sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra

Título: Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra
Autor: Mia Couto

Sinopse: Um jovem estudante universitário regressa à sua ilha-natal para participar no funeral do seu avô Mariano, Enquanto aguarda pela cerimónia ele é testemunha de estranhas visitações na forma de pessoas e de cartas que lhe chegam do outro lado do mundo. São revelações de um universo dominado por uma espiritualidade que ele vai reaprendendo. À medida que se apercebe desse universo frágil e ameaçado, ele redescobre uma outra história para a sua própria vida e para a da sua terra. A pretexto do relato das extraordinárias peripécias que rodeiam o funeral, este romance de Mia Couto traduz, de uma forma a um tempo irónica e profundamente poética, a situação de conflito vivida por uma elite ambiciosa e culturalmente distanciada da maioria rural. Uma vez mais, a escrita de Mia Couto leva-nos para uma zona de fronteira entre diferentes racionalidades, onde perceções diversas do mundo se confrontam, dando conta do mosaico de culturas que é o seu país e das mudanças profundas que atravessam a sociedade moçambicana atual.

Opinião: Fenomenal. Fascinante. Genial. Apetece-me criar palavras novas para descrever os livros de Mia Couto. Este é apenas o segundo que leio, e afirmo já, sem qualquer tipo de receio, que se este homem não receber eventualmente o Nobel, não é algo que está errado no Mundo, é todo o Mundo que está errado!

Há autores que encaixam melhor nas minhas preferências, e livros dos quais gostei mais, mas depois de ler este Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra, confirmo as suspeitas com que tinha ficado depois de ler A Varanda do Frangipani: Mia Couto é um dos melhores escritores que já li na minha vida. A sua escrita é envolvente, extremamente poética, igualmente séria e cómica, conseguindo empacotar na mesma página trechos de profunda crítica social e de nostálgicas reminiscências de infância.

E o melhor de tudo? A forma como Mia Couto consegue escrever página atrás de página da mais pura e excepcional prosa enquanto desenvolve uma história que é impossível deixar de seguir. E tudo isto sem nunca descurar as suas raízes, criando assim um livro belo, poético, interessante, intenso à sua maneira, abertamente universal e estritamente moçambicano ao mesmo tempo.

A premissa é bastante simples, e está bastante clara na sinopse. Mariano é o estudante universitário que regressa a Luar-do-Chão para o funeral do seu avô, de quem herdou o nome. Entre peripécias e memórias, o jovem vai recebendo estranhas cartas enquanto espera pelo funeral propriamente dito, cartas que lhe vão fazer revelações, que o vão assustar e que o vão surpreender. Cartas que o vão mudar.

Claramente dentro do domínio do realismo mágico ou realismo fantástico, chamem-lhe o que quiserem, Mia Couto mostra estar ao nível de um Gabriel García Márquez ou de um José Saramago. A sua escrita verdadeiramente mágica, e bastante diferente das destes 2 autores que acabei de mencionar, é mesmo a melhor parte e não posso deixar de ficar absolutamente fascinando com a forma como Mia Couto me prende às suas palavras, frase após frase, ao longo de parágrafos, páginas, capítulos e muito provavelmente livros!

4 comentários:

Ana/Jorge/Rafa disse...

Um dos autores que mais me cativa actualmente, "Jesusalém" é mesmo um dos meus livros favoritos de sempre!

Concordo contigo, Mia Couto para o Nobel! ;)

Jorge

Rui Bastos disse...

Ainda tenho que ler esse...

Tiago M. Franco disse...

Tive muitas dificuldades com a leitura de A Varanda do Frangipani.
Penso regressar ao autor, por vezes não estamos na melhor altura para ler um determinado livro.

Rui Bastos disse...

Aconselho vivamente :)