domingo, 18 de março de 2012

Through the Looking-Glass

Título: Through the Looking-Glass
Autor: Lewis Carroll

Sinopse: This 1872 sequel do Lewis Carroll's beloved Alice's Adventures in Wonderland finds the inquisitive heroine in a fantastic land where everything is reversed. Looking-glass land, a topsy-turvy world lurking just behind the mirror over Alice's mantel, is a fantastic realm of live chessmen, madcap kings and queens, strange mythological creatures, talking flowers and puddings, and rude insects.

Brooks and hedges divide the lush greenery of looking-glass land into a chessboard, where Alice becomes a pawn in a bizarre game of chess involving Humpty Dumpty, Tweedledum and Tweedledum, the Lion and the Unicorn, the White Knight, and other nursery-rhyme figures. Promised a crown when she reaches the wighth square, Alice perseveres through a surreal landscape of amusing characters who pelt her with riddles and humorous semantic quibbles and regale her with memorable poetry, including the oft-quoted "Jabberwocky".

Opinião: A sequela de Alice's Adventure in Wonderland é um livro bastante menos conhecido que o primeiro, apesar de praticamente todas as grandes adaptações, quer ao pequeno quer ao grande ecrã, terem elementos de ambas as obras. Não sei o porquê deste desconhecimento geral, mas eu próprio só recentemente soube da existência deste segundo livro. Felizmente para mim, entre conhecê-lo e encontrá-lo ao preço da chuva, em inglês, com as ilustrações originais, passaram-se apenas alguns meses.

E digo que se achei o primeiro recheado de nonsense, tenho que dizer que este nonsense está recheado com um livro. Há uma história, claro: Alice passa através do espelho para um mundo invertido em que as plantas falam, o tempo anda ao contrário e os livros estão escritos ao contrário, sendo preciso um espelho para os ler. Nesse mundo invertido, o jardim da sua casa é um gigantesco tabuleiro de xadrez com as mais variadas personagens e Alice é ela própria um peão branco. Descobre que o seu objectivo é chegar ao oitavo quadrado e tornar-se rainha, partindo então na travessia do tabuleiro.

Pelo caminho e em cada quadrado que atravessa, encontra curiosas personagens, como Tweedledee e Tweedledum, Humpty Dumpty e mais uma série delas, todas com vontade de lhe declamarem um qualquer poema que, claro, não faz o mínimo de sentido.

Tirando alguns pormenores, acho que este livro podia ter sido incorporado no primeiro e ninguém dava por nenhuma diferença de tom ou de escrita. Apresenta o mesmo humor absurdo, o mesmo tipo de brincadeiras com palavras e com conceitos e exactamente o mesmo tipo de situações ridículas e hilariantes.

Ainda por cima em inglês e lido logo a seguir ao primeiro, Through the Looking-Glass torna-se mais um pequeno livro divinal à sua maneira. Tenho a certeza que se tiverem gostado do primeiro têm curiosidade em ler este, curiosidade essa que eu acho que devia ser saciada o quanto antes!

terça-feira, 13 de março de 2012

Alice's Adventures in Wonderland

Título: Alice's Adventures in Wonderland
Autor: Lewis Carroll

Sinopse: One of the most popular and most quoted books in English, Alice's Adventures in Wonderland was the creation of Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), a distinguished scholar, mathematician and author who wrote under the pseudonym Lewis Carroll. Written for young readers but enjoyed equally by adults, the wonderfully fantastic tale is credited with revolutionizing children's literature and liberating it from didactic constraints.

The story is deeply but gently satiric, enlivened with an imaginative plot and brilliant use of nonsense, as it relates Alice's adventures in a bizarre, topsy-turvy land underground. There she encounters a cast of strange characters and fanciful beasts, including the White Rabbit, March Hare, Mad Hatter, the sleepy Dormouse and grinning Cheshire Cat, the Mock Turtle, the dreadful Queen of Hearts and a host of other unusual creatures.

Opinião: Já tinha lido a versão portuguesa há uns tempos, para além de já ter visto o filme da Disney uma carrada de vezes, portanto não havia propriamente muita surpresa no que tocava à "história" ou ao ambiente retratado.

Mas digo já que ler este livro em inglês, com as ilustrações originais é algo simplesmente delicioso. É nonsense puro, do princípio ao fim, cujo único objectivo é entreter, sem grandes artifícios literários, apesar da escrita cuidadosa e claramente habilidosa de Lewis Carroll.

Tão habilidosa que dá pena que o livro seja tão pequeno. Os paradoxos e enigmas que ficam no ar deixam água na boca além das situações completamente absurdas e exploradas até a um nível tão ridículo que se tornam hilariantes só porque sim. É que deixam de fazer sentido e passam a ser apenas situações que induzem ao riso espontâneo e involuntário.

E estão cá quase todos aqueles momentos que aparecem no clássico da Disney, e quase todas as personagens absurdamente hilariantes, de tão ridículas, como o Coelho Branco, sempre atrasado, o Chapeleiro Louco, sempre louco e a tomar chá, a Rainha, sempre a mandar cortar cabeças, o Gato de Cheshire, sempre a sorrir, entre muitas outras!

Por falar em Gato de Cheshire, cá fica uma das passagens a que achei mais piada:

"All right," said the Cat; and this time it vanished quite slowly, beginning with the end of the tail, and ending with the grin, which remained some time after the rest of it had gone.

"Well! I've often seen a cat without a grin," thought Alice; "but a grin without a cat! It's the most curious thing I ever saw in all my life!"

Não me perguntem porquê, mas este "cat without a grin" e "a grin without a cat" fascina-me... E pronto, basicamente é isto, não sei muito bem como opinar sobre este livro, tem muita parvoíce (no bom sentido) e momentos absolutamente hilariantes, está escrito em puro nonsense, mas mantendo sempre uma certa distinção que não sei explicar. Enfim, é um clássico que acho que vale sempre a pena a ler!

sábado, 10 de março de 2012

Flatland

Título: Flatland
Autor: Edwin A. Abbott

Sinopse: This masterpiece of science (and mathematical) fiction is a delightfully unique and highly entertaining satire that has charmed readers for more than 100 years. The work of English clergyman, educator and Shakesperean scholar Edwin A. Abbott (1838 - 1926), it describes the journeys of A. Square, a mathematician and resident of the two-dimensional Flatland, where women - thin, straight lines - are the lowliest of shapes, and where men may have any number of sides, depending on their social status.

Through strange occurrences that bring him into contact with a host of geometric forms, Square has adventures in Spaceland (three dimensions), Lineland (onde dimension) and Pointland (no dimensions) and ultimately entretains thoughts of visiting a land of four dimensions - a revolutionary idea for which he is returned to his two dimensional world. Charmingly illustrated by the author, Flatland is not only fascinating reading, it is still a first-rate fictional introduction to the concept of the multiple dimensions of space.

Opinião: Já não é a primeira vez que leio este livro, e duvido que seja a última. A primeira vez foi depois de ter andado numa longa e penosa procura pela edição portuguesa, mais difícil de encontrar do se possa pensar. Tinha descoberto o livro algures e ficado absolutamente fascinado. Como é óbvio não descansei até que o encontrei. Li-o, felicíssimo da vida, e adorei. E não é que passado 3 anos encontrei esta versão em inglês casualmente à venda por um preço mais barato que o meu almoço na cantina do Técnico? Nem tive que pensar meia vez.

Aquilo que mais fascina é que agora, passados 3 anos da minha primeira leitura, e apesar de já saber basicamente tudo o que acontecia, ainda me deslumbrei com cada virar de página. Acho espantoso como é que um livro tão pequeno me conseguiu e consegue manter entretido durante horas, ora a lê-lo, ora a pensar em todas as ideias que transmite, de ambas as partes que o constituem.

Essas partes são bastante diferentes, apesar de estarem profundamente ligadas, na obra. A primeira parte, que corresponde mais acentuadamente à primeira metade do livro, é a da crítica à sociedade vitoriana. O autor faz uso dos flatlanders e da sua sociedade a duas dimensões para emular a sociedade vitoriana e tecer algumas críticas que não vou fingir ter entendido por completo, já que não é uma época que eu conheça por aí além. É claro que deu para perceber a crítica à hierarquização da sociedade, e do ostracismo relativamente àqueles que fogem à norma, mas faltou-me mais algum conhecimento daquela época.

A segunda parte, mais acentuada na segunda metade do livro, apesar de estar sempre presente em todas as situações, é a matemática. Ninguém que me conheça minimamente acharia que eu ia gostar assim tanto de um livro destes por causa da sua parte de sátira social, e a verdade é que teria razão. Aquilo que realmente me motivou para a leitura e re-leitura desta obra foi precisamente o seu carácter matemático.

É que Flatland é um mundo a duas dimensões. O nosso é a três (ou a quatro, se preferirem uma abordagem mais física), portanto por um lado é fácil de imaginar um mundo a duas, e por outro é complicado. Quer dizer, como imaginar um mundo em que não existe altura? Em que nem sequer se sabe o que significa "altura", e onde não se tem noção de que há mais direcções para além esquerda, direita, para a frente e para trás, coisas tão banais como para cima e para baixo? Edwin A. Abbott consegue descrevê-lo de forma perfeitamente clara, ilustrando os conceitos com simples analogias e desenhos. E além de Flatland, o autor ainda mostra Lineland, um mundo a uma dimensão que é uma linha recta, e Pointland, o abismo sem dimensões, um único ponto, em que o seu único habitante é rei e senhor do seu reino, que é ele mesmo.

Já a terminar, e depois de ter duvidado da existência de uma Spaceland, um mundo a 3 dimensões, o quadrado protagonista da história pergunta à esfera que lhe apresentou os outros mundos se não existirão ainda outros mundos, a 4, 5 e quem sabe ainda mais dimensões. A esfera reage exactamente da mesma forma que tinha dito ao quadrado para não reagir. É curioso ver como o padrão se repete, e em como todas as personagens se prendem aos seus dogmas, tentando forçar os outros a aceitá-los e a renegar os seus próprios, usando argumentos que se recusam a aplicar a si mesmos. O livro acaba com o quadrado na prisão, prova de que quem é diferente e ousa pensar fora da norma e ir mais além não tem a vida fácil, um fim digno deste excelente livro, que mistura matemática com crítica e que é, sem sombra de dúvida, um dos meus livros favoritos de sempre.

domingo, 4 de março de 2012

O Livro de Areia

Título: O Livro de Areia
Autor: Jorge Luís Borges
Tradutor: António Sabler

Opinião: Comprei este livro de contos por duas razões bastante simples. A primeira é a edição fenomenal, que faz com que este livro seja daqueles que dá vontade de ter só porque sim, para ficar exposto numa estante. E depois porque ao ver esta edição à venda, fui imediatamente pesquisar mais coisas sobre este "Livro de Areia".

Descobri que era um livro de contos, sendo que um deles é exactamente "O Livro de Areia", um pequeno conto sobre um livro com um número infinito de páginas. A partir daí foi só um pequeno salto até descobrir o apetite que Jorge Luís Borges tinha pela matemática e pelos seus objectos e construções mais incríveis, impregnando constantemente as suas histórias com paradoxos, objectos impossíveis e anormalidades matemáticas. E como é óbvio, quando cheguei a esta parte fiquei basicamente encantado e com ganas de ler os contos deste autor.

E foi assim que comprei o livro e o li de uma assentada, curando a minha ligeira a aversão que tinha a este autor, graças à ignorância e à leitura de Os Conjurados, um livro de poesia que não fez nada para dar me dar uma boa imagem de Jorge Luís Borges. Mas parece que afinal adoro este autor, de tal forma que já fiz as suas "Ficções" subirem alguns lugares na minha lista de leituras.

Quanto aos contos em si, são na realidade bastante curtos, o que pode ser um pouco decepcionante, especialmente tendo em conta que o conto que dá nome ao livro é dos mais curtos e deixa no ar a ideia de que podia ter dado origem a algum muito maior... Mas nada disto tira qualidade à obra, já que é notória a mestria do autor no que toca a narrativas curtas, conseguindo contar uma história interessante e bem escrita em poucos parágrafos. Histórias essas que embora não entrem tanto no domínio do fantástico como já ouvi dizer que algumas entram, versam quase todas sobre alguma espécie de tema metafísico, seja um livro com um número infinito de páginas, seja a história de um homem que se encontra a si mesmo num sonho, sem saber exactamente se sonha se é sonhado.

Acho que não posso dizer muito mais para além de "vou ter que me controlar da próxima vez que vir o outro livro desta colecção que já foi lançado, 'História da Eternidade'..."!

sábado, 3 de março de 2012

O Fim do Sr. Y

Título: O Fim do Sr. Y
Autor: Scarlett Thomas
Tradutor: Inês Castro

Sinopse: Ariel Manto, uma solitária estudante, descobre, no decurso das suas pesquisas para a tese de doutoramento, uma obra rara do escritor do século XIX Thomas Lumas, O Fim do Sr. Y, que havia sido publicado em 1893. Sobre este livro corria o rumor de estar amaldiçoado e que quem o lesse morreria passado pouco tempo. O romance daquele autor desvenda como entrar na Troposfera, onde se pode encontrar o pensamento de outras pessoas. Ariel não sabe se há-de acreditar, mas como prefere a ficção à sua triste e pobre realidade, opta por descobrir tudo o que conseguir acerca da existência daquele lugar misterioso. Porém, em breve se vê obrigada a lutar pela sua própria vida, repartida entre o mundo real e o da ficção, numa fantasia cerebral que a conduz a um universo paralelo, onde outros pretendem apropriar-se dos seus segredos.

Escrito como uma aventura contemporânea, O Fim do Sr. Y é uma experiência do pensamento muito própria que debate a relação entre a linguagem, o pensamento e a matéria e os limites do ser e do tempo, na linha de Derrida e de Baudrillard.

Opinião: Uma bela duma surpresa, é o que tenho a dizer! Comecei a leitura meramente curioso e agradado pela capa, mas há medida que fui avançando fiquei cada vez mais preso a estas páginas.

A verdade é que tinha ouvido falar sobre o livro e não li muitas opiniões que por aí houvessem, e nem sequer conhecia a autora... No entanto, o aspecto curioso e bem conseguido da capa tinha-me atraído e comecei a lê-lo, sem saber exactamente o que esperar.

Que surpresa foi quando descubro que a protagonista, Ariel Manto, é uma personagem bastante interessante, uma mente científica a trabalhar na área das Letras, essencialmente na mistura das duas coisas, a Ciência retratada na Literatura, e a Literatura enquanto Ciência. Ariel pensa de forma lógica e algo fria, o que a leva a conclusões inesperadas e faz com que a história siga por vezes caminhos aparentemente improváveis, apenas possíveis graças à peculiaridade desta personagem.

A história em si não tem grandes reviravoltas, mas apresenta um enredo sólido, ainda que a certa altura faça uma viragem que não me agradou por aí além e que deixou algumas perguntas no ar... Tudo começa quando um dos edifícios da universidade colapsa, graças a um enfraquecido túnel que passava mesmo por baixo dele, e que leva ao encerramento do parque da estacionamento, obrigando Ariel a seguir a pé para casa. No caminho encontra uma livraria, onde consegue, quase milagrosamente, do ponto de vista dela, comprar um exemplo de O Fim do Sr. Y, um livro raríssimo e do qual se diz estar amaldiçoado. Lê-o, como é óbvio, e a partir daí os acontecimentos começam a acontecer em catadupa, com a descoberta da Troposfera, daquilo que pode fazer quando lá se encontra, do surgimento de dois estranhos homens loiros, de Adam, um padre que não é tão religioso quanto isso...

Enfim, uma evolução de peculiar para estranho até que a história chega a um nível de bizarria tal que a única coisa que posso fazer é ficar vidrado, a ler. Ainda por cima a autora fala de Ciência, usa a Ciência para fazer analogias e faz com que as personagens tenham longos diálogos e até monólogos sobre Ciência (apesar de por vezes começar a dar treta, mas pronto). Junte-se a tudo isto uma escrita sóbria e sem grandes pudores, e tem-se uma combinação que funciona muito bem, que me agradou bastante e que me leva a aconselhar este livro sem reservas!