sexta-feira, 20 de julho de 2012

A Varanda do Frangipani

Título: A Varanda do Frangipani
Autor: Mia Couto

Opinião: Os adjectivos que talvez fossem mais justos para descrever este livro são adjectivos que eu não costumo usar, e os conceitos que preciso para justificar o quanto gostei dele, são conceitos que me fazem alguma comichão.

Passo a explicar. Palavras como "belo", "lindo" e "maravilhoso", apesar de correctos, não ficam bem. São termos pouco do meu agrado, pelas palavras em si, embora talvez fossem a melhor forma de descrever o livro, de forma a que toda a gente perceba o que eu quero dizer. Mas vou tentar fazer à minha maneira.

Pois bem, gostava que prestassem muita atenção a esta opinião, pois vou apelidar este livro de poético e dizer que gostei bastante de o ler por isso mesmo. A minha ligeira aversão à poesia, que é matéria para outras conversas, é bastante conhecida e não tão ligeira quanto isso. Por isso pode ser um pouco inesperado, e acreditem que o mais surpreendido sou eu, o facto de eu gostar tanto de um livro com passagens que tanto se aproximam da poesia.

Pelo menos foi esse o meu primeiro pensamento. Depois percebi que fazia todo o sentido. Isto é o mais parecido com poesia que eu sou capaz de apreciar: prosa bem escrita, lírica e... E novamente me faltam palavras. Acho que o melhor é dizer que a melhor parte deste livro é exactamente a beleza da escrita.

Mia Couto, moçambicano, escreve um português com uma gramática diferente daquilo a que eu estou habituado, inundado de termos africanos de culturas em grande parte desconhecidas dos portugueses, e fala bastante de tradições e costumes parcialmente esquecidos.

Tudo isto enquanto conta uma história que avança a um ritmo muito próprio e que serve, mas não só, como forma de transmitir a poesia inerente à sua escrita. Os termos africanos, como maka, para conflito, ou ximpoco, para fantasma, dão um tom bastante especial a toda a narrativa, ajudando bastante a criar o ambiente certo para esta história.

No fim disto tudo, o meu último conselho é para que leiam, pelo menos este livro. Só não aconselho vivamente a lerem mais coisas de Mia Couto porque eu próprio ainda não o fiz, mas uma escrita destas de certeza que não é coisa que só aconteça para um livro.

6 comentários:

Bruno_bjc disse...

Olá. Meu primeiro livro do Mia Couto foi lido esse ano (Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra), e posso dizer que, até então, é o melhor livro do ano. O cara tem uma narrativa incrivelmente deliciosa. Com certeza vou querer ler mais coisa do autor ;)

Tiago M. Franco disse...

Também já li este livro. Confesso que não consegui entrar na escrito de Mia Couto.

Rui Bastos disse...

Concordo, Bruno!

Tiago, por alguma razão em especial?

Tiago M. Franco disse...

Talvez seja o facto de não acreditar na "magia negra" e de o autor dar-lhe bastante ênfase; ou o facto de a obra retratar uma realidade e uma cultura que desconheço, a moçambicana.
Pelos cometários que tenho ouvido, Mia Couto é um daqueles autores que se adora ou se detesta. Geralmente esse tipos de escritores, autores não consensuais, são os melhores. Foi assim com Saramago, é assim com António Lobo Antunes ou Gonçalo M. Tavares. Por isso pretendo regressar a Mia Couto e quem sabe render-me à sua escrita.

Rui Bastos disse...

Estou a ver, compreendo. Para mim essa parte da magia negra tinha que lá estar, só assim a história faz sentido: recorrendo aos mitos próprios daquela cultura que também me é largamente desconhecida.

Ainda não li nada dele, mas apoio a iniciativa de lhe dares uma outra oportunidade.

SEVE disse...

Mas Mia Couto é simplesmente fabuloso, leiam por favor...tal como SARAMAGO e Gonçalo M. Tavares; António Lobo Antunes é que, actualmente, não consigo passar da página cinco...