segunda-feira, 14 de julho de 2014

Na Sombra das Palavras


Autores: Ângelo Teodoro, João Ventura, Mário Seabra, Fábio Ventura, David Camarinha

Opinião: Fiquei muito desagradado com esta primeira obra a sair do forno da Editorial Divergência. A edição está porreira, com um grafismo agradável e esses pormenores técnicos todos. As ilustrações antes de cada conto estão um mimo, e as biografias dos autores estão curtas e directas, como devem ser. Já a qualidade dos contos...

Tenho um problema de formato, logo à partida. Estes contos foram os escolhidos de entre as participações num concurso de contos de Thriller Fantástico. E se um eu apenas consigo considerar como levemente Fantástico, nenhum deles se enquadra no género de Thriller, na minha opinião.

Antes de continuar, e a favor da imparcialidade, quero referir que eu participei neste concurso com um conto, e obviamente não fui escolhido. Mas não escrevo esta opinião de forma rancorosa ou como vingança, porque eu não acho propriamente que o meu conto seja melhor que qualquer um destes. Acho que se pode classificar mais como Thriller do que qualquer um destes, mas isso não é relevante para o caso. Asseguro apenas que a minha opinião seria a mesma caso tivesse sido aceite ou caso não tivesse concorrido.

O primeiro conto, O Livreiro, de Fábio Ventura, talvez ainda seja aquele de que gostei mais. Mas a história, apesar de ligeiramente bueda meta não me deixou satisfeito. Confuso e demasiado curto, o conto peca por ser demasiado simplista. Isto porque a ideia é boa, uma misteriosa mulher feita de papel, o encontro dessa mulher com um livreiro e as consequências desse encontro, mas ficou a faltar qualquer coisa.

Depois vem A Lista de Deus, de João Ventura, um autor de que gosto mas que aqui não me agradou. É este conto que considera apenas como vagamente Fantástico. Apocalíptico, mas com uma escrita demasiado formal e aos solavancos, são os pormenores que estragam tudo. Como por exemplo haver um especialista em línguas que traduz uma placa de uma língua morte super antiga, gravada numa placa super antiga, on the fly. Eu não sou especialista nenhum, mas isso não é bem assim que funciona, parece-me.

O Panóptico, de David Camarinha, volta a pegar no estilo ligeiramente bueda meta, mas com uma abordagem mais pausada e metafórica. E que não encaixa minimamente no Thriller. O conto até nem corre mal, mas o final é mau e deixou-me com vontade de pegar no autor, voltar a sentá-lo à secretária e obrigá-lo a escrever um final decente para aquilo.

Em O Labirinto de Papel, de Ângelo Teodoro, o que encontrei foi uma premissa interessante, com uma escrita que não é nada má (embora um tanto ou quanto enamorada de si própria), mas um desenvolvimento mediano. A escrita ficou demasiado pesada para a história tão ligeira!

Por fim, Tabula Rasa, de Mário Seabra/Coelho (a antologia nunca se decide) é uma história confusa e que não me conseguiu cativar minimamente. A escrita deve ter sido a melhor dos cinco contos, mas o enredo é confuso e a melhor parte fica por contar.

Como podem ver, tenho uma apreciação negativa da antologia. Algumas das premissas eram boas, e a escrita no geral não é nada desagradável, mas a concretização em si... Podia ter ficado muito melhor! Acho que o mais marcante, para mim, é o tiro ao lado no género dos contos, mas pronto.

Pelo menos fiquei satisfeito com a edição e seriedade com que a equipa levou o projecto. Acho que é uma editora com muito potencial para crescer, e que irei acompanhar com atenção, inclusivamente participando regularmente nos concursos, a ver se me alguma vez me calha a mim. Por agora, no entanto, vou ter que torcer o nariz à qualidade do conteúdo.

2 comentários:

Adeselna Davies disse...

Question: o que é bueda meta???

Rui Bastos disse...

Coisas meta-literárias. Como histórias que se referenciam a si próprias como histórias, ou uma personagem que tem noção que é uma personagem, esse tipo de coisas. Eu é que gosto imenso de coisas desse tipo e na brincadeira costumo dizer "bueda meta" :)