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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Nos Limites do Infinito


Autores: Ana Luiz, Ângelo Teodoro, João Rogaciano, Ricardo Dias, Rui Bastos, Yves Robert


Opinião: Sou um pouco suspeito para comentar este livro. Tem um conto meu! Mas como é uma antologia com contos de cinco outras pessoas, tive que ler.

Já conhecia todos os autores de outras obras, mas o mais importante antes de abrir o livro é notar que tem lombada, apesar de ser fininho, com as suas pouco mais de sessenta páginas. Parece algo idiota de se fazer notar, mas para mim foi uma vitória.

A segunda coisa em que é preciso reparar é nas ilustrações, que são muito boas e fazem deste livro o mais bem-parecido desta jovem editora, com uma capa branca muito distintiva graças aos esboços negros que representam cada um dos contos.

Tudo bons augúrios, portanto. Só falta pegar, ler e ficar com opinião dos contos!

O primeiro é Sorte ao Jogo, de Ana Luiz, e digo já que é um dos meus favoritos. Convenceu-me logo ao início, com diálogos realistas como é raro de encontrar, ainda que a partir de certa alturam tenham regredido em qualidade. Como a autora disse na apresentação, a história de um pacto infernal e de jogos arriscados para a alma não é propriamente original, mas está bem apropriado e adaptado para o universo português.

A seguir vem A Pele de Penélope, de Ângelo Teodoro, que tem uma boa escrita e uma ideia muito boa, mas uma execução abaixo de óptima. O principal problema é a forma como a escrita se enamora de si própria e se perde num mar de metáforas exageradas. O outro problema é a personagem principal com decisões e acções muito incertas e inconsistentes.

O conto seguinte é Memórias de Teddy, de João Rogaciano, outro dos meus favoritos, que só pelo título e descrição do autor me tinha deixado a pensar em João Barreiros e a sua fixação literária com brinquedos. Tive algum receio, mas depois de ler fiquei agradado. É claramente na mesma onda, mas diferente o suficiente, com um estilo próprio e uma boa escrita, apesar do desfecho ser ligeiramente óbvio, deitando a perder a surpresa que podia ter sido.

Depois vem A Casa da Rua dos Mirtilos, de Ricardo Dias, que me aborreceu um pouco. É um conto juvenil, como tinha sido dito na apresentação, o que não tem nada de mal, à partida, mas neste caso não correu bem. A estrutura da história não é eficaz, o desfecho deixa a desejar, e as personagens são demasiado exageradas, e nem a escrita mais do que razoável salva o conto.

Como quinto conto aparece o fantástico A colina que olha para ti do espectacularmente bem-parecido Rui Bastos, um autor fora de série que merecia já o Nobel. Ok, eu confesso, sou eu: surpresa! Fora de brincadeiras, não vou opinar sobre o meu conto, excepto para dizer que sofre do mesmo mal que todos os contos da antologia… Mas já lá vamos.

Antes é preciso falar de Entre Estações, de Yves Robert, que mais parece um excerto daquilo que podia ser um excelente livro, já que o conceito aqui explorado é muito interessante, apoiado por uma boa escrita.

A opinião geral é positiva, e acho sinceramente que esta é a melhor antologia da Divergência até ao momento, embora eu seja suspeito, como é óbvio. Tenho é de apontar que todos os contos sofrem de um gravíssimo caso de demasiado tell e pouco show em momentos em que isso teria sido muito mais eficaz. Eu incluído como culpado principal!

Mas de facto, se descontarmos isso e um, talvez dois contos menos bons (sem contar com o meu), este é um bom livro!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Na Sombra das Palavras


Autores: Ângelo Teodoro, João Ventura, Mário Seabra, Fábio Ventura, David Camarinha

Opinião: Fiquei muito desagradado com esta primeira obra a sair do forno da Editorial Divergência. A edição está porreira, com um grafismo agradável e esses pormenores técnicos todos. As ilustrações antes de cada conto estão um mimo, e as biografias dos autores estão curtas e directas, como devem ser. Já a qualidade dos contos...

Tenho um problema de formato, logo à partida. Estes contos foram os escolhidos de entre as participações num concurso de contos de Thriller Fantástico. E se um eu apenas consigo considerar como levemente Fantástico, nenhum deles se enquadra no género de Thriller, na minha opinião.

Antes de continuar, e a favor da imparcialidade, quero referir que eu participei neste concurso com um conto, e obviamente não fui escolhido. Mas não escrevo esta opinião de forma rancorosa ou como vingança, porque eu não acho propriamente que o meu conto seja melhor que qualquer um destes. Acho que se pode classificar mais como Thriller do que qualquer um destes, mas isso não é relevante para o caso. Asseguro apenas que a minha opinião seria a mesma caso tivesse sido aceite ou caso não tivesse concorrido.

O primeiro conto, O Livreiro, de Fábio Ventura, talvez ainda seja aquele de que gostei mais. Mas a história, apesar de ligeiramente bueda meta não me deixou satisfeito. Confuso e demasiado curto, o conto peca por ser demasiado simplista. Isto porque a ideia é boa, uma misteriosa mulher feita de papel, o encontro dessa mulher com um livreiro e as consequências desse encontro, mas ficou a faltar qualquer coisa.

Depois vem A Lista de Deus, de João Ventura, um autor de que gosto mas que aqui não me agradou. É este conto que considera apenas como vagamente Fantástico. Apocalíptico, mas com uma escrita demasiado formal e aos solavancos, são os pormenores que estragam tudo. Como por exemplo haver um especialista em línguas que traduz uma placa de uma língua morte super antiga, gravada numa placa super antiga, on the fly. Eu não sou especialista nenhum, mas isso não é bem assim que funciona, parece-me.

O Panóptico, de David Camarinha, volta a pegar no estilo ligeiramente bueda meta, mas com uma abordagem mais pausada e metafórica. E que não encaixa minimamente no Thriller. O conto até nem corre mal, mas o final é mau e deixou-me com vontade de pegar no autor, voltar a sentá-lo à secretária e obrigá-lo a escrever um final decente para aquilo.

Em O Labirinto de Papel, de Ângelo Teodoro, o que encontrei foi uma premissa interessante, com uma escrita que não é nada má (embora um tanto ou quanto enamorada de si própria), mas um desenvolvimento mediano. A escrita ficou demasiado pesada para a história tão ligeira!

Por fim, Tabula Rasa, de Mário Seabra/Coelho (a antologia nunca se decide) é uma história confusa e que não me conseguiu cativar minimamente. A escrita deve ter sido a melhor dos cinco contos, mas o enredo é confuso e a melhor parte fica por contar.

Como podem ver, tenho uma apreciação negativa da antologia. Algumas das premissas eram boas, e a escrita no geral não é nada desagradável, mas a concretização em si... Podia ter ficado muito melhor! Acho que o mais marcante, para mim, é o tiro ao lado no género dos contos, mas pronto.

Pelo menos fiquei satisfeito com a edição e seriedade com que a equipa levou o projecto. Acho que é uma editora com muito potencial para crescer, e que irei acompanhar com atenção, inclusivamente participando regularmente nos concursos, a ver se me alguma vez me calha a mim. Por agora, no entanto, vou ter que torcer o nariz à qualidade do conteúdo.