme "Coraline", que se baseou num livro seu. E esse filme (e por consequência esse livro), não me atrairam minimamente, pois embora tivesse um certo estilo à la Tim Burton, era demasiado... infantil, para o meu gosto.

Qual não é o meu espanto quando na capa deste livro, do mesmo autor de "Coraline", vejo um comentário a dizer que Gaiman entrava no território de Stephen King, um dos meus escritores favoritos (se não mesmo o favorito)! Foi compra quase instantânea.

E, depois de uma data de tempo na pilha há espera de ser lido, devorei-o completamente em 3 dias. Foi verdadeiramente surpreendente, não estava à espera da história que dali saiu. Além do mais, o comentário sobre o Stephen King tinha razão, pois em alguns momentos o estilo era tal e qual. Transmitia a mesma sensação, embora diferente, de certa forma. O estilo de King é muito único, assim como o de Gaiman, e embora este último tenha conseguido, de certa forma, ter semelhanças, fá-lo de uma forma muito própria.

Se bem que eu sou suspeito. Sou praticamente um fanático por mitologia, sempre foi algo que me fascinou completamente. E adoro Stephen King. Este livro está na onda do Stephen King, e mete deuses por todos os lados. Ou seja, ganhou logo o meu afecto, quase de imediato.

E a verdade é que está bem escrito, é um grande livro, com uma grande história, e que me deixou com uma tremenda curiosidade de conhecer mais deste autor!


"Afinal, liberdade para acreditar significa liberdade para acreditar no que está errado. Tal como liberdade de expressão nos dá o direito de permanecermos calados."

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

The Dream Hunters


"Um monge vivia em solidão, guardando o seu templo ao lado de uma montanha. O templo era muito pequeno, e o monge era um jovem monge e a montanha não era das mais bonitas ou impressionantes do Japão."

Assim começa a belíssima história contada por Neil Gaimen (famoso escritor de Coraline e Stardust) e fenomenalmente ilustrada em quadradinhos por P. Craig Russel.

O conto, sobre um jovem monge que vivia em paz no seu pequeno templo sem que nada a perturbasse, vê-se uma noite importunado por bizarras e misteriosas criaturas batendo-lhe à porta, fruto de uma aposta entre uma raposa e um texugo. No entanto, tendo perdido ambos, desistiram e voltaram às suas tocas.

Paralelamente, o Grande Senhor de uma aldeia próxima, que tinha de tudo para ser feliz, vivia a maior das infelicidades. O Grande Senhor tinha medo. Vivia amedrontado todos os dias da sua vida.

Procurando então por meios místicos acabar com a sua horrível sina, recorre à ajuda de três magas, que lhe explicam que a única maneira de viver sem medo e em paz seria matar um jovem monge que vivia feliz num pequeno templo, e que nada temia. No entanto, teria de o matar à distância e sem lhe causar dor. O Grande Senhor procedeu ao envio dos seus demónios com a finalidade de espiarem o monge, que por sua vez estavam a ser espiados pela raposa, que entretanto se apaixonara perdidamente pelo jovem monge.

Preocupada, a raposa conta ao monge o perigo que este corre, e os dois partem numa inesperada jornada em busca do rei dos sonhos, o único que poderia salvar o monge do destino que o Grande Senhor lhe reservara.

Uma banda-desenhada colossal, que ultrapassa as barreiras da nossa imaginação, num casamento perfeito entre a força da arte gráfica e a magia das palavras.

sábado, 18 de abril de 2009

Stardust - O mistério da estrela cadente.



«- E se eu te trouxesse a estrela caída? - inquiriu Tristan, animado - O que me darias? Um beijo? A tua mão em casamento?

- Tudo o que quisesses - respondeu Victoria, divertida.
- Juras? - perguntou Tristan?
- Claro. - afirmou Victoria sorrindo


É este pequeno excerto que irão ler na contracapa de Stardust - O mistério da estrela cadente, numero 16 da colecção Via Láctea da Presença, se por acaso o tivessem em vossa posse. A melhor história de "pura" fantasia que alguma vez li na minha vida, um romance fantasioso de Neil Gaiman, que já contou com duas obras da sua autoria adaptadas ao grande ecrã, sendo uma delas Stardust e a outra, mais recente e para cinema de animação Coraline.

Quanto à historia de Stardust, irei continuar a expor-vos a contra-capa, com a sinopse desta magnifica obra:


«Victoria Forester era considerada a rapariga mais bonita das Ilhas Britânicas, mas para Tristan ela era a rapariga mais bonita do mundo, e a sua paixão por ela não conhecia limites. Por isso, as palavras que Victoria proferiu naquela noite de Outono em que oram ambos surpreendidos pelo brilho extasiante de uma estrela cadente soaram como música aos seus ouvidos. Afinal havia um caminho para o coração da sua amada. Tudo o que tinha de fazer era apanhar aquela estrela... e esse era agora o seu único desejo! Só que a estrela de Tristan caiu no País Mágico, no país onde habitam dragões, grifos, basiliscos, hidras, unicórnios, gnomos, enfim, toda a sorte de criaturas extraordinárias e imagináveis, e lá, as estrelas cadentes são belas raparigas de olhos azuis e cabelos louros. Uma enorme parede de pedra separa a aldeia de Wall desse mundo fantástico, mas nada poderá demover Tristan, e é justamente quando dá o primeiro passo no País Mágico que tem início a sua empolgante aventura»

Um pequeno à parte: Não, não é minimamente um livro para crianças :D


By A.