Autora: Rita Fernandes
Opinião: Há um limite para o nível de lirismo que eu aguento. A discussão sobre as razões de eu não gostar de poesia é longa, velha, e acaba por ser inútil e pouco relevante. Pelo menos para esta opinião. O que interesse é que já há algum tempo que eu não lia algo com uma escrita tão poética e que me agradasse tanto.
A história é curta, não chega para encher duas páginas da revista, e é simples. Pouco mais do que uma metáfora para um velhote em fim de vida ser uma espécie de polvo. Mas a beleza da escrita afoga (pun intended) a possível palermice da premissa e tira-me qualquer hipótese de não gostar deste conto.
Imaginem um homem idoso com um dia-a-dia cansado da vida que apenas consegue ser abrilhantado pela chegada do filho de meia-idade e do neto jovem e saltitante. Juntos, o primeiro e o último usam a imaginação para viajar aos recantos mais escondidos dos mares, perante a desaprovação ao mesmo tempo paternal e filial do segundo, sempre condescendente e símbolo de uma fase da vida demasiado séria.
Avô e neto vivem aventuras nas suas mentes que lhes parecem mais reais do que a própria realidade. O velho ganha vitalidade a olhos vistos e o rapazito é verdadeiramente feliz naqueles momentos em que conversa com o avô e o leva a viajar.
Agora imaginem tudo isto com uma escrita belíssima, pausada, simples, poética... As curtas descrições fizeram-me ver o dia-a-dia do velhote com poucas palavras, e deixaram-me observar as duas gerações entretidas debaixo das águas das suas imaginações como se os visse através de um vidro de aquário.
Foi assim que a autora, Rita Fernandes, me convenceu. Um conto intenso, bem escrito, bem contado e bem desenvolvido, com um final forte, mas suave, de certa forma expectável mas não menos triste por isso. Em suma, uma grande descoberta que fica mais do que aconselhada!