segunda-feira, 6 de maio de 2013

Lavínia

Título: Lavínia
Autora: Ursula K. Le Guin
Tradutora: Maria do Rosário Monteiro

Sinopse: «Tinha doze anos quando fui, pela primeira vez, com o meu pai até Albúnea, a floresta sagrada sob a montanha. ...Nesse lugar os espíritos dos mortos conseguem ouvir-nos se os chamarmos. ...Tivera um sonho com um homem moribundo, algures num outro tempo. Acordei na noite escura e sem estrelas e olhei para o outro lado do altar. Ele estava lá. "Poeta?". "Lavínia.".» É desta forma que Le Guin imagina o ominoso encontro da protagonista com o seu criador, que lhe revela que se casará com um estrangeiro. Como leitora da Eneida, de Virgílio, a autora escolheu esta figura silenciosa, que no entanto simbolicamente viria a ser a mãe de uma civilização grandiosa, para protagonizar este romance que é a sua homenagem à epopeia que Virgílio deixou incompleta. Le Guin dá uma voz à sua heroína para narrar os factos do seu próprio ponto de vista, desde a sua infância e juventude idílicas, num mundo pré-helénico e pré-romano, cheio dos ritmos e dos ritos que o sagravam, até que chegasse Eneias e uma guerra começasse, por ela, como em Tróia, por Helena. Um romance que tem tanto de histórico como de mítico, poderoso, subtil e de uma rara qualidade poética.

Opinião: Esta edição fantástica de Lavínia é o primeiro livro de Ursula K. Le Guin que leio, e espero bem que não seja o último. Poucas páginas depois de o começar, já sabia que ia ficar entretido ao máximo enquanto o tivesse nas mãos, e não fiquei desiludido.

Posso apontar várias razões para ter gostado tanto do livro, como o facto de ser uma homenagem a uma epopeia, a Eneida de Virgílio, ou o facto da história ser interessante e estar bem contada, mas nada disso faria justiça àquilo que realmente me prendeu a estas páginas: a escrita de Le Guin.

Aquilo que encontrei neste livro foi um dos melhores exemplos de escrita que já li, não só no panorama do fantástico, mas da literatura em geral. Talvez seja cedo para tirar muitas conclusões, mas sinto-me seguro e confiante o suficiente para dizer àquelas pessoas que acham o fantástico como um género indigno de ser sequer considerado ao Nobel, para lerem esta autora e engolirem as suas próprias palavras da forma mais humilhada possível.

É verdade que não sei como são os outros livros da autora, que não espero não demorar muito a conhecer, mas eu ainda estava nas primeiras páginas de Lavínia e já estava de queixo aberto, a pedir por mais. A escrita mágica e envolvente de Le Guin transportou-me para o mundo de Lavínia, a personagem principal que dá o nome e a voz ao romance, sem qualquer tipo de esforço. A única coisa que eu tive que fazer foi começar a ler e deixar-me cair no chão pisado por Lavínia, Latino, Amata, Eneias, o próprio poeta, Virgílio, e tantas outras personagens.

Um dos pontos mais interessantes do livro é a relação entre Lavínia e Virgílio, ou melhor, a própria influência que Virgílio tem na história da sua personagem. Os momentos em que os dois se encontram e conversam são exemplos de uma espécie de meta literatura bastante peculiar e bem conseguida, e sem dúvida pontos altos do romance. Quando o fantasma de um Virgílio moribundo se encontra com a sua personagem negligenciada ("pensava que eras loira!"), a magia acontece.

Mais do que uma história sobre Eneias, como seria de esperar de uma homenagem à Eneida, Lavínia é a história da sua mulher, uma personagem que pelos vistos tem um papel muito secundário no poema épico, mas que fascinou a autora e a levou a escrever este excepcional livro ao qual nada do que eu possa dizer lhe fará justiça. Fiquem apenas com o meu conselho entusiástico para que o leiam, e as últimas linhas do livro, excepcionais, quase-poéticas e uma pequena amostra daquilo que podem encontrar nestas páginas.

"Contudo, por vezes a minha alma acorda novamente como mulher, e então, quando escuto, consigo ouvir silêncio, e no silêncio a sua voz."

2 comentários:

Nuno Amado disse...

Aconselho o Ciclo de Terramar, Os Despojados e Tembreabrezi - o Lugar do Início.
;)

Rui Bastos disse...

Mal posso esperar para pegar em mais livros desta autora! O Ciclo de Terramar é o que me deixa mais curioso...