domingo, 20 de junho de 2010

A Rainha no Palácio das Correntes de Ar


Este é um daqueles livros que tive pena de acabar. A sério. O autor tinha previsto 10 volumes. Ou seja, ainda faltariam sete, SETE, destas obras-primas para ler, depois de acabar este.

Mas o autor morreu antes de acabar o quatro. É pena. Ainda por cima, neste livro, que pega exactamente onde o anterior ficou, o brilhantismo deste autor é levado ao extremo. Não digo a arte de escrever em si, pois Stieg Larsson não é um literário. Não usa floreados, não se preocupa muito com o aspecto estético do texto, ou seja, não embeleza frases por aí além. Diz as coisas, preto no branco, sem zonas intermédias (um pouco como a visão que a personagem principal, Lisbeth Salander, tem do mundo), critica abertamente aquilo que quer criticar, sem vergonha e com um descaramento ímpar.

Não tem medo de usar expressões e/ou situações mais chocantes (algumas mesmo perturbadoras), e não tem medo, acima de tudo, de transmitir aquilo que pensa.

Stieg Larsson é um maravilhoso manipulador de enredos, como tive oportunidade de ver ao longo destes três livros. A forma como ele constrói o livro, peça atrás de peça, aparentemente desconexas, que se vão ligando umas às outras, sem fazerem realmente sentido, até que, de repente, aparece uma peça central, e descortina-se tudo. Tudo menos uma coisa: aquilo que vai acontecer na próxima página.

Pois é, apesar de nos dar as peças todas, nunca sabemos bem o que raio vai acontecer. Tanto somos distraídos por pequenos enredos secundários, como vemos esses enredos secundários profundamente enraizados na história principal. E tanto passa 50 páginas com a mesma personagem, como a faz desaparecer outras tantas, de tal maneira, que quando ela aparece, pensamos "donde raio é que este veio?".

Suspense, brutalidade, honestidade, crueldade. Fortes críticas sociais, importantes avisos humanitários. "A Rainha no Palácio das Correntes de Ar", ainda que não estivesse pensado para ser o último, faz esse papel de forma soberba. Quer dizer, toda a trilogia foi absolutamente fascinante, mas este em particular foi absolutamente sublime...

Nem sei bem o que dizer... Corro o risco de deixar coisas por dizer, mas se me ponho a contar coisas, corro o risco de nunca mais parar. 715 páginas digeridas em 6 dias, quase 2000, no espaço de 2/3 semanas, e não me custou nadinha. Aliás, passaram a correr, depressa demais, se me perguntarem. Acho que só posso dizer para lerem, à vontade, mesmo que leiam devagar, ou não sejam fãs da leitura. Vão ver que passam a ler mais depressa, e como se interessam mais por livros. Pelo menos até acabarem a trilogia.

2 comentários:

Sérgio Fernandes disse...

Deixa-me ver se entendo uma coisa:
o personagem Mikael Blomkvist não aparece no terceiro volume?

Rui Bastos disse...

Aparece! Por acaso não falei dele na crítica, e ele até tem um papel importante :$

É que ele no fundo, neste livro torna-se uma personagem secundária, é mais um livro sobre a Lisbeth. Sim, o Mikael aparece, tem até um papel importante nalgumas partes, e durante todo o desenvolvimento, mas também se passam 200 páginas sem o nome dele ser mencionado.

Lapso meu, na crítica :x