Surreal de uma ponta à outra, "Nós" é um das primeiras distopias, e que veio a inspirar Orwell e Huxley, na altura de escrevem, respectivamente, "1984" e "Admirável Mundo Novo".
Principais ideias presentes: a liberdade é algo mau, que deve ser suprimido; a individualidade é algo ridículo; racionalidade acima de tudo. Logo a partir destas 3 ideias, acho que já dá para terem uma noção do livro. Imaginem que estão a ler algo em que as personagens negam constantemente os direitos humanos mais básicos, como a liberdade e a privacidade.
Imaginem que viviam num mundo praticamente todo construído de vidro, separado da Natureza por um enorme Muro, onde não há segredos nem livre-arbítrio. Um mundo onde as pessoas (já não designadas por nomes, mas por números!) aceitam tudo isso, na maior das calmas.
É perturbador, digo-vos já... A narrativa em si está escrita na primeira pessoa, por D-503, o construtor da Integral, uma nave espacial com o objectivo de levar a sabedoria do Estado Único a outros planetas. Acompanhei, com alguma dificuldade, os devaneios dele, e posso dizer, com toda a certeza, que o mundo retratado em Nós é um mundo estranho.
D-503, como toda a gente, abdica da liberdade, recusa a privacidade, e teme a fantasia, a imaginação. E ao mesmo tempo, anseia pela liberdade, desespera por privacidade, e fantasia, sem limites. É interessante ver a evolução desta personagem, de roda dentada perfeitamente oleada no mecanismo que é o Estado Único, a completa incógnita, a algo mais...
Quem já leu "1984" e/ou "Admirável Mundo Novo", não podem perder este livro! Quem não leu nenhum desses dois... Bem leiam este na mesma, e leiam esses depois!