terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O velho que lia romances de amor

Título: O velho que lia romances de amor
Autor: Luis Sepúlveda
Tradutor: Pedro Tamen

Sinopse: António José Bolívar Proaño vive em El Idilio, um lugar remoto na região amazónica dos índios shuar, com quem aprendeu a conhecer a selva e as suas leis, a respeitar os animais que a povoam, mas também a caçar e descobrir os trilhos mais indecifráveis. Um certo dia resolve começar a ler, com paixão, os romances de amor que, duas vezes por ano, lhe leva o dentista Rubicundo Loachamín, para ocupar as solitárias noites equatoriais da sua velhice anunciada. Com eles, procura alhear-se da fanfarronice estúpida desses "gringos" e garimpeiros que julgam dominar a selva porquem chegam armados até aos dentes, mas que não sabem enfrentar uma fera a quem mataram as crias.

Opinião: É o meu primeiro livro de Sepúlveda, e só o li porque o encontrei à venda a 95 cêntimos. Nunca me senti particularmente atraído ou curioso pelos seus livros, mas como estava ao preço da chuva, também não perdia nada em experimentar.

E pronto, experimentei e não achei nada de especial. Está bem escrito e a história consegue ser minimamente interessante, mas pareceu-me bastante banal. Tem uns pormenores engraçados e algumas das personagens estão até relativamente bem construídas e desenvolvidas, mas é um livro tão pequenino e tão simples, que perde logo a maior parte do interesse.

Olhando a uma certa distância, a história até que acaba por ser irrelevante, Sepúlveda parece mais focado em retratar a Amazónia, os índios shuar, a curiosa figura do Velho (o que lia romances de amor, sim), e o perigo que os homens ditos civilizados são para a Natureza, graças à sua incapacidade de a admirarem e de a perceberem.

Essa parte até saiu bem, a escrita sem grandes artifícios permite passar a mensagem sem espinhas, através do enredo que é afinal secundário mas que serve bem o seu propósito. E pelos vistos o próprio autor esteve a viver com os índios durante uns tempos, e conheceu de facto um homem como este Velho. O que não percebi muito bem, mas que deduzi e penso estar certo, é que esta personagem é uma mistura do próprio autor com um homem que conheceu realmente, mais uma pitada de ficção para embelezar as coisas.

O resultado, como já disse, não é de todo desinteressante, mas não me aqueceu nem me arrefeceu. Pode ser que outros livros do autor sejam mais fascinante, mas não fiquei propriamente ansioso para ir à procura deles... Se me aparecerem à frente, logo trato de os ler.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Oficina de Escrita Fantástica


Foi ontem à tarde a primeira sessão desta Oficina de Escrita Criativa Fantástica, coordenada pelo Rogério Ribeiro e pelo Luís Filipe Silva, também coordenadores da Trëma, e cada um um nome de peso no meio, por direito próprio.

Tive a sorte de ser aceite a participar nesta Oficina, e não podia estar mais entusiasmado! Os outros participantes são praticamente todos alguém que, enfim, já faz coisas dentro do meio do Fantástico, e só não os menciono aqui todos por medo de falhar algum (a minha memória é terrível para nomes).

Ou seja, se já estava entusiasmado por ter sido aceite, depois desta primeira sessão ainda estou mais. Parece-me que é uma iniciativa com um grande futuro, não só pela qualidade do trabalho dos coordenadores, como pelo grupo de participantes, que me pareceu ter potencial mais do que suficiente para que daqui saiam textos e experiências verdadeiramente interessantes.

Na sessão de ontem, para além da introdução ao curso, ainda houve tempo para se iniciar um pequeno debate sobre a escrita, a leitura e o Fantástico, com uma apresentação do Luís Filipe Silva.

Agora é ler e escrever até à próxima sessão, espero eventualmente dar-vos mais notícias!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Areopagítica

Título: Areopagítica
Autor: John Milton
Tradutor: Benedita Bettencourt

Opinião: A liberdade de expressão é um conceito mais sovado que compreendido. Há quem por ele lute, como todos devíamos fazer, há quem o ignore, e há quem tente activamente, ainda que disfarçadamente (ou não), deitá-lo abaixo sempre que pode. Mas nem há assim tantos como isso que o compreendam. Liberdade de expressão não é ter o direito de disparatar à vontade, ou ter o dever de expressar a nossa opinião, mas sim o direito de dizer aquilo que pensamos, sem qualquer tipo de censura.

Isto implica que liberdade de expressão é também o direito de ficar calado, e obriga a que cada pessoa tenha consciência daquilo que pensa e do que vai dizer, antes de o dizer. Todos têm direito a expressar a sua opinião, como é óbvio, mas isso não quer dizer que todos tenham a obrigação de andar a esfregar todos os seus pensamentos inconsequentes. As ideias têm que ser trabalhadas e ponderadas. E às vezes o melhor é mesmo não dizer nada, seja por uma razão ou por outra.

Felizmente, John Milton era um homem iluminado, e ficar calado não devia ser algo que lhe agradasse muito, e ainda bem, pois aquilo que se pode ler neste Areopagítica é um discurso muito bem trabalhado e estruturado, e bastante actual, apesar de já datar de 1644. Cheio de referências clássicas a autores gregos e romanos, por exemplo, e recorrendo frequentemente à Bíblia, o autor escreveu aquilo que reconheço ser um monumento à liberdade de expressão, edificado em resposta à Licensing Order de 1643, que impunha censura pré-publicação em Inglaterra.

Um dos argumentos usados é um dos meus favoritos para muita coisa: Milton afirma que uma das formas mais eficazes, porventura a melhor, que o Homem tem de reconhecer o Bem, é exactamente conhecer o Mal, ou seja, que a publicação de livros considerados abomináveis, seja em termos ideológicos ou literários, serve pelo menos para, por comparação, sermos capazes de reconhecer uma boa obra. Isto vai de encontro à minha noção pessoal de que o Bem e o Mal, a beleza e a fealdade, a dor e o prazer, entre outras coisas, por si são, não têm valor intrínseco. É apenas graças à existência destes "pares" de opostos que somos capazes de apreender ambas as coisas.

A escrita é impecável e clara, o veículo ideal para transmitir a mensagem que o autor quer passar, que é também ela impecável. Quanto àquilo que achei, bem, vinha com a ideia de me queixar da quantidade de argumentos religiosos que são usados e da forma como são usados, mas a verdade é que a maior parte desses argumentos se reduzem a argumentos morais, e podem ser generalizados de forma a ser independentes de qualquer tipo de religiosidade ou espiritualidade. Apenas estão como estão neste livro porque Milton era um homem bastante religioso, numa época bastante religiosa. E tendo em conta que são argumentos perfeitamente genéricos e com os quais concordo, depois de lhes tirar a cobertura bíblica, não me posso queixar disso.

No entanto, e por algum motivo, não achei o livro tremendamente espectacular. É bom, e particularmente excepcional para o objectivo a que é destinado, mas acabei por o achar demasiado pequeno, com algumas coisas que podiam ter sido mais desenvolvidas e melhor faladas. Isso provavelmente está relacionado com o facto deste livro ser no original um panfleto, um mero discurso a defender uma ideia, e não uma obra filosófica da pesada. Funciona bastante bem, mas ficou aquém das minhas expectativas.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Meridiano de Sangue

Título: Meridiano de Sangue
Autor: Cormac McCarthy
Tradutor: Paulo Faria

Sinopse: Um jovem que vaga pelo sul dos Estados Unidos acaba por se unir a um grupo de aventureiros que pensam fazer razias em território mexicano. Quando o bando é dizimado por Comanches, o rapaz é obrigado a atravessar um deserto até chegar à cidade de Chihuahua, onde é levado par ao presídio. É então que é recrutado para uma expedição comandada pelo capitão Glanton, dedicada à caça de escalpes. Sob a prodigiosa influência do juiz Holden, o grupo vai-se afundando numa espiral de violência, cometendo actos cada vez mais sanguinários.

Opinião: Este livro custou 1 euro. Agora que já tirei essa informação de dentro de mim, deixem-me dizer-vos que a qualidade da edição não é a melhor, como seria de esperar. Mas, espantem-se, não tenho defeitos a apontar à tradução. Paulo Faria foi cuidadoso e meticuloso, o que se pode verificar na sua nota introdutória, em que diz como fez pesquisa por causa de pequenos detalhes, de forma a que ficassem perfeitos. Um trabalho de tradução muito bom.

E a capa não é propriamente horrível. Tendo em conta o livro que é... até que encaixa. Mas falemos do livro em si. Já tinha lido e adorado o Este país não é para velhos, e este manteve-se na mesma linha. A escrita está diferente, já não há tantas frases cheias de e isto e aquilo e e e e e, embora ainda façam as suas aparições, e achei-a mais densa, mais pesada. O ambiente implacável e cruel continua praticamente na mesma, possivelmente ainda pior, se é que isso era possível, depois de Anton Chigurh e de todas as atrocidades que o outro livro relata.

Pois bem, em Meridiano de Sangue, para além do juiz Holden, que merecia uma série de livros só para si, tal é a dimensão, profundidade e genialidade da sua louca personagem, há toda uma série de personagens cujo papel envolve simplesmente chacinar pessoas. Há escalpes a serem cortados a meio dum cavalgada, crianças agarradas pelos tornozelos e esmagadas numa rocha, enforcamentos, mortes cruéis de companheiros feridos, esventramentos... Digamos que não é um livro aconselhado a mentes mais sensíveis.

Se bem que ainda assim, não o achei tão cruel e violento como estava à espera, das opiniões que já tinha ouvido. É agressivo, bastante, mas a escrita de McCarthy permite passar por cima dessas passagens apenas como mais uma parte da violência que caracteriza o livro em geral. Sim, porque este livro é um livro sobre a violência, sobre o destino, a Humanidade e sobre como todas estas 3 coisas estão irremediavelmente ligadas. A violência é o destino da Humanidade, que é intrinsecamente violenta e cujas parcelas individuais, as pessoas, se regem pelo seu destino, sendo normalmente assoberbadas pela sua violência.

Pelo menos foi a ideia com que eu fiquei. A história parece centrada num rapaz, de tempos a tempos, mas é claramente uma obra muita mais abrangente, como os discursos do juiz confirmam. A mera presença desta personagem é o suficiente para eclipsar a maioria do que o rodeia, mas os seus monólogos são simplesmente hipnóticos. É nessas alturas que se pode ver como além de completamente louco e bizarro, o juiz é uma personagem deveras inteligente e culta.

Pessoalmente gostei bastante. A forma como a violência é retratada é bastante crua e agressiva, mas a violência é isso mesmo, e não é com metáforas bonitas a disfarçar o sangue, as entranhas e a brutalidade que quem lê vai perceber a violência de uma situação. E tenho algum receio de estar a menosprezar as outras personagens, mas o rapaz, Glanton, o ex-padre, Toadvine e tantos outros são personagens interessantes e bem construídas, só têm mesmo um problema, que é terem que conviver na mesma obra com o juiz Holden.

A sério! E juntem a essa personagem, bem como à qualidade das outras, a prosa rica e densa de McCarthy, e garanto-vos que têm aqui um livro que pelo menos não vos vai deixar indiferentes.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Apresentação de "O Infinito"


Como o que eu gosto é de andar a fazer coisas, fui na Quarta-Feira dia 9 à Escola Secundária Braamcamp Freire, onde andei durante alguns anos, desta vez falar sobre o Infinito.

O convite foi-me feito pela professora Fátima Pinto, que na prática só teve que aproveitar o meu entusiasmo e vontade de fazer coisas destas, assim como o meu gostinho especial por me ouvir a mim próprio. A ela lhe agradeço, assim como ao resto das professoras, professores e funcionários afins, que não só convidaram como assistiram.

A apresentação em si correu bem, os alunos eram do 12º ano de Ciências e foram participando, ainda que um bocado a medo, às vezes. Mas é preciso dar-lhes um desconto, falei-lhes de infinitos de diferentes tamanhos, e mostrei-lhes somas com infinitas parcelas que davam um número finito, pode ter sido um bocado demais para aquela juventude, embora não sejam tão mais novos que eu quanto isso.

Fiquem com o pequeno texto que escrevi como síntese da apresentação, publicado no blog da Biblioteca da Escola.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Comprar livros é fixe


Tinha decidido que na Quinta-Feira, depois de sair de um exame, ia comprar o Silmarillion, do Tolkien, para ler entre semestres, ou algo parecido. Cumpri, como podem ver, mas trouxe também os outros livros dessa pilha e ainda Um Crime Branco, de uma dupla de autores portugueses que assina como James Marcus, e que me esqueci de pôr na pilha para tirar foto. Até ia tirar outra, mas dá demasiado trabalho

O que eu quero aqui realçar, é que estes 6 livros me custaram 17 euros, mais ou menos cêntimos. O Silmarillion foi o mais caro, ficou por 10 euros e picos, e vale bem a pena pela edição que é. Aquele Procession of the dead, de D.B.Shan, ficou por menos de 4 euros. Não conheço o autor e nunca tinha ouvido falar do livro, mas a sinopse era interessante, a edição era porreira, e bem, custava menos de 4 euros.

Estão a ver onde quero chegar? Os 4 livros que faltam contabilizar custaram-me 3 euros. 2.90, para ser mais preciso. Estão a ver aquele grandalhão, de capa dura, com ar ligeiramente antigo, de Thomas Mann, nobelizado, A Montanha Mágica? Tem bom ar, não tem? Se o quiserem ir comprar à FNAC, ficam-vos com 22.5 euros. Eu dei 95 cêntimos. Ouviram bem. 95 cêntimos.

Enfim, digamos que Quinta-Feira foi um bom dia.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Lua do Loreto


Esta foto foi tirada pela Júlia, do My very own moonlight *.* e co-autora do Metáfora de Refúgio, com quem fui hoje à FNAC do Chiado assistir àquilo de que vos vou falar a seguir (e comprar o Silmarillion, de Tolkien, mas isso são outras conversas). No lado esquerdo da foto, quase invisível, está Charles Sangnoir, músico e afins. No lado direito, David Soares, escritor e afins. Ao centro podem ver a Estanqueira do Loreto, figura quase mítica da antiga Lisboa. O primeiro deu a música e a ambiência, e o segundo leu um texto seu sobre a terceira, uma das personagens desfiguradas que figuram como protagonistas do disco de spoken word, Os Anormais: Necropsia de um Cosmos Olisiponense.

De David Soares não tenho que dizer nada, a minha admiração incondicional e quase histérica por este grande escritor já é bastante conhecida. Já de Charles Sangnoir, o que tenho a dizer é que preciso de investigar mais coisas sobre este artista multifacetado que faz parte dos La Chanson Noire.

A junção dos dois neste disco de spoken word que é Os Anormais deve ser algo simplesmente fenomenal. A actuação de A Lua do Loreto a que assisti é apenas um dos capítulos do disco e fiquei maravilhado, imagino quando ouvir o disco todo.

Em termos de estrutura, a ideia é simples. David Soares quis de certa forma homenagear as figuras não propriamente esquecidas, mas renegadas, tidas como repugnantes, pelo menos na altura. São estes os Anormais, personagens deformadas de características peculiares que se tornaram verdadeiros mitos da cidade de Lisboa. Junte-se a esta vontade a sua enorme capacidade de pesquisa histórica, que tem usado em todos os seus trabalhos, a sua fantástica capacidade criativa e literária, e ainda a sua paixão por Lisboa, e só pode resultar algo de muito bom.

Junte-se ainda a música de Charles Sangnoir, que dá a ambiência ideal e que não ficou nada atrás em termos de qualidade da prosa de David Soares e o resultado é de facto espectacular. Eu pelo menos fiquei bastante entusiasmado para ouvir o disco, e mal posso esperar para o fazer. Até lá, ficam a saber que esta pequena actuação foi simplesmente fascinante, quer pela qualidade musical de Charles Sangnoir, quer pela qualidade literária de David Soares.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Que as citações nos caiam em cima [21]


Já vi críticas que dizem que Meridiano de Sangue é o livro mais cruel e violento que já leram. Não lhes posso dar completa razão, mas percebo o ponto de vista. Cormac McCarthy não é nada meigo, e o livro é de facto violento, cruel e bastante gráfico, nada aconselhado a pessoas mais sensíveis. Mas é ao mesmo tempo um livro bastante lírico, graças à prosa bem trabalhada e de estilo peculiar do autor. E o que não podia falhar, as personagens, algumas das quais são geniais, destacando-se para mim, como para quase toda a gente que já leu, o juiz Holden, uma personagem estranha e misteriosa, um homem ao mesmo tempo repugnante e carismático. É da boca dele que sai esta fenomenal citação:

"O homem que acha que os segredos do mundo são para sempre insondáveis vive no mistério e no medo. A superstição arrasta-o para o abismo. A chuva acabará por esfarelar os feitos da sua existência. Mas do homem que atribui a si mesmo a tarefa de isolar da trama do cosmos o fio da ordem podemos dizer que, com essa simples decisão, tomou as rédeas do mundo nas suas mãos e só dessa forma conseguirá ditar os termos do seu próprio destino."

Meridiano de Sangue
Cormac McCarthy

sábado, 12 de janeiro de 2013

Leituras mais filosóficas

Expressei no início do ano a minha estranha e aparentemente súbita vontade de começar a ler livros filosóficos com mais regularidade, mas talvez o palavreado não tenha sido o melhor. O meu objectivo não é agora de repente começar a instruir-me nos meandros obscuros da filosofia, longe de mim. Aquilo que quero é basicamente arranjar uma desculpa para ler alguns livros que tenho por aqui e outros pelos quais tenho bastante curiosidade.

Isso e aproveitar para aprender umas coisas, como é óbvio. Diga-se o que se disser, esses livros filosóficos ou ensaísticos podem ser bastante instrutivos e interessantes, nem que seja pelo estímulo puro ao raciocínio e à mente que providenciam. Alguns dos livros que costumo ler também são capazes de fazer isso mesmo, mas quero experimentar ler alguns cujo único objectivo seja esse mesmo.

E continuo a não apreciar livros que sejam uma destas coisas disfarçados da outra. O Gonçalo M. Tavares que me desculpe, assim como os seus fãs, reconheço-lhe o talento mas ainda tem que me convencer.

Mas bem, a ver vamos. Vou começar por um pequeno, que estou em época de exames e não me quero pôr a ler A República, do Platão, assim do nada. O Areopagítica de John Milton é o ideal para começar, pelo seu tamanho diminuto e pelo seu tema não muito profundo nem excessivamente complexo e metafísico: a liberdade de expressão.

A curiosidade é muita, e a acompanhar a leitura vou ter que fazer alguma pesquisa de certeza, pois o defeito que mais vezes afecta este tipo de livros é exactamente a sua especificidade e necessidade de um contexto, e ainda que os grandes livros deste género sejam verdadeiramente intemporais, é sempre preciso algum conhecimento histórico do que se estava a passar na altura em que o livro foi escrito, e afins.

Possivelmente será a minha próxima leitura, mas não prometo nada. Também tenho ali um recém-adquirido livro de BD do Star Wars, 200 páginas dos primeiros comics alguma vez publicados sobre esse Universo... Mas prometi a mim mesmo que ia ler o Areopagítica ainda este mês, portanto vamos ver. Para os próximos meses, tenho por ali o manifesto comunista de Marx e Engels, um livro do Nietszche, A República de Platão, um livro do António Damásio (que agora já vou perceber melhor do que quando o li), e isto só assim de cabeça, que devo ter mais por aí.

Se tiverem sugestões, serão bem-vindas!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Senhor da Luz

Título: O Senhor da Luz
Autor: Roger Zelazny
Tradutora: Maria Helena Fernandes

Sinopse: Os seus seguidores chamavam-lhe Mahasamatman e diziam que era um deus. Ele, porém, preferia deixar de lado o "Maha" e "atman" e intitulava-se Sam. Nunca pretendeu ser um deus, mas também nunca o negou... A acção decorre muito depois da morte da Terra; um punhado de homens num planeta colonizado alcançou o domínio da tecnologia. Com ela, adquiriram a imortalidade e poderes divinos e governam o mundo como os deuses do panteão hindu. Kali, Deusa da Destruição; Yama, Senhor da Morte, Krishna, Deus da Luxúria. Aquele que foi Siddartha e é agora Mahasamatman, Subjugador dos Demónios, Senhor da Luz, luta contra todos eles.

Opinião: Vou tentar explicar o meu fascínio imediato assim que acabei de ler a sinopse deste livro, que me era desconhecido até o fazer. É que se há coisa de que sou muito, mas mesmo muito fã, desde sempre, é mitologia. De qualquer sítio, nem me interessa, se mete mitologia, eu estou interessado. Portanto assim que peguei neste livro e li "Roger Zelazny", um escritor do qual ainda não tinha lido nada, mas do qual já tinha ouvido falar muito, e bem, como um dos grandes nomes da ficção científica; e percebi que era um livro de ficção científica que metia mitologia... QUERO! QUERO! QUERO!

Ainda por cima era barato. A minha vontade era trazer logo 2 ou 3, só porque sim. Lá me consegui conter e trazer apenas um exemplar, que não perdi muito tempo a começar a ler. A edição é sofrível, é daquelas da Europa-América que se vendem agora ao desbarato, e que na altura devem ter sido preparadas em cima do joelho, porque a capa não tem nada a ver com nada, e a tradução e tratamento do texto está simplesmente execrável.

Mas o livro tem qualidade, tanta qualidade que consegui ignorar esses problemas de edição. Já tinha ouvido falar da capacidade de Zelazny em escrever algo que é uma mistura de ficção científica e de fantasia, sem que seja propriamente nenhuma das duas, mas ler isso é algo simplesmente fenomenal. A história de Mahasamatman, que preferiu deixar de lado o "Maha" e o "atman" e se intitulava Sam, é interessante, intensa, e misteriosa.

E aquilo que achei mais espectacular foi mesmo essa indefinição de género. É ficção científica? É sim senhor. É fantasia? Confirma-se. Quantas histórias conhecem que misturem estes dois géneros? E ainda por cima que o façam tão bem?

A maior parte do livro são memórias das vidas anteriores de Sam, nomeadamente dos momentos chave que levaram as coisas até ao ponto em que se encontram no início do livro. Há porrada, há confrontos deveras peculiares e momentos estranhos. A maior parte das personagens minimamente relevantes são deuses hindus, que a pouco e pouco vai dando para perceber que são homens e mulheres que descobriram tecnologia com capacidades para lá das nossas imaginações mais loucas, e foram-se divinizando, ao manterem o resto da Humanidade na ignorância e ao vedarem-lhe essas tecnologias.

Sam é exactamente um dos deuses que luta contra essa tendência obscurantista e quer difundir as tecnologias pelas pessoas. É um Aceleracionista, uma ideologia contra a qual todo o céu luta, como é óbvio. A forma como essa luta se desenvolve ao longo do tempo, com Sam a assumir diferentes personalidades, de Siddartha a Buda, sempre a dar mais um passo contra o poderio do céu...

Enfim, um óptimo livro, não só graças ao meu fascínio particular por mitologia, mas por causa de uma história e de uma ideia interessante, e de uma boa escrita. Zelazny é definitivamente uma boa adição ao meu rol de autores a seguir, e O Senhor da Luz uma excelente forma de começar um novo ano de leituras!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Rapaz que Falava com o Diabo

Título: O Rapaz que Falava com o Diabo
Autor: Justin Evans
Tradutor: Jaime Araújo

Sinopse: George Davies jamais pensou que no dia em que tivesse um filho fosse incapaz de lhe pegar ou sequer de se aproximar dele, como lhe veio a acontecer. Pressionado pela deterioração do seu casamento, George decide consultar um psiquiatra, onde pouco a pouco vai revelando episódios traumáticos da sua infância, relacionados com a morte misteriosa do pai. George lembra-se de em criança ser visitado por uma estranha aparição, um rapaz que lhe conta factos muito perturbadores acerca do seu pai. À medida que estas aparições se intensificam e as suas consequências se tornam mais dramáticas, não há ninguém com quem George possa contar, pois ninguém acredita que ele seja real e muito menos que seja responsável pelas coisas más que começam a acontecer. Mas este rapaz existirá mesmo ou será tudo produto de uma imaginação transtornada? Um thriller psicológico com todos os ingredientes que o deixarão agarrado às páginas do princípio ao fim.


Opinião: Vou ser rápido e eficaz a opinar sobre este livro: a sinopse e o título prometiam que o livro fosse interessante, mas acabou por ser uma desilusão. A sinopse acabou por falar demais, e o título foi uma má escolha da tradução, tendo em conta que o título original é A Good and Happy Child.


E o livro até que nem é desinteressante. Apenas não é tão interessante e espectacular como a sinopse e o título prometiam. A história é ligeiramente retorcida, mas dificilmente chamaria a isto um thriller psicológico. Não há propriamente suspense de cortar a respiração.

Mas a história é vagamente interessante... A certa altura envereda por caminhos religiosos cuja abordagem não me agradou por aí além, mas mais para o fim salva-se um bocado disso. E bem, a partir de certa altura deixam de haver surpresas, excepto mesmo o fim, que foi no mínimo estranho. Se alguém o tiver percebido na totalidade, que me informe, porque eu fiquei um bocado a leste com os últimos parágrafos.

De qualquer forma, as personagens não são nada de especial. A mais interessante talvez seja mesmo o narrador, mas talvez o seja porque fica bem claro desde o início que ele não bate bem da cabeça, e toda a gente sabe como eu gosto de personagens loucas. No entanto, aquilo que podia ter sido mais interessante, a alucinação personificada em rapazinho que falava com ele, é pouco desenvolvido. Podia ter tido um destaque muito maior e ter um papel mais interventivo e muito mais directo no enredo, o que não acontece, e é uma pena.

Não posso, ainda assim, dizer que não apreciei o livro, mas enfim... Achei mediano. Mas a edição é boa, e faz parte da colecção "Lado [B]", da qual já li A Nona Vida de Louis Drax, que gostei bastante. Ou seja, neste momento estou menos entusiasmado com esta colecção, mas tendo em conta que estes 2 livros me custaram zero (este recebi numa promoção, e o outro trouxe da Troca de Livros da Biblioteca Orlando Ribeiro), estou disposto a dar-lhe mais uma oportunidade... Espero bem é que não esteja apenas ao nível de O Rapaz que Falava com o Diabo.

domingo, 6 de janeiro de 2013

As Trevas Fantásticas

Título: As Trevas Fantásticas
Autor: David Soares

Sinopse: Estas são AS TREVAS FANTÁSTICAS; pequenas porções de escuridade que se entrosam com as nossas experiências, esquivas se procurarmos olhá-las de frente, sentidas, somente, com o rabo do olho. Cinco contos que vão convidá-lo a viajar pelo tempo e pelo espaço numa peregrinação negra.

Opinião: Para além de ter a capa mais perturbadora que eu me lembro de ver num livro, As Trevas Fantásticas é o quinto livro que leio de David Soares, um escritor que não me canso de elogiar pela sua imaginação, pelo macabro e puro horror das suas histórias, bem como pela qualidade da sua prosa.

É um escritor que já conheço há algum tempo, mas que só comecei a ler o ano passado. E se já me fascinava antes do primeiro contacto que tive com os seus livros, a partir desse momento David Soares tornou-se um dos escritores que idolatro na concepção mais fanática e embasbacada da palavra que consigam imaginar. Portanto, é sempre com uma boa dose de expectativas que encaro um livro deste escritor. Já as tive ligeiramente defraudadas, mas ainda está para chegar o livro que esteja abaixo de "Bom!", e este está bem acima disso.

Os seus 5 contos percorrem aquilo que me pareceu uma vasta gama de, digamos, temas, todos vistos pelo mesmo prisma do horror e do macabro. Desde o bizarro mais bizarro, ao triste e tocante, passando pelo macabro agressivo, As Trevas Fantásticas escondem muita coisa...

O primeiro é O Bezoar, o exemplo mais claro de uma história profundamente bizarra. Digamos que envolve um monstro, o Bezoar do título, que é deveras... peculiar, uma forma bastante original de cortar o cabelo, e que ainda fala sobre a atracção sexual, com duas páginas de receita culinária pelo meio, de forma completamente aleatória. Mas foquem-se na primeira coisa que eu disse. Esta é uma história profundamente bizarra.

O segundo conto é o espectacular Corações no Verão. Deve ter sido o melhor conto deste livro, até porque apresenta uma faceta que eu desconhecia em David Soares, pelo menos de forma tão aprimorada: esta história dum rapazinho com problemas de coração (profundamente bizarros, este David Soares é completamente louco) que tem uma paixoneta por uma rapariguita, parece simples demais. E como é óbvio, desenvolve-se de forma muito mais interessante.

Para contrabalançar um pouco, de seguida aparece o menos interessante do conjunto, Pela mão de um Vampiro, que bate na tecla demasiado gasta do vampiro, mas que pelo menos tem uma história interessante e vampiros verdadeiramente vampirescos. Ou melhor, pelo menos são bastante sanguinários. Bem, há um vampiro escritor, e um vampiro que quer escrever, há um bocado de sangue e tripas e um final moderadamente interessante.

E para retomar um pouco o nível, aparece No vale, a igreja, um conto fenomenal que retrata a homossexualidade (ah! o choque! o horror!, deixem-se de coisas, até parece que um bocado de sodomia nos livros de David Soares é muito estranho), mas não como tema fulcral e até de forma bastante natural, o que foi uma mudança bastante agradável de todas as personagens orgulhosamente gays com vontade de se justificarem ao mundo. O tema fulcral é uma comunidade que foge em peso de uma epidemia mortífera e acaba por encontrar algo bastante inesperado e perigoso onde menos esperavam...

Por fim, O Círculo de Sangue é o conto mais curto e aquele que mais me impressionou, pela sua agressividade e pelo seu tom quase poético, ainda que extremamente sangrento e macabro, com David Soares a provar mais uma vez que o sangue e as tripas podem ser descritas de forma bastante literária. A história é bastante... bem, é profundamente bizarra, e envolve uma mulher que consegue ter filhos, mas não por muito tempo, e é um conto que tenta passar de forma bastante explícita uma mensagem mais profunda sobre a organização cíclica das coisas.

Resumindo, não é o melhor que já li de David Soares e tem um conto que não aquece nem arrefece, mas é um livro de um bom autor que, como já disse lá em cima, não me canso de elogiar. O horror e o macabro no seu melhor, desta vez com uma pitada de sentimentalismo que desconhecia!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra

Título: Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra
Autor: Mia Couto

Sinopse: Um jovem estudante universitário regressa à sua ilha-natal para participar no funeral do seu avô Mariano, Enquanto aguarda pela cerimónia ele é testemunha de estranhas visitações na forma de pessoas e de cartas que lhe chegam do outro lado do mundo. São revelações de um universo dominado por uma espiritualidade que ele vai reaprendendo. À medida que se apercebe desse universo frágil e ameaçado, ele redescobre uma outra história para a sua própria vida e para a da sua terra. A pretexto do relato das extraordinárias peripécias que rodeiam o funeral, este romance de Mia Couto traduz, de uma forma a um tempo irónica e profundamente poética, a situação de conflito vivida por uma elite ambiciosa e culturalmente distanciada da maioria rural. Uma vez mais, a escrita de Mia Couto leva-nos para uma zona de fronteira entre diferentes racionalidades, onde perceções diversas do mundo se confrontam, dando conta do mosaico de culturas que é o seu país e das mudanças profundas que atravessam a sociedade moçambicana atual.

Opinião: Fenomenal. Fascinante. Genial. Apetece-me criar palavras novas para descrever os livros de Mia Couto. Este é apenas o segundo que leio, e afirmo já, sem qualquer tipo de receio, que se este homem não receber eventualmente o Nobel, não é algo que está errado no Mundo, é todo o Mundo que está errado!

Há autores que encaixam melhor nas minhas preferências, e livros dos quais gostei mais, mas depois de ler este Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra, confirmo as suspeitas com que tinha ficado depois de ler A Varanda do Frangipani: Mia Couto é um dos melhores escritores que já li na minha vida. A sua escrita é envolvente, extremamente poética, igualmente séria e cómica, conseguindo empacotar na mesma página trechos de profunda crítica social e de nostálgicas reminiscências de infância.

E o melhor de tudo? A forma como Mia Couto consegue escrever página atrás de página da mais pura e excepcional prosa enquanto desenvolve uma história que é impossível deixar de seguir. E tudo isto sem nunca descurar as suas raízes, criando assim um livro belo, poético, interessante, intenso à sua maneira, abertamente universal e estritamente moçambicano ao mesmo tempo.

A premissa é bastante simples, e está bastante clara na sinopse. Mariano é o estudante universitário que regressa a Luar-do-Chão para o funeral do seu avô, de quem herdou o nome. Entre peripécias e memórias, o jovem vai recebendo estranhas cartas enquanto espera pelo funeral propriamente dito, cartas que lhe vão fazer revelações, que o vão assustar e que o vão surpreender. Cartas que o vão mudar.

Claramente dentro do domínio do realismo mágico ou realismo fantástico, chamem-lhe o que quiserem, Mia Couto mostra estar ao nível de um Gabriel García Márquez ou de um José Saramago. A sua escrita verdadeiramente mágica, e bastante diferente das destes 2 autores que acabei de mencionar, é mesmo a melhor parte e não posso deixar de ficar absolutamente fascinando com a forma como Mia Couto me prende às suas palavras, frase após frase, ao longo de parágrafos, páginas, capítulos e muito provavelmente livros!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Vamos lá a mais um?


E passou o Natal, para o qual contribuí aqui no blog com o texto menos (ou mais?) natalício de sempre, mais o Ano Novo, para o qual não contribuí de todo. No processo li 5 livros, 2 dos quais já têm opiniões publicadas (Ficções, de Jorge Luís Borges e The City & The City, de China Miéville), com as 3 restantes a saírem nos próximos dias.

Queria começar esta crónica por desejar bom-seja-lá-o-que-for-que-tenham-celebrado nestas "férias", que levam aspas porque estou na faculdade, o que, como qualquer infeliz por vontade própria na mesma situação que eu vos pode dizer, significa que estas férias foram tudo, menos férias. Pronto, tirei mesmo uns diazitos de férias, 2 ou 3 em que não fiz absolutamente nada, mas também tive outros 3 ou 4 em que estudei.

Mas bem, não adianta queixar-me, sofro estes horrores porque quero, não é verdade? Falemos das coisas que interessam: livros e afins!

Já vi em muitos outros blogs toda uma série de balanços e listas disto e daquilo, retrospectivas do ano que passou e coisas que tais que eu também podia fazer por aqui. Tinha a sua piada, confesso. Mas há um grande e terrível obstáculo que se opõe a tudo isso, uma das minhas aliadas mentais que é tão fraca que faz de inimiga. Caros leitores, seguidores e pessoas aleatórias que deram agora com esta página, apresento-vos a minha memória.

Não sei bem que mal lhe fiz, nem sei quando é que começaram os meus problemas com ela (adivinharam, não me lembro), mas acho que nunca nos demos muito bem. Não posso garantir que seja assim desde tempos imemoriais, nem que esta seja uma luta que tenha atravessado milénios, embora seja muito provável, mas garanto-vos que neste momento e já há uns largos anos que a coisa não tem funcionado muito bem.

Podia entrar em detalhes, mas não me quero desviar muito do assunto. Fiquem só a saber que tenho uma memória terrível e ainda por cima não de forma geral, mas selectiva. Isto pode parecer algo que dá muito jeito, mas é mais do estilo lembrar-me de quantas páginas tem um determinado livro, ou de 10 casas decimais de uma constante física qualquer, mas não me lembrar de algo que me disseram ontem, ou que me ensinaram há 2 dias.

Em termos práticos, isto quer dizer que com algum jeitinho e paciência para os compassos de espera, sou muito provavelmente capaz de refazer todo o meu trajecto literário, desde o livro lido mais recentemente e andando para trás, até a um livro lido há 2 ou 3 anos, mas sou completamente incapaz de saber exactamente que livros é que li este ano. Ou este mês. Portanto eu tentar escolher algo como "O melhor livro do ano", ou "O melhor autor do ano", é uma tarefa não só fútil e inglória, como vã e inútil.

E sim, podia agarrar aqui nos arquivos do blog e ir ver os livros lidos e fazer a coisa, mas bem, isso dá demasiado trabalho, não é verdade? Não vale a pena. Prefiro comentar o facto de só ter lido 79 livros. 2012 foi um ano cuja primeira metade foi ocupada com o segundo semestre do meu primeiro ano de faculdade, e cuja segunda metade foi ocupada com férias de Verão e o primeiro semestre do meu segundo ano. Acho que não preciso de mais comentários.

Mas foi apesar disso, um ano muito bom em termos de leituras. A minha memória é má, mas não me esqueci que foi este ano que me iniciei na leitura de David Soares, que reli e finalmente terminei de ler as Crónicas de Allaryia, em que li grandes épicos como 2001 - Odisseia no Espaço, do mestre Arthur C. Clarke, e It de Stephen King, um autor com lugar cativo na minha Hall of Fame privada. Foi ainda um ano que deu para me desiludir com Gonçalo M. Tavares e com Douglas Adams, mas que me deixou surpreender com o excelente Mia Couto. Enfim, eu queixo-me um pouco, mas 2012 ainda deu para finalmente ler The Hobbit, do inigualável Tolkien, que me deixou com água na boca para ler (TER!) o resto dos seus livros, e deu ainda para encontrar toda uma série de pechinchas e coisas raras: A Verdadeira Invasão dos Marcianos, de João Barreiros, Mostra-me a tua espinha e As Trevas Fantásticas, de David Soares, e a antologia Brinca Comigo!, por exemplo.

Portanto, é melhor é estar calado, já deu para perceber que foi um ano e pêras, em termos literários, afinal de contas. Avancemos para o próximo. Eu pessoalmente não sou fã de resoluções de Ano Novo e mariquices que tais, nem de celebrar o Ano Novo propriamente dito... Quer dizer, fantástico!, o tempo correu normalmente e temos que ir comprar um calendário novo e isso tudo, bla bla bla bom ano e balelas que tais.

Onde é que eu ia? Resoluções de Ano Novo, certo. Bem, não sou fã, embora já as tenha feito, nomeadamente em questões literárias, e ainda mais especificamente para coisas aqui do blog. Pois bem, este ano não prometo nada. Não vão haver mudanças estrondosas, vou continuar aqui sozinho a debitar crónicas medianamente interessantes e textos amargos e pessimistas, vou tentar ler o que me apetecer quando me apetecer e essas coisas todas. Espero ter tempo e organização suficiente para manter o blog vivo como deve ser, e é tudo.

Ah, falta uma coisa. Senti nestas "férias" uma necessidade de começar a ler livros filosóficos e sérios, ensaios intelectuais e coisas do estilo. Em parte uma certa necessidade de me cultivar mais directamente, em parte uma desculpa para variar ainda mais nas leituras e agarrar em grandes obras que tenho por aí espalhadas. Quando digo "tenho por aí", estou já a incluir aquelas que se onde se vendem e que podem ter a certeza que vou comprar. Parece que ainda no outro dia me queixava dos livros filosóficos e agora me semi-comprometo a ler uns poucos ao longo deste ano. Sou uma pessoa contraditória, passe o pleonasmo.

Mas bem, falarei mais sobre isto e várias outras coisas nos próximos dias... Mantenham-se atentos, continuem as vossas leituras e vão-me lendo. É sempre agradável ter com quem monologar um pouco.