segunda-feira, 27 de maio de 2013

Livros e Retratos

Depois de duas visitas, posso dizer que nunca uma feira do livro me soube tão bem. Mesmo que não tivesse comprado nada, o facto de estar ali rodeado de livros já me fascina e deslumbra o suficiente. Dei por mim a queixar-me de haverem demasiados livros, nalgumas bancas! Como é que isto é possível?

No entanto, também nunca uma feira do livro teve um sabor tão amargo. Lembro-me de lá ir e trazer para casa 60, 70, 80 ou 90 euros em livros. Era a minha altura favorita do ano e aquela em que aproveitava para gastar as minhas economias (ou o dinheiro dos meus pais) naquilo que mais gosto: livros. Bons tempos. Agora procuro as pechinchas, penso duas vezes quando um livro custa mais de 5 euros, e tenho todos os dias que me mentalizar que não posso trazer tudo o que quero.

Tenho uma lista. Todos os dias me sento, calmamente, agarro numa caneta, e faço alterações. E faço contas. E na maior parte das vezes vou tirando livros. "Este fica para depois.", tento convencer-me a mim mesmo, "Tu nem queres tanto este livro, mais vale gastares naquele outro.", argumento contra mim próprio. Por um lado é bom: nunca trouxe tantos livros para casa por tão pouco dinheiro como desde que o dinheiro começou a faltar.

Mas por outro lado, é horrível. Para um leitor compulsivo, o mero acto de voltar a pousar um livro pelo qual ansiamos há bastante tempo, só porque custa 9 euros, e nem pensar em gastar isso assim num livro, que mais vale ir ali abaixo e trazer aqueles outros 3 que tinhas visto. É verdade.

Suponho que no fim, a coisa até compense. Acabo por conseguir mais livros, e não são livros ranhosos. Entre um de ficção científica escrito pelo António de Macedo, um livro do Stephen King e Argonautas aleatórios, desafio-vos a encontrarem um livro que não seja interessante.

Quanto à feira em si, aconselho-vos vivamente a procurarem bem no meio dos alfarrabistas. Ainda que estejam mais caros que em anos anteriores, encontram-se autênticas preciosidades ao preço da chuva. E não se esqueçam de ir aos Argonautas. Acho que é crime ir à feira do livro e não passar lá. Se procurarem bem no resto da feira, também encontram outras pechinchas aleatórias, portanto não desesperem, investiguem bem e vasculhem por entre os livros.

Não desesperem, que já volto ao meu refilanço habitual! Nem só de coisas boas se faz uma feira do livro, e o resmungão em mim agradece. As editoras estão cada vez mais comerciais, mas pronto, já nem vale a pena bater nesse ceguinho em particular. E o site é asqueroso. A informação não é propriamente fácil de navegar, tem muitas coisas desactualizadas, não é propriamente apelativo, só ficou disponível 1 ou 2 dias antes da feira abrir... Uma grande, grande falha.

Felizmente há editoras que se destacam e que nos animam o dia. Se a Livros do Brasil tem Argonautas a 1 euro (gosto sempre de referir isto), e a Tinta da China tem algumas das edições mais bonitas de Portugal, a Book.it tem um tipo a escrever retratos. Por curiosidade, esse tipo é meu primo. Chama-se André Pereira, e o que gosta de fazer na vida é humor daquele que faz as pessoas soltarem barulhinhos incomodados enquanto o fulminam com olhares reprovadores capazes de fazer corar qualquer um. Isso, ler, ver o Benfica e escrever. Foi por essa última que se juntou a esta editora, para nos fins de semana da feira e no dia 10 de Junho, escrever retratos de pessoas, numa máquina de escrever. Aconselho, e não só porque é meu primo. Hoje fez o meu, e não podia estar mais satisfeito com o resultado.

Portanto, já sabem, a mensagem do costume. Visitem a feira do livro, aproveitam e perdem uns quilos a andarem para cima e para baixo à procura de pechinchas. E depois compram as fantásticas pechinchas!


7 comentários:

Célia disse...

Entre sexta e sábado, comprei 13 livros (!) na Feira. Foi só ao ler o teu post que me apercebi que o mais caro custou 6€ :)
É um facto, também ando só à procura de pechinchas na Feira. Qualquer coisa que custe 8/9€ já me parece demais. Ah, e a bancada dos Argonautas vale mesmo muito a pena :)

Ana/Jorge/Rafa disse...

Já gastei 10 euros e apenas trouxe 2 livros, mas planeio rectificar isso na próxima ida, é para trazer meia dúzia e não tirar mais que uma nota do bolso ;)

Jorge

Rui Bastos disse...

É fantástico, não é Célia? Às vezes é preciso procurar um pouco, mas encontra-se com cada coisa, e tão barato!

Espero bem que sim Jorge, a minha média está abaixo do 1.5 euros por livro xD

Alice dos Reis disse...

Fui à feira no dia da estreia, e o meu orçamento não podia ultrapassar os cinco euros e um cheque fnac no valor de seis euros.
Dos alfarrabistas trouxe para casa um romance único de Margarite Duras e outro de Carlos de Oliveira.
O cheque cedeu-me um Wittman. Nada mau.
Ainda assim aconselho o meu raciocínio anti-consumoculturalexacerbado: tens cartão de biblioteca e sabes como o usar.

Rui Bastos disse...

Ainda se encontram umas coisas a preços razoáveis, como vês :)

E acredita, tenho usufruído em pleno dos meus direitos enquanto portador de um cartão das BLX!

NLivros disse...

Grande Rui!
Eu fui lá no primeiro dia e não voltei mais.
Comprei 6 livros na Bizâncio por 15€ e de facto, já li 3, são todos um mimo, mas enfim, a feira tem perdido, para mim, ano após ano, interesse e este ano até nem me lembrei de lá voltar.
Abraço!

Rui Bastos disse...

Compreendo-te, a Feira cada vez mais é um evento puramente comercial... Encontras, lado a lado, livros eróticos daqueles escritos todos para aproveitar a vaga do "Fifty Shades of Grey" à venda por preços exorbitantes, e clássicos da literatura, ou literatura Fantástica, à venda no máximo por 4 ou 5 euros.

É ver as editoras a babarem-se todas ao verem os livros eróticos a venderem que nem pãozinhos quentes, e a nem sequer se preocuparem muito com os outros livros. E a partir do momento em que te dizem "Estes não estão na promoção, porque vendem"...

Enfim, acredita que te compreendo, mas por outro lado é preciso é aproveitar os livros renegados pelas editoras que ficam ao preço da chuva, e mais algumas pechinchas que por lá andam :)