domingo, 6 de fevereiro de 2011

Equador


Título: Equador
Autor: Miguel Sousa Tavares

Sinopse: Quando, em Dezembro de 1905, Luís Bernardo é chamado por El-Rei D. Carlos I a Vila Viçosa, não imaginava o que o futuro lhe reservaria. Não sabia que teria de trocar a sua vida despreocupada na sociedade cosmopolita de Lisboa por uma missão tão patriótica quanto arriscada na distante Ilha de São Tomé. Não esperava que o cargo de governador e a defesa da dignidade dos trabalhadores das roças o lançassem numa rede de conflitos de interesses com a metrópole e não contava que a descoberta do amor lhe viesse a mudar a vida. 



Opinião: Tal como já referi numa outra opinião, se é estilo literário que me conquista e desperta o "bichinho" do consumo literário e da devoração rápida dos livros, é o romance histórico.



A curiosidade pelo Equador, já andava há algum tempo a protestar para quando é que haveria de pegar no livro pousado na estante da sala e satisfazer a especulação à volta deste romance.


Para quem tinha acabado de ler os Maias, de Eça de Queirós, e de seguida resolve ler o Equador, de Miguel Sousa Tavares sentiu, no inicio, deste romance, uma espécie de continuação da trama, ou talvez, deveria dizer uma forte lembrança dos locais e espaços que também protagonizaram a obra de Eça. 

Isto porque no início da história, a localização espaço-temporal é idêntica à localização espaço-temporal dos Maias. Os mesmos sítios lisboetas onde se realizavam, por exemplo, os jantares entre os homens da classe alta portuguesa e onde existiam acesas discussões intelectuais sobre literatura, política e dinheiro partilhadas com os variados vícios maliciosos, são também retratadas na obra de Miguel Sousa Tavares.

O romance inicia-se então em Lisboa, passa-se num período complexo da história portuguesa, início do século XX e final da monarquia. Luís Bernardo Valença, é um jovem advogado, boémio e mulherengo, o seu charme irresistível e o seu palavreado romântico e auspicioso fazem com que tenha todas as mulheres a seus pés. 

Mas a vida de Luís Bernardo Valença mudara desde o momento em que das mãos do rei recebe o mandato para ser governador das ilhas de São Tomé com o objectivo de provar a Inglaterra que não existia trabalho escravo nas roças, onde se plantava grandes quantidades de cacau e de café .


Estas ilhas, situadas na costa africana e divididas pela linha fictícia do equador, são o palco do desenrolar de toda esta história. Junto a Luís Bernardo chegam a um dado momento do livro, duas personagens enriquecedoras, que dividem consigo as atenções do narrador.

David Jameson e a sua esposa, Ann, chegam a São Tomé logo após Luís Bernardo, para David ocupar o cargo de cônsul britânico.

Cria-se um complexo novelo de sentimentos e relações, à volta destas três personagens, amizade, lealdade e paixão combinam com traição, vigança, ódio.

A história acaba com um final na minha óptica inesperado, sendo Luís Bernardo uma personagem tão forte, termina da maneira mais débil que poderia terminar, de facto: 


"Vence só quem nunca consegue, só é forte quem desanima. O melhor é abdicar"
in Livro do Desassossego


Tal como as personagens que caíram nos braços de Luís bernardo, eu caí nos braços desta personagem apaixonadamente bem construída e na escrita critica e frontal de Miguel Sousa Tavares. É na minha opinião um excelente livro, extremamente bem construído desde o início ao fim, com um óptimo enquadramento histórico-social e pormenorizada de tudo o que era Portugal e as suas colónias

Um livro a repetir.

15 comentários:

Pedro disse...

Este homem sabe escrever.

Adorei. Nunca um livro me proporcionou esta experiência: desviar os olhos do livro e ver um mar azul à minha frente, e sentir a areia nos meus pés. Literalmente, isso aconteceu. Muito bom.

Rui Bastos disse...

E eu que não tinha muita vontade de ler este livro... Estão-me a deixar demasiado curioso!

Cat SaDiablo disse...

Este é um dos meus livros favoritos.
A escrita de Miguel Sousa Tavares deslumbrou-me de tal forma que por vezes dava por mim a reler uma passagem, apenas pelo prazer de sentir a sua sonoridade.
A construção histórica é louvável e as personagens são excelentes. Densas, fortes, mas também fracas, como são as pessoas.
Fiquei totalmente presa a estas paginas, e tal como tu, também me surpreendi no final, mas que achei absolutamente perfeito.
Podia continuar o dia todo a falar deste livro :)

É sem dúvida um excelente livro, recomenda-se!

Anónimo disse...

è de facto um livro com uma narrativa viciante, assim como a sua história, um final inesperado, mas talvez o unico que faria sentido. um dos melhores livros escritos em português. espectacular.

M. à conversa disse...

Pedro exactamente como tu, sentia-me em plena ilha de são tomé quase que poderia cheirar a maresia, apaixonante ;D

M. à conversa disse...

Cat: apaixonei-me desde o primeiro momento pelo protagonista deste romance e ainda mais pela escrita fabulosa do Miguel Sousa Tavares, tanto que todos os seus livros, até mesmo os infanto-juvenis vem parar cá à estante. Somos fãs cá em casa! :)
O final deixou-me triste, porque como referi sendo Luis Bernardo uma personagem tão forte acabou de uma maneira tão drámatica, mas devo salvaguardar que o final está excelente assim como todo o livro ;D

M. à conversa disse...

Rui: aconcelho a toda a gente, quando quiseres é só vires cá buscar :D

nclivros: Miguel Sousa Tavares tornou-se um dos meus escritores favoritos :D

Viajante disse...

Este também é um dos meus livros favoritos! Acho que MST escreve de facto maravilhosamente sendo capaz de nos transportar facilmente até São Tomé e Principe!

Adorei!

O final também me apanhou desprevenida, mas pronto... mesmo assim, Muito Bom!

Marco Caetano disse...

Conforme já escrevi algures, este é um dos melhores, senão o melhor, livros que os autores portugueses nos ofereceram neste pequeno século.

Continuação de boas letras...
Marco

Alice Matou-se disse...

No outro dia estava na Gulbenkian e quem é que passa por mim? Miguel Sousa Tavares! Eu só me lembrei de gritar: "O Equador é fixe!". E ele que parecia estar com alguma pressa virou-se e estendeu-me a mão para um HI5!

Lúcia Ramos disse...

Foi tudo isso. Adorei!

M. à conversa disse...

Estrela e Lúcia: tal como disse adorei este livro e não me canso de dizer que o Miguel Sousa Tavares, é sem dúvida, na minha opinião um dos melhores escritores portugueses da actualidade e um dos meus favoritos.
Escreve maravilhosamente bem e tem uma capacidade de criar personagens igualmente fortes e fantasticamente bem construídas.

Marco Caetano: faço das tuas palavras, as minhas, é sem sombra de dúvida um grande livro e um grande escritor! Obrigada e boas leituras ;D

Arisu: Ahahahah que episódio giro, se o visse não resistiria em dizer-lhe tudo o que já disse aqui ;D

Landa disse...

Li o equador já alguns anos, no entanto foi um dos livros que me marcou mais. Para além de ser um romance histórico, género literário que eu adoro, tem descrições maravilhosas de São Tomé e Principe e a meu ver, um enredo fantástico. Miguel Sousa Tavares é um escritor excepcional.

Só fiquei desiludida com o final, mas creio que a grande parte dos escritores portugueses não conseguem evitar um boa tragédia no final.

M. à conversa disse...

Landa: Concordo com tudo o disseste. O final desiludiu-me porque me afeiçoei imenso à personagem e estava a torcer para que ele conheceu-se uma linda mulher solteira (ahahahah :p), após este episódio com Ann, que o fizesse mudar e acabassem juntos, felizes para sempre, com montes de bebés :D Acho que o final está muito bem escrito, isso não há dúvida mas é um final triste e logo eu que adoro finais felizes ;D

Rui Bastos disse...

Wepa, meninas, cuidado com os spoilers!