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terça-feira, 21 de junho de 2011

Filhos e Amantes

Título: Filhos e Amantes
Autor: D.H. Lawrence
Tradutor: Cabral do Nascimento

Sinopse: Este clássico de D. H. Lawrence passa-se nas minas de carvão de Nothingham e acompanha a vida da família de Walter Morel, mineiro de profissão. Cansado e desiludido com o seu trabalho, Morel é um homem rude que está frequentemente alcoolizado. A sua mulher, decepcionada com o seu comportamento, acaba por depositar todas as suas esperanças nos filhos, principalmente em Paul, o protagonista do romance. Filhos e Amantes é considerado o primeiro retrato moderno do Complexo de Édipo, estudado por Freud.

Opinião: Esta colecção Não Nobel está a exceder as minhas expectativas de forma estupidamente espectacular. Então neste livro, que eu não sabia bem o que esperar e que me assustou um bocado por ser tão grande (507 páginas), e ter letrinhas tão pequenas. É que isto de andar em época de exames não é brincadeira, e eu já calculava que fosse um livro com uma escrita minuciosa, bastante descritiva, o que diminui bastante o meu ritmo de leitura.

No entanto, e para minha surpresa, lê-se surpreendentemente bem. Não é daqueles livros com uma história mirabolante cheia de peripécias absolutamente inesperadas. É daqueles livros que tem uma história, ponto. Uma narrativa bem contada, gerida com mestria pela mão do autor, que manipula a acção de forma calma e detalhada, entrançando as vidas das várias personagens numa única linha principal que redunda sempre no mesmo assunto: o amor que há entre Paul Morel e a sua mãe, Gertrude.

O rapaz está quase que preso à sua mãe, em virtude do estreito laço que se estabeleceu entre os dois, graças a um pai/marido alcoólico, brutamontes e desrespeitador, que causou uma necessidade de Gertrude encontrar carinho noutro lado, depositando todas as suas esperanças em Paul, o seu rapaz do meio, uma vez que foi aquando do nascimento deste que Walter Morel (o marido abusador) se encontrava numa das suas piores fases.

Ao longo do seu crescimento, Paul é absolutamente devotado à mãe, ao contrário dos seus três irmãos, William, Annie e Arthur, que mais tarde ou mais cedo se desligam da mãe, afastando-se, coisa que Paul não é capaz de fazer. William é ofuscado pela alta sociedade londrina e abandona a família, dando pouca importância aos laços que os unem; Annie acaba por encontrar marido e por se afastar também; Arthur, o mais parecido com o pai, no que toca ao temperamento, toma uma série de decisões irresponsáveis que o afastam a ele também. Por fim, Paul, embora procure activamente pelo amor, e ache por vezes tê-lo encontrado, nunca se sente realmente ligado a outra pessoa que não a sua mãe.

Ou melhor, sente um laço, algo que ele reconhece que devia ser amor, assume que pertence a determinada pessoa, mas não é capaz de a amar de facto e de lhe pertencer mesmo. Tem pavor a sentir-se subjugado por outra pessoa e acha que é precisamente isso que vai acontecer, sempre que se aproxima mais de uma mulher.

A verdade é que este acabou por se tornar num dos melhores livros que já li. A escrita, por estranho que pareça, fez-me lembrar um Júlio Verne romântico, de tão minuciosa e atenta aos detalhes, ou até um Eça de Queirós inglês, substituindo o que é tipicamente português em Eça com aquilo que é tipicamente inglês.

Resumindo, uma boa escrita, uma boa história, um óptimo livro e um óptimo autor, pelos vistos. Aconselho, recomendo, e todos os outros sinónimos que se lembrarem.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Que as citações nos caiam em cima [8]

Não tenho nada de inteligente ou de engraçado para dizer. Acabei de me deparar com este diálogo, enquanto lia (numa das minhas raras pausas no estudo para os exames), e achei esta parte particularmente digna de vir parar a esta rubrica.

"No limiar do bosque as campânulas haviam invadido o campo, como uma verdadeira inundação. Mas iam já murchando. Clara dirigiu-se para lá. Ele seguiu-a. Aquelas flores seduziam-no.
- Repare, como se escapam do bosque... - disse Paul.
Ela voltou-se, com um movimento de simpatia e gratidão:
- É verdade. - e sorriu.
O sangue dele começou a ferver.
- Faz-me pensar nos homens primitivos que viviam nas florestas, e que deviam horrorizar-se quando se encontravam no espaço livro e descoberto.
- Crê que seria isso? - indagou ela.
- Gostava de saber quais seriam os mais assustados, nessas velhas tribos: se os que, da escuridão das matas, saíam para a luz, ou os que, vindo de fora, entravam pé ante pé na floresta."

D.H. Lawrence, "Filhos e Amantes"

Não sei explicar, acho que gostei da metáfora/imagem/alegoria, o que lhe quiserem chamar. Apreciem.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Virgem e o Cigano

Mais um autor que eu não conhecia, mais um autor sobre o qual vou ter que descobrir mais obras. Sem saber o que esperar, gostei.

Gostei da escrita, gostei da história... Bem, mais ou menos. A história começou por me parecer meramente aborrecida. Não tinha nada de interessante. Mas depois de algumas páginas lidas, lá me deixei envolver pela história, cada vez mais, a cada página que virava.

É que embora tenha um arranque lento, que não me conquistou minimamente, o desenvolvimento é interessante, sem que aconteça de facto nada de muito especial. Quer dizer, acontecem várias coisas, mas não há um acontecimento que chame a atenção, como se vê em alguns livros, qualquer coisa que depois de lida, dá aquela impressão "então é isto...".

Neste, nem por isso. Fala sobre uma família rigorosa, com a matriarcal Mater, cega, a entrar nos 90, e rabugenta; a tia Cissie, fortemente reprimida, e de certa forma "condenada" a servir Mater, a sua mãe; o tio Fred, ligeiramente apagado; o pároco, homem abandonado pela mulher, Cynthia, que o deixa com as suas filhas, Lucille e Yvette.

Lucille e Yvette, duas raparigas modernas, fartam-se constantemente do estilo de vida que levam, debaixo da asa de Mater, tal como toda a família. A diferença é que elas importam-se. A tia Cissie também se importa, não fosse ela praticamente escrava da mãe, mas o ódio que sente encontra sempre outras escapatórias, e ela acaba por descarregar noutras pessoas.

Com esta conversa toda, devem-se estar a perguntar o porquê do título deste livro. Bem, é bastante auto-explicativo, depois de se lá chegar, quando Yvette visita, juntamente com uns amigos, um acampamento cigano, e a impressão que este causa nela é quase demasiado forte para ser expressa por palavras. E depois, quando parece que tudo está calminho, e que só pode haver um desenvolvimento... BAM, tudo muda, em meia dúzia de palavras!

O fim! E que fim! Completamente arrebatador! Compensou todos e quaisquer momentos mais mortos, isso vos garanto. E marcou D.H. Lawrence como mais um autor a descobrir melhor.